FOLHA DE SP - 12/10
SÃO PAULO - Um dos passatempos favoritos de estudiosos da teoria da decisão é testar médicos em questões que envolvem estatísticas --e os resultados são assustadores.
Num trabalho de 1982, David Eddy pediu a profissionais de saúde que estimassem a chance de uma paciente que apresentou mamografia positiva para neoplasia de fato ter a doença, considerando que a probabilidade de uma mulher ter câncer é de 1%, a sensibilidade do exame, de 80%, e a taxa de falsos positivos, de 9,6%.
Cerca de 95% dos médicos cravaram que o risco era de 75%, quando a resposta certa é 7,7%. Se você fizer a conta, verá que de cem mulheres testadas, quase dez (9,6%) apresentarão falso positivo e menos de uma (80% de 1%) será um positivo real. Não vou explicar aqui os vieses cognitivos que fazem os médicos e as pessoas em geral interpretarem números tão mal, mas, decididamente, é algo com que devemos nos preocupar.
Faço essas observações devido às críticas que recebi por ter defendido que optometristas possam prescrever óculos. Receio que também aqui nossos valorosos doutores sejam vítimas de uma cegueira estatística.
Segundo o estudo Demografia Médica, atuam no país 9.962 oftalmologistas, o que dá quase um profissional para cada 20 mil habitantes. Se o oftalmologista dedicasse 15 minutos a cada um trabalhando oito horas por dia, levaria dois anos e meio para ver todos. Como parcela considerável da população precisa de atendimento pelo menos anual --sem mencionar cirurgias--, a conta não fecha.
O déficit de oftalmologistas não é exclusivo do Brasil. O mundo todo discute o que fazer para atender à demanda, que cresce com o envelhecimento populacional. Experts como Serge Resnikoff defendem treinar equipes multidisciplinares formadas por oftalmologistas, médicos de outras especialidades, optometristas e ortoptistas. Só o que não faz sentido é deixar pessoas sem enxergar direito por disputas de mercado.
sábado, outubro 12, 2013
O Papa e Woody Allen - ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA
O GLOBO - 12/10
No mundo de hoje, o que é, onde está, para que serve o poder?
Na obscuridade da noite voa um fantasma e abre as asas sobre a humanidade. Todos o conhecem. Mas o fantasma se esfuma com a aurora para renascer à noite nos corações. Quem é o fantasma que nasce à noite e morre ao amanhecer?
O sombrio enigma, proposto pela princesa Turandot na ópera de Puccini, servia para afastar pretendentes, já que ela repudiava a ideia do casamento. Um príncipe desconhecido acertou: “O fantasma é a esperança.”
Com esse diálogo, citado de memória, o Papa Francisco na entrevista concedida à revista dos jesuítas “Civiltà Cattolica” explicou que não gosta da palavra otimismo, prefere esperança que, para ele, não é um fantasma e não morre a cada dia.
A entrevista do Papa é um alento para quem vive o tempo presente e, à força de esbarrar em crueldades, impunidades e injustiças, corre o risco da desistência.
Suas palavras corajosas de acolhimento e compreensão, sem julgamento e condenação, dirigidas às mulheres e aos homossexuais merecidamente repercutiram mundo a fora. Falou-se menos da sua contundente denúncia da economia mundial que, segundo ele, nos está levando a uma tragédia. “Vivemos as consequências de uma decisão mundial, de um sistema econômico que tem no centro um ídolo que se chama dinheiro. A idolatria do dinheiro está roubando nossa dignidade.”
Foi preciso a estatura de um líder espiritual para reabrir uma questão em que está em jogo a civilização e que vinha sendo escamoteada, se apagava no esquecimento, exceto para quem ainda dorme em barracas, faz a fila da sopa ou procura inutilmente um emprego.
Não pensei que um dia encontraria afinidades entre Woody Allen e o Papa Francisco. Descubro que, se não partilham os mesmos gostos, certamente partilham um mesmo desgosto.
Seu último filme, “Blue Jasmine”, é uma fábula moderna, que mistura o caso Madoff com personagens inspirados em “Um bonde chamado desejo”, de Tennessee Williams. Um pouco de Blanche em Jasmine, tinturas de Kowalski no namorado da irmã de Jasmine, para melhor contar a escroquerie que tomou conta da América e roubou a dignidade dos que trabalham, espalhando tragédia.
Na cena final, Jasmine, milionária nova-iorquina que inventara a si mesma cobrindo-se de grifes, cúmplice do marido vigarista, vigarista ela mesma, agora arruinada, despossuída de tudo, incapaz de viver a vida real, senta-se em um banco de praça, desfigurada, falando sozinha de seus tempos de fortuna, metáfora da loucura e da perdição em que mergulhou o capitalismo financeiro onde a ganância fez-se a regra e o dinheiro é Deus.
Woody Allen descreve esse mundo com os recursos da caricatura no que ela tem de mais poderosa, o encontro da descrição com a crítica em um mesmo traço. A crise financeira de 2008 que se arrasta até hoje inspirou-lhe um filme amargo. O andar de baixo e o de cima da sociedade americana só se encontram nos terremotos, quando o andar cima — Wall Street, Nova York — desaba sobre o andar de baixo, os outsiders da Costa Oeste. Cinco anos depois, ainda há milhões soterrados pelo desemprego.
Enquanto sem escrúpulos espiona o mundo à cata de terroristas, o presidente americano dá guarida, em seu próprio gabinete, a responsáveis diretos por um atentado devastador à economia mundial que, em ricochete, põe em risco a Europa, fortalecendo a xenofobia e a extrema-direita. E parecia que tudo ficava por isso mesmo.
Mas eis que o Papa falou, denunciando a “globalização da indiferença”. O Papa que em sua primeira viagem aportou na ilha de Lampedusa em cujas águas, há anos, naufragam os barcos e as esperanças de imigrantes africanos que, como agora, vêm morrer na praia. Que ameaça fechar o sulfuroso Banco do Vaticano e escolhe a Basílica de Assis, berço da Igreja dos Pobres, para reafirmar sua fé nos gestos do dia a dia das pessoas honestas e solidárias e no tempo escultor de grandes mudanças.
Não se subestime o poder de um Papa em sua crítica às taras da economia mundial. Outro Papa pôs a nu o apodrecimento do regime comunista e lá se foi o muro de Berlim. Entra em cena um ator inesperado cuja audiência vai muito além dos católicos e, fato inaugural, se dirige às pessoas mais do que aos Estados.
No nosso triste país das condenações embargadas, das candidaturas proibidas, da política desgastada, sua fala se traduz em uma interrogação: será a esperança, aqui, o fantasma que morre sempre ao amanhecer ou ainda encontrará encarnação no dia a dia das pessoas honestas e solidárias?
E sugere um novo enigma: no mundo de hoje, o que é, onde está, para que serve o poder?
No mundo de hoje, o que é, onde está, para que serve o poder?
Na obscuridade da noite voa um fantasma e abre as asas sobre a humanidade. Todos o conhecem. Mas o fantasma se esfuma com a aurora para renascer à noite nos corações. Quem é o fantasma que nasce à noite e morre ao amanhecer?
O sombrio enigma, proposto pela princesa Turandot na ópera de Puccini, servia para afastar pretendentes, já que ela repudiava a ideia do casamento. Um príncipe desconhecido acertou: “O fantasma é a esperança.”
Com esse diálogo, citado de memória, o Papa Francisco na entrevista concedida à revista dos jesuítas “Civiltà Cattolica” explicou que não gosta da palavra otimismo, prefere esperança que, para ele, não é um fantasma e não morre a cada dia.
A entrevista do Papa é um alento para quem vive o tempo presente e, à força de esbarrar em crueldades, impunidades e injustiças, corre o risco da desistência.
Suas palavras corajosas de acolhimento e compreensão, sem julgamento e condenação, dirigidas às mulheres e aos homossexuais merecidamente repercutiram mundo a fora. Falou-se menos da sua contundente denúncia da economia mundial que, segundo ele, nos está levando a uma tragédia. “Vivemos as consequências de uma decisão mundial, de um sistema econômico que tem no centro um ídolo que se chama dinheiro. A idolatria do dinheiro está roubando nossa dignidade.”
Foi preciso a estatura de um líder espiritual para reabrir uma questão em que está em jogo a civilização e que vinha sendo escamoteada, se apagava no esquecimento, exceto para quem ainda dorme em barracas, faz a fila da sopa ou procura inutilmente um emprego.
Não pensei que um dia encontraria afinidades entre Woody Allen e o Papa Francisco. Descubro que, se não partilham os mesmos gostos, certamente partilham um mesmo desgosto.
Seu último filme, “Blue Jasmine”, é uma fábula moderna, que mistura o caso Madoff com personagens inspirados em “Um bonde chamado desejo”, de Tennessee Williams. Um pouco de Blanche em Jasmine, tinturas de Kowalski no namorado da irmã de Jasmine, para melhor contar a escroquerie que tomou conta da América e roubou a dignidade dos que trabalham, espalhando tragédia.
Na cena final, Jasmine, milionária nova-iorquina que inventara a si mesma cobrindo-se de grifes, cúmplice do marido vigarista, vigarista ela mesma, agora arruinada, despossuída de tudo, incapaz de viver a vida real, senta-se em um banco de praça, desfigurada, falando sozinha de seus tempos de fortuna, metáfora da loucura e da perdição em que mergulhou o capitalismo financeiro onde a ganância fez-se a regra e o dinheiro é Deus.
Woody Allen descreve esse mundo com os recursos da caricatura no que ela tem de mais poderosa, o encontro da descrição com a crítica em um mesmo traço. A crise financeira de 2008 que se arrasta até hoje inspirou-lhe um filme amargo. O andar de baixo e o de cima da sociedade americana só se encontram nos terremotos, quando o andar cima — Wall Street, Nova York — desaba sobre o andar de baixo, os outsiders da Costa Oeste. Cinco anos depois, ainda há milhões soterrados pelo desemprego.
Enquanto sem escrúpulos espiona o mundo à cata de terroristas, o presidente americano dá guarida, em seu próprio gabinete, a responsáveis diretos por um atentado devastador à economia mundial que, em ricochete, põe em risco a Europa, fortalecendo a xenofobia e a extrema-direita. E parecia que tudo ficava por isso mesmo.
Mas eis que o Papa falou, denunciando a “globalização da indiferença”. O Papa que em sua primeira viagem aportou na ilha de Lampedusa em cujas águas, há anos, naufragam os barcos e as esperanças de imigrantes africanos que, como agora, vêm morrer na praia. Que ameaça fechar o sulfuroso Banco do Vaticano e escolhe a Basílica de Assis, berço da Igreja dos Pobres, para reafirmar sua fé nos gestos do dia a dia das pessoas honestas e solidárias e no tempo escultor de grandes mudanças.
Não se subestime o poder de um Papa em sua crítica às taras da economia mundial. Outro Papa pôs a nu o apodrecimento do regime comunista e lá se foi o muro de Berlim. Entra em cena um ator inesperado cuja audiência vai muito além dos católicos e, fato inaugural, se dirige às pessoas mais do que aos Estados.
No nosso triste país das condenações embargadas, das candidaturas proibidas, da política desgastada, sua fala se traduz em uma interrogação: será a esperança, aqui, o fantasma que morre sempre ao amanhecer ou ainda encontrará encarnação no dia a dia das pessoas honestas e solidárias?
E sugere um novo enigma: no mundo de hoje, o que é, onde está, para que serve o poder?
Algo de podre - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
FOLHA DE SP - 12/10
Quando uma novata assume o cargo mais importante do país, os princípios são logo esquecidos
Em uma sequência especialmente nauseante, a chefe decide que um de seus colaboradores mais íntegros precisa ser enquadrado. Andava meio rebelde, contestava as linhas de comando. Seria bom tomar um susto.
"O que temos contra ele?", pergunta a mulher ao marqueteiro de quem não desgruda um segundo.
"Quase nada", diz o estrategista. Só uma fofoca: que, apesar de político verde, ele coleciona carros antigos, do tipo de que bebe dez vezes mais gasolina que os atuais. Até importou um Cadillac anos 50 de Cuba, onde as banheiras ainda rodam.
"Vaze isso para a imprensa", ordena a chefe.
As consequências são devastadoras. O fato de a notícia não ser exatamente nova, de já ter saído antes, pouco importa. O colaborador, homem reto, tem a vida pessoal e profissional destruída pelo pecadilho do Cadillac. E por obra da chefe a quem servia tão fielmente.
A chefe é Birgitte Nyborg, primeira-ministra fictícia da Dinamarca, personagem central de uma série de TV fascinante, chamada "Borgen". O subordinado que ela apunhalou é um de seus ministros, Amir Dwian, do Partido Verde.
Em 2012, "Borgen", produção da emissora dinamarquesa DR, fez muito sucesso na BBC de Londres. Mesmo com legendas, coisa a que o público de fala inglesa está pouco acostumado.
Também chamou a atenção da crítica americana, quando foi exibida em canais alternativos por lá. Chegou a passar no Brasil, no cabo, mas quase ninguém percebeu.
A boa notícia é que as duas primeiras temporadas saíram em DVD nos EUA. Ficou fácil achar na internet.
"Borgen" gira em torno de Birgitte Nyborg, interpretada pela magnética Sidse Babett Knudsen, 45, cujo sorriso caloroso é capaz de derreter as mais renitentes geleiras.
Nyborg comanda um partido pequeno, o Moderado, que apoia causas fofas e politicamente corretas: condenam leis duras de imigração, querem a saúde cada vez mais pública, defendem o estado de bem-estar social típico da Escandinávia, pretendem preservar a natureza.
A trama começa em uma crise do regime parlamentar. Nenhum dos dois maiores partidos, o Trabalhista e o Conservador, consegue formar um gabinete. Entregar o posto de primeira-ministra à novata Birgitte Nyborg, líder dos moderados, surge como solução conciliadora.
Se "Borgen" fosse uma série tradicional, mais próxima do padrão americano, mostraria o embate da militante íntegra conta o pântano da política tradicional.
Mas não é o que se vê. Um pouco desajeitada no começo, Birgitte rapidamente pega o jeito do cargo e faz aquilo que políticos fazem: trai companheiros, esquece quase todos os princípios, guia-se pela obsessão de manter o poder a qualquer custo. Tem seus dramas de consciência, mas são poucos e passam logo.
A seu lado, inseparável, o marqueteiro Kasper Juul. Figura misteriosa, ele é ex-namorado da principal apresentadora do maior canal da Dinamarca, a jovem, combativa e estonteante Katrine Fønsmark. "Ex" talvez não seja a melhor definição, já que Kasper e Katrine vivem uma relação de idas e vindas.
Birgitte, a primeira-ministra, tem marido e dois filhos (um menino de oito anos e uma menina de 13). O marido é um executivo importante, que, muito escandinavamente, vinha passando os últimos anos em casa, a cuidar das crianças, para que a mulher se dedicasse à política. Não demora muito para tudo isso ruir. A vida pessoal de Birgitte se transforma em pesadelo.
O marqueteiro Kasper --que talvez nem se chame Kasper-- esconde o passado "white trash" e um histórico de abuso doméstico quando criança. Foi justamente por ser tão envolto em segredos que a deusa Katrine Fønsmark o abandonou pela primeira vez.
Katrine, mesmo bela e famosa, vive só, em um apartamento bagunçado de estudante. De vez em quando, se entrega ao primeiro desclassificado que vê pela frente. De vez em quando volta para Kasper.
Birgitte, Kasper e Katrine são os três pilares que sustentam a narrativa densa e cadenciada de "Borgen".
A luz é sempre angulosa (estamos perto do polo Norte, afinal). Vive-se de modo impensável para brasileiros --a primeira-ministra continua morando em sua casa de classe média, reuniões ministeriais só têm 16 pessoas (incluindo assessores), os políticos não roubam e muitos deputados vão trabalhar de bicicleta. Os diálogos fluem com naturalidade, sem a concisão forçada de tantas séries americanas.
"Borgen", e a produção dinamarquesa em geral, não são televisão como a conhecemos. São uma outra TV. Preste atenção.
Ueba! Marina e Campos: MACA! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 12/10
Dilma vai dar uma declaração: "Crianças, vou dar uma voadora se sua mãe se não vier trabalhar"
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Hoje! Dia da Padroeira e Dia das Crianças. E eu acordei deprimido porque não sou mais criança! E a Nossa Senhora da Aparecida que me perdoe, mas a padroeira do Brasil é a Ladroeira. Nossa Senhora da Ladroeira!
E como esse ano não tem eleição, não tem político na Basílica. Só o Alckmin. Que é barata de igreja. O Serra Vampiro Anêmico não pode ir. Quando o padre joga água benta, ele dissolve. Rarará!
E vampiro não tem medo de crucifixo? Não, o crucifixo que tem medo do Serra!
E a Dilma quando foi pela primeira vez na Basílica, gritou: "Que lindo! Parece uma padaria!". Rarará! E eu disse que vai ter um programa de ajuda ao Eike: Bolsa Famíliax. Todos com xis no nome terão direito. Xisleine, Xisvaldo, Xana e Xuxa!
