segunda-feira, julho 29, 2013

O Jeito Brasileiro - LYA LUFT

REVISTA VEJA


Não acho graça quando dizem que alguma falha, bizarrice, relaxamento ou incompetência é o jeito brasileiro. Não concordo quando autoridades dizem que atrasos em ocasiões oficiais fazem parte da cultura brasileira... Não acho que errar o trajeto ou combinar mal ou nem combinar nada sobre o trajeto de um papa, sabido séculos antes, nas tantas vezes convulsionadas ruas do Rio atual, seja apenas jeito brasileiro. E, se for, a gente tem de corrigir.

"No Brasil é assim..." Será? Será bom? A gente deve achar graça e se orgulhar? Houve um momento em que uma autoridade afirmou que caixa dois no Brasil é normal. Será? E então como falar de ética, honradez, transparência, palavras que se vão gastando de tão mal usadas?

Tenho muito receio desse folclore de que aqui é assim, e pronto. Não é normal que multidões se revoltem e protestem pelo país, e que isso seja considerado bonito. Não aguento mais, não o uso, mas o abuso de termos sérios como "pacífico" e "democrático". Uma manifestação que termina com criminosos (por que o termo "Vândalos"?) destruindo propriedade pública e privada, agindo com violência e portanto recebendo violência, não me parece pacífica. Movimento pacífico é pacífico. Não admite essa reiterada violência. Se meu pé está gangrenado, meu corpo está doente, e nenhum eufemismo há de negar isso.

Os próprios manifestantes deveriam, poderiam, evitar os criminosos? As autoridades deveriam ser mais eficientes, mais severas? Ou liberamos geral a bagunça, os estragos, os crimes — pois destruir é crime? Se eu pegar uma pedra e quebrar uma vitrine ou a vidraça de um edifício público ou residencial, certamente não sairei impune. Se eu acampar no meio de uma Câmara Municipal ou Assembleia ou seja o que for, certamente não ficarei ali tranquila. Então o que está havendo?

Sou a favor de manifestar indignação e fazer protestos. Temos mais do que motivo para isso, mas algo está muito errado por aqui. Ninguém parece se dar conta disso, olhamos para os lados assobiando como menino no escuro, fingindo que está tudo ótimo. Fingindo que está tudo bem. O Brasil é assim. Pior, quem sabe dizendo que protestar, manifestar-se, sair às ruas, estradas e atacar pessoas e edifícios é sinal de satisfação. O povo ganhou muito, agora quer mais.

Não entendo esse raciocínio e suspeito que não seja para entender mesmo. Então vai ver que é mais um jeito brasileiro de tentar esconder problemas sérios e urgentes, pois a situação só piora. A economia piora. Saúde, educação, dignidade, segurança não podiam estar piores. Mas a gente fica satisfeito, tudo democrático e pacífico, que bonito, afinal quebrar lojas, saquear, atacar, carregar bombas de fabricação doméstica, andar mascarado para cometer loucuras faz parte do jeito brasileiro. Será?

Aí vem Francisco, o Papa, com seu jeito de vovozinho alegre, mas não se enganem: é experiente, é sábio, é corajoso, chega dizendo que não traz ouro nem prata, mas Cristo. Chega aberto ao povo. Se teve medo, não sabemos, mas parecia tranquilo enquanto a multidão o queria ver, fotografar, tocar, e os seguranças, perplexos, atônitos, corriam de um lado para outro sem entender direito o que tinha acontecido, quem tinha errado para de repente Francisco estar entalado no trânsito como qualquer comum mortal, ainda por cima exposto daquele jeito.

Tudo saiu bem, nem mortos nem feridos, tudo simpático, do jeito brasileiro. Mas podia ter sido um desastre sem tamanho — e quando escrevo esta coluna a visita ainda não chegou ao fim. Acho que tudo vai dar certo. Acho que ninguém vai fazer manifestações e violências na cara de Francisco, mas longe dele. Acho que ele, sendo argentino, sabe onde se meteu, que continente é este, que país é este, e deve amar o que temos de bom, de belo, de honrado, de afetivo, de alegre, de bravo, de resistente e firme.

E pelo menos, graças a Deus, o Papa Francisco em seus discursos iniciais não falou em política: falou em gente, em amor, em juventude, em fé; falou, enfim, como um sacerdote — que é o que o papa é antes de tudo o mais. Viva Francisco!

O grande ausente - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA

O grande ausente das atuais cogitações sobre a reforma política é o dispositivo constitucional que estabelece o mínimo de oito deputados e o máximo de setenta para cada bancada estadual. A ""crise de representatividade" é alardeada sempre como motivo central para a reforma do sistema. No entanto, não se fala nesse grande fator de distorção na representatividade que é o artigo 45 da Constituição, ao estabelecer um mínimo de oito deputados e um máximo de setenta por estado. Para citar o exemplo clássico, São Paulo, que bate no teto constitucional, tem um deputado para cada 600.000 habitantes, enquanto Roraima, o menos populoso dos estados, tem um para cada 58.750. Resulta daí uma sub-representação de São Paulo, uma super-representação de Roraima e, computadas todas as outras distorções, entre tais extremos, uma Câmara dos Deputados capenga, muito longe de espelhar equitativamente a população brasileira.

Voto distrital é feito para eleger representantes de uma comunidade de eleitores, não de um estado. Misturar populações de estados diferentes para formar distritos viria ao encontro do espírito que o anima.

Costuma-se culpar o "pacote de abril", funesta reforma baixada pela ditadura, em 1977, pela distorção. O pacote de abril é culpado por muita coisa, inclusive pela grotesca instituição do "senador biônico" (não eleito, mas nomeado), mas não por isso. Os limites vêm desde a Constituição republicana de 1891 (mínimo de quatro e máximo por um cálculo variável) e vieram se agravando (a Constituição de 1946 previa mínimo de sete e máximo também por um cálculo variável) até chegar ao ápice na Constituição de 1988, justamente a mais democrática de nossa história. Segundo teoria geralmente aceita, interessa aos governantes conferir maior representatividade a regiões menos populosas por serem de mais fácil manipulação. A imposição de limites seria portanto um freio de espírito conservador contra as aspirações dos setores sociais mais avançados.

A questão não vem de agora, nem é apenas daqui. No Japão agora mesmo a má distribuição dos distritos pelos quais são eleitos os deputados levou a Suprema Corte a declarar a Câmara em "estado de inconstitucionalidade". Em toda parte do mundo, as relações entre regiões, estados, municípios ou até bairros são embaraçosas e difíceis de superar. A equidade é ainda mais reclamada, e a distorção fica mais evidente, quando o sistema de eleição dos deputados é o majoritário em distritos reduzidos — o sistema conhecido no Brasil por "voto distrital". Caso fosse instituído entre nós, sem mexer com os limites constitucionais vigentes, cada distrito de São Paulo teria 600.000 eleitores, contra 58.750 em Roraima — receita certa para uma Câmara estapafúrdia, em que a carência de representatividade ficaria ainda mais exposta do que na atual.

