segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Direito dos outros, o nome da paz - EDMÍLSON CAMINHA

CORREIO BRAZILIENSE - 24/02
Nome: Edmílson Sobreira Caminha Júnior. RG: 2002010060143 - SSP, CE. CPF: 048698853-87. Quero identificar-me porque não tenho nada a esconder, segundo a velha máxima do quem não deve não teme. Se saísse às ruas para um ato público, iria com certeza de rosto descoberto, para dizer o que penso, para exercer responsavelmente o direito que tenho à liberdade e à cidadania, como o faço agora. Parece-me suspeito quem se esconde por trás de máscaras, quem não é corajoso o bastante para assumir o que faz e o que diz, quem julga equivocadamente defender a democracia com pedras, pedaços de pau, coquetéis molotov e rojões, ainda que os acenda com a ilusão tola de que são cabeças de nego.
"Esses jovens vivem na pobreza, são marginalizados pelos poderosos, explorados pelos ricos, aceitam dinheiro para participar de manifestações porque não conseguem trabalhar." Tanto pior, por dois motivos graves: a alienação é tal que se reduzem a massa de manobra, que se deixam manipular, na outra ponta do cordel, por figuras sinistras que agem à sombra, crentes de que o poder político e a força econômica os manterão a salvo da lei e da justiça. Não percamos a oportunidade histórica de investigar esse conluio tenebroso, por mais dolorosas que sejam as descobertas, por mais prestígio que tenham os financiadores, por mais surpreendente que seja a autoria intelectual do crime.

"Eu só quero um Brasil melhor", disse Caio de Souza. Ele e todos os brasileiros de bem, dispostos a estudar e a trabalhar por um futuro que se alicerce na dignidade humana, na justiça social e na cidadania plena a que o povo tem direito. Também me revolto com a absoluta ausência de princípios morais e éticos dos que entre nós são eleitos para legislar e governar com decência; também me enfureço com os candidatos para quem a política não é mais do que a luta pelo poder e, em se chegando a ele, ser capaz de tudo para não largar o osso; também não aceito a mistificação dos nossos partidos políticos, cujas siglas são de tal maneira insignificantes que parecem aleatoriamente colhidas em uma sopa de letrinhas; também me rebelo contra a corrupção institucionalizada; também exijo que o Estado cumpra os deveres que lhe competem - saúde, educação, segurança pública, transporte coletivo, saneamento básico, totalmente caóticos no Brasil de hoje.

Também quero, Fábio e Caio, um Brasil melhor, mas não à força de manifestações que fecham ruas, incendeiam ônibus e ameaçam pedestres e motoristas; que depredam o patrimônio público e destroem a propriedade privada; que tentam a invasão de ministérios; que queimam pessoas e tiram a vida de homens e mulheres que trabalham. Para atingir os 61 anos a que cheguei, fui adolescente, fui jovem como os Caios e os Fábios, que são, hoje, a própria imagem da inconsciência e do medo, e nem sequer me passou pela cabeça a hipótese da violência como alternativa de reivindicação, como método de trabalho. Concordo com Ruy Castro: "Há algo de monstruoso em quem dispara um rojão em meio a uma multidão, indiferente ao que pode acontecer. Alguém fracassou na formação desses indivíduos".

Benito Juárez, indígena pobre que foi cinco vezes presidente do México, certa vez disse, com a despojada sabedoria dos homens verdadeiramente grandes: "O respeito ao direito dos outros é a paz". Por que não esse caminho, em vez da ameaça, da agressão e da violência que já nos transformaram em um país pior? Sintam-se, os Caios e Fábios que estão nas ruas, convocados para gigantescas manifestações no Brasil inteiro, em 5 de outubro - silenciosas mas eloquentes, pacíficas mas revolucionárias -, com segunda convocação já marcada para o dia 26. Nelas, teremos direito ao mais poderoso instrumento de protesto que pode usar o povo brasileiro. Chama-se voto.

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