Gente, e o discurso da Marina? Uma amiga me disse que a Marina tá parecendo a Menina Pastora Louca! Rarará. E essa fusão Campos-Marina devia ser CAMA! Não tem rede, deita na cama. Se não der certo, a CAMA vira MACA! Rarará! Eu acho que a Marina vai dar uma rasteira e roubar o partido do Eduardo Campos. Que com aquele olho esbugalhado parece o Jack Nicholson em "O Iluminado"! A Menina Pastora Louca e O Iluminado!
E Dia da Criança! Diz que a Dilma vai dar uma declaração: "Crianças do meu Brasil: a Fadinha do Dente não existe, coelho não bota ovo e eu vou dar uma voadora na sua mãe se ela não vier trabalhar hoje".
E como disse o chargista Marco Aurélio: criança é a pessoa mais requisitada da casa. "Filho, o Macintosh não deleta." "Filho, dá uma olhada no iPhone da mamãe?" "Netinho, como ligo o celular?" E o filho de um amigo meu pediu de presente: "Um 1x1 com cabo HDMI e um MP3 com 64 GB". E ele não entendeu nada. E a filha duma amiga minha perguntou: "Mãe, o que é orgasmo?". "Não sei, pergunta pro seu pai!" Rarará. É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! E essa placa no supermercado: "Rabo Salgado, R$ 7,99!". Deviam botar embaixo: "Não recomendado para hipertensos!". Rarará. E olha esse outdoor em Petrolina, Pernambuco: "Governo Federal. Brasil. País Rico é País Sem POPREZA". Rarará! O Brasil acabou com a "popreza". E com a língua portuguesa! Brasileiro escreve tudo errado, mas todo mundo se entende! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Dilma vai dar uma declaração: "Crianças, vou dar uma voadora se sua mãe se não vier trabalhar"
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Hoje! Dia da Padroeira e Dia das Crianças. E eu acordei deprimido porque não sou mais criança! E a Nossa Senhora da Aparecida que me perdoe, mas a padroeira do Brasil é a Ladroeira. Nossa Senhora da Ladroeira!
E como esse ano não tem eleição, não tem político na Basílica. Só o Alckmin. Que é barata de igreja. O Serra Vampiro Anêmico não pode ir. Quando o padre joga água benta, ele dissolve. Rarará!
E vampiro não tem medo de crucifixo? Não, o crucifixo que tem medo do Serra!
E a Dilma quando foi pela primeira vez na Basílica, gritou: "Que lindo! Parece uma padaria!". Rarará! E eu disse que vai ter um programa de ajuda ao Eike: Bolsa Famíliax. Todos com xis no nome terão direito. Xisleine, Xisvaldo, Xana e Xuxa!
Gente, e o discurso da Marina? Uma amiga me disse que a Marina tá parecendo a Menina Pastora Louca! Rarará. E essa fusão Campos-Marina devia ser CAMA! Não tem rede, deita na cama. Se não der certo, a CAMA vira MACA! Rarará! Eu acho que a Marina vai dar uma rasteira e roubar o partido do Eduardo Campos. Que com aquele olho esbugalhado parece o Jack Nicholson em "O Iluminado"! A Menina Pastora Louca e O Iluminado!
E Dia da Criança! Diz que a Dilma vai dar uma declaração: "Crianças do meu Brasil: a Fadinha do Dente não existe, coelho não bota ovo e eu vou dar uma voadora na sua mãe se ela não vier trabalhar hoje".
E como disse o chargista Marco Aurélio: criança é a pessoa mais requisitada da casa. "Filho, o Macintosh não deleta." "Filho, dá uma olhada no iPhone da mamãe?" "Netinho, como ligo o celular?" E o filho de um amigo meu pediu de presente: "Um 1x1 com cabo HDMI e um MP3 com 64 GB". E ele não entendeu nada. E a filha duma amiga minha perguntou: "Mãe, o que é orgasmo?". "Não sei, pergunta pro seu pai!" Rarará. É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! E essa placa no supermercado: "Rabo Salgado, R$ 7,99!". Deviam botar embaixo: "Não recomendado para hipertensos!". Rarará. E olha esse outdoor em Petrolina, Pernambuco: "Governo Federal. Brasil. País Rico é País Sem POPREZA". Rarará! O Brasil acabou com a "popreza". E com a língua portuguesa! Brasileiro escreve tudo errado, mas todo mundo se entende! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
A batalha pelo Nordeste - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 12/10
O presidente Lula vai sentar praça no Nordeste no primeiro semestre do ano que vem. Vai percorrer os estados fazendo propaganda das realizações dos governos petistas para a região. E vai entrar fundo em Pernambuco para lembrar que levou para lá a Fiat, uma refinaria e um estaleiro. Petistas dizem que é preciso minar Eduardo Campos (PSB) na região decisiva para sua arrancada.
A luta pelo voto
A presidente Dilma pediu a sua assessoria para programar, ainda neste ano, duas incursões ao Nordeste. A primeira será no quintal do candidato do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), para inaugurar, em Afogados da Ingazeira, um trecho da adutora do Pajeú. A seguinte será para inaugurar a quinta etapa do Eixão das Águas, no Ceará, que levará água ao Porto de Pecém. A presidente Dilma não gostou de o candidato do PSDB, Aécio Neves, em seu programa de TV, ter mostrado imagens tentando vender que as obras da transposição do São Francisco estão paradas. Ela quer mostrar que existem 99 frentes de serviço e que a obra gera 6.300 empregos.
"A Marina (Silva) é uma espalha-brasas. Ela jogou o (Ronaldo) Caiado e o agronegócio no nosso colo"
Marcus Pestana
Presidente do PSDB mineiro e deputado federal
"Upgrade"
Não é só o PMDB que quer emplacar um senador no governo Dilma na reforma ministerial. O PP quer colocar seu presidente nacional, Ciro Nogueira (PI), no lugar do atual ministro Aguinaldo Ribeiro (PP), nas Cidades.
Boquinha
Os socialistas romperam com o governo Dilma e anunciaram que entregariam os cargos no governo federal. Mas alguns continuam agarrados aos seus. Um dos que se mantêm é o diretor-superintendente da Sudeco, Marcelo Dourado. Ele segue na cadeira e foi indicado pelo líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), na foto.
Como assim?
Durante meses os tucanos repetiram que quanto mais candidatos, melhor para garantir um segundo turno. Eram três e ficaram dois, com a saída de Marina Silva. E os tucanos continuam afirmando que a oposição saiu fortalecida.
Quem ganha?
Levantamento por telefone feito pela equipe de Antônio Lavareda, a pedido do PSB, mostra que os votos de Marina Silva se distribuíram entre a presidente Dilma (PT) e Eduardo Campos (PSB). Nas 2.300 ligações, os entrevistados foram informados que Marina havia renunciado em favor de Eduardo. Dilma lidera e o socialista está em empate técnico com Aécio Neves (PSDB-MG).
Arrancada
O candidato do PSDB, Aécio Neves, vai lançar em novembro, em Poços de Caldas (MG), documento com os eixos de seu programa para presidente. Os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Antonio Anastasia (MG) estarão ao seu lado.
De volta
O ex-ministro das Relações Institucionais Walfrido Mares Guia tem ajudado o ex-presidente Lula nas articulações políticas. Auxiliou na filiação de Josué Alencar da Silva ao PMDB e está por trás de costuras eleitorais nos estados.
Proibido para maiores. Surpreendeu o PSB de São Paulo a faixa etária dos integrantes da Executiva da Rede. A idade média é 22 anos.
A luta pelo voto
A presidente Dilma pediu a sua assessoria para programar, ainda neste ano, duas incursões ao Nordeste. A primeira será no quintal do candidato do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), para inaugurar, em Afogados da Ingazeira, um trecho da adutora do Pajeú. A seguinte será para inaugurar a quinta etapa do Eixão das Águas, no Ceará, que levará água ao Porto de Pecém. A presidente Dilma não gostou de o candidato do PSDB, Aécio Neves, em seu programa de TV, ter mostrado imagens tentando vender que as obras da transposição do São Francisco estão paradas. Ela quer mostrar que existem 99 frentes de serviço e que a obra gera 6.300 empregos.
"A Marina (Silva) é uma espalha-brasas. Ela jogou o (Ronaldo) Caiado e o agronegócio no nosso colo"
Marcus Pestana
Presidente do PSDB mineiro e deputado federal
"Upgrade"
Não é só o PMDB que quer emplacar um senador no governo Dilma na reforma ministerial. O PP quer colocar seu presidente nacional, Ciro Nogueira (PI), no lugar do atual ministro Aguinaldo Ribeiro (PP), nas Cidades.
Boquinha
Os socialistas romperam com o governo Dilma e anunciaram que entregariam os cargos no governo federal. Mas alguns continuam agarrados aos seus. Um dos que se mantêm é o diretor-superintendente da Sudeco, Marcelo Dourado. Ele segue na cadeira e foi indicado pelo líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), na foto.
Como assim?
Durante meses os tucanos repetiram que quanto mais candidatos, melhor para garantir um segundo turno. Eram três e ficaram dois, com a saída de Marina Silva. E os tucanos continuam afirmando que a oposição saiu fortalecida.
Quem ganha?
Levantamento por telefone feito pela equipe de Antônio Lavareda, a pedido do PSB, mostra que os votos de Marina Silva se distribuíram entre a presidente Dilma (PT) e Eduardo Campos (PSB). Nas 2.300 ligações, os entrevistados foram informados que Marina havia renunciado em favor de Eduardo. Dilma lidera e o socialista está em empate técnico com Aécio Neves (PSDB-MG).
Arrancada
O candidato do PSDB, Aécio Neves, vai lançar em novembro, em Poços de Caldas (MG), documento com os eixos de seu programa para presidente. Os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Antonio Anastasia (MG) estarão ao seu lado.
De volta
O ex-ministro das Relações Institucionais Walfrido Mares Guia tem ajudado o ex-presidente Lula nas articulações políticas. Auxiliou na filiação de Josué Alencar da Silva ao PMDB e está por trás de costuras eleitorais nos estados.
Proibido para maiores. Surpreendeu o PSB de São Paulo a faixa etária dos integrantes da Executiva da Rede. A idade média é 22 anos.
Vacina dolorosa - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 12/10
O PSDB de São Paulo leva ao ar a partir de segunda-feira propaganda que cita abertamente as denúncias de formação de cartel em licitações de trem e metrô no Estado. Na peça, Geraldo Alckmin menciona ações para investigar as suspeitas e diz que o governo age com firmeza para evitar desvios. O objetivo é desarmar a oposição e destacar a "coragem" do governador. Haverá quatro dias de inserções em uma semana. Outros spots citam ações em áreas como saúde e ensino técnico.
Linha cruzada O Palácio dos Bandeirantes atribui ao Judiciário, que negou a prisão preventiva de 161 denunciados por ligação com o PCC, a culpa por "jogar por terra" uma operação que "desmontaria" a facção criminosa.
Salve Marco Camacho, o Marcola, recebeu no dia 8 notificação da Justiça de que havia um pedido de RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) contra ele. Isso, segundo o governo, alertou o PCC sobre a operação sigilosa.
Genérica Já o Judiciário vê inépcia da denúncia do Ministério Público, que, apesar de ter 890 páginas, só dedica duas a justificar as centenas de pedidos de prisão, sem individualizar o perigo que cada um representaria.
Veja bem Ricardo Lewandowski diz que precisou escolher "entre a aristocracia do velho regime e a democracia constitucional", ao decidir que todos os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo podem disputar cargos de direção.
Onde pega A liminar do ministro do STF, que é oriundo do TJ-SP, abre brecha para a reeleição do presidente do tribunal, Ivan Sartori.
In love Dilma Rousseff e Lula brincaram anteontem que Aloizio Mercadante deveria mandar "um grande beijo" na entrevista após reunião no Alvorada. A presidente disse nesta semana que está em fase de beijos. O ministro deu um jeito de dar o recado.
Aperto... Guido Mantega (Fazenda) determinou que o Tesouro feche o cofre para os governos estaduais. O ministro não atendeu (nem vai atender) neste ano nenhum pedido de empréstimos pelo Programa de Ajuste Fiscal.
... no cinto O PAF é um programa do governo federal que permite que os Estados contratem operações de crédito com mais facilidade. Entre os governos que solicitaram essa linha estão os de São Paulo e Rio de Janeiro.
Em família Marina Silva vai jantar na casa de Eduardo Campos, no Recife, na segunda-feira. Sentará à mesa com a família do governador, amigos e aliados mais próximos. No fim de agosto, o presidente do PSB recebeu Aécio Neves (PSDB) e posou para fotos com o tucano em sua sala.
É a economia Ontem, Marina continuou seu contato com o mercado financeiro. Pela manhã, deu palestra em evento reservado do banco Crédit Suisse em São Paulo.
Valendo Campos encomendou pesquisa telefônica de intenção de voto após o anúncio da aliança com Marina. Foram testados cenários com ambos como candidatos. O levantamento foi feito por Antonio Lavareda, sócio de Duda Mendonça.
Tô fora 1 O PSB do Rio decidiu ontem romper com o prefeito Eduardo Paes (PMDB). A sigla entregou seus cargos na Secretaria de Ciência e Tecnologia, ocupados por indicação do ex-presidente pessebista, Alexandre Cardoso.
Tô fora 2 O deputado federal Glauber Braga assumiu a direção do partido na capital fluminense. O PSB também decidiu emitir uma carta aberta em apoio aos professores do município, que protestam contra Paes.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Tem muita gente apressada em comprar ingresso para a final, esquecendo que ainda precisa jogar as eliminatórias."
DE AÉCIO NEVES (MG), presidente do PSDB e pré-candidato à Presidência, sobre o cenário eleitoral após a aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva.
contraponto
Evolução da espécie
Durante votação no Congresso, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), tentou incluir no texto da medida provisória do Mais Médicos uma emenda que acaba com o exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
--O líder do PMDB quer Mais Médicos e menos advogados --provocou Sílvio Costa (PSC-PE).
--Quero mais advogados também! --reagiu Cunha.
--Mas de pior qualidade? --retrucou Costa.
--Isso não é um "jabuti", é uma tartaruga gigante --completou Ivan Valente (PSOL-SP), em referência ao apelido dado a emendas que destoam do texto original.
O PSDB de São Paulo leva ao ar a partir de segunda-feira propaganda que cita abertamente as denúncias de formação de cartel em licitações de trem e metrô no Estado. Na peça, Geraldo Alckmin menciona ações para investigar as suspeitas e diz que o governo age com firmeza para evitar desvios. O objetivo é desarmar a oposição e destacar a "coragem" do governador. Haverá quatro dias de inserções em uma semana. Outros spots citam ações em áreas como saúde e ensino técnico.
Linha cruzada O Palácio dos Bandeirantes atribui ao Judiciário, que negou a prisão preventiva de 161 denunciados por ligação com o PCC, a culpa por "jogar por terra" uma operação que "desmontaria" a facção criminosa.
Salve Marco Camacho, o Marcola, recebeu no dia 8 notificação da Justiça de que havia um pedido de RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) contra ele. Isso, segundo o governo, alertou o PCC sobre a operação sigilosa.
Genérica Já o Judiciário vê inépcia da denúncia do Ministério Público, que, apesar de ter 890 páginas, só dedica duas a justificar as centenas de pedidos de prisão, sem individualizar o perigo que cada um representaria.
Veja bem Ricardo Lewandowski diz que precisou escolher "entre a aristocracia do velho regime e a democracia constitucional", ao decidir que todos os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo podem disputar cargos de direção.
Onde pega A liminar do ministro do STF, que é oriundo do TJ-SP, abre brecha para a reeleição do presidente do tribunal, Ivan Sartori.
In love Dilma Rousseff e Lula brincaram anteontem que Aloizio Mercadante deveria mandar "um grande beijo" na entrevista após reunião no Alvorada. A presidente disse nesta semana que está em fase de beijos. O ministro deu um jeito de dar o recado.
Aperto... Guido Mantega (Fazenda) determinou que o Tesouro feche o cofre para os governos estaduais. O ministro não atendeu (nem vai atender) neste ano nenhum pedido de empréstimos pelo Programa de Ajuste Fiscal.
... no cinto O PAF é um programa do governo federal que permite que os Estados contratem operações de crédito com mais facilidade. Entre os governos que solicitaram essa linha estão os de São Paulo e Rio de Janeiro.
Em família Marina Silva vai jantar na casa de Eduardo Campos, no Recife, na segunda-feira. Sentará à mesa com a família do governador, amigos e aliados mais próximos. No fim de agosto, o presidente do PSB recebeu Aécio Neves (PSDB) e posou para fotos com o tucano em sua sala.
É a economia Ontem, Marina continuou seu contato com o mercado financeiro. Pela manhã, deu palestra em evento reservado do banco Crédit Suisse em São Paulo.
Valendo Campos encomendou pesquisa telefônica de intenção de voto após o anúncio da aliança com Marina. Foram testados cenários com ambos como candidatos. O levantamento foi feito por Antonio Lavareda, sócio de Duda Mendonça.