É difícil estabelecer negociações entre unidades federativas quando de algumas se pede que abram mão do que supõem sejam conquistas. O Tribunal Superior Eleitoral determinou em abril, com base nos resultados do Censo de 2010, uma atualização das bancadas que implicaria, nas eleições de 2014, o aumento delas em cinco estados e a diminuição em oito. Maior ganhador, o Pará ficaria com quatro deputados a mais, mas a maioria ganharia ou perderia apenas um. O presidente da Câmara avisou de pronto que o assunto era delicado e demandava reflexão. Nunca se procedeu à atualização das bancadas, desde a Constituição de 1988; a tendência é sempre deixar as coisas como estão. Se é assim com os pequenos ajustes, imagine-se com um maior, como o que revogaria os limites máximo e mínimo. E, se os ajustes são difíceis assim no sistema atual, imagine-se no caso de ser implantado o voto distrital.

Uma possível estratégia para quebrar o impasse seria radicalizar o conceito de que deputado é representante do povo. O conceito já está escrito na Constituição: radicalizá-lo significaria precisar que, sendo representante do povo, não é do estado. Nas regiões fronteiriças, haveria distritos que misturariam populações de um lado e de outro; e estados de escassa população, como Roraima, se juntariam a vizinhos para formar um distrito. Voto distrital é feito para eleger representantes de uma comunidade de eleitores, não de um estado. Misturar populações de estados diferentes para formar distritos viria ao encontro do espírito que o anima. De quebra, com isso se valorizaria o papel do Senado, esta sim a Casa de representação dos estados, hoje tão redundante com relação à Câmara.

Para não deixar em branco o assunto da semana: o papa Francisco, na pose e nos gestos, é menos eclesiástico do que o vice-presidente Michel Temer.

A espiritualidade das pedras - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 29/07

O "eu" deve agir como as mulheres quando fecham as pernas em sinal de pudor e vergonha


Meu Deus, como ter um "eu" cansa! Os místicos têm razão. Não é necessário ser um "crente" para ver isso, basta ter algum senso de ridículo para ver o quão cansativo é satisfazer o "eu". E a modernidade é toda uma sinfonia (ou melhor, uma "diafonia", contrário da sinfonia) para este pequeno "eu" infantil.

Outro dia, contemplava pessoas num aeroporto embarcando para os EUA com malas vazias para poder comprar um monte de coisas lá.

Que vergonha. É o tal do "eu" que faz isso. Ele precisa comprar, adquirir, sentir-se tendo vantagem em tudo. O "eu" sente um "frisson" num outlet baratinho em Miami. O mundo faz mais sentido quando ele economiza US$10. E o pior é que, neste mundo em que vivemos, faz mesmo sentido. Qualquer outra forma de sentido parece custar muito mais do que US$ 10.

A filosofia inglesa tem uma expressão muito boa que é "wants", para se referir a nossas necessidades a serem satisfeitas. Poderíamos traduzir de modo livre por "quereres". O "eu" é um poço sem fundo de "wants". Isso me deprime um tanto.

Como dizia acima, a modernidade é toda feita para servir ao pequeno autoritário, o "eu": ele exige mais sucesso, mais autoestima, mais saúde, mais dinheiro, mais beleza, mais celulares, mais viagens, mais consumo, mais direitos, mais rapidez, mais eficiência, mais atenção, mais reconhecimento, mais equilíbrio, melhor alimentação, mais espiritualidade para que ele não se sinta um materialista grosseiro.

Outra demanda do "eu" que enche o saco é querer se conhecer. Você conhece coisa mais chata do que alguém que tira um final de semana para fazer um workshop de autoconhecimento e aí vai para jardins "fakes" na Raposo? E pior, quem tira seis meses para se conhecer depois dos 40 anos e acha legal? O autoconhecimento só é sério quando deságua em autoironia.

O império do "eu" se revela quando vivemos pela angústia de torná-lo "resolvido". Nada é mais típico dessa angústia estéril do que alguém sempre atento às próprias dores.

Outra armadilha típica do mundinho do "eu" é a idolatria do desejo. A filosofia sempre problematizou o desejo como modo de escravidão, e isso nada tem a ver com a dita repressão cristã (que nem foi o cristianismo que inventou) do desejo. Problematizar o desejo tem mais a ver com um conhecimento sutil, fruto da experimentação que a realização do desejo sem idealizá-lo traz. A idealização do desejo é marca da condição adolescente ou reprimida.

O "eu" falante inunda o mundo com seu ruído. O "eu" mais discreto tece um silêncio que desperta o interesse em conhecê-lo. Mas hoje vivemos num mundo da falação de si, como numa espécie de contínuo striptease da alma. O corpo nu é mais interessante do que a alma que se oferece. Por isso toda poesia sincera é ruim (Oscar Wilde). O "eu" deve agir como as mulheres quando fecham as pernas em sinal de pudor e vergonha.

A alta literatura espiritual, oriental ou ocidental, há muito compreende o ridículo do culto ao "eu". Uma leveza peculiar está presente em narrativas gregas (neoplatonismo), budistas (o "eu" como prisão) ou místicas (cristã, judaica ou islâmica).

Conceitos como "aniquilamento" (anéantissement, comum em textos franceses entre os séculos 14 e 17), "desprendimento" (abegescheidenheit, em alemão medieval) e "aphalé panta" (grego antigo) descrevem exatamente esse processo de superação da obsessão do "eu" por si mesmo.

A leveza nasce da sensação de que atender ao "eu" é uma prisão maior do que atender ao mundo, porque do "eu" nunca nos libertamos quando queremos servi-lo. Ele está em toda parte como um deus ressentido.

Por isso, um autor como Nikos Kazantzakis, em seu primoroso "Ascese", diz que apenas quando não queremos nada, quando não desejamos nada é que somos livres. Muito próximo dele, o filósofo epicurista André Comte-Sponville, no seu maior livro, "Tratado do Desespero e da Beatitude", defende o "des-espero" como superação de uma vida pautada por expectativas.

Entre as piores expectativas está a da vida eterna. Espero que ao final o descanso das pedras nos espere. Amém.

Batismo por secador - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 29/07

O padre percebeu que não íamos a lugar algum. Quando, aos 13 anos, comecei a questionar o que ele considerava inquestionável, no retiro espiritual de Correias, o padre deve ter contabilizado a perda de uma ovelha e desistiu. Diante da insatisfação com as respostas, fui adiando a cerimônia de crisma, apesar de continuar sob a tutela de freiras ursulinas e, mais tarde, padres barnabitas. Voando abaixo do radar da vigilância paterna, desisti.

Desde então, nenhum sacramento fez parte da minha vida ou da vida da minha nova família. Quando me perguntam se sou religiosa, neste país onde 97% da população diz acreditar em Deus, mas 20% rejeita a religião organizada, respondo que não, com uma ressalva. Digo que sou culturalmente católica. Essa noção ficou ainda mais clara quando passei minha primeira temporada na Irlanda, há 20 anos. É um dialeto psicoafetivo que compartilho com certas pessoas e nem por isso me faz discriminar contra outras.

