sexta-feira, janeiro 17, 2014

Juros foram elevados pelo BC porque é necessário - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 17/01

O Copom optou por aumentar a taxa básica para 10,5% ao ano, pois não tem alternativa para combater a inflação sem um remédio amargo no momento



Juros altos são um remédio amargo. Encarecem o capital e o crédito, podendo, assim, contribuir tanto para o adiamento de sonhos de consumo como de projetos de investimentos. Por isso, só devem ser adotados como terapia contra a inflação quando se fazem absolutamente necessários. E é o caso do atual momento brasileiro.

Reunidos esta semana no Comitê de Política Monetária (Copom), os dirigentes do Banco Central optaram por elevar a taxa básica de juros em meio ponto percentual, que assim subiu para a casa de 10,5%, patamar semelhante ao de quatro anos atrás.

Diante do comportamento recente dos índices de preços e da ameaça de a inflação até ultrapassar o teto (6,5%) da meta fixada pelo governo, o Copom não teve alternativa a não ser recorrer ao remédio amargo.

Juros altos podem ser motivo de exploração demagógica em ano de eleições. Mas pior seria para a presidente Dilma, candidata à reeleição, e todo o país, se a inflação fugisse ao controle. Em 2013, o governo segurou artificialmente os preços que administra, mas isso ficou evidente para os mercados e a opinião pública, em geral. Não é mais possível disfarçar. Controles artificiais de preços são como uma bomba capaz de explodir a qualquer momento. Contém-se o índice hoje e ele explode amanhã. Antes que fosse tarde, as próprias autoridades econômicas retrocederam alguns passos nessa tentação demagógica.

O represamento dos preços dos combustíveis é uma prova concreta disso. Quanto mais se retarda o ajuste, mais forte é o impacto sobre a inflação quando os aumentos de preços são autorizados. Controles artificiais de preços poder ter certo apelo popular no curto prazo, mas, com o tempo, corroem a confiança na política econômica. O custo da recuperação dessa confiança é sempre oneroso. Talvez agora o Banco Central não precisasse ter recorrido a uma dosagem tão amarga nas taxas de juros se no ano passado o governo tivesse conduzido mais seriamente a execução do orçamento, sem deixar para o último momento o alcance das metas a que havia se proposto (o que obrigou a transferir pare este ano um valor expressivo de “restos a pagar”).

Ao dar uma demonstração de autonomia, elevando as taxas básicas de juros para o patamar que considera capaz de moderar o ritmo da inflação, o Banco Central dá uma preciosa contribuição para que os agentes econômicos voltem a acreditar nos propósitos da política monetária e do regime de metas. Já é uma iniciativa importante para a superação desse desafio. O que se espera é que os demais setores responsáveis pela política econômica também cumpram a sua parte. A repetição de uma execução orçamentária semelhante a do ano passado será negativo e tornará a tarefa do banco Central ainda mais difícil.

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