Tô fora 1 O PSB do Rio decidiu ontem romper com o prefeito Eduardo Paes (PMDB). A sigla entregou seus cargos na Secretaria de Ciência e Tecnologia, ocupados por indicação do ex-presidente pessebista, Alexandre Cardoso.
Tô fora 2 O deputado federal Glauber Braga assumiu a direção do partido na capital fluminense. O PSB também decidiu emitir uma carta aberta em apoio aos professores do município, que protestam contra Paes.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Tem muita gente apressada em comprar ingresso para a final, esquecendo que ainda precisa jogar as eliminatórias."
DE AÉCIO NEVES (MG), presidente do PSDB e pré-candidato à Presidência, sobre o cenário eleitoral após a aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva.
contraponto
Evolução da espécie
Durante votação no Congresso, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), tentou incluir no texto da medida provisória do Mais Médicos uma emenda que acaba com o exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
--O líder do PMDB quer Mais Médicos e menos advogados --provocou Sílvio Costa (PSC-PE).
--Quero mais advogados também! --reagiu Cunha.
--Mas de pior qualidade? --retrucou Costa.
--Isso não é um "jabuti", é uma tartaruga gigante --completou Ivan Valente (PSOL-SP), em referência ao apelido dado a emendas que destoam do texto original.
Brinde - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém
O GLOBO - 12/10
Evangélico, lá não muito praticante, Pezão nunca misturou sua crença religiosa com a política. Mas, em época de eleição, candidato frequenta até terreiro de macumba.
E foi depois de uma dessas , incursões que o vice-govemador entrou eufórico no gabinete de Cabral:
— Descobri a minha verdadeira religião. É a da turma do "Universo em desencanto"!
— Por quê?
— O pastor me recebeu perguntando logo: cerveja ou uísque?!
Provocação, não!
Cabral, sabendo que Pezão é Tim Maia, ícone da seita de carteirinha, implorou:
— Você pode declamar aqui todos os capítulos do "Universo em desencanto" cantar todas as músicas do Tim Maia, mas cante para mim "Me dê motivos/ pra ir embora (...)"
Sob medida
Já que estamos falando em música na política, e uma delas, " Eduardo e Mônica" está provocando litígio entre o filho de Renato Russo e a turma do neto de Miguel Arraes, me vem à mente uma das músicas do Chico preferidas do Cabral. Só que o governador nunca imaginaria um dia viver essa situação. O nome da música é "Hino da repressão" e começa assim:
"Se atiras mendigos/ No imundo xadrez/ Com teus inimigos/ E amigos, talvez/ A lei tem motivos/ Pra te confinar/ Nas grades do teu próprio lar (...)"
ALDO SAIRÁ A SEIS MESES DA COPA
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, confirmou a esta coluna que deverá mesmo deixar o cargo em dezembro para poder se candidatar, preferencialmente, ao governo de São Paulo pelo PCdoB.
Diante da minha estupefação de ver o comandante da festa deixar o salão, ainda inacabado, a seis meses do baile, Aldo reagiu:
— Não tenho o direito de disputar o governo de SP?! O calendário da Copa vai ser cumprido!
Agora, em dezembro, todos os 39 ministros, a pedido da própria Dilma, devolvem seus cargos para que a presidente possa aceitar os dos que irão disputar eleições em 2014 e recusar os daqueles que, em não disputando, poderão chegar com ela até o fim do mandato, sem prejuízos eleitorais.
Essa é uma exigência legal, praticada a seis meses das eleições. Mas Dilma prefere fazer em dezembro, pois sabe que, em seis meses, o único despacho que ministro novo terá com ela será o da assinatura de posse. E olhe lá!
Dia das Crianças
Dilma fechou ontem a semana acreditando que José Serra será mesmo o candidato do PSDB à Presidência da República.
E foi para Porto Alegre brincar hoje, Dia das Crianças, com o neto, Gabriel Rousseff.
Nos bancos
Se um jornalista estrangeiro desembarcar hoje no Brasil e cruzar a lista dos candidatos com as do Datafolha ou do Ibope, vai achar que o cargo mais disputado é o de vice ou candidatos reservas.
Meu Deus!
Telefonista da Gleisi quase baixou no hospital depois do ocorrido. Ligou para o Alvorada, como faz habitualmente, para a telefonista de lá passar a ligação ao ajudante de ordem, e este, finalmente, à presidente. Mal a voz feminina de lá falou "alô" a telefonista da Gleisi viu uma ligação do marido da ministra e não se fez de rogada: "Espere um segundo, por favor" disse a moça, crente que falava com uma colega.
Para a sorte da moça, a ligação de Bernardo para Gleisi não durou um minuto. E, quando voltou à "voz" presa na linha, ouviu a voz inconfundível: "Minha filha, você quer falar com quem?"
O melhor
Não comento o assunto, só informo: Franklin Martins, talvez pelo estilo frio e reservado, está ganhando o jogo de prestígio contra o marqueteiro João Santana no comitê da reeleição da Dilma.
Na verdade, Martins não está disputando nada contra Santana. Está apenas sendo tratado com o merecido status de competente jornalista e ex-ministro influente de Lula.
Mídia
Fontes pernambucanas informam que o governo Dilma está fazendo propaganda pesada na mídia local.
No que faz muito bem! Vai deixar o Campos fazer?
Data
Há 21 anos, Ulysses desaparecia no mar.
Evangélico, lá não muito praticante, Pezão nunca misturou sua crença religiosa com a política. Mas, em época de eleição, candidato frequenta até terreiro de macumba.
E foi depois de uma dessas , incursões que o vice-govemador entrou eufórico no gabinete de Cabral:
— Descobri a minha verdadeira religião. É a da turma do "Universo em desencanto"!
— Por quê?
— O pastor me recebeu perguntando logo: cerveja ou uísque?!
Provocação, não!
Cabral, sabendo que Pezão é Tim Maia, ícone da seita de carteirinha, implorou:
— Você pode declamar aqui todos os capítulos do "Universo em desencanto" cantar todas as músicas do Tim Maia, mas cante para mim "Me dê motivos/ pra ir embora (...)"
Sob medida
Já que estamos falando em música na política, e uma delas, " Eduardo e Mônica" está provocando litígio entre o filho de Renato Russo e a turma do neto de Miguel Arraes, me vem à mente uma das músicas do Chico preferidas do Cabral. Só que o governador nunca imaginaria um dia viver essa situação. O nome da música é "Hino da repressão" e começa assim:
"Se atiras mendigos/ No imundo xadrez/ Com teus inimigos/ E amigos, talvez/ A lei tem motivos/ Pra te confinar/ Nas grades do teu próprio lar (...)"
ALDO SAIRÁ A SEIS MESES DA COPA
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, confirmou a esta coluna que deverá mesmo deixar o cargo em dezembro para poder se candidatar, preferencialmente, ao governo de São Paulo pelo PCdoB.
Diante da minha estupefação de ver o comandante da festa deixar o salão, ainda inacabado, a seis meses do baile, Aldo reagiu:
— Não tenho o direito de disputar o governo de SP?! O calendário da Copa vai ser cumprido!
Agora, em dezembro, todos os 39 ministros, a pedido da própria Dilma, devolvem seus cargos para que a presidente possa aceitar os dos que irão disputar eleições em 2014 e recusar os daqueles que, em não disputando, poderão chegar com ela até o fim do mandato, sem prejuízos eleitorais.
Essa é uma exigência legal, praticada a seis meses das eleições. Mas Dilma prefere fazer em dezembro, pois sabe que, em seis meses, o único despacho que ministro novo terá com ela será o da assinatura de posse. E olhe lá!
Dia das Crianças
Dilma fechou ontem a semana acreditando que José Serra será mesmo o candidato do PSDB à Presidência da República.
E foi para Porto Alegre brincar hoje, Dia das Crianças, com o neto, Gabriel Rousseff.
Nos bancos
Se um jornalista estrangeiro desembarcar hoje no Brasil e cruzar a lista dos candidatos com as do Datafolha ou do Ibope, vai achar que o cargo mais disputado é o de vice ou candidatos reservas.
Meu Deus!
Telefonista da Gleisi quase baixou no hospital depois do ocorrido. Ligou para o Alvorada, como faz habitualmente, para a telefonista de lá passar a ligação ao ajudante de ordem, e este, finalmente, à presidente. Mal a voz feminina de lá falou "alô" a telefonista da Gleisi viu uma ligação do marido da ministra e não se fez de rogada: "Espere um segundo, por favor" disse a moça, crente que falava com uma colega.
Para a sorte da moça, a ligação de Bernardo para Gleisi não durou um minuto. E, quando voltou à "voz" presa na linha, ouviu a voz inconfundível: "Minha filha, você quer falar com quem?"
O melhor
Não comento o assunto, só informo: Franklin Martins, talvez pelo estilo frio e reservado, está ganhando o jogo de prestígio contra o marqueteiro João Santana no comitê da reeleição da Dilma.
Na verdade, Martins não está disputando nada contra Santana. Está apenas sendo tratado com o merecido status de competente jornalista e ex-ministro influente de Lula.
Mídia
Fontes pernambucanas informam que o governo Dilma está fazendo propaganda pesada na mídia local.
No que faz muito bem! Vai deixar o Campos fazer?
Data
Há 21 anos, Ulysses desaparecia no mar.
A VOZ DAS VOZES - MONICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 12/10
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e Marisa Monte se reuniram anteontem no Rio. Em pauta, a repercussão do posicionamento deles sobre a questão das biografias. Decidiram, em primeiro lugar, contratar uma assessoria que funcione como porta-voz do grupo, reunido na entidade Procure Saber. A ideia é fazer com que seus argumentos sejam divulgados de modo mais claro.
CHAPA
Apesar das críticas contundentes que receberam de escritores, jornalistas, editores e outros músicos, o grupo permanece na defesa da manutenção da lei atual. Ela diz que uma biografia só pode ser feita depois de autorizada pelo personagem a ser retratado. Na visão de escritores como Laurentino Gomes, a regra transforma o Brasil no paraíso das biografias chapa-branca.
CHAPA 2
Os cantores discutiram argumentos como o de que uma editora pode ganhar milhões com um livro que inclusive abrigue mentiras sobre o personagem que pretende retratar, sem que o atingido tenha instrumentos eficientes para evitar um eventual dano. Muitos ponderaram que é preciso diferenciar a empresa e seu lucro de jornalistas e autores que fazem um trabalho investigativo. Mas continuaram achando que o melhor instrumento para coibir o que consideram abusos é a manutenção da lei em vigor.
JARDIM DE INFÂNCIA
O número de crianças com menos de dez anos no Estado de São Paulo é de 5,5 milhões em 2012, segundo dados inéditos da Fundação Seade. Equivale a 20% da população infantil do país. A capital concentra 1,5 milhão das crianças. Com dados dos cartórios, o estudo mostra ainda que nasceram 312 mil bebês do sexo masculino e 297 mil do feminino, em 2012, no Estado.
NA CABEÇA
O movimento Psicofobia É Crime, que chama atenção para o preconceito contra pessoas que sofrem de transtornos como autismo, bipolaridade, depressão e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), ganhou a adesão de Cássia Kiss, Luciano Szafir, Mauricio Mattar e Luciana Vendramini.
NA CABEÇA 2
"Cerca de 40 milhões de brasileiros têm algum tipo de transtorno psiquiátrico. É grande a falta de informação e o preconceito, tanto da família quanto dos próprios médicos", afirma Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. A questão é tema do congresso da especialidade, que ocorre entre os dias 23 e 26, em Curitiba.
ALTAR
Zezé di Camargo e Zilu serão padrinhos de casamento de um sobrinho dela, amanhã, em Goiânia. Eles se separaram, mas continuam amigos. "Ainda somos uma família. Só não estamos casados", diz ela. De volta a SP, após temporada em Miami, Zilu afirma estar gostando da nova fase. "É até melhor, porque a relação de marido e mulher tem muita cobrança."
MENORES FRASCOS
E Zezé e o irmão Luciano vão entrar na onda do EP (álbum com menos faixas). A dupla lança nos próximos dias "Teorias", com cinco músicas inéditas. "O Roberto [Carlos] lançou esse formato e vendeu muito [2 milhões de cópias]. É uma maneira de competir com os piratões também", diz Zezé.
ODISSEIA NO TEMPO
O produtor de filmes Jan Harlan e a atriz Christiane Kubrick, viúva de Stanley Kubrick, estiveram na abertura da exposição sobre o diretor, realizada anteontem no MIS. O ator André Frateschi, com a mulher, a cantora Miranda Kassin, o vereador Andrea Matarazzo e o cineasta Bruno Barreto, com Lisa Graham, estiveram no evento.
FIGURINHA FÁCIL
Visivelmente mais magro, o humorista Fábio Porchat, que está no Medida Certa, do "Fantástico", recebeu convidados na pré-estreia do longa "Meu Passado me Condena - O Filme", anteontem, no shopping Eldorado. A outra protagonista, Miá Mello, e os atores Juliana Didone, Alejandro Claveaux e Rafael Queiroga, que também fazem parte do elenco, passaram por lá.
CURTO-CIRCUITO
A mostra "Resistir É Preciso...", sobre a ditadura, começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, às 11h.
Tiago Abravanel e o maestro João Carlos Martins fazem pocket show hoje, às 19h, na Brookfield Incorporações, na Lapa.
Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura de SP, estará amanhã, às 19h, no ciclo de debates Movimentos que Queremos, na Casa Fora do Eixo, no Cambuci.
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e Marisa Monte se reuniram anteontem no Rio. Em pauta, a repercussão do posicionamento deles sobre a questão das biografias. Decidiram, em primeiro lugar, contratar uma assessoria que funcione como porta-voz do grupo, reunido na entidade Procure Saber. A ideia é fazer com que seus argumentos sejam divulgados de modo mais claro.
CHAPA
Apesar das críticas contundentes que receberam de escritores, jornalistas, editores e outros músicos, o grupo permanece na defesa da manutenção da lei atual. Ela diz que uma biografia só pode ser feita depois de autorizada pelo personagem a ser retratado. Na visão de escritores como Laurentino Gomes, a regra transforma o Brasil no paraíso das biografias chapa-branca.
CHAPA 2
Os cantores discutiram argumentos como o de que uma editora pode ganhar milhões com um livro que inclusive abrigue mentiras sobre o personagem que pretende retratar, sem que o atingido tenha instrumentos eficientes para evitar um eventual dano. Muitos ponderaram que é preciso diferenciar a empresa e seu lucro de jornalistas e autores que fazem um trabalho investigativo. Mas continuaram achando que o melhor instrumento para coibir o que consideram abusos é a manutenção da lei em vigor.
JARDIM DE INFÂNCIA
O número de crianças com menos de dez anos no Estado de São Paulo é de 5,5 milhões em 2012, segundo dados inéditos da Fundação Seade. Equivale a 20% da população infantil do país. A capital concentra 1,5 milhão das crianças. Com dados dos cartórios, o estudo mostra ainda que nasceram 312 mil bebês do sexo masculino e 297 mil do feminino, em 2012, no Estado.
NA CABEÇA
O movimento Psicofobia É Crime, que chama atenção para o preconceito contra pessoas que sofrem de transtornos como autismo, bipolaridade, depressão e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), ganhou a adesão de Cássia Kiss, Luciano Szafir, Mauricio Mattar e Luciana Vendramini.
NA CABEÇA 2
"Cerca de 40 milhões de brasileiros têm algum tipo de transtorno psiquiátrico. É grande a falta de informação e o preconceito, tanto da família quanto dos próprios médicos", afirma Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. A questão é tema do congresso da especialidade, que ocorre entre os dias 23 e 26, em Curitiba.
ALTAR
Zezé di Camargo e Zilu serão padrinhos de casamento de um sobrinho dela, amanhã, em Goiânia. Eles se separaram, mas continuam amigos. "Ainda somos uma família. Só não estamos casados", diz ela. De volta a SP, após temporada em Miami, Zilu afirma estar gostando da nova fase. "É até melhor, porque a relação de marido e mulher tem muita cobrança."
MENORES FRASCOS
E Zezé e o irmão Luciano vão entrar na onda do EP (álbum com menos faixas). A dupla lança nos próximos dias "Teorias", com cinco músicas inéditas. "O Roberto [Carlos] lançou esse formato e vendeu muito [2 milhões de cópias]. É uma maneira de competir com os piratões também", diz Zezé.
ODISSEIA NO TEMPO
O produtor de filmes Jan Harlan e a atriz Christiane Kubrick, viúva de Stanley Kubrick, estiveram na abertura da exposição sobre o diretor, realizada anteontem no MIS. O ator André Frateschi, com a mulher, a cantora Miranda Kassin, o vereador Andrea Matarazzo e o cineasta Bruno Barreto, com Lisa Graham, estiveram no evento.
FIGURINHA FÁCIL
Visivelmente mais magro, o humorista Fábio Porchat, que está no Medida Certa, do "Fantástico", recebeu convidados na pré-estreia do longa "Meu Passado me Condena - O Filme", anteontem, no shopping Eldorado. A outra protagonista, Miá Mello, e os atores Juliana Didone, Alejandro Claveaux e Rafael Queiroga, que também fazem parte do elenco, passaram por lá.
CURTO-CIRCUITO
A mostra "Resistir É Preciso...", sobre a ditadura, começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, às 11h.