Lembrei desse dialeto quando assisti ao vídeo de uma cerimônia de desbatismo promovida pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, no Largo do Machado, para coincidir com a chegada do papa Francisco. Eu cruzava aquela praça diariamente, em minha progressiva descrença adolescente, a caminho dos colégios católicos. O presidente da associação, um advogado simpático, disse que estava protestando contra as políticas da Igreja Católica.

Não me passa pela cabeça que a fé católica esteja literalmente acorrentada ao Vaticano ou a políticas institucionais. Quando conversei, há poucos anos, com a formidável romancista católica Mary Gordon, ela se referiu com desdém a Bento XVI e à Cúria. Quando leio o mais importante intelectual católico americano, Garry Wills, entendo que ele, não só não vê motivo para a existência do Vaticano como, em seu novo livro, Por Que Padres?, propõe a abolição da função como uma categoria especial que, em sua leitura enciclopédica de textos bíblicos, nunca teria sido investida de autoridade por Jesus.

Gordon e Wills são exemplos de católicos que não usam sua fé como instrumento de intolerância ou exclusão. Mas são também exemplos de católicos que se opõem, não apesar de, mas por causa de sua moralidade cristã, às guerras genocidas, à desigualdade econômica, ao racismo e aos abusos de direitos humanos. Minha existência sem Deus se torna menos árida por causa desses crentes.

A cerimônia humorosa de desbatismo, importada dos Estados Unidos, usa um secador para purgar o antigo bebê vitimizado pela escolha dos que o trouxeram ao mundo. É um ritual carnavalesco de separação da religião. Os entrevistados disseram comicamente que era como se tivessem nascido de novo, num atribuição de transcendência ao jato de ar quente. Não achei tanta graça, mas, à medida que me lembrei do ateísmo mais em evidência nos últimos anos, meu sorriso amarelou.

É uma espécie de ateísmo xiita, aguçado por intelectuais como Richard Dawkins, Sam Harris e o falecido e, este sim, formidável Christopher Hitchens. Sam Harris pede provas da existência divina como quem cobra se, de fato, um vírus descoberto em laboratório é, responsável pelos sintomas de uma doença, como se a religião clamasse para si uma verdade científica. Compartilho, no entanto, de sua preocupação com os retrocessos de educação nos Estados Unidos, com o criacionismo ensinado no lugar da ciência.

No caso do Brasil, esse ateísmo militante me parece ter tomado um caráter intolerante e elitista. Sugere que as pessoas têm fé porque não completaram o segundo grau ou algo que o valha. Ouvi de um rapaz com jeito de ter a mesma vida de classe média que tive a declaração absurda de que ateístas e agnósticos sofrem discriminação e me perguntei se há um planeta chamado Brasil em outra galáxia. No meu permissivo Rio de Janeiro cada um tocava seu apito e nunca sofri qualquer rejeição social por minha falta de religião.

Os jovens que se desbatizaram na minha antiga vizinhança têm em comum o senso de humor e a lembrança de uma religião institucional que os privou de alegria ou reprimiu sua identidade e, por isso, me aproximo deles. Mas espero que eles compreendam que o zelo religioso dos que não responderam às minhas perguntas não é sinônimo de religião. Como disse um escritor "vagamente" crente com quem conversei, um opositor ferrenho da direita evangélica: Para mim Deus é um verbo e não um substantivo.

Espaço para duas pernas - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 29/07

RIO DE JANEIRO - Parece mentira: Detroit, a cidade-símbolo da cultura do automóvel, quebrou. Deve US$ 20 bilhões, que não tem como pagar, e, de lá, saem agora apenas 5% dos carros montados nos EUA. Sua população passou de 1,8 milhão para 700 mil, dos quais 40% vivem abaixo da linha da pobreza. É também a cidade mais violenta do país, com quarteirões incendiados, destruídos e abandonados.

As causas parecem ser as crises econômicas e a concorrência da Ásia. Mas há também um fator que me toca mais: o declínio da dita cultura --a do automóvel. Segundo pesquisas, 20% dos jovens americanos hoje, entre 20 e 24 anos, não têm carteira de habilitação. Se essa idade cair para 18 anos, o número sobe para 40%. Isso num país em que, até há pouco, o carro era mais importante para um adolescente do que jogar beisebol ou beijar a coleguinha de classe.

E no qual o principal documento no bolso do cidadão era a carteira de motorista --como se a identidade do indivíduo estivesse atrelada a uma máquina e, sem esta, ele não existisse.

Claro que, nos países novos-ricos e grotões mais atrasados, a obsessão pelo carro continua. Mas, em algumas cidades, a agenda dos habitantes mudou. As pessoas estão tentando reduzir as distâncias, morando perto do trabalho ou mesmo trabalhando em casa. Em vez de sair de carro, andam a pé, usam bicicleta e exigem mais e melhor transporte público --nesse sentido, as recentes manifestações no Brasil não foram por acaso. Tudo passou a conspirar contra o automóvel --na verdade, contra o carro particular.

Ao ler isso, considero-me meio pioneiro. Nunca quis ter carro ou dirigir, o que me poupou de séculos de manobras, estacionamentos, engarrafamentos, bafômetro, multas e estresse. E de ocupar com quatro rodas o espaço que me foi concedido para as duas pernas.


Como o PT perdeu a hegemonia - RENATO JANINE RIBEIRO

VALOR ECONÔMICO - 29/07

Um tempo antes de eleger Lula presidente da República, o Partido dos Trabalhadores alcançou a hegemonia na opinião pública - não em matéria econômica, onde prevalecia a defesa das privatizações, mas na ética e na questão social. Sua vitória em 2002 não foi um passeio, mas se escorou na conquista da opinião pública. O PT nasceu como nosso grande partido ético. De 1981 a 2002, foi esta sua grande característica. O próprio PSDB, fundado em 1988, surgia das costelas do PMDB como um projeto ético - dos descontentes com Orestes Quércia - e a muitos parecia ser o PT palatável, o PT moderado, o PT light; unidos, esperou-se, os dois mudariam o Brasil. Isso não ocorreu.

Mas o PT aumentava seu prestígio. Um ano antes da eleição de Lula, era hegemônico na cultura política brasileira. Sua defesa da decência na vida pública, somada à proposta de justiça social, lhe davam o que Gramsci chama de hegemonia. É claro que precisou mostrar-se realista, dando garantias aos agentes econômicos; mas estava na posição de quem, mesmo perdendo, ganhava moralmente. Pois ganhava nos espíritos, mesmo que perdesse na matéria. A longo prazo, isso conta.

Lembro Al Gore: nos Estados Unidos, as causas sociais se impuseram quando se tornaram éticas - a emancipação dos escravos, o fim da segregação racial. Foi o que o PT fez com a inclusão social.

Hoje, vemos o movimento contrário. A ética deixou de ser o distintivo do PT. Desde a crise do mensalão, em 2005, a oposição se apossou dela. A questão hoje é: se perdeu a hegemonia, se perdeu o domínio das mentes e corações, estará o PT fadado a perder, também, as eleições? Ou as vencerá em 2014, mas só reforçando um descompasso entre a opinião e o voto? E por que perdeu este poder espiritual que, quando lhe faltavam os poderes materiais (o político, o econômico), parecia ser decididamente seu?

