sábado, fevereiro 15, 2014

Em defesa da Copa do Mundo - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 15/02

Além de elevar a autoestima, a Copa multiplica ganhos com turismo e serviços e gera milhares de empregos


Investimento não é gasto. Qualquer um que se aventure ao livre empreendimento --de uma carrocinha de pipoca à construção de uma hidrelétrica-- sabe disso. Gasto não tem retorno; investimento tem. Visto isso, falemos da Copa do Mundo.

Está em curso uma campanha nacional contra sua realização, o que, além de equívoco do ponto de vista econômico, é uma leviandade política e social. Busca-se, por essa via, atingir o governo. Mas a Copa não é do governo: é do país --e é ele o atingido.

Foi o Brasil, não o governo --embora ele lá o representasse--, quem batalhou, concorrendo com adversários do porte da Espanha e da Inglaterra, para sediar o evento. E o fez por saber de seu significado não apenas econômico mas também psicossocial.

A Copa, além de elevar a autoestima da população --que tem no futebol sua principal fonte de lazer--, multiplica, entre outros, os ganhos com turismo, serviços, construção civil e alimentação e gera milhares e milhares de empregos diretos e indiretos.

Estudo desenvolvido pela consultoria Ernst & Young, em parceria com a Fundação Getulio Vargas --"Brasil Sustentável "" Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo de 2014"--, constata que o evento já quintuplicou os investimentos diretos, injetando R$ 142,39 bilhões no período 2010-2014.

Os investimentos diretos, em infraestrutura, construção e/ou reforma de estádios e organização, são de pouco mais de R$ 22 bilhões, e boa parte deles --frise-se isso!-- privada.

Considerando os impactos em inúmeros setores interligados --alimentação, bebidas, rede hoteleira, serviços essenciais (luz, água, esgoto)--, calcula-se o ingresso adicional de R$ 112 bilhões, o que gerará, segundo esse estudo, mais de 3 milhões de empregos, impulsionando o consumo interno.

Somente no turismo, o impacto econômico da Copa das Confederações, evento de expressão bem menor, foi de R$ 740 milhões, segundo a Embratur. Mobilizou 230 mil brasileiros e 20 mil estrangeiros. Para a Copa do Mundo, a projeção, entre turistas brasileiros e estrangeiros, é que superem a casa dos 3 milhões.

Quase a totalidade das obras estava prevista por se tratar de obras estratégicas. Seriam realizadas com ou sem Copa, segundo o governo. Tudo isso ficará para além do evento.

Não obstante, os que engendram a campanha contra a Copa --e infernizam as ruas do país, com ações predadoras, a pretexto de manifestações democráticas-- partem de uma argumentação desonesta, que só exibe os investimen- tos (apresentando-os, claro, como gastos) e insuflam a população a protestar.

O discurso socialista, que supõe possível banir a pobreza sem gerar riqueza, sonha com um Estado provedor, sem atentar para o dado elementar de que, para prover, é preciso ter recursos. E o Estado não gera recursos; capta-os da sociedade, que, por sua vez, para gerá-los, precisa de empreendimentos que gerem riqueza. E a Copa, como está mais do que demonstrado, assim o faz.

Pesquisa do Datafolha constata que 63% dos brasileiros, apesar da implacável campanha anti-Copa, são favoráveis à sua realização no Brasil. Apenas 21% são contra. Esses percentuais seriam bem mais expressivos se os números que expus fossem do conhecimento do público. Infelizmente, não são. Não por falta de dedicação e competência do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, mas por uma inexplicá- vel falha de comunicação do governo e da Fifa.

Compartilho da perplexidade do escritor Marcelo Rubens Paiva, que, há dias, perguntou: "Não vai ter Copa no país que mais Copas ganhou? O único que esteve em todas as Copas e chegou a sete finais? É como se os franceses organizassem o movimento social "pas de baguette" (nada de baguete); e os americanos, no "turkey on thanksgiving" (sem peru no dia de Ação de Graças)".

Ou seja, nada mais surrealista que o País do Futebol rejeitá-lo, em nome de argumentos desonestos, que transformam lucros em perdas, e oportunidade --força motriz dos grandes negócios--, em desperdício. Não há dúvida: quem assim age, por ignorância ou má-fé (ou ambas), incide em crime de lesa-pátria.