Tiago Abravanel e o maestro João Carlos Martins fazem pocket show hoje, às 19h, na Brookfield Incorporações, na Lapa.
Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura de SP, estará amanhã, às 19h, no ciclo de debates Movimentos que Queremos, na Casa Fora do Eixo, no Cambuci.
5 movimentos de um acordo - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 12/10
A união que revelou uma nova ordem eleitoral e desconcertou petistas e tucanos ainda é vista com reservas, principalmente pela fragilidade da relação entre Eduardo Campos e Marina Silva
Depois de uma semana do desconcertante acordo entre Marina Silva e Eduardo Campos, cinco movimentos podem ser percebidos no xadrez montado pelos dois ex-ministros do governo Lula. Até agora, o jogo se desenvolve de forma contida, como se para evitar rupturas logo no início. Enquanto o governo e o PT ainda não entenderam nada, os tucanos — os primeiros perdedores com a aliança — simplesmente se recolheram. Resta avaliar os riscos e os acertos de Marina e Eduardo. A eles:
1. Eduardo Campos orgulha-se de ser visto como um estrategista político, por mais que admita não ter previsto em momento algum a união com Marina. A ex-senadora, por sua vez, é vaidosa e gosta de deixar claro a independência. Qualquer desconfiança na relação nos próximos meses deve colocar tudo a perder. E isso pode ocorrer mais por divergências pessoais do que propriamente contradições políticas ou ideológicas, pelo menos é o que integrantes do PSB temem — e os governistas torcem.
2. Por mais que os dois neguem qualquer tensão na escolha da cabeça de chapa, em algum momento isso deve ocorrer, afinal, entre os aliados de primeira hora de Marina, há gente que não se conforma com o fato de ela ficar de coadjuvante. O PSB torce que, quando esse momento chegar, Eduardo tenha ganhado musculatura e aumentado os atuais índices de intenção de votos. Os petistas, evidentemente, acompanham esse jogo de longe, torcendo para que tal disputa não termine tão cedo.
3. É inquestionável que o grande ganhador na aliança é Eduardo, que, na pior das hipóteses, passou a ter mais importância nas eleições se comparado ao momento anterior ao acordo com Marina. No caso da ex-senadora, a história é outra. Vice na chapa, Marina só ganha se Eduardo for vencedor. Derrotada, terá o desafio de quebrar o tabu da maldição dos vices em busca de significância após as eleições. Aqui, basta ver o exemplo das chapas de Lula em 1989 (Bisol), 1994 (Mercadante) e 1998 (Brizola).
4. A busca de Marina por Eduardo ocorreu quando a ex-senadora estava nitidamente irritada com o PT. Ela queria não apenas arrumar uma saída para as eleições, mas também dar uma resposta à altura aos petistas. Ao longo da semana, Marina não parou de fazer referências a uma declaração do marqueteiro João Santana à revista Época, prevendo que, em 2014, existiria a “antropofagia de anões”, numa referência à oposição. Em todas entrevistas e discursos, ela fez questão de citar a “união dos anões”. A raiva nunca foi boa conselheira, por mais que tenha mudado radicalmente o cenário eleitoral.
5. Por mais que Eduardo e Marina se esforcem a mostrar a harmonia e a construção de uma aliança programática, as declarações da ex-senadora reforçando que não é militante do PSB apenas revelam que o partido serviu de uma legenda de aluguel. Não? Pois faça um exercício e troque os personagens. Em vez de Marina e Eduardo, dois caciques do Congresso ou da Câmara Legislativa. Seria ou não aluguel? Marina, com toda a força do discurso, não consegue mudar o nome da politicagem. Se tal coisa vai fazer alguma diferença na capacidade de votos da ex-senadora, isso fica para a próxima coluna.
Estresse
O momento mais tenso da noite de sexta-feira da semana passada, durante a reunião entre Eduardo e Marina, foi quando um militante da Rede informou à ex-senadora que o encontro dela com Roberto Freire, do PPS, marcado para a manhã seguinte, tinha vazado para a imprensa. Irritada com a notícia, Marina disse rispidamente que cancelaria a agenda de sábado com o deputado. Naquele momento, os interlocutores do PSB temeram pelo próprio acordo fechado com a ex-ministra. Tudo poderia ir por água abaixo caso alguma nota nos jornais fosse publicada antes mesmo do anúncio oficial da aliança do PSB com Marina. Chegaram mesmo a imaginar estar com uma sacola de votos reciclados na mão e, por uma reação intempestiva da ex-senadora, perder tudo por causa de simples comentários nas redes sociais ou nos jornais do dia seguinte. A tranquilidade só voltou depois que um dos assessores de confiança de Marina a convenceu de manter a reunião com Freire, mesmo com o vazamento para a imprensa.
A união que revelou uma nova ordem eleitoral e desconcertou petistas e tucanos ainda é vista com reservas, principalmente pela fragilidade da relação entre Eduardo Campos e Marina Silva
Depois de uma semana do desconcertante acordo entre Marina Silva e Eduardo Campos, cinco movimentos podem ser percebidos no xadrez montado pelos dois ex-ministros do governo Lula. Até agora, o jogo se desenvolve de forma contida, como se para evitar rupturas logo no início. Enquanto o governo e o PT ainda não entenderam nada, os tucanos — os primeiros perdedores com a aliança — simplesmente se recolheram. Resta avaliar os riscos e os acertos de Marina e Eduardo. A eles:
1. Eduardo Campos orgulha-se de ser visto como um estrategista político, por mais que admita não ter previsto em momento algum a união com Marina. A ex-senadora, por sua vez, é vaidosa e gosta de deixar claro a independência. Qualquer desconfiança na relação nos próximos meses deve colocar tudo a perder. E isso pode ocorrer mais por divergências pessoais do que propriamente contradições políticas ou ideológicas, pelo menos é o que integrantes do PSB temem — e os governistas torcem.
2. Por mais que os dois neguem qualquer tensão na escolha da cabeça de chapa, em algum momento isso deve ocorrer, afinal, entre os aliados de primeira hora de Marina, há gente que não se conforma com o fato de ela ficar de coadjuvante. O PSB torce que, quando esse momento chegar, Eduardo tenha ganhado musculatura e aumentado os atuais índices de intenção de votos. Os petistas, evidentemente, acompanham esse jogo de longe, torcendo para que tal disputa não termine tão cedo.
3. É inquestionável que o grande ganhador na aliança é Eduardo, que, na pior das hipóteses, passou a ter mais importância nas eleições se comparado ao momento anterior ao acordo com Marina. No caso da ex-senadora, a história é outra. Vice na chapa, Marina só ganha se Eduardo for vencedor. Derrotada, terá o desafio de quebrar o tabu da maldição dos vices em busca de significância após as eleições. Aqui, basta ver o exemplo das chapas de Lula em 1989 (Bisol), 1994 (Mercadante) e 1998 (Brizola).
4. A busca de Marina por Eduardo ocorreu quando a ex-senadora estava nitidamente irritada com o PT. Ela queria não apenas arrumar uma saída para as eleições, mas também dar uma resposta à altura aos petistas. Ao longo da semana, Marina não parou de fazer referências a uma declaração do marqueteiro João Santana à revista Época, prevendo que, em 2014, existiria a “antropofagia de anões”, numa referência à oposição. Em todas entrevistas e discursos, ela fez questão de citar a “união dos anões”. A raiva nunca foi boa conselheira, por mais que tenha mudado radicalmente o cenário eleitoral.
5. Por mais que Eduardo e Marina se esforcem a mostrar a harmonia e a construção de uma aliança programática, as declarações da ex-senadora reforçando que não é militante do PSB apenas revelam que o partido serviu de uma legenda de aluguel. Não? Pois faça um exercício e troque os personagens. Em vez de Marina e Eduardo, dois caciques do Congresso ou da Câmara Legislativa. Seria ou não aluguel? Marina, com toda a força do discurso, não consegue mudar o nome da politicagem. Se tal coisa vai fazer alguma diferença na capacidade de votos da ex-senadora, isso fica para a próxima coluna.
Estresse
O momento mais tenso da noite de sexta-feira da semana passada, durante a reunião entre Eduardo e Marina, foi quando um militante da Rede informou à ex-senadora que o encontro dela com Roberto Freire, do PPS, marcado para a manhã seguinte, tinha vazado para a imprensa. Irritada com a notícia, Marina disse rispidamente que cancelaria a agenda de sábado com o deputado. Naquele momento, os interlocutores do PSB temeram pelo próprio acordo fechado com a ex-ministra. Tudo poderia ir por água abaixo caso alguma nota nos jornais fosse publicada antes mesmo do anúncio oficial da aliança do PSB com Marina. Chegaram mesmo a imaginar estar com uma sacola de votos reciclados na mão e, por uma reação intempestiva da ex-senadora, perder tudo por causa de simples comentários nas redes sociais ou nos jornais do dia seguinte. A tranquilidade só voltou depois que um dos assessores de confiança de Marina a convenceu de manter a reunião com Freire, mesmo com o vazamento para a imprensa.
É a política industrial - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 12/10
Pode parecer paradoxal, mas não é. Depois dos governos militares, o governo Dilma foi dos que mais acreditaram na eficácia da política industrial. No entanto, não está sendo bem-sucedido. Vale questionar se cabe uma política desse tipo ou se apenas está sendo mal concebida e mal executada.
Os governos militares pretendiam promover toda a atividade produtiva nacional. Criaram reservas de mercado, como a da informática, empenharam-se na proteção à indústria, induziram setores inteiros a investir e a substituir importações, como nas áreas de armamentos, aeronáutica e equipamentos pesados para o setor nuclear. Converteram o BNDES em lançador de futuros potentados econômicos e em hospital de empresas combalidas.
Com a disparada da dívida externa e da inflação, as coisas deram mais errado do que certo. O governo Fernando Henrique entendeu que a política industrial mais importante é não ter política industrial, mas fortalecer os fundamentos da economia: estabilidade de preços, responsabilidade orçamentária, solidez nas contas externas. O pressuposto era o de que a previsibilidade da economia era o principal fator de avanço da indústria.
O governo Lula também começou assim, mas passou a estimular algumas atividades, principalmente a de biocombustíveis (etanol e biodiesel). Em 2006 apareceu o pré-sal e o entusiasmo se esvaiu. Mas enveredou para a criação de reservas de mercado (encomendas cativas) no setor de equipamentos para petróleo.
O governo Dilma aprofundou a proteção à indústria. Descarregou recursos públicos sobre o BNDES e sobre a Caixa Econômica Federal, primeiro para eleger e alimentar os tais campeões nacionais e, depois, para financiar a infraestrutura. A política dos campeões nacionais está afundando. A supertele Oi está passando para a Portugal Telecom. O frigorífico Marfrig foi absorvido pela JBS. A produtora de laticínios LBR afundou. O império de Eike Batista já não fumega mais.
Para o governo Dilma, a falta de competitividade da indústria devia-se, em grande parte, à herança dos juros insuportáveis, ao câmbio excessivamente valorizado e à sobrecarga das contribuições sociais. Mas em tudo fez apenas meia reversão. O protecionismo comercial (altas barreiras alfandegárias) esbarra com a nova realidade do suprimento global, no qual o que importa é usar componentes e peças de mais qualidade e preço mais baixo, venham de onde vierem.
Mais que tudo, onde funciona, como em alguns países asiáticos, uma política industrial exige que o governo saiba o que fazer e saiba fazer escolhas; e que tenha competência gerencial para fazer acontecer. São condições que faltam.
As decisões de política industrial vêm sendo casuísticas, temporárias, parciais e não alargam os horizontes para o setor privado. Estão sujeitas a incertezas, especialmente as jurídicas.
De mais a mais, o baixo crescimento econômico, a inflação alta demais, a qualidade insatisfatória das contas públicas e o aumento do rombo externo (déficit em conta corrente) mostram que a maior fragilidade dos fundamentos da economia continua minando a confiança (veja o gráfico) e comprometendo o sucesso de qualquer política industrial.
Pode parecer paradoxal, mas não é. Depois dos governos militares, o governo Dilma foi dos que mais acreditaram na eficácia da política industrial. No entanto, não está sendo bem-sucedido. Vale questionar se cabe uma política desse tipo ou se apenas está sendo mal concebida e mal executada.
Os governos militares pretendiam promover toda a atividade produtiva nacional. Criaram reservas de mercado, como a da informática, empenharam-se na proteção à indústria, induziram setores inteiros a investir e a substituir importações, como nas áreas de armamentos, aeronáutica e equipamentos pesados para o setor nuclear. Converteram o BNDES em lançador de futuros potentados econômicos e em hospital de empresas combalidas.
Com a disparada da dívida externa e da inflação, as coisas deram mais errado do que certo. O governo Fernando Henrique entendeu que a política industrial mais importante é não ter política industrial, mas fortalecer os fundamentos da economia: estabilidade de preços, responsabilidade orçamentária, solidez nas contas externas. O pressuposto era o de que a previsibilidade da economia era o principal fator de avanço da indústria.
O governo Lula também começou assim, mas passou a estimular algumas atividades, principalmente a de biocombustíveis (etanol e biodiesel). Em 2006 apareceu o pré-sal e o entusiasmo se esvaiu. Mas enveredou para a criação de reservas de mercado (encomendas cativas) no setor de equipamentos para petróleo.
O governo Dilma aprofundou a proteção à indústria. Descarregou recursos públicos sobre o BNDES e sobre a Caixa Econômica Federal, primeiro para eleger e alimentar os tais campeões nacionais e, depois, para financiar a infraestrutura. A política dos campeões nacionais está afundando. A supertele Oi está passando para a Portugal Telecom. O frigorífico Marfrig foi absorvido pela JBS. A produtora de laticínios LBR afundou. O império de Eike Batista já não fumega mais.
Para o governo Dilma, a falta de competitividade da indústria devia-se, em grande parte, à herança dos juros insuportáveis, ao câmbio excessivamente valorizado e à sobrecarga das contribuições sociais. Mas em tudo fez apenas meia reversão. O protecionismo comercial (altas barreiras alfandegárias) esbarra com a nova realidade do suprimento global, no qual o que importa é usar componentes e peças de mais qualidade e preço mais baixo, venham de onde vierem.
Mais que tudo, onde funciona, como em alguns países asiáticos, uma política industrial exige que o governo saiba o que fazer e saiba fazer escolhas; e que tenha competência gerencial para fazer acontecer. São condições que faltam.
As decisões de política industrial vêm sendo casuísticas, temporárias, parciais e não alargam os horizontes para o setor privado. Estão sujeitas a incertezas, especialmente as jurídicas.
De mais a mais, o baixo crescimento econômico, a inflação alta demais, a qualidade insatisfatória das contas públicas e o aumento do rombo externo (déficit em conta corrente) mostram que a maior fragilidade dos fundamentos da economia continua minando a confiança (veja o gráfico) e comprometendo o sucesso de qualquer política industrial.
Pragas ideológicas - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 12/10
Questionamento de semente geneticamente modificada é guerra comercial que não consegue disfarçar objetivos
Não há maior dano à saúde das instituições que o ativismo político-ideológico fora de seu espaço legal --o Poder Legislativo. Quando um membro do Judiciário ou do Ministério Público afronta a lei em nome de alguma causa, seja qual for, atenta contra o Estado democrático de Direito. Por extensão, contra o interesse público.
Feito o preâmbulo, vamos ao ponto. O Ministério Público Federal, Procuradoria no Distrito Federal, acolhendo denúncia do procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, instaurou inquérito civil público para investigar possível ilegalidade na liberação comercial de sementes de soja e milho geneticamente modificados.
Contrariou --e pôs sob suspeita-- parecer de especialistas da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em nome de uma causa, o fundamentalismo ambiental, que defende com ênfase equivalente ao desconhecimento que exibe da matéria.
Para sustentá-la, comete irregularidades: requisita à CTNBio "estudos técnicos perfunctórios" sobre os efeitos cumulativos e sinérgicos que a liberação dessas sementes poderia ensejar "à saúde pública, à qualidade dos alimentos, à biodiversidade nos biomas impactados e ao ambiente equilibrado e saudável".
O detalhe é que, por força da Lei dos Agrotóxicos, não é àquele órgão que tal solicitação deve ser feita, mas, sim, aos ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente (por meio do Ibama) e da Saúde (por meio da Anvisa). Se o fizesse, teria pronta resposta, desfazendo suas dúvidas (se é que elas existem mesmo).
Não é só: invoca o artigo 15 da Lei de Biossegurança para acusar a CTNBio de não ter realizado audiência pública antes de liberar as sementes. Ocorre que a referida lei faculta, mas não obriga a convocação de audiência pública.
O procurador, exorbitando de suas prerrogativas, exige o que a lei faculta àquele órgão, imiscuindo-se onde não lhe cabe.
Invoca, para tanto, parecer do Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (GEA), que não tem autoridade legal para deliberar sobre a matéria.
Se estivesse de fato interessado em defender o agricultor e a saúde pública, bastaria consultar minucioso estudo que a agrônoma Maria Thereza Pedroso, assessora para a área de política agrícola e agrária da bancada do PT na Câmara, fez, em 2003, a pedido do então líder Paulo Pimenta. Foi ele o relator da medida provisória 131, que estabeleceu normas para plantio e comercialização da produção de soja da safra de 2004.