Há explicações para isso, mas não me importam aqui as que denunciam a ação dos partidos de oposição (que, afinal, fizeram o que uma oposição faz: oposição) ou a mídia. O que interessa é o que o PT fez para perder a hegemonia. Mas, antes, um pouco sobre essa palavra.

Marx, embora descrevesse bem o funcionamento do capitalismo (não devemos esquecer que seu maior livro se chama "O capital" - e não "socialismo" ou "revolução"), nunca detalhou como se poria fim a ele. Por vários acasos, esse papel coube a Lênin, líder de um partido secundário num país atrasado, mas que foi onde se deu a revolução. Lênin delegou a tarefa a um partido único, composto de revolucionários profissionais e organizado em torno do segredo e da hierarquia (para ser exato, do "centralismo democrático": primeiro, um debate livre; depois, a decisão em assembleia; depois disso, obediência estrita à decisão da maioria). Foi o que funcionou nos países pobres, de Estado hipertrofiado e sociedade atrofiada, em que o comunismo se impôs nas décadas que se seguiram a 1917.

Gramsci, comunista italiano, que passou seus últimos anos de vida nas cadeias de Mussolini, propôs outra via. Em países de forte sociedade civil, a conquista dos espíritos seria mais importante do que a vitória pelas armas. Essa ideia singela mas forte inspirou uma forte renovação democrática na esquerda, comunista ou não. Foi influente no Brasil. Ressalta o combate cultural, ideológico, numa sociedade democrática. Explica como o PT foi crescendo. Explica também como, em seus anos no governo, o PT se enfraqueceu. Pois hoje o PT é quase só um partido de poder, ao contrário de seu passado; se perder o poder federal, será uma pálida sombra do que já foi.

Exemplos não faltam. Depois da eleição de Lula, o PT teve dois presidentes com ideias, José Genoino e Tarso Genro; foram os únicos a perder esse cargo. Os dirigentes que estão no partido ou no Legislativo pesam menos do que quem está no Executivo. Isso porque no governo, no mundo da assinatura, você faz acontecer; já no Senado, na Câmara, no mundo da palavra, você não gera resultados imediatos tangíveis. Um político ganha ao ir para um ministério; mas, se ele for um líder, com isso perdem o partido e a opinião política. E saíram de cena os intelectuais identificados ao PT - uns porque romperam com ele, como Chico de Oliveira; outros, simplesmente, se calaram. O partido perdeu líderes, adquiriu gestores. Hoje, o discurso de defesa do governo se concentra na defesa dos programas - emergenciais - de inclusão social, como o Bolsa Família e o ProUni. Aprovo-os, mas eles, se resolvem um passado odioso, não desenham um futuro. O PT deixou de ser um partido de propostas, mesmo que estas fossem utópicas.

Poderia ser diferente. A meu ver, no capítulo da moral o PT poderia enfatizar que o grande escândalo ético brasileiro era, dez anos atrás, ter quase metade da população nas classes D e E. Deveria insistir no caráter ético das políticas contra a miséria e a própria pobreza. Não deixaria, então, o tema ético ser tomado, como aconteceu, pela oposição - que coloca em segundo plano a miséria e o que se fez contra ela, para se concentrar nas acusações de corrupção, que atravessam nossa história desde a colônia com muita retórica e pouco resultado.

Mas não é esse o combate que o PT tem travado. Basta ver o bordão do terceiro mandato petista - "País rico é país sem pobres". Admiro essa redefinição do que é riqueza, como o contrário do sonho de Miami. Mas poderia ser "país digno". Poderia ser "país ético". A riqueza, sobretudo quando medida em termos de consumo, consegue apoio somente a curto prazo - um apoio que se esvai quando se esgota o consumo. Ética, dignidade, esperança têm alcance mais longo.

Salvem Dilma! - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 29/07


"Que ninguém fique privado do necessário e que a todos sejam assegura das dignidade, fraternidade e solidariedade." -O PAPA


Dilma disse à "Folha de S. Paulo ": "Lula não vai voltar por que não saiu. " Foi em resposta à pergunta se ele voltaria a ser candidato à 
Presidência da República em 2014 quando , a principio , Dilma tentará se reeleger . O que Dilma quis dizer com essa história de "não voltar por que não saiu?" Objetivamente , nada. Apenas fugiu de uma resposta direta à pergunta . Razoável. Nem ela sabe o que vai acontecer .

UMA COISA É termos uma presidência compartilhada como temos hoje. Dilma não se sente segura para governar sozinha. Pede conselho a Lula sempre que a infelicidade bate à sua porta. Se não pede, ele oferece por telefone . Ou por meio de ministros e assessores que devem o emprego a ele e não a Dilma. Bem, outra coisa é proceder como Lula quando Dilma substituiu José Dirceu na chefia da Casa Civil.

PARA ENGANAR os tolos, Lula passou os dois últimos anos do seu segundo mandato repetindo que Dilma governava tanto quanto ele. E que era melhor gestora do que ele. Dilma fazia o que Lula mandava. Muitas das sugestões que deu foram acatadas por Lula, outras não. Lula entregou a gerência do governo a ela para governar à vontade. Não se governa sem fazer política. Muito menos se governa centralizando tudo.

LULA TEVE melhor equipe do que Dilma tem. Embora soubesse lidar com políticos, cercou-se de gente que também sabia. Os bons ventos sopraram a economia enquanto governou. Por hábil e carismático, levou no gogó a maior ia dos brasileiros sempre que se viu em aperto. Depois de consultar amigos, viu que não valeria a pena batalhar pelo terceiro mandato consecutivo. Deu um tempo. Chamou Dilma. Espera reciprocidade.

HÁ CONDIÇÕES para que a reciprocidade se consuma. Mas Dilma está obrigada a reagir . Sua popularidade não poderá continuar caindo. Falta mais de um ano para a próxima eleição. Se Dilma chegar feito um trapo em março, não parecerá natural anunciar para deleite certo do distinto público: "Senhoras e senhores, o candidato do PT e de nove entre dez partidos à Presidência da República será Luiz Inácio Lula da Silva".

QUE BRINCADEIRA é essa? A melhor gestora do governo Lula teria fracassado ao se tornar gestora do seu próprio governo? Ou simplesmente Lula mentiu ao imputar-lhe a falsa condição de melhor gestora? Lula pensa que é assim? Que o país engolirá a desculpa de que o mau desempenho de Dilma surpreendeu até ele mesmo? Mas que uma vez de volta ele haverá de correr atrás do tempo perdido? 