5 comentários:

  1. Bravo! Bravo! Bravo! Brilhante análise. Simples, direto, objetivo e de fácil entendimento por parte de qualquer pessoa - com escola ou sem escola - A pergunta é: Por que o governo não realiza uma campanha nacional expondo estes argumentos, números de uma maneira bem simples??Coloquem os empresários que estão envolvidos com a copa para fazer declarações positivas sobre o evento. Isto dará mais credibilidade aos fatos. O mote é seguinte: Nós não gastamos, nós investimos.

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  2. Anônimo5:55 PM

    Alto lá! Não foi o Brasil que trouxe irresponsavelmente Copa do Mundo pra cá, não, senhora Kátia Alves.
    Se tivessem consultado o povo, maciçamente ele seria contrário, porque, ao revés de aceitar a pecha miúda que querem impor à nossa Nação, de o "país do futebol", urge ao cidadão brasileiro assistência à saúde, educação, segurança, etc., minimamente decentes.
    Foi dito que não haveria dinheiro público para essa farra homérica, mas o que se vê é exatamente o contrário.
    Afinal, por que a Alemanha e a África do Sul, juntas, gastaram R$5,1 bilhões para realizar o mesmo evento, e o Brasil já gastou, até agora, R$28 bilhões, segundo noticia a mídia?
    Para onde vai, de fato, tão elevada soma?
    Depois dessa famigerada Copa, veremos quem tem razão...

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  3. Anônimo6:07 PM

    "Está em curso uma campanha nacional contra sua realização, o que, além de equívoco do ponto de vista econômico..."

    A Senadora poderia apresentar alguns números que indicam que o resultado econômico justifica o investimento?

    Ao final, na boca do caixa, quanto "vai sair" e quanto "vai entrar", a diferença resultará em "saldo positivo"?

    Não, não quero saber de o investimento redundará em benefícios para o país, etc e tal.

    Se o carrinho de pipoca merece o investimento, certamente lucro ocorrerá.

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  4. Senadora Kátia Abreu,
    Decepcionante o seu artigo. O país tem necessidades prementes para resolver e sempre alega o governo que não há recursos suficientes para isso, mas para custear Copa do Mundo o governo e políticos se ajoelham aos pés da Fifa.
    Falta muita responsabilidade social de nossos políticos. A senhora é uma política abonada, mas quem paga os seus salários parlamentares são os contribuintes, espoliados com alta carga tributária, cujos recursos não são devidamente retornados em serviços públicos de qualidade: educação, saúde, segurança pública etc.
    A senhora, não obstante a sua condição familiar afortunada, se utiliza de assistência médica e hospitalar gratuita do Senado e de forma perene para si e família. Pois bem, a senadora não sente na pele as agruras dos desassistidos brasileiros que não têm um serviço médico e hospitalar de qualidade e padecem nas filas, quando não morrem antes, para ser atendidos de forma negligente e desumana pelo que o Estado fornece. Enquanto isso, Lula, Dilma e outros têm à sua disposição o Hospital Sírio-Libanês.
    Ora, um país que não disponibiliza um serviço de saúde pública do padrão Fifa aos seus contribuintes mais necessitados, não investe como devia em educação de qualidade, não se preocupa com a segurança pública do cidadão e outras necessidades, não pode se dar ao luxo de promover megaevento esportivo.
    É evidente que o brasileiro gosta de futebol. Mas convenhamos, o país não se encontra em condições financeiras para bancar tal despesa quando outras necessidades mais importantes não são atendidas. E claro que a Copa do Mundo gera empregos provisórios e divisas com o turismo. Mas o seu custo é desproporcional a um país que tem uma dívida social altíssima e não investe em infraestrutura para produção de riquezas.
    A sua posição não é de amadurecimento social porque a senhora é uma empresária do agronegócio. Mas aqueles cidadãos, principalmente os jovens brasileiros, que saíram às ruas, em junho passado, sem bandeira partidária, e que gritaram e vão continuar gritando contra os fajutos políticos e governos que não atendem às demandas sociais, revelaram muito mais amadurecimento e responsabilidade social que a senhora e o governo federal.
    A senhora, Lula, Dilma e os jogadores Ronaldo e Pelé, que defendem o megaevento, lamentavelmente, estão na contramão de um país responsável.

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  5. É difícil acusar ou defender algo que ainda não temos total conhecimento do que está por trás. Interesses, cartéis, máfias e etc. é bem provável que existam, mas, por outro lado, alguns benefícios serão entregues a população brasileira. Vamos torcer para que o prejuízo não seja tão grande para nossa nação.

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