Em razão disso, realizou três rodadas de audiências públicas no Rio Grande do Sul. Da primeira, constaram três audiências públicas; da segunda, seis; da terceira duas.
Portanto, a sociedade participou, sim, do debate, que envolveu oito municípios gaúchos: São Borja, São Luiz Gonzaga, Santo Antônio das Missões, Bossoroca, Cerro Largo, Três de Maio, Bozano e Santa Maria.
A maioria dos pesquisados pela agrônoma era pequenos produtores, de propriedades com menos de 50 hectares, que constituem mais de 90% dos cerca de cem mil produtores de soja transgênica daquele Estado.
Segundo ouviu deles, são falsas as informações que agora levam o MP a instaurar inquérito. Sobretudo uma: a de que a referida semente é estéril, inviabilizando um segundo plantio. Além de resistente ao herbicida glifosato, continua fértil após a colheita. Mais uma vez, os fatos desmentem os ativistas.
Os produtores relatam ainda que, além de economia financeira, houve ganhos em termos "econômicos, ambientais e sociais", pois, por utilizarem apenas um herbicida, os agricultores são menos expostos a outros, danosos à saúde e ao ambiente.
Há muitas outras considerações de ordem técnica e social no relatório, que o espaço de um artigo impede relacionar. Mas o procurador --e quem mais se interessar-- pode requisitá-lo à liderança do PT.
É documento público, que se atém aos fatos, imune a pragas ideológicas semeadas pelos ativistas que, por desinformação ou má-fé (ou ambas), desservem o país, numa guerra comercial que não consegue disfarçar seus objetivos.
Questionamento de semente geneticamente modificada é guerra comercial que não consegue disfarçar objetivos
Não há maior dano à saúde das instituições que o ativismo político-ideológico fora de seu espaço legal --o Poder Legislativo. Quando um membro do Judiciário ou do Ministério Público afronta a lei em nome de alguma causa, seja qual for, atenta contra o Estado democrático de Direito. Por extensão, contra o interesse público.
Feito o preâmbulo, vamos ao ponto. O Ministério Público Federal, Procuradoria no Distrito Federal, acolhendo denúncia do procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, instaurou inquérito civil público para investigar possível ilegalidade na liberação comercial de sementes de soja e milho geneticamente modificados.
Contrariou --e pôs sob suspeita-- parecer de especialistas da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em nome de uma causa, o fundamentalismo ambiental, que defende com ênfase equivalente ao desconhecimento que exibe da matéria.
Para sustentá-la, comete irregularidades: requisita à CTNBio "estudos técnicos perfunctórios" sobre os efeitos cumulativos e sinérgicos que a liberação dessas sementes poderia ensejar "à saúde pública, à qualidade dos alimentos, à biodiversidade nos biomas impactados e ao ambiente equilibrado e saudável".
O detalhe é que, por força da Lei dos Agrotóxicos, não é àquele órgão que tal solicitação deve ser feita, mas, sim, aos ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente (por meio do Ibama) e da Saúde (por meio da Anvisa). Se o fizesse, teria pronta resposta, desfazendo suas dúvidas (se é que elas existem mesmo).
Não é só: invoca o artigo 15 da Lei de Biossegurança para acusar a CTNBio de não ter realizado audiência pública antes de liberar as sementes. Ocorre que a referida lei faculta, mas não obriga a convocação de audiência pública.
O procurador, exorbitando de suas prerrogativas, exige o que a lei faculta àquele órgão, imiscuindo-se onde não lhe cabe.
Invoca, para tanto, parecer do Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (GEA), que não tem autoridade legal para deliberar sobre a matéria.
Se estivesse de fato interessado em defender o agricultor e a saúde pública, bastaria consultar minucioso estudo que a agrônoma Maria Thereza Pedroso, assessora para a área de política agrícola e agrária da bancada do PT na Câmara, fez, em 2003, a pedido do então líder Paulo Pimenta. Foi ele o relator da medida provisória 131, que estabeleceu normas para plantio e comercialização da produção de soja da safra de 2004.
Em razão disso, realizou três rodadas de audiências públicas no Rio Grande do Sul. Da primeira, constaram três audiências públicas; da segunda, seis; da terceira duas.
Portanto, a sociedade participou, sim, do debate, que envolveu oito municípios gaúchos: São Borja, São Luiz Gonzaga, Santo Antônio das Missões, Bossoroca, Cerro Largo, Três de Maio, Bozano e Santa Maria.
A maioria dos pesquisados pela agrônoma era pequenos produtores, de propriedades com menos de 50 hectares, que constituem mais de 90% dos cerca de cem mil produtores de soja transgênica daquele Estado.
Segundo ouviu deles, são falsas as informações que agora levam o MP a instaurar inquérito. Sobretudo uma: a de que a referida semente é estéril, inviabilizando um segundo plantio. Além de resistente ao herbicida glifosato, continua fértil após a colheita. Mais uma vez, os fatos desmentem os ativistas.
Os produtores relatam ainda que, além de economia financeira, houve ganhos em termos "econômicos, ambientais e sociais", pois, por utilizarem apenas um herbicida, os agricultores são menos expostos a outros, danosos à saúde e ao ambiente.
Há muitas outras considerações de ordem técnica e social no relatório, que o espaço de um artigo impede relacionar. Mas o procurador --e quem mais se interessar-- pode requisitá-lo à liderança do PT.
É documento público, que se atém aos fatos, imune a pragas ideológicas semeadas pelos ativistas que, por desinformação ou má-fé (ou ambas), desservem o país, numa guerra comercial que não consegue disfarçar seus objetivos.
A logística piorou - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 12/10
Na campanha eleitoral de 2010, o marqueteiro João Santana escolheu ligar a então candidata Dilma Rousseff à mobilidade. Ela aparecia se deslocando por todo o Brasil em transporte rápido e eficiente. Mas no governo dela o que houve foi uma piora da logística. Não é que o Brasil estivesse bem antes, mas, apesar de um agravamento ser impensável, foi o que aconteceu, segundo pesquisa.
O custo logístico de produção no Brasil é alto e você já sabe disso, mas o que o Instituto Ilos de Logística e Supply Chain mostrou em um congresso internacional esta semana é que ficou mais caro entre 2010 e 2012. Uma pesquisa do instituto constatou que houve o primeiro aumento de custo desde 2004, em relação ao PIB. O Brasil vinha melhorando devagar, mas teve um piora no governo Dilma. O aumento do custo supera R$ 100 bilhões para quem usa os serviços logísticos no Brasil.
Os gastos das empresas com transporte, armazenamento, administração e estoques subiram de 10,6% do PIB para 11,5%, com forte aumento dos transportes. Em termos nominais, houve salto de R$ 391 bilhões para R$ 507 bi com logística. O governo falou muito, mas não executou. As ferrovias estão estagnadas há 10 anos.
De dois em dois anos o Instituto Ilos faz uma pesquisa sobre os custos logísticos no Brasil. Desde 2004, o primeiro ano da série, até 2010, houve quedas desse gasto como proporção do PIB: de 12,1% para 11,5%, entre 2004 e 2006; para 10,9% até 2008; 10,6%, em 2010. Mas agora, em 2012, houve a primeira alta, para 11,5%.
- A economia cresceu pouco e a demanda por transporte continuou crescendo muito, cerca de 5% ao ano. A Produção agrícola aumentou e houve interiorização da produção, que fez a carga percorrer distâncias maiores. A política de incentivo à compra de carros aumentou o número de veículo nas estradas. A velocidade média dos caminhões diminuiu - explicou Maurício lima, diretor do Ilos.
O uso do modal rodoviário subiu de 66% para 67% na matriz de transportes. Isso quer dizer que mais de dois terços das cargas transportadas passaram pelas estradas. As ferrovias perderam participação, indo de 19% para 18%. A escolha do Brasil pelas rodovias é uma insensatez econômica: o custo de transporte rodoviário é cinco vezes maior do que o ferroviário, US$ 122 tku (toneladas transportadas por quilômetro útil,) contra US$ 22. Nos EUA, apenas 30% das cargas passam pelas rodovias, enquanto 38% se movem pelos trilhos.
Em 2003, o governo Lula lançou o Plano de Revitalização de Ferrovias. Depois, vieram PAC 1 e PAC 2. No ano passado, a presidente Dilma anunciou o Plano de Investimento em Logística. Nada deu resultado. A malha ferroviária era de 29.798 quilômetros em 2003, fechou 2012 em 30.379 quilômetros. Alta de 0,02%.
- Deveríamos ter 52 mil quilômetros de ferrovia para atender à demanda. Há falha de planejamento para o setor ferroviário - explicou o presidente da Associação de Transportes Ferroviários, Rodrigo Vilaça.
O uso do transporte rodoviário tem outras consequências. A balança comercial passou todo o ano em déficit pelo forte aumento da importação de diesel e gasolina. A Petrobras é afetada porque é obrigada a vender combustíveis a um preço mais baixo do que paga na importação. Segundo Maurício Lima, 56% do diesel consumido no país são para transporte de cargas.
Isso tira produtividade das commodities agrícolas. No caso da soja, o bom preço manteve a rentabilidade, mas a produção tem se deslocado para áreas remotas, o que eleva o custo logístico. Quando os preços dos produtos não estão bons, fica difícil superar o gargalo.
O marqueteiro João Santana terá que criar outra imagem porque nada será mais fantasioso do que insistir nos filmes da presidente se deslocando velozmente pelo país, Como todos sabem - e sentem - pessoas e mercadorias estão engarrafadas, perdendo tempo, dinheiro e produtividade nos gargalos logísticos do Brasil.
O custo logístico de produção no Brasil é alto e você já sabe disso, mas o que o Instituto Ilos de Logística e Supply Chain mostrou em um congresso internacional esta semana é que ficou mais caro entre 2010 e 2012. Uma pesquisa do instituto constatou que houve o primeiro aumento de custo desde 2004, em relação ao PIB. O Brasil vinha melhorando devagar, mas teve um piora no governo Dilma. O aumento do custo supera R$ 100 bilhões para quem usa os serviços logísticos no Brasil.
Os gastos das empresas com transporte, armazenamento, administração e estoques subiram de 10,6% do PIB para 11,5%, com forte aumento dos transportes. Em termos nominais, houve salto de R$ 391 bilhões para R$ 507 bi com logística. O governo falou muito, mas não executou. As ferrovias estão estagnadas há 10 anos.
De dois em dois anos o Instituto Ilos faz uma pesquisa sobre os custos logísticos no Brasil. Desde 2004, o primeiro ano da série, até 2010, houve quedas desse gasto como proporção do PIB: de 12,1% para 11,5%, entre 2004 e 2006; para 10,9% até 2008; 10,6%, em 2010. Mas agora, em 2012, houve a primeira alta, para 11,5%.
- A economia cresceu pouco e a demanda por transporte continuou crescendo muito, cerca de 5% ao ano. A Produção agrícola aumentou e houve interiorização da produção, que fez a carga percorrer distâncias maiores. A política de incentivo à compra de carros aumentou o número de veículo nas estradas. A velocidade média dos caminhões diminuiu - explicou Maurício lima, diretor do Ilos.
O uso do modal rodoviário subiu de 66% para 67% na matriz de transportes. Isso quer dizer que mais de dois terços das cargas transportadas passaram pelas estradas. As ferrovias perderam participação, indo de 19% para 18%. A escolha do Brasil pelas rodovias é uma insensatez econômica: o custo de transporte rodoviário é cinco vezes maior do que o ferroviário, US$ 122 tku (toneladas transportadas por quilômetro útil,) contra US$ 22. Nos EUA, apenas 30% das cargas passam pelas rodovias, enquanto 38% se movem pelos trilhos.
Em 2003, o governo Lula lançou o Plano de Revitalização de Ferrovias. Depois, vieram PAC 1 e PAC 2. No ano passado, a presidente Dilma anunciou o Plano de Investimento em Logística. Nada deu resultado. A malha ferroviária era de 29.798 quilômetros em 2003, fechou 2012 em 30.379 quilômetros. Alta de 0,02%.
- Deveríamos ter 52 mil quilômetros de ferrovia para atender à demanda. Há falha de planejamento para o setor ferroviário - explicou o presidente da Associação de Transportes Ferroviários, Rodrigo Vilaça.
O uso do transporte rodoviário tem outras consequências. A balança comercial passou todo o ano em déficit pelo forte aumento da importação de diesel e gasolina. A Petrobras é afetada porque é obrigada a vender combustíveis a um preço mais baixo do que paga na importação. Segundo Maurício Lima, 56% do diesel consumido no país são para transporte de cargas.
Isso tira produtividade das commodities agrícolas. No caso da soja, o bom preço manteve a rentabilidade, mas a produção tem se deslocado para áreas remotas, o que eleva o custo logístico. Quando os preços dos produtos não estão bons, fica difícil superar o gargalo.
O marqueteiro João Santana terá que criar outra imagem porque nada será mais fantasioso do que insistir nos filmes da presidente se deslocando velozmente pelo país, Como todos sabem - e sentem - pessoas e mercadorias estão engarrafadas, perdendo tempo, dinheiro e produtividade nos gargalos logísticos do Brasil.
Concessões - problemas e soluções - JOSEF BARAT
O Estado de S.Paulo - 12/10
Um bom foco para avaliar como andam as relações entre Estado, mercado e sociedade são as concessões de bens e serviços públicos. De forma simplificada, a sociedade paga tributos ao Estado, para dele receber, em contrapartida, serviços públicos essenciais, de forma abrangente, com qualidade e modicidade de tarifas. Já o mercado paga tributos para receber do Estado segurança jurídica e respeito à propriedade. Embora o Estado seja, em última análise, responsável pelos serviços públicos, ele não precisa necessariamente provê-los de forma direta. A exacerbação do seu poder, porém, o torna fornecedor predominante desses serviços e responsável pelos investimentos nas infraestruturas. No entanto, se o que é arrecadado da sociedade acaba se destinando basicamente ao pagamento de pessoal e despesas correntes, mínguam os recursos para investir e os serviços se deterioram.
Por outro lado, se predominam estritamente as condições de mercado - diante de um Estado sem capacidade de regulação -, as chamadas "imperfeições" (como, por exemplo, monopólios naturais, competição predatória e assimetria de informações) prejudicam a sociedade. Os consumidores dos serviços ficam desprotegidos, por omissão do Estado, dos abusos inerentes às imperfeições. A prestação de serviços públicos essenciais apresenta, assim, particularidades distintas das relações em que os bens e serviços que a sociedade consome são produzidos e distribuídos pelo mercado. Neste, prevalece em geral a concorrência e os eventuais abusos e obstruções são objeto de regulação estatal. Mas, para os serviços públicos, a ação reguladora é fator permanente e essencial.
A dificuldade no relacionamento entre os três agentes está na busca de pontos de equilíbrio. Sociedades modernas garantem condições de segurança para o mercado e moderam a voracidade do Estado em extorquir a sociedade. Nesse sentido, estimular as concessões para a exploração de serviços públicos passa a ser um importante fator de equilíbrio, na medida em que libera o Estado para investir em segmentos mais necessitados de recursos (educação, saúde e segurança) e propicia a ampliação e modernização de infraestruturas complexas pela iniciativa privada. Simples assim. Mas não em países com forte tradição autoritária, burocrática e patrimonialista.
Woody Allen já dizia que a burocracia é necessária para criar um problema onde existe uma solução. É exatamente isso o que vem ocorrendo no Brasil com as recentes concessões de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, petróleo e energia. Têm sido criados muitos problemas e incertezas para as concessões, pois não há convicção quanto à necessidade de atrair o capital privado para segmentos em que o Estado se tem mostrado absolutamente incapaz de gerir e investir.
Uma conjugação perversa de fatores tem desestimulado os investidores: insegurança jurídica; incertezas sobre a inflação; mudanças bruscas nas regras; instabilidade na ação reguladora; e regras fluidas de pré-qualificação. Não menos importante têm sido as alterações nos critérios de retorno dos investimentos, por negligenciar sua rentabilidade intrínseca; desconfiar da "ganância" das empresas interessadas; e abandonar parâmetros consensuais. Cabe lembrar que conceder 2/3 do financiamento dos investimentos exigidos com aumento da dívida pública - transferida para bancos oficiais - acaba, ao fim e ao cabo, onerando a sociedade. Ágios elevados e tarifas baixas soam como música para o governo, mas trazem riscos de grupos aventureiros e aporte de subsídios, pelo não cumprimento das metas de investimento.
Não é surpresa, pois, que neste momento de tantas incertezas - e o governo insistindo em ser "sócio", formular regras inconsistentes e politizar as agências reguladoras - os investidores mais experimentados se acautelem diante de uma enxurrada de concessões. Afinal, para essas questões relacionadas com as relações entre Estado, mercado e sociedade, não adianta chamar economistas cubanos para nos socorrer...