O EVENTUAL retorno de Lula passará pela reabilitação de Dilma. A permanência do PT no poder passará pela reabilitação de Dilma. Se candidata outra vez ela talvez não se reeleja. Mas se for alijada da disputa presidencial para evitar uma derrota é quase seguro que o PT acabará alijado do Palácio do Planalto. Sem arrogância alguma, aceita-se apostas. Cartas à redação. Ou melhor: e-mails

Na semana passada, Arthur Lyra (AL), líder do PP na Câmara dos Deputados, localizou por telefone em Nova York o senador Cyro Nogueira (PI), presidente do partido . O PP tem 40 deputados federais. E quase todos estão dispostos a negar seus votos ao governo a partir desta semana. "Não deixe que façam isso ", apelou o senador . "Sinto muito , presidente , mas eles se sentem desprezados pelo governo ", respondeu Arthur . "Então proceda assim ", sugeriu Cyro: "Morra pela presidente . Mas não se deixe matar ." E desligou. Arthur acha que entendeu

Em boa hora - AÉCIO NEVES

FOLHA DE SP - 28/07

Em sua breve e já inesquecível visita, o papa Francisco legou aos brasileiros exemplos revigorantes e uma oportuna mensagem de otimismo, tão necessária neste ano de tantas dificuldades. "Sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade", foi sua exorta- ção no Santuário de Nossa Senhora Aparecida.

Quem o viu pela televisão ou ao vivo nos lugares onde esteve pôde obter a personificação de um novo sentido de liderança, marcado por posições reformadoras emblemáticas e grandes simbolismos, nesta hora em que tantos questionamentos recaem sobre aqueles que têm a responsabilidade de dirigir instituições: dispensou protocolos de chefe de Estado, desfilou pelas avenidas em carro simples e com as janelas abertas e impediu as ostentações e os exageros de praxe, buscando mais sinergia com os fiéis, postura que adotou desde o primeiro momento em que foi escolhido como sucessor de Bento 16.

Se a juventude esteve no centro de suas mensagens, foi enfático ao advertir que a sociedade deve assegurar a ela as condições "materiais e imateriais" para o seu desenvolvimento, oferecendo fundamentos sólidos sobre os quais se deve construir a vida. Garantir-lhe segurança e educação. Transmitir-lhe valores duradouros, como espiritualidade, solidariedade, perseverança, fraternidade e alegria.

Para quem tem filho ou filha na juventude, como é o meu caso, as palavras alentadoras de Francisco fizeram todo o sentido. "Bote esperança e os seus dias serão iluminados", ele sugeriu aos jovens, em um de seus discursos. Vale, aliás, para jovens de qualquer idade.

Houve oportunidade também para que ele demarcasse como enxerga a questão social nos dias de hoje. Quando eleito, meses atrás, o argentino Jorge Mario Bergoglio escolheu seu nome como papa em homenagem a são Francisco de Assis, indicando a ênfase que colocaria na defesa dos mais carentes.

Na comunidade pobre da Varginha, no Rio de Janeiro, o papa fez o apelo para que ninguém permaneça insensível às desigualdades e possa contribuir para acabar com as injustiças: "A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados".

O papa Francisco mostrou-se bem sintonizado com as manifestações de junho no Brasil. Entre a "indiferença egoísta" e o "protesto violento", termos usados por ele, pregou a alternativa do diálogo e defendeu o respeito aos princípios éticos. "O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza", disse. Esse permanece sendo o objetivo em torno do qual todos devemos nos unir.

As reformas - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 29/07

Não é de hoje que se fala em reforma política e reforma eleitoral e agora após variadas agitações urbanas, que deram feições novas à mesmice habitual das muitas cidades, praticamente em todos os Estados; em consequência o Congresso teve pressa em adotar medidas no que tange à tramitação parlamentar ou ao funcionamento do Poder Legislativo, até onde vai o meu conhecimento do assunto, à luz do que foi divulgado, as questões que despertaram a atenção congressual nem de longe resultaram da experiência acumulada, tanto assim, que jamais haviam sido arroladas como desnecessárias ou inconvenientes; parece terem sido uma espécie de tributo pago aos noticiários do dia, que estariam a indicar velharias intoleráveis. Dou um exemplo: passando os olhos pela Constituição, vejo que em dúzia de vezes nada se lê que nos casos que indicam votação da Câmara ou do Senado, seria tomada em escrutínio secreto. Seria de indagar porque tradicionalmente a norma Constitucional exige que a decisão se desse mediante votação secreta. A regra geral era no sentido das decisões parlamentares, fossem públicas; excepcionalmente elas haveriam de ser "em escrutínio secreto". Os casos excepcionais são poucos creio não passariam de meia dúzia e, em sua maioria, em favor do Legislativo e no sentido de limitar o Executivo. E teriam sido apagados todos os casos de votação secreta, na Câmara e no Senado. Todos. Dou um exemplo: O voto a projeto de lei, mesmo que aprovado pela maioridade da Câmara e do Senado, só pode ser rejeitado pela maioria absoluta dos deputados e senadores, em escrutínio secreto". Por que? Para que o Executivo, com todas suas múltiplas ramificações, não poderiam pressionar parlamentares, a lei cuida de assegurar a votação secreta, como se não bastasse a maioria absoluta, ou seja, a maioria da Câmara e do Senado. O expediente é eficaz? Não sei, sei apenas que busca assegurar aos parlamentares plena independência ao votar, como sei que a lei pode muito mas não pode tudo.
Fico por aqui no que tange à reforma política e passo à reforma eleitoral. Parece que o ato congressual foi a abolição dos suplentes ou do segundo suplente. Diga-se de passagem, que nem sempre houve a figura do suplente de senador e quando vagava o Senado, por uma renúncia ou perda de mandato, ou pela nomeação para ministro de Estado, deveria haver eleição para preencher a vaga, até porque dado o número de senadores em consequência obrigatória da Federação e da igualdade dos Estados, embora fossem grandes ou pequenos, populosos ou de baixa população os Estados. Foi a Constituição de 34 que instituiu a figura do suplente para substituir o titular em caso de impedimento ou sucedê-lo em caso de vacância. De resto, nunca se questionou sua conveniência. Eliminar o suplente como necessidade a justificar uma reforma eleitoral, a meu juízo, é um contrassenso. A verdade é que a Constituição é expressa: "cada Senador será eleito com dois suplentes". Embora a solução consagrada não seja um dogma uma coisa é certa, a sua eliminação não justifica uma reforma eleitoral.
Um pormenor que não pode ser omitido é que o nosso sistema eleitoral é um dos segmentos que mais tem se aperfeiçoado, em anos sucessivos. Em verdade, se durante o Império as eleições não eram modelares e a adoção da eleição direta implantada quando o Conselheiro Saraiva era o presidente do Conselho representou um progresso histórico, foi constante a preocupação do Imperador no sentido de aprimorar o sistema vigente. Adotada a República os abusos se multiplicaram. É de lembrar-se, desde logo, ser então estadual a legislação eleitoral e isso ensejava demasias ainda mais nocivas. O certo é que o Partido Republicano, embora em crescimento, estava longe de competir com o Liberal e o Conservador. A propósito, lembro na última eleição realizada no segundo reinado, os republicanos elegeram apenas três deputados, como é sabido Campos Salles era um deles. Nesse quadro os republicanos beneficiados com a surpresa de 15 de novembro temiam que os antigos monarquistas aderindo à República pudessem facilmente assumir os postos de direção. Por mera reminiscência recorde-se que Rodrigues Alves e Afonso Pena, um conservador e o outro liberal, vieram a ser eleitos presidentes da República no primeiro decênio do século 20.
De qualquer sorte parece-me oportuno ressaltar que a despeito dos muitos acidentes institucionais que macularam a história da Nação, é forçoso reconhecer que a Justiça Eleitoral permaneceu incólume, nos 20 anos de bastardia republicana e democrática. E, além disto, é inegável que a partir do longo período do Estado Novo, foram vários os aperfeiçoamentos aditados ao Código Eleitoral como a adoção da cédula oficial, o acesso ao rádio e à televisão gratuitos, a participação no fundo partidário e a urna eletrônica.
De modo que o risco da reforma projetada importar em clamoroso retrocesso não me parece hipótese gratuita.

Governo sem marca - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O Estado de S.Paulo - 29/07

Indagados pelo Ibope em qual de 25 áreas o governo de Dilma Rousseff tem melhor desempenho, um em cada três brasileiros disse "nenhuma" ou não soube responder. Mas esse nem é o maior problema da presidente. O que deve preocupar Dilma, seus subordinados e o PT é o que responderam os outros dois terços.

O terço sem resposta é, na maior parte, formado pelos que acham a atual gestão ruim ou péssima. Neles, Dilma pode perder a esperança: não são, não foram, nem serão seus eleitores. Se a presidente tem chance de se reeleger, será graças aos outros dois terços. E esses estão, na melhor das hipóteses, dispersos.

Nenhum dos 25 temas apresentados pelos pesquisadores aos entrevistados chegou a 10% das respostas. Elas se pulverizaram em taxas de um dígito entre assuntos tão distintos quanto "agricultura" e "capacitação profissional" (ambas com 6% de citações); entre "energia elétrica" (5%) e "cultura e lazer" (6%); "geração de empregos" (5%) e "educação" (3%).

Áreas que projetaram o governo Lula, como combate à "fome/miséria", tiveram - perdão pelo trocadilho - míseros 7% de citações. O maior destaque da atual gestão é "habitação/moradia", com 8% de lembranças. Vale lembrar que o Minha Casa, Minha Vida é uma herança. Mais do mesmo. Ou, como diria Dilma, Lula não vai voltar porque nunca saiu.

A menos que se acredite que o governo vai tão bem que as pessoas não sabem escolher qual sua maior qualidade, o significado da pesquisa é que o governo Dilma não tem marca. Não se distingue por nada especial no imaginário popular. Não diz a que veio.

As causas variam de acordo com o ponto de vista do observador. É culpa da "má comunicação oficial", dirão uns. É da "imprensa golpista", responderão outros. Melhor mirar as consequências.

Se não fica marcado como solução, o governante se torna o problema. Indagados sobre em qual área o governo tem pior desempenho, 99% dos brasileiros identificaram logo uma resposta. E, ao contrário das virtudes, mais da metade dos defeitos se resume a três áreas. Infelizmente para Dilma, são todas fundamentais: saúde (36%), educação (12%) e corrupção (9%).

Se um em cada três brasileiros diz que a maior falha do governo federal é na saúde, por outro lado nenhum afirma que a saúde é onde ele se sai melhor. Difícil imaginar por que o PT cogita lançar o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para concorrer ao governo de São Paulo. Só se for para trocar o ministro.

Entre os paulistas, por causa da queda da aprovação de Geraldo Alckmin depois dos protestos, o governador tucano ficou no zero a zero em termos de aprovação. As avaliações ruim +péssimo (26%) anularam o ótimo+bom (também 26%). Virou um governo regular (46%). A diferença é que Dilma tem saldo negativo de 15 pontos em São Paulo: 23% de ótimo+bom contra 38% de ruim+péssimo.

Além de ajudar a explicar a queda repentina da popularidade de Dilma, a falta de uma marca positiva do governo federal é um desestímulo aos militantes do PT e aos simpatizantes da presidente. Não há um argumento sólido, baseado na opinião pública, para defender a sua reeleição. Volta-se sempre aos "dez anos" de conquistas, ou seja, a continuidade da era Lula.

Esse circunstância pode ser passageira. Mas para ela passar, dependerá de o governo federal realizar algo notável nos próximos 14 meses e saber comunicar o feito. Não é um desafio pequeno em meio a um cenário econômico mundial adverso.

Do contrário, resta à presidente confiar no petismo, que costuma garantir pelo menos 25% dos votos e uma vaga no segundo turno da corrida presidencial. E torcer para que seu adversário no turno final, por comparação, pareça pior do que ela ou uma incógnita arriscada demais para o eleitor.

A segunda encíclica de Lula - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 29/07

SÃO PAULO - Mesmo antes das manifestações de junho, a rota do governo federal vinha sendo ajustada para tornar-se mais conservadora. Na economia, o nacional-desenvolvimentismo já havia sido abalado pelo surto de autonomia do BC nos juros.

Na política, um acúmulo de reveses e escaramuças com aliados tornara embaçado o trâmite de toda proposta reformista do Planalto. A presidente perdeu iniciativa parlamentar, com seu poder de veto ameaçado pela maioria legislativa.

O saldo dos protestos, associado a sinais recentes de mais fraquejo na atividade econômica, tende a reforçar a opção pela transição conservadora até a eleição do ano que vem. O trauma com o fracasso da iniciativa plebiscitária ajudará o governo a assimilar essa lição.

Enquanto o PT faz "mise-en-scène" para exercitar o figurino esquerdista, o ex-presidente Lula sabe que precisa reconquistar interlocução e credibilidade na direção oposta. Empresários, banqueiros, a velha classe média e vastos contingentes populares de regiões menos dependentes de recurso estatal passaram a enxergar alternativa de poder em outras freguesias.

Há ingenuidade na discussão sobre o retorno de Lula como candidato em 2014. Voltar nessas condições seria flertar com a derrota ou, na melhor hipótese, com um governo fraco e acossado por todos os flancos no quadriênio seguinte.

O papel de Lula será o de costurar o retorno de sua criatura ao convívio tolerável, quiçá amigável, com o centro e a direita. Agirá para que, num possível duelo com Marina Silva --ou até Aécio Neves--, Dilma Rousseff volte a significar voto de segurança.

Espere-se, portanto, um avanço do governo na agenda conservadora --na economia, na política, nos costumes-- ao longo dos próximos 15 meses. A segunda versão, embora não explícita, da Carta ao Povo Brasileiro está sendo elaborada pelo signatário da original.

O perigo está na curva ascendente - ALEXANDRE BARROS

ESTADÃO - 29/07

Foi por 20 centavos? Claro que não. Os 20 centavos, como chamariz, são atraentes: você os gasta todos os dias. Duas ou mais vezes por dia. Diferentemente do supermercado, a que se acorre uma vez por semana. Isso aguça sua lembrança.

Desde o fim da inflação, no governo Fernando Henrique Cardoso, e do redistributivismo de Lula, o Brasil entrou em uma curva ascendente: todos esperavam melhorar mais e sempre. Se o Brasil tivesse continuado miserável como era, essas manifestações provavelmente não estariam ocorrendo.