Um bom foco para avaliar como andam as relações entre Estado, mercado e sociedade são as concessões de bens e serviços públicos. De forma simplificada, a sociedade paga tributos ao Estado, para dele receber, em contrapartida, serviços públicos essenciais, de forma abrangente, com qualidade e modicidade de tarifas. Já o mercado paga tributos para receber do Estado segurança jurídica e respeito à propriedade. Embora o Estado seja, em última análise, responsável pelos serviços públicos, ele não precisa necessariamente provê-los de forma direta. A exacerbação do seu poder, porém, o torna fornecedor predominante desses serviços e responsável pelos investimentos nas infraestruturas. No entanto, se o que é arrecadado da sociedade acaba se destinando basicamente ao pagamento de pessoal e despesas correntes, mínguam os recursos para investir e os serviços se deterioram.
Por outro lado, se predominam estritamente as condições de mercado - diante de um Estado sem capacidade de regulação -, as chamadas "imperfeições" (como, por exemplo, monopólios naturais, competição predatória e assimetria de informações) prejudicam a sociedade. Os consumidores dos serviços ficam desprotegidos, por omissão do Estado, dos abusos inerentes às imperfeições. A prestação de serviços públicos essenciais apresenta, assim, particularidades distintas das relações em que os bens e serviços que a sociedade consome são produzidos e distribuídos pelo mercado. Neste, prevalece em geral a concorrência e os eventuais abusos e obstruções são objeto de regulação estatal. Mas, para os serviços públicos, a ação reguladora é fator permanente e essencial.
A dificuldade no relacionamento entre os três agentes está na busca de pontos de equilíbrio. Sociedades modernas garantem condições de segurança para o mercado e moderam a voracidade do Estado em extorquir a sociedade. Nesse sentido, estimular as concessões para a exploração de serviços públicos passa a ser um importante fator de equilíbrio, na medida em que libera o Estado para investir em segmentos mais necessitados de recursos (educação, saúde e segurança) e propicia a ampliação e modernização de infraestruturas complexas pela iniciativa privada. Simples assim. Mas não em países com forte tradição autoritária, burocrática e patrimonialista.
Woody Allen já dizia que a burocracia é necessária para criar um problema onde existe uma solução. É exatamente isso o que vem ocorrendo no Brasil com as recentes concessões de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, petróleo e energia. Têm sido criados muitos problemas e incertezas para as concessões, pois não há convicção quanto à necessidade de atrair o capital privado para segmentos em que o Estado se tem mostrado absolutamente incapaz de gerir e investir.
Uma conjugação perversa de fatores tem desestimulado os investidores: insegurança jurídica; incertezas sobre a inflação; mudanças bruscas nas regras; instabilidade na ação reguladora; e regras fluidas de pré-qualificação. Não menos importante têm sido as alterações nos critérios de retorno dos investimentos, por negligenciar sua rentabilidade intrínseca; desconfiar da "ganância" das empresas interessadas; e abandonar parâmetros consensuais. Cabe lembrar que conceder 2/3 do financiamento dos investimentos exigidos com aumento da dívida pública - transferida para bancos oficiais - acaba, ao fim e ao cabo, onerando a sociedade. Ágios elevados e tarifas baixas soam como música para o governo, mas trazem riscos de grupos aventureiros e aporte de subsídios, pelo não cumprimento das metas de investimento.
Não é surpresa, pois, que neste momento de tantas incertezas - e o governo insistindo em ser "sócio", formular regras inconsistentes e politizar as agências reguladoras - os investidores mais experimentados se acautelem diante de uma enxurrada de concessões. Afinal, para essas questões relacionadas com as relações entre Estado, mercado e sociedade, não adianta chamar economistas cubanos para nos socorrer...
Nós vencidos pelas minorias - ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR
O ESTADO DE S. PAULO - 12/10
O sentimento corporativista exacerbado etá levando nosso país a um beco sem saída, com o prevalecimento da vontade de pequenas minorias sobre a multidão de brasileiros espremidos em suas casas ou nos congestionamentos de trânsito provocados por grupos descontentes. Classes de trabalhadores, intelectuais ou não, têm entendido que seus problemas são mais importantes que os dos outros e se atiram, desde junho, a uma série de manifestações públicas de seus interesses, compreensíveis sob certo ponto de vista, mas que infernizam a vida de milhões de pessoas.
Para essas manifestações vem sendo defendida ideia de que a Constituição brasileira garante a liberdade de expressão do pensamento e, portanto, não se poderia impedir que pequenos grupos de pessoas interrompam grandes artérias nas cidades e até as estradas por onde circulam nossas riquezas. Esse, sem nenhuma dúvida, é um erro grave. A manifestação de pensamento está realmente prevista na Constituição, que a tornou livre, no seu artigo 5.0, IV, e também no artigo 220, que dispõe que a manifestação do pensamento, sob qualquer forma, processo ou veiculação, não poderá sofrer restrição, vedada qualquer forma de censura de natureza política, ideológica e artística.
Porém transparece claramente no texto constitucional que restou amparada tão somente a exteriorização do pensamento, ou seja, qualquer pessoa tem o direito inalienável de dizer o que pensa a interlocutores presentes ou ausentes. Essa liberdade não inclui de forma alguma a violência materializada de insatisfações, de reivindicações não atendidas, nem contrariedades com aconduta não aprovada de adversários políticos.
Da mesma forma que a Constituição não permite que se possa impor a alguém uma obrigação que conflite com sua crença religiosa ou sua convicção filosófica ou política, também não está autorizado o uso de força física ou de violência como amparo a pretensões pessoais ou corporativas. O uso dessa força e a violência, se não forem contidos, tenderão a tornar-se cada vez mais graves.
Atear fogo em pneus ou madeira nas ruas e avenidas ou em estradas como forma de interromper o trânsito e chamar a atenção para sentimentos corporativos constitui conduta inadequada que está prevista e é punida pelo Código Penal, e não a liberdade de expressão prevista na Constituição. Essa exacerbação de valores corporativos está evidenciando em nosso país uma espécie de porre de democracia que concorre não para seu aprimoramento, mas para seu enfraquecimento. Realmente, o desrespeito à liberdade de transitar livremente imposta à maioria resulta de manifestações equivocadas de uma minoria, ou seja, inverte-se o princípio democrático de que sempre deve prevalecer a vontade da maioria, e não da minoria.
As pretensões e os sentimentos desses grupos que lutam por direitos devem ser compreendidos e respeitados, mas, seguramente, há uma lacuna da lei. Verifica-se o que os romanos chamavam de legeferenda, ou seja, questão que deve ser enfrentada e disciplinada por lei. Para isso, entretanto, dependeríamos do sempre moroso Congresso Nacional.
Nem se fale daqueles grupos de baderneiros que se aproveitam da boa-fé de manifestantes bem-intencionados e quebram bancos, lojas de automóveis, sinais de trânsito, postos telefônicos, tudo para demonstrar que desejam existir, mas nem sabem como e com que propósitos, porque preferem manter-se anônimos e com o rosto coberto por máscaras. Eles parecem entender, em conduta anarquista, que só as leis que consideram boas devem ser cumpridas. Daí a sem-cerimônia com que as desrespeitam, até debochando de cada um de nós que não pensamos da mesma maneira.
A conduta delinquente desses grupos está claramente prevista no artigo 163 do Código Penal e por isso mesmo não será admissível que o Estado brasileiro deixe de enfrentá-los ou coibi-los. Quando se trata de crime contra o patrimônio, público ou privado, eventual omissão do policiamento será tão criminosa como a própria conduta dos delinquentes. Isso, lamentavelmente, vem ocorrendo entre nós e se repete a cada dia.
O referido artigo 163 do Código Penal não deixa dúvidas, cominando como crime, punível com detenção de um a seis meses ou multa, "destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia". O tipo subjetivo que caracteriza o crime é o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de destruir, inutilizar ou danificar, exatamente o que está ocorrendo com assustadora frequência no País.
Não se deseja que haja violência na contenção desses grupos, todavia a indiferença, o pouco-caso e a vista grossa do policiamento fazem o mau exemplo frutificar, dada a evidência da impunidade. Na presença de crime claramente caracterizado, torna-se inadmissível cruzar os braços. Os maus exemplos são tão perigosos que esses infratores chegaram ao extremo de danificar o tradicional Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, que representa um marco da civilização paulista. Quando se trata, como no caso, de dano em bem especialmente protegido por lei em razão de seu valor artístico, histórico e cultural, configura-se grave infração ao artigo 63 da Lei n.° 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente), significando que é obrigação da Polícia Civil identificar e propor a punição dos infratores.
Insiste-se em que a necessidade de punição tem o propósito de proteger a sociedade, não se podendo confundir com o não reconhecimento do exercício de liberdades previstas na Carta Magna. A ação penal, no caso, é pública incondicionada, significando que não se admite acomodação do aparelho de Estado.
Para essas manifestações vem sendo defendida ideia de que a Constituição brasileira garante a liberdade de expressão do pensamento e, portanto, não se poderia impedir que pequenos grupos de pessoas interrompam grandes artérias nas cidades e até as estradas por onde circulam nossas riquezas. Esse, sem nenhuma dúvida, é um erro grave. A manifestação de pensamento está realmente prevista na Constituição, que a tornou livre, no seu artigo 5.0, IV, e também no artigo 220, que dispõe que a manifestação do pensamento, sob qualquer forma, processo ou veiculação, não poderá sofrer restrição, vedada qualquer forma de censura de natureza política, ideológica e artística.
Porém transparece claramente no texto constitucional que restou amparada tão somente a exteriorização do pensamento, ou seja, qualquer pessoa tem o direito inalienável de dizer o que pensa a interlocutores presentes ou ausentes. Essa liberdade não inclui de forma alguma a violência materializada de insatisfações, de reivindicações não atendidas, nem contrariedades com aconduta não aprovada de adversários políticos.
Da mesma forma que a Constituição não permite que se possa impor a alguém uma obrigação que conflite com sua crença religiosa ou sua convicção filosófica ou política, também não está autorizado o uso de força física ou de violência como amparo a pretensões pessoais ou corporativas. O uso dessa força e a violência, se não forem contidos, tenderão a tornar-se cada vez mais graves.
Atear fogo em pneus ou madeira nas ruas e avenidas ou em estradas como forma de interromper o trânsito e chamar a atenção para sentimentos corporativos constitui conduta inadequada que está prevista e é punida pelo Código Penal, e não a liberdade de expressão prevista na Constituição. Essa exacerbação de valores corporativos está evidenciando em nosso país uma espécie de porre de democracia que concorre não para seu aprimoramento, mas para seu enfraquecimento. Realmente, o desrespeito à liberdade de transitar livremente imposta à maioria resulta de manifestações equivocadas de uma minoria, ou seja, inverte-se o princípio democrático de que sempre deve prevalecer a vontade da maioria, e não da minoria.
As pretensões e os sentimentos desses grupos que lutam por direitos devem ser compreendidos e respeitados, mas, seguramente, há uma lacuna da lei. Verifica-se o que os romanos chamavam de legeferenda, ou seja, questão que deve ser enfrentada e disciplinada por lei. Para isso, entretanto, dependeríamos do sempre moroso Congresso Nacional.
Nem se fale daqueles grupos de baderneiros que se aproveitam da boa-fé de manifestantes bem-intencionados e quebram bancos, lojas de automóveis, sinais de trânsito, postos telefônicos, tudo para demonstrar que desejam existir, mas nem sabem como e com que propósitos, porque preferem manter-se anônimos e com o rosto coberto por máscaras. Eles parecem entender, em conduta anarquista, que só as leis que consideram boas devem ser cumpridas. Daí a sem-cerimônia com que as desrespeitam, até debochando de cada um de nós que não pensamos da mesma maneira.
A conduta delinquente desses grupos está claramente prevista no artigo 163 do Código Penal e por isso mesmo não será admissível que o Estado brasileiro deixe de enfrentá-los ou coibi-los. Quando se trata de crime contra o patrimônio, público ou privado, eventual omissão do policiamento será tão criminosa como a própria conduta dos delinquentes. Isso, lamentavelmente, vem ocorrendo entre nós e se repete a cada dia.
O referido artigo 163 do Código Penal não deixa dúvidas, cominando como crime, punível com detenção de um a seis meses ou multa, "destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia". O tipo subjetivo que caracteriza o crime é o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de destruir, inutilizar ou danificar, exatamente o que está ocorrendo com assustadora frequência no País.
Não se deseja que haja violência na contenção desses grupos, todavia a indiferença, o pouco-caso e a vista grossa do policiamento fazem o mau exemplo frutificar, dada a evidência da impunidade. Na presença de crime claramente caracterizado, torna-se inadmissível cruzar os braços. Os maus exemplos são tão perigosos que esses infratores chegaram ao extremo de danificar o tradicional Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, que representa um marco da civilização paulista. Quando se trata, como no caso, de dano em bem especialmente protegido por lei em razão de seu valor artístico, histórico e cultural, configura-se grave infração ao artigo 63 da Lei n.° 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente), significando que é obrigação da Polícia Civil identificar e propor a punição dos infratores.
Insiste-se em que a necessidade de punição tem o propósito de proteger a sociedade, não se podendo confundir com o não reconhecimento do exercício de liberdades previstas na Carta Magna. A ação penal, no caso, é pública incondicionada, significando que não se admite acomodação do aparelho de Estado.
Universidade não é nem deve ser democrática - MARCOS FERNANDES G. DA SILVA
FOLHA DE SP - 12/10
A atual ocupação da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), por parte de alguns alunos e funcionários, além de arranhar sua natureza pública, levanta algumas questões sobre a improcedência da reivindicação dos invasores: eleição direta para reitor e questionamento da escolha do mesmo pela lista tríplice, por parte do governador.
O sindicato dos trabalhadores da USP apoiou a ocupação da reitoria. Em texto, afirmou que considerava "total desrespeito a decisão do Conselho Universitário aos anseios e à luta dos estudantes, funcionários e professores por democratização na Universidade de São Paulo ".
A universidade não é nem deve ser democrática no que tange sua administração financeira e de recursos humanos e na gestão acadêmica. A democracia deve existir na garantia da liberdade intelectual e no debate científico, mas, neste caso, a palavra --que se refere a um tipo de regime político-- deve ser substituída por "crítica intersubjetiva", conceito que Karl Popper criou para explicar a natureza provisória do conhecimento científico, que somente progride com liberdade e discussão.
Mas a eleição direta para reitor é refutável por razões bem mais simples. Em primeiro lugar --e chega a ser acintoso o tom da nota do sindicato--, a USP é como uma empresa e funcionário trabalha para os alunos e professores produzirem conhecimento e ensino.
Em segundo lugar, aluno não vota, mas estuda e pesquisa. Ainda mais numa universidade pública, cuja gratuidade tem características regressivas e de injustiça social.
Do ponto de vista da administração, a universidade é uma empresa, portanto, não há democracia. Da mesma forma, a gestão acadêmica não é democrática, mas meritocrática. A meritocracia é um sistema administrativo em que o mérito conduz ao topo: os mais educados, a elite, governa.
Quem sabe ensinar e pesquisar, que ao fim e ao cabo fica e faz sua carreira na universidade, é o professor. Funcionários podem até fazer a carreira nela, mas os alunos chegam, se formam e vão embora. Deveriam sim voltar e ajudar a universidade, fazendo doações, participando de conselhos de administração, algo tão raro Brasil.
Por outro lado, vamos aos fatos: entre as 30 melhores universidades do mundo, por qualquer ranking respeitável, nenhuma tem eleição direta para reitores. Para citar algumas, Oxford, Cambridge, Amsterdã, Harvard, Stanford, Autônoma de Barcelona e o mexicano Instituto Técnico de Monterrrey.
A universidade brasileira está em crise, fora alguns poucos centros de excelência em exatas, biológicas, matemática, engenharias e ciências sociais aplicadas (levadas a sério, como ciência dura, "hard science").
Por que, então, essa discussão tresloucada? Por que não protestar, chamando a imprensa, por exemplo, e exigir que se cumpram metas de colocar a universidade brasileira no topo das avaliações globais?
Por outro lado, quem tem mandato para escolher o reitor, em última instância, é o governador. Aí sim a democracia tem que existir e ser respeitada, pois tal ato é intrinsecamente legítimo.
A USP é um patrimônio paulista, financiada regressivamente, com recursos arrecadados dos cidadãos de São Paulo. Não bastasse tal fato, o seu gasto em educação também é regressivo. Mas é nossa única universidade bem posicionada nas avaliações internacionais e merece reformas, mas não essas propostas.
Que tal debater o fim da gratuidade, socialmente injusta?
A atual ocupação da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), por parte de alguns alunos e funcionários, além de arranhar sua natureza pública, levanta algumas questões sobre a improcedência da reivindicação dos invasores: eleição direta para reitor e questionamento da escolha do mesmo pela lista tríplice, por parte do governador.
O sindicato dos trabalhadores da USP apoiou a ocupação da reitoria. Em texto, afirmou que considerava "total desrespeito a decisão do Conselho Universitário aos anseios e à luta dos estudantes, funcionários e professores por democratização na Universidade de São Paulo ".