A ascensão criou expectativas que vêm sendo frustradas. As pessoas esperavam mais. Os primeiros e mais portáteis símbolos de ascensão, moto e carro, ficaram mais acessíveis. Televisão LCD ou LED, também. Mas, de repente, tudo ficou mais distante: crédito menor, pagamentos inaguentáveis e bens, não raro, perdidos pela necessidade de devolvê-los. Para muitos isso significou a volta ao ônibus. E, todos os dias, amassado, demorado. A visão do paraíso do consumo ficou menos nítida e mais distante. O celular inteligente, quiçá, impossível.

O brasileiro comum não faz projeções de longo prazo, exceto em duas coisas: casa própria e educação. Essas ficaram também mais distantes.

A "marolinha" de Lula foi uma tirada genial: adiou a sensação de que o paraíso estava começando a terminar. Ótimo para o fim do seu governo, suave. Só que os brasileiros esperavam que a marolinha fosse apenas uma marolinha. Mas não foi. As ondas agressivas contra a ascensão social e econômica ficaram maiores e mais fortes. E lá se vão quase três anos.

Não tenho nenhuma proximidade com o Palácio do Planalto, salvo pelo fato de morar em Brasília. Mas nesses anos de estudar e pesquisar política aprendi que subordinados não dão más notícias aos chefes. Só chegam perto da presidente os que uma larga e forte muralha de assessores e sicofantas deixa. Mais: quem fala com o ou a presidente vai pedir alguma coisa. Por que arruinar a perspectiva de ter o pedido atendido dando más notícias? As notícias só chegam ao "manda más", como dizem os argentinos, filtradas e amenizadas por assessores e visitantes.

Mas, inesperadamente, acontece uma vaia de milhares de pessoas. Nada diferente do que diz a imprensa, ou do que as pessoas conversam ou de que se queixam. Há, porém, uma diferença: a vaia não sofre o filtro dos intermediários, é entregue diretamente ao destinatário. Daí para a frente não há como ignorar.

Em agosto de 1954 meu pai ganhou do patrão, grande proprietário de cavalos de corrida, convites para o Grande Prêmio Brasil no Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro. E lá fomos nós, a mãe, o pai e eu, com 11 anos de idade, para o evento mais chique da época. Beleza para uma família de classe média ascendente. Naquele tempo futebol era coisa de pobre.

Subitamente, na entrada, uma comoção, muita gente. Corri e vi a uns metros de distância o presidente Getúlio Vargas chegando. Corri para meus pais e contei: "Acabei de ver o Getúlio". Minutos depois ele emergiu de um túnel e apareceu na tribuna de honra. As pessoas viraram-se para a tribuna, viram-no e a vaia começou. Num hipódromo, diferentemente dos estádios, as arquibancadas são em linha reta, não em círculo. A vaia começou nas arquibancadas dos ricos (a social), alastrou-se para as especiais (classe média) e depois para a popular.

Foi assustadora. Nos meus 11 anos, eu nunca tinha visto nada parecido.

No dia 24 de agosto Getúlio Vargas suicidou-se. Dali em diante foi uma sucessão de golpes e contragolpes, que culminaram, dez anos depois, no golpe militar de 1964.

Não se sabe que desfecho terão as manifestações que são realizadas no Brasil nos tempos atuais. Espero que não seja tão dramático.

A partir da vaia no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, no sábado 15 de maio de 2013, no entanto, acabaram-se os filtros. Lá a presidente viu e ouviu que o Brasil está descrente da promessa de que os anos vindouros, desde 1994, seriam sempre de melhoria de vida para todos.

As denúncias de corrupção e ineficiência governamental nos anos 1950 eram muito parecidas com as de hoje. O que as pessoas percebem é que a promessa de melhoria de vida infinita diminui de velocidade e a inclinação da curva se achata. Em linguagem de gráficos, a curva vira uma linha reta e tende ao paralelismo com o eixo horizontal.

Então, como agora, cada um tinha uma percepção diferente de como aquelas coisas que ocorriam no mundo dos poderosos afetariam negativamente a vida de todos. O estopim, na época, foi o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, crítico feroz do governo, que levou um tiro no pé, alegadamente disparado por uns contratados da guarda pessoal de Vargas. Os adeptos das teorias conspiratórias dizem que Lacerda teria atirado em seu próprio pé. Nessa confusão, um major da Aeronáutica, segurança de Lacerda, foi baleado e morto.

Agora os políticos e o governo, aturdidos, responderam com algumas medidas pontuais e contrabandearam a reforma política e o financiamento público de campanhas, que ninguém pediu. Isso resolve os problemas deles, não os do povo!

Não sei se termino este artigo dizendo que qualquer semelhança com a vaia a Vargas é mera coincidência ou não. Só sei que tentar fazer análises detalhadas das passeatas me lembra um dito do Barão de Itararé, cáustico humorista das décadas de 30 a 50 do século passado. Comunista, ele foi preso numa passeata. Ao levá-lo, disse o delegado: "O senhor está sendo preso porque é o cabeça dessa passeata". E o Barão respondeu rápido: "Seu delegado, essa passeata não tem pé nem cabeça".

As de hoje em dia também não, mas têm corpo e abalaram todo mundo, deixando o governo atordoado. Ninguém é capaz de prever o que acontecerá. Mas fica ainda a pergunta fundamental: de onde sairá o dinheiro para tudo isso?

O valor da palavra - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 29/07

BRASÍLIA - Francisco foi embora, o papa que foi ao encontro das ruas e não das autoridades. Para muitos, deixa palavras de esperança e renovação. Para outros, sentimentos de decepção ao não tocar em temas tabus, como aborto.

Respeito e compreendo a reação do segundo grupo, mas fico com o primeiro. Não esperava do pontífice pregação revolucionária de questões morais, mas nutria grande expectativa sobre sua mensagem à juventude quanto a seu lugar no atual cenário político e social.

Digo que não me frustrei. Pelo contrário. Ele conclamou os jovens a assumir o protagonismo das mudanças sociais, estimulou-os a seguir nas ruas e pediu que nunca desanimem nem percam a confiança diante de notícias de corrupção.

Diria que o papa cumpriu muito bem sua missão de semeador. Suas palavras tocaram mentes e corações e partiram de quem dá exemplos concretos de segui-las. Se vão produzir frutos, só o tempo dirá.

É bom lembrar, para desgosto da nossa classe política, que foram lançadas em período de terreno fértil, propício para que tenham impacto real no cotidiano daqueles que o seguiram nestes dias no Brasil.

Por aqui, a turma das ruas redescobriu sua força e temos pela frente eventos catalisadores de atenção, como Copa do Mundo e eleições. Cenário que gera insegurança no mundo político e pode ser oportunidade única para sairmos de vez do quadro de acomodação.

A tendência é que, nas próximas eleições, a taxa de renovação no Congresso seja a mais alta da história. Nada mais merecido. Afinal, a classe política estava totalmente divorciada da população. Acordou no susto e ainda não sabe muito bem o que fazer para sobreviver.

Poderia começar dando mais valor à palavra empenhada e dando exemplos concretos de segui-la, tal como Francisco. Só que aqui, na capital federal, isso tem sido produto cada vez menos valorizado.