A universidade não é nem deve ser democrática no que tange sua administração financeira e de recursos humanos e na gestão acadêmica. A democracia deve existir na garantia da liberdade intelectual e no debate científico, mas, neste caso, a palavra --que se refere a um tipo de regime político-- deve ser substituída por "crítica intersubjetiva", conceito que Karl Popper criou para explicar a natureza provisória do conhecimento científico, que somente progride com liberdade e discussão.
Mas a eleição direta para reitor é refutável por razões bem mais simples. Em primeiro lugar --e chega a ser acintoso o tom da nota do sindicato--, a USP é como uma empresa e funcionário trabalha para os alunos e professores produzirem conhecimento e ensino.
Em segundo lugar, aluno não vota, mas estuda e pesquisa. Ainda mais numa universidade pública, cuja gratuidade tem características regressivas e de injustiça social.
Do ponto de vista da administração, a universidade é uma empresa, portanto, não há democracia. Da mesma forma, a gestão acadêmica não é democrática, mas meritocrática. A meritocracia é um sistema administrativo em que o mérito conduz ao topo: os mais educados, a elite, governa.
Quem sabe ensinar e pesquisar, que ao fim e ao cabo fica e faz sua carreira na universidade, é o professor. Funcionários podem até fazer a carreira nela, mas os alunos chegam, se formam e vão embora. Deveriam sim voltar e ajudar a universidade, fazendo doações, participando de conselhos de administração, algo tão raro Brasil.
Por outro lado, vamos aos fatos: entre as 30 melhores universidades do mundo, por qualquer ranking respeitável, nenhuma tem eleição direta para reitores. Para citar algumas, Oxford, Cambridge, Amsterdã, Harvard, Stanford, Autônoma de Barcelona e o mexicano Instituto Técnico de Monterrrey.
A universidade brasileira está em crise, fora alguns poucos centros de excelência em exatas, biológicas, matemática, engenharias e ciências sociais aplicadas (levadas a sério, como ciência dura, "hard science").
Por que, então, essa discussão tresloucada? Por que não protestar, chamando a imprensa, por exemplo, e exigir que se cumpram metas de colocar a universidade brasileira no topo das avaliações globais?
Por outro lado, quem tem mandato para escolher o reitor, em última instância, é o governador. Aí sim a democracia tem que existir e ser respeitada, pois tal ato é intrinsecamente legítimo.
A USP é um patrimônio paulista, financiada regressivamente, com recursos arrecadados dos cidadãos de São Paulo. Não bastasse tal fato, o seu gasto em educação também é regressivo. Mas é nossa única universidade bem posicionada nas avaliações internacionais e merece reformas, mas não essas propostas.
Que tal debater o fim da gratuidade, socialmente injusta?
A réplica do bom senso - EDSON JOSÉ RAMON
GAZETA DO POVO - PR - 12/10
Há algumas semanas, este espaço foi dedicado à publicação de opiniões a favor e contra o Projeto de Lei 4.330, de autoria do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), ora tramitando na Câmara dos Deputados visando estabelecer marcos regimentais para a atividade laboral terceirizada, de vez que a mesma se ampara unicamente em súmula editada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Um dos articulistas, na condição de líder do movimento sindical dos metalúrgicos, obviamente mostrou sua contrariedade ao projeto, alegando que o mesmo permitirá a terceirização total das atividades das empresas e a queda dos rendimentos do trabalhador em até 30%. Além disso, se arvorou a proclamar que esse tipo de contratação só interessa às grandes empresas e multinacionais, repetindo a velha cantilena de que as classes política e patronal estão atrasadas na busca do equilíbrio das relações entre o capital e o trabalho.
O líder sindical em questão parece esquecer, e deve ter razões subliminares para agir dessa forma, que a atividade empresarial é imprescindível para a geração de milhões de empregos, mediante os quais chefes de família conseguem obter a renda necessária para o sustento de seus filhos. Afinal, quem seria responsável pela abertura de empregos, senão o empresário que põe em risco o capital ao enfrentar as sucessivas crises advindas da instabilidade econômica? Seria o caso de transferir ao governo, em seus três níveis, a obrigação de se transformar no grande empregador?
Depois de tantas décadas de debates, é meridiano o reconhecimento dos homens de empresa da prática civilizada da ampliação do diálogo e da modernização do relacionamento entre empregados e empregadores. Não se concebe, portanto, que uma liderança responsável da esfera do trabalho ainda alimente uma visão inteiramente equivocada sobre o empresariado, e a este atribua a invenção de artifícios para precarizar as relações trabalhistas.
O mínimo que se pode dizer, diante de manifestações desse jaez, é que há uma alentada dose de ambiguidade em se persistir no erro calculado de desmerecer a importância do empregador, sem o qual simplesmente não haveria empregados, porquanto é da atividade produtiva das empresas que nasce a necessidade da contratação da mão de obra.
Vale lembrar, ainda, que não passa pelas cogitações de nenhum empresário impregnado de responsabilidade social utilizar os que a ele demandam em busca de desenvolvimento humano como meras peças de uma engrenagem que visa exclusivamente a perpetuação de sistemas medievais já desmoralizados pela história.
Por fim, repensemos valores a ponto de, fraternalmente, induzir o conjunto dos agentes comprometidos com a sociedade moderna e civilizada a encontrar mecanismos que estimulem investimentos empresariais, com o objetivo de trazer benefícios cada vez maiores para toda a sociedade.
Há algumas semanas, este espaço foi dedicado à publicação de opiniões a favor e contra o Projeto de Lei 4.330, de autoria do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), ora tramitando na Câmara dos Deputados visando estabelecer marcos regimentais para a atividade laboral terceirizada, de vez que a mesma se ampara unicamente em súmula editada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Um dos articulistas, na condição de líder do movimento sindical dos metalúrgicos, obviamente mostrou sua contrariedade ao projeto, alegando que o mesmo permitirá a terceirização total das atividades das empresas e a queda dos rendimentos do trabalhador em até 30%. Além disso, se arvorou a proclamar que esse tipo de contratação só interessa às grandes empresas e multinacionais, repetindo a velha cantilena de que as classes política e patronal estão atrasadas na busca do equilíbrio das relações entre o capital e o trabalho.
O líder sindical em questão parece esquecer, e deve ter razões subliminares para agir dessa forma, que a atividade empresarial é imprescindível para a geração de milhões de empregos, mediante os quais chefes de família conseguem obter a renda necessária para o sustento de seus filhos. Afinal, quem seria responsável pela abertura de empregos, senão o empresário que põe em risco o capital ao enfrentar as sucessivas crises advindas da instabilidade econômica? Seria o caso de transferir ao governo, em seus três níveis, a obrigação de se transformar no grande empregador?
Depois de tantas décadas de debates, é meridiano o reconhecimento dos homens de empresa da prática civilizada da ampliação do diálogo e da modernização do relacionamento entre empregados e empregadores. Não se concebe, portanto, que uma liderança responsável da esfera do trabalho ainda alimente uma visão inteiramente equivocada sobre o empresariado, e a este atribua a invenção de artifícios para precarizar as relações trabalhistas.
O mínimo que se pode dizer, diante de manifestações desse jaez, é que há uma alentada dose de ambiguidade em se persistir no erro calculado de desmerecer a importância do empregador, sem o qual simplesmente não haveria empregados, porquanto é da atividade produtiva das empresas que nasce a necessidade da contratação da mão de obra.
Vale lembrar, ainda, que não passa pelas cogitações de nenhum empresário impregnado de responsabilidade social utilizar os que a ele demandam em busca de desenvolvimento humano como meras peças de uma engrenagem que visa exclusivamente a perpetuação de sistemas medievais já desmoralizados pela história.
Por fim, repensemos valores a ponto de, fraternalmente, induzir o conjunto dos agentes comprometidos com a sociedade moderna e civilizada a encontrar mecanismos que estimulem investimentos empresariais, com o objetivo de trazer benefícios cada vez maiores para toda a sociedade.
A caça aos biógrafos - ALBERTO DINES
GAZETA DO POVO - PR - 12/10
O mundo está ameaçado por um calote que pode ter consequências devastadoras. O país descobre, a cada nova passeata, o quanto está distante das noções básicas de cidadania, civilidade e respeito às leis. E os meios artísticos e intelectuais estão à beira de um ataque de nervos por causa da proposta endossada por algumas celebridades da música popular para se exigir que as biografias sejam vistoriadas pelos biografados antes de impressas.
O default dos EUA (do inglês comportamento-padrão, falha, falência e, por extensão, calote) está sendo engendrado pelo delírio suicida da extrema-direita do Partido Republicano, que exige a anulação do programa de saúde do governo Obama, aprovado pelo Congresso e legalizado pela Suprema Corte. O Tea Party está propondo um golpe branco contra as instituições democráticas – uma ditadura.
O irrestrito apoio do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro – até agora considerado progressista – às ações antissociais e antidemocráticas dos black blocs nas manifestações de rua tem igual teor de irresponsabilidade. E a mesma insanidade: os formadores dos cidadãos de amanhã, além da inconcebível greve que já se estende por dois meses, estão propondo um motim permanente, o estado de insurreição, a baderna como instituição. Não querem o apoio dos pais das crianças nem da comunidade; querem aliar-se aos herdeiros das milícias que em 1922, nas ruas de Roma, e a partir de 1933, em toda a Alemanha e Áustria, instalaram o terror nazifascista.
A caça aos biógrafos proposta por duas empresárias de um grupo de maravilhosos artistas e intelectuais como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento, alinhados em torno de Roberto Carlos, escapa da esfera bacharelesca e do show business e ganha extraordinária ressonância porque seus representados são ícones da luta contra a censura e contra a ditadura militar que tantos malefícios trouxeram às nossas vidas e cultura.
A controvérsia sobre a institucionalização da biografia autorizada, chapa-branca – justamente por causa de seus protagonistas –, ganha esta incrível dimensão e impõe-se a emergências muito mais graves porque nenhuma contém tantas remissões e referências à tragédia instalada a partir de 1964.
A revolta dos biografados é uma tremenda injustiça às próprias biografias de artistas tão inspirados e corajosos. Quanto mais cedo abandonarem a canoa da arrogância, do delírio e, em alguns casos, também da cobiça, mais fácil se tornará a reconciliação.
O marketing inspirou a perniciosa proposta do grupo “Procure Saber”; o marketing será a sua principal vítima.
Biografia é coisa séria, trabalho de recuperação histórica, arte do reencontro, tem algo de sublime, simbólica. Quando Plutarco resolveu comparar as existências de grandes figuras romanas com os equivalentes da Grécia, não estava apenas criando uma obra monumental, Vidas Paralelas; estabelecia a noção de simbiose das civilizações.
Não existem biografias definitivas; assim como a vida, são incompletas, intermináveis. Mas esta caça aos biógrafos empurra os eventuais biografados para os braços da Inquisição.
O mundo está ameaçado por um calote que pode ter consequências devastadoras. O país descobre, a cada nova passeata, o quanto está distante das noções básicas de cidadania, civilidade e respeito às leis. E os meios artísticos e intelectuais estão à beira de um ataque de nervos por causa da proposta endossada por algumas celebridades da música popular para se exigir que as biografias sejam vistoriadas pelos biografados antes de impressas.
O default dos EUA (do inglês comportamento-padrão, falha, falência e, por extensão, calote) está sendo engendrado pelo delírio suicida da extrema-direita do Partido Republicano, que exige a anulação do programa de saúde do governo Obama, aprovado pelo Congresso e legalizado pela Suprema Corte. O Tea Party está propondo um golpe branco contra as instituições democráticas – uma ditadura.
O irrestrito apoio do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro – até agora considerado progressista – às ações antissociais e antidemocráticas dos black blocs nas manifestações de rua tem igual teor de irresponsabilidade. E a mesma insanidade: os formadores dos cidadãos de amanhã, além da inconcebível greve que já se estende por dois meses, estão propondo um motim permanente, o estado de insurreição, a baderna como instituição. Não querem o apoio dos pais das crianças nem da comunidade; querem aliar-se aos herdeiros das milícias que em 1922, nas ruas de Roma, e a partir de 1933, em toda a Alemanha e Áustria, instalaram o terror nazifascista.
A caça aos biógrafos proposta por duas empresárias de um grupo de maravilhosos artistas e intelectuais como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento, alinhados em torno de Roberto Carlos, escapa da esfera bacharelesca e do show business e ganha extraordinária ressonância porque seus representados são ícones da luta contra a censura e contra a ditadura militar que tantos malefícios trouxeram às nossas vidas e cultura.
A controvérsia sobre a institucionalização da biografia autorizada, chapa-branca – justamente por causa de seus protagonistas –, ganha esta incrível dimensão e impõe-se a emergências muito mais graves porque nenhuma contém tantas remissões e referências à tragédia instalada a partir de 1964.
A revolta dos biografados é uma tremenda injustiça às próprias biografias de artistas tão inspirados e corajosos. Quanto mais cedo abandonarem a canoa da arrogância, do delírio e, em alguns casos, também da cobiça, mais fácil se tornará a reconciliação.
O marketing inspirou a perniciosa proposta do grupo “Procure Saber”; o marketing será a sua principal vítima.
Biografia é coisa séria, trabalho de recuperação histórica, arte do reencontro, tem algo de sublime, simbólica. Quando Plutarco resolveu comparar as existências de grandes figuras romanas com os equivalentes da Grécia, não estava apenas criando uma obra monumental, Vidas Paralelas; estabelecia a noção de simbiose das civilizações.
Não existem biografias definitivas; assim como a vida, são incompletas, intermináveis. Mas esta caça aos biógrafos empurra os eventuais biografados para os braços da Inquisição.
Hora da política - ANDRÉ GUSTAVO STUMPF
CORREIO BRAZILIENSE - 12/10
O primeiro grupamento de caça brasileiro foi treinado nos Estados Unidos, na década de 40 do século passado, depois da criação do Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira. Os aviadores, que se formaram no estado de Nova York, eram os pioneiros no Brasil. Estavam aptos para lutar na Itália, ao lado dos aliados, contra o inimigo nazista. No último dia, após os elogios de parte a parte, os brasileiros assistiram ao desfile da elite da Força Aérea dos Estados Unidos, que cantou seu hino. Os brasileiros também desfilaram, mas, na falta de hino - ninguém tinha se preocupado com o assunto -, cantaram A jardineira, tradicional marchinha de carnaval. Foram muito cumprimentados. Improviso e surpresa constituem marcas nacionais.
Surpresa também é bem-vinda na política brasileira, usualmente muito repetitiva. Marina Silva, que pregava a pureza partidária, percebeu que seria obrigada a fazer concessões. Ideológicas e programáticas. Sem elas não chegaria a lugar algum. Afundaria no rio de lágrimas e saudades com sua Rede Sustentabilidade. Não criaria nada e seria obrigada a postergar seu projeto político para a próxima eleição. Sob esses pontos de vista, ela fez um golaço ao fechar acordo com Eduardo Campos, do PSB, governador de Pernambuco, que tem boa imagem no público eleitor e entre empresários. Ela não cantou A jardineira, mas conseguiu incrível exposição pública. E recebeu elogios de todos os lados.
Será difícil e trabalhoso encaixar um partido no outro. Mas o jogo foi jogado. Não há volta, exceto se ocorrer um cataclismo político-partidário. Será necessário unir as siglas, combinar projetos, conceber novos atos e planejar o próximo passo. Até agora, todos estão perplexos e emocionalmente envolvidos com a rapidez da manobra e seu incrível alcance. Golpe de mestre, que desequilibrou a política nacional. O PT da presidente Dilma o sentiu. Lula chegou a falar em soco no fígado. Surgiu o antipetismo de forma orgânica. A união da Rede com o PSB se dá em torno de pessoas que já estiveram no e com o PT.
Há alguns detalhes a serem analisados desde agora. O tempo vai colocar as peças nos devidos lugares. As pesquisas deverão revelar o efeito prático, no eleitorado, de tamanha movimentação. Mas há uma característica comum nas três vertentes. No campo do PT, o ex-presidente Lula tem aprovação bem maior que a de Dilma Rousseff. Não é por acaso que existem correntes dentro do partido que defendem a tese do "volta, Lula". Lá na frente, perto da data final para registro de candidaturas, se Dilma não decolar, poderá perder o bonde da história para seu concorrente interno.
O fenômeno é semelhante ao que ocorre dentro da união PSB-Rede. Marina Silva consegue o segundo maior contingente de eleitores, segundo as pesquisas de opinião. Ela soma, agora, algo em torno de 20% do eleitorado. Eduardo Campos, presidente do PSB e provável candidato a presidente da República, estacionou na faixa dos 8%. Ou seja, a representatividade de Marina é mais de duas vezes maior que a de Eduardo. Perto do momento decisivo do registro da chapa, será difícil manter o que foi negociado agora. A pressão interna será insuportável. Na seara do PSDB, acontece a mesma situação. Serra tem maior visibilidade que Aécio, segundo as pesquisas.
A primeira conclusão a se tirar da fotografia eleitoral brasileira de hoje é que ela é enganosa. Os mais fortes e qualificados perante a opinião pública estão colocados em segundo lugar, por suas próprias agremiações partidárias. Essa situação torna tudo muito mais escorregadio e fluido. Além disso, a economia brasileira não passa por bom momento. As pessoas estão irritadas, as ruas cheias de manifestações e a Copa do Mundo, com suas inevitáveis turbulências, começa a ficar perigosamente próxima. No ano que vem, o carnaval cai em março; em junho, iniciam-se os jogos da Copa; e em agosto começa a campanha eleitoral. No meio desse contexto, tiros, confusões e quebra-quebra em todo o país.
Quem tiver o melhor discurso poderá aproveitar o momento raro da indignação nacional. O PSDB também pode fazer sua jogada surpreendente. Uma aliança verdadeira entre Serra e Aécio. Se os dois jogarem juntos - e não separados, como ocorreu na última eleição - e unirem os votos de São Paulo e Minas, a eleição presidencial, com qualquer candidato, terá desfecho surpreendente. Ou seja, o momento é incluir, juntar e não excluir. É hora de fazer política.
Não podemos ser derrotados - SÉRGIO MAGALHÃES
O GLOBO - 12/10
A defesa do território e do cidadão é expressão do serviço público de segurança, monopólio do Estado
Em recente entrevista ao GLOBO, o governador do Rio de Janeiro afirmou que o caso Amarildo só foi elucidado porque a Rocinha tem uma Unidade de Polícia Pacificadora.
As UPPs são a mais importante medida de recuperação para o âmbito da proteção constitucional de territórios então dominados pela bandidagem armada. Sua abrangência é ainda limitada, mas melhorou a percepção de segurança na cidade. Consequências positivas potencializam a fruição dos espaços públicos e a interação entre partes antes excluídas do Rio. Fortalecem-se a economia, a vida social, a cultura; a própria cidade.
Contudo, as UPPs não são uma panaceia.
O primeiro valor desse projeto é retirar do domínio discricionário de bandidos as populações moradoras naqueles territórios. Um segundo, e fundamental, é evidenciar as virtudes da recuperação da legalidade para o conjunto urbano.
A omissão do Estado, durante décadas, o abandono a que relegou áreas pobres da cidade — sejam favelas, loteamentos ou conjuntos residenciais — teve consequências brutais para os moradores dessas áreas e para a cidade como um todo. Impulsionou a decadência e a degradação urbana, econômica, política e social de bairros e regiões, e da própria metrópole.
Mas não é uma etapa vencida.
O projeto das UPPs cumpriu o papel de evidenciar o possível. E demanda duas consequências: primeiro, que em prazo razoável alcance toda a metrópole, desonerando as partes ainda não atendidas do ônus da presença dos bandidos expulsos dos territórios legalizados; segundo, que os serviços públicos se implantem como rotina, tal como no restante da cidade.
A retomada, se de início é de natureza policial-militar, não pode construir uma nova ordem à parte da cidade. Não pode o capitão ser um novo guia. O papel do Estado é sintetizado nos serviços públicos e na lei.
A defesa do território e do cidadão é expressão do serviço público de segurança, monopólio do Estado. Tal serviço, historicamente escasso nas áreas pobres, não é o único indispensável na cidade contemporânea. Os demais serviços públicos, relacionados ao saneamento, ao transporte, à educação, à saúde, ao bem-estar, enfim, à vida urbana precisam ser garantidos em todos os territórios.
Essa é a equação política que as UPPs tornaram urgente.
Enquanto a rotina democrática não estiver instalada, enquanto a resistência burocrática da administração não estiver superada, enquanto os serviços públicos não estiverem em normal funcionamento, compete aos mandatários eleitos monitorá-los para que sejam prestados em condições adequadas, sistemáticas, impessoais e republicanas. Pela omissão histórica do Estado, é um trabalho que pode ser longo e talvez não possa ser delegado. Certamente, ultrapassará governos.
Ao governador e ao prefeito se confere o mérito de a cidade reencontrar-se com a esperança. Não podemos, eles e nós, ser derrotados pela insuficiência de desdobramentos das atribuições do Estado na prestação dos serviços públicos. A consequência da UPP não há de se esgotar na evidência de que sem ela o caso Amarildo teria ficado às escuras.
A defesa do território e do cidadão é expressão do serviço público de segurança, monopólio do Estado
Em recente entrevista ao GLOBO, o governador do Rio de Janeiro afirmou que o caso Amarildo só foi elucidado porque a Rocinha tem uma Unidade de Polícia Pacificadora.
As UPPs são a mais importante medida de recuperação para o âmbito da proteção constitucional de territórios então dominados pela bandidagem armada. Sua abrangência é ainda limitada, mas melhorou a percepção de segurança na cidade. Consequências positivas potencializam a fruição dos espaços públicos e a interação entre partes antes excluídas do Rio. Fortalecem-se a economia, a vida social, a cultura; a própria cidade.
Contudo, as UPPs não são uma panaceia.
O primeiro valor desse projeto é retirar do domínio discricionário de bandidos as populações moradoras naqueles territórios. Um segundo, e fundamental, é evidenciar as virtudes da recuperação da legalidade para o conjunto urbano.
A omissão do Estado, durante décadas, o abandono a que relegou áreas pobres da cidade — sejam favelas, loteamentos ou conjuntos residenciais — teve consequências brutais para os moradores dessas áreas e para a cidade como um todo. Impulsionou a decadência e a degradação urbana, econômica, política e social de bairros e regiões, e da própria metrópole.
Mas não é uma etapa vencida.
O projeto das UPPs cumpriu o papel de evidenciar o possível. E demanda duas consequências: primeiro, que em prazo razoável alcance toda a metrópole, desonerando as partes ainda não atendidas do ônus da presença dos bandidos expulsos dos territórios legalizados; segundo, que os serviços públicos se implantem como rotina, tal como no restante da cidade.
A retomada, se de início é de natureza policial-militar, não pode construir uma nova ordem à parte da cidade. Não pode o capitão ser um novo guia. O papel do Estado é sintetizado nos serviços públicos e na lei.
A defesa do território e do cidadão é expressão do serviço público de segurança, monopólio do Estado. Tal serviço, historicamente escasso nas áreas pobres, não é o único indispensável na cidade contemporânea. Os demais serviços públicos, relacionados ao saneamento, ao transporte, à educação, à saúde, ao bem-estar, enfim, à vida urbana precisam ser garantidos em todos os territórios.
Essa é a equação política que as UPPs tornaram urgente.
Enquanto a rotina democrática não estiver instalada, enquanto a resistência burocrática da administração não estiver superada, enquanto os serviços públicos não estiverem em normal funcionamento, compete aos mandatários eleitos monitorá-los para que sejam prestados em condições adequadas, sistemáticas, impessoais e republicanas. Pela omissão histórica do Estado, é um trabalho que pode ser longo e talvez não possa ser delegado. Certamente, ultrapassará governos.
Ao governador e ao prefeito se confere o mérito de a cidade reencontrar-se com a esperança. Não podemos, eles e nós, ser derrotados pela insuficiência de desdobramentos das atribuições do Estado na prestação dos serviços públicos. A consequência da UPP não há de se esgotar na evidência de que sem ela o caso Amarildo teria ficado às escuras.
Pragmatismo e esperança - RENATO FERRAZ
CORREIO BRAZILIENSE - 12/10
"Vamos sepultar a velha política", disse Marina Silva, de volta aos holofotes. No dia da ascensão à era do pragmatismo, filosofou: "Já que não é possível um novo caminho, há de se aprender uma nova forma de caminhar". Ok. Ao longo da carreira, Marina soltou frases bonitas (ou não), feitas, refeitas, repensadas, prontas, com ou sem sentido. "Estamos procurando metabolizar uma nova forma de fazer política", disse certa vez. Mas, juro, gostaria muito de entender o que é metabolizar para "construir", não para "destruir", e que não é "hora de ser pragmático, mas de ser sonhático e de agir pelos nossos sonhos".
Essa figura extraordinária, que diz estar no único partido clandestino de uma democracia, convém respeitar a inteligência de quem vive uma "crise civilizatória". Afinal, seu último gesto político mostra o que sobre o ideal que move as pessoas para melhorar o mundo em que vivem? Estará ela, aliando-se a Eduardo Campos e levando Jorge Bornhausen e Ronaldo Caiado de lambuja, na "popa ou na proa"? Passado o susto, e não apenas de petistas, havemos de reconhecer que o nosso Brasil precisa mudar o modelo de desenvolvimento - simplesmente cortar árvores para semear soja e milho é ato tão estúpido quanto ingênuo (o preço disso nos será cobrado, não duvidem).
Marina tem razão ao cobrar um novo jeito de praticar a arte política (será que ainda tem mesmo?). Como não sou político profissional, também prefiro "perder ganhando" a "ganhar perdendo". E ela é uma vencedora: teve malária cinco vezes, adquiriu hepatite outras três - fora uma leishmaniose e a estranha contaminação por metais pesados. Sem falar da origem social. Só a fé, talvez mais até do que a ciência, para explicar esse fenômeno.
Bem, Marina disse recentemente que, geralmente, a gente vê nos outros aquilo que está dentro da gente. Tem fundamento. Voltando a parafraseá-la, digo: Marina já me liderou pelo discurso, mas não acho que esteja me liderando agora pelo exemplo. É uma pena que o pragmatismo tenha engolido a esperança. E que alguém tenha se rendido às circunstâncias sem tentar transformá-las.
Liberdade de informação - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 12/10
O debate sobre a proibição de biografias que não tenham sido autorizadas expressamente pelo biografado ou por sua família tem tudo a ver com o momento político que vivemos, em que se perdeu a noção dos limites dos direitos e deveres da cidadania, onde se discute a morosidade da Justiça como sintoma de atraso cultural de um país em que leis são feitas para favorecer os poderosos, e tentativas de controle da liberdade de expressão estão sempre presentes.
Como o artigo 20 do Código Civil, que, a pretexto de proteger a imagem, cerceia a liberdade de informação. Paradoxalmente, a ação do herdeiro do músico Renato Russo contra uma paródia da canção "Eduardo e Mônica" publicada no blog do PPS para criticar a união de Eduardo (Campos) e Marina (Silva) mostrou como a ação judicial pode ter efeito imediato, pois o PPS teve que tirar a paródia do ar mesmo sob protestos do presidente do partido, deputado Roberto Freire, que muito acertadamente afirmou que paródias não são crimes. Nesse caso específico, porém, ainda é aceitável a ação do herdeiro de Russo, já que a música foi usada com fins políticos, e ele diz na ação que não deseja "qualquer associação indevida com partidos políticos".
A questão da Justiça entrou na discussão porque um dos argumentos dos que defendem a censura prévia às biografias é que, no Brasil, os processos levam tempo demasiado tramitando na Justiça e, como disse Djavan, "nos países desenvolvidos, você pode abrir um processo. No Brasil também, com uma enorme diferença: nós não somos um país desenvolvido".
Durante o período de litígio na Justiça, enquanto os biógrafos ganhariam "rios de dinheiro" (o que não acontece) às custas do "sofrimento" do biografado, as infâmias e as calúnias continuariam circulando em forma de livro. Mesmo que verdadeiro na maioria dos casos, o argumento parece não servir para as ações contra biografias de famosos, pois Roberto Carlos conseguiu tirar de circulação o livro de Paulo Cesar de Araújo, uma excelente biografia, e as herdeiras de Garrincha impediram que sua história, contada com mães tria por Ruy Castro, chegasse aos leitores.
O argumento de que não somos um país desenvolvido e, portanto, temos que nos contentar com as informações controladas pelas celebridades e seus herdeiros é equivocado, pois nunca seremos desenvolvidos se nossas elites usarem a Justiça para se proteger em antecipadamente de eventuais desvios de conduta de jornalistas e escritores, assim como usam as brechas da lei e os recursos intermináveis para não serem condenadas.
Por esse raciocínio, a censura prévia do noticiário é bastante aceitável, e, sempre que governos autoritários ou ditatoriais exercem seu poder de força para impedir a circulação de informações que não lhes agradam, alegam que o fazem para proteger a segurança nacional, ou os bons costumes.
Quando uma música de Caetano ou Chico Buarque era censurada durante a ditadura, o objetivo era justamente proteger a sociedade de suas mensagens "subversivas" e de suas "mentiras" sobre o país.
O mais espantoso, porém, é a tentativa de acordo proposta por alguns dos membros do grupo que defende a censura prévia: que o biografado receba uma parte dos direitos autorais da obra. Como disse Alceu Valença, "definitivamente, a questão não é financeira. A ideia de royalties para os biografados ou herdeiros me parece imoral. 'Falem mal, mas me paguem'? É essa a premissa??? Nem tudo pode se resumir ao vil metal".
Ouso de ações na Justiça para proteger a "imagem" chega a abusos como o de Roberto Carlos proibir uma publicação sobre a moda da Jovem Guarda. Ou como ocaso que me foi contado pelo poeta Ledo Ivo, que não podia nem mesmo usar em livros fotos em que aparecia com seu amigo Manuel Bandeira porque os herdeiros deste queriam cobrar "direito de imagem".
Assinei recentemente um manifesto a favor do fim da proibição das biografias sem autorização, e um dos trechos acho que resume bem a questão: "A dispensa do consentimento prévio do biografado não confere ao autor imunidade sobre as consequências do que escrever. Em casos de abuso de direito, uso de informação falsa e ofensiva à honra, a lei já contém os mecanismos inibidores e as punições adequadas à proteção dos direitos da personalidade".
É assim que se age nas democracias, e buscar justificativas para cercear a liberdade de informação é dar munição para quem não convive bem com ela.
Como o artigo 20 do Código Civil, que, a pretexto de proteger a imagem, cerceia a liberdade de informação. Paradoxalmente, a ação do herdeiro do músico Renato Russo contra uma paródia da canção "Eduardo e Mônica" publicada no blog do PPS para criticar a união de Eduardo (Campos) e Marina (Silva) mostrou como a ação judicial pode ter efeito imediato, pois o PPS teve que tirar a paródia do ar mesmo sob protestos do presidente do partido, deputado Roberto Freire, que muito acertadamente afirmou que paródias não são crimes. Nesse caso específico, porém, ainda é aceitável a ação do herdeiro de Russo, já que a música foi usada com fins políticos, e ele diz na ação que não deseja "qualquer associação indevida com partidos políticos".
A questão da Justiça entrou na discussão porque um dos argumentos dos que defendem a censura prévia às biografias é que, no Brasil, os processos levam tempo demasiado tramitando na Justiça e, como disse Djavan, "nos países desenvolvidos, você pode abrir um processo. No Brasil também, com uma enorme diferença: nós não somos um país desenvolvido".
Durante o período de litígio na Justiça, enquanto os biógrafos ganhariam "rios de dinheiro" (o que não acontece) às custas do "sofrimento" do biografado, as infâmias e as calúnias continuariam circulando em forma de livro. Mesmo que verdadeiro na maioria dos casos, o argumento parece não servir para as ações contra biografias de famosos, pois Roberto Carlos conseguiu tirar de circulação o livro de Paulo Cesar de Araújo, uma excelente biografia, e as herdeiras de Garrincha impediram que sua história, contada com mães tria por Ruy Castro, chegasse aos leitores.
O argumento de que não somos um país desenvolvido e, portanto, temos que nos contentar com as informações controladas pelas celebridades e seus herdeiros é equivocado, pois nunca seremos desenvolvidos se nossas elites usarem a Justiça para se proteger em antecipadamente de eventuais desvios de conduta de jornalistas e escritores, assim como usam as brechas da lei e os recursos intermináveis para não serem condenadas.
Por esse raciocínio, a censura prévia do noticiário é bastante aceitável, e, sempre que governos autoritários ou ditatoriais exercem seu poder de força para impedir a circulação de informações que não lhes agradam, alegam que o fazem para proteger a segurança nacional, ou os bons costumes.
Quando uma música de Caetano ou Chico Buarque era censurada durante a ditadura, o objetivo era justamente proteger a sociedade de suas mensagens "subversivas" e de suas "mentiras" sobre o país.
O mais espantoso, porém, é a tentativa de acordo proposta por alguns dos membros do grupo que defende a censura prévia: que o biografado receba uma parte dos direitos autorais da obra. Como disse Alceu Valença, "definitivamente, a questão não é financeira. A ideia de royalties para os biografados ou herdeiros me parece imoral. 'Falem mal, mas me paguem'? É essa a premissa??? Nem tudo pode se resumir ao vil metal".
Ouso de ações na Justiça para proteger a "imagem" chega a abusos como o de Roberto Carlos proibir uma publicação sobre a moda da Jovem Guarda. Ou como ocaso que me foi contado pelo poeta Ledo Ivo, que não podia nem mesmo usar em livros fotos em que aparecia com seu amigo Manuel Bandeira porque os herdeiros deste queriam cobrar "direito de imagem".
Assinei recentemente um manifesto a favor do fim da proibição das biografias sem autorização, e um dos trechos acho que resume bem a questão: "A dispensa do consentimento prévio do biografado não confere ao autor imunidade sobre as consequências do que escrever. Em casos de abuso de direito, uso de informação falsa e ofensiva à honra, a lei já contém os mecanismos inibidores e as punições adequadas à proteção dos direitos da personalidade".
É assim que se age nas democracias, e buscar justificativas para cercear a liberdade de informação é dar munição para quem não convive bem com ela.