Relativa calmaria - DENIS LERRER ROSENFIELD

O GLOBO - 29/07

País entrou em uma disputa partidária sobre a reforma política quem nem nas ruas apareceu. O descolamento aumentou



Toda “política econômica”, por definição, é “política” por envolver marcos institucionais, onde tanto podem se fazer presentes formas de intervencionismo estatal quanto modos mais livres de funcionamento do mercado, assim como o respeito ou desrespeito ao direito de propriedade. É graças ao modo mediante o qual os cidadãos tecem as suas relações institucionais e constitucionais que os processos propriamente econômicos encontram o seu lugar de funcionamento.

Se tal formulação já é verdadeira no marco mais geral, ganha ela particular significação quando vista na perspectiva de períodos pré-eleitorais e, mais precisamente, de crise, como essa enfrentada pela sociedade brasileira pós-jornadas de junho-julho. Note-se que estas últimas puseram a nu um sério problema de representação política, com os políticos e governantes em geral mostrando-se como separados, diria mesmo desapegados, em relação aos cidadãos do país.

O governo federal (e os estaduais e municipais), diante deste quadro, se mostrou desorientado, dissociando-se dos clamores populares. O país entrou em uma disputa partidária sobre a reforma política que nem nas ruas apareceu. O descolamento aumentou.

Mais particularmente, o país encontra-se em um processo de baixo crescimento econômico, a inflação encontra-se longe do centro da meta, com o governo contentando-se em dizer que ela não passará do teto da mesma meta, o que é uma evidente distorção. O emprego já começa a dar mostras de desaceleração, mantendo-se estável, com uma leve tendência de queda. O alarme já soou em um contexto que se apresenta como difícil de reeleição, em um jogo que, a persistir a atual situação, encontra-se zerado.

Decisões econômicas são urgentes. Seu componente político é inegável. O cálculo eleitoral comparece imediatamente. Ocorre que decisões que visem ao bem comum deveriam ser tomadas em suas perspectivas de médio e longo prazos. Ora, são bem essas que desaparecem do horizonte. O passado recente do país, envolvendo tanto o PMDB (Plano Cruzado e outros do governo Sarney) como o PSDB (crise cambial do governo FHC), mostra o quanto, por razões eleitorais, decisões econômicas maiores são postergadas, mergulhando o país, no presente dessas mesmas decisões, na crise e no imediatismo.

Como se já não bastassem a inércia econômica e as soluções “criativas” como a da contabilidade fiscal, o governo atual enfrenta-se com anseios cidadãos, não atendidos, que podem irromper novamente a qualquer momento, e muito provavelmente nos meses anteriores às eleições do ano próximo, quando dos preparativos e no próprio Mundial. O que esperar?

O governo optou por uma política econômica dirigista no nível estatal, não hesitando em interferir nos mecanismos de mercado, diante dos quais guarda uma desconfiança visceral. Responde aos problemas do mercado com mais intervencionismo, agravando os problemas que procura resolver. Quanto mais procura regular, mais desregulamentação produz. Os impasses e dilemas não cessam de se reproduzir. Vejamos alguns, salientando o seu caráter propriamente político.

Inflação. Não é de interesse político do governo que a inflação fuja do controle, embora não tome medidas que propriamente possam trazê-la para o centro da meta, salvo através de intervencionismos pontuais como a redução do preço da energia elétrica e a desoneração tributária de alguns setores, entre outros. A equação é política, porque um aumento da inflação recai predominantemente sobre as classes mais desfavorecidas, que sentem no bolso o aumento do custo de vida. Ora, essas classes são beneficiárias do Bolsa Família e constituem a nova classe ascendente. A inflação surge, então, como um problema político-eleitoral. O que faz o governo? Em vez de diminuir o peso da máquina estatal, reduzindo o seu custeio, responde com mais intervencionismo, e alimentando o processo inflacionário que busca equacionar.

Consumo da classe média. Muito tem sido criticado o fato de o governo privilegiar o crescimento da economia apostando no consumo em vez do investimento. O modelo baseado no consumo está dando mostras de esgotamento, visível nos pífios índices de crescimento do PIB. As autoridades econômicas, diante desse fato, só estão dando respostas pirotécnicas, falando idilicamente de um crescimento futuro que se desmente a cada dia. Perdem legitimidade e nada transmitem de confiança, elementos essenciais para uma economia de livre mercado.

Do ponto vista social, não parece haver, no curto prazo, horizonte para que isto se altere, salvo se a presidente optar por uma posição de estadista, alterando o rumo da política econômica, visando ao longo prazo. Ocorre que sua base eleitoral está ancorada em uma política expansionista de consumo, que se traduz em maior compra de automóveis, fogões, geladeiras, etc. Não é casual que, depois do Minha Casa Minha Vida, o governo adote uma política de equipamento eletrodoméstico dessas mesmas moradias. Os empréstimos bancários se multiplicam e as dívidas dos que os contraem só aumentam. A longo prazo, é altamente problemático, a curto rende dividendos eleitorais.

Responsabilidade fiscal. Nesse contexto, falar de responsabilidade fiscal torna-se, quando muito, um exercício de retórica, visando a transmitir uma confiança inexistente. Aliás, os cortes anunciados, da ordem de R$ 10 bilhões, só frustram ainda mais as expectativas. Há uma razão política de fundo para que isto aconteça, pois o governo nem bem consegue implementar as suas próprias políticas, por problemas evidentes de gestão. Boas iniciativas como privatização dos aeroportos, rodovias e nova lei dos portos tendem a ficar presas no emaranhado da incompetência e da burocracia. Faz parte dela também uma desconfiança em relação ao lucro.

Nesse meio tempo, as ruas estão cada vez mais dissociadas do que está sendo discutido no mundo político. A relativa calmaria atual pode ser o prenúncio de novas tempestades futuras.

Conflito de gerações - PAULO GUEDES

O GLOBO - 29/07
Jovens nas ruas , anunciava O GLOBO em sua primeira página do caderno de Economia da última quinta-feira. Era uma clara alusão ao protagonismo da juventude nas recentes manifestações. Mas era implacável o título completo: Jovens nas ruas. No olho da rua . Pois a verdadeira notícia foi o aumento do desemprego entre os jovens de 16 a 24 anos, de 14,6% para 15,3%, mais do que o dobro dos 6% registrados para a média de todas as idades. O desemprego entre os jovens é muito alto e não para de subir. Sem legislação trabalhista, sem encargos sociais e previdenciários sobre a mão de obra, 3,5 bilhões de eurasianos mergulharam nos mercados de trabalho globais, condenando ao desemprego em massa os países com mercados de trabalho inflexíveis. Uma verdadeira guerra mundial por empregos.
O problema é mais agudo em economias prisioneiras da armadilha social-democrata do baixo crescimento. Regimes previdenciários irrealistas, legislações trabalhistas inadequadas e organizações sindicais anacrônicas derrubaram o crescimento, aumentaram o desemprego e marginalizaram toda uma geração ao impedir o acesso de jovens pouco experientes aos mercados de trabalho. Na Europa, ficou conhecido como euroesclerose o fenômeno do baixo crescimento e da incapacidade crônica de geração de empregos nas décadas anteriores à criação do euro. Sim, pasme o leitor, pois os males atuais são todos atribuídos à nova moeda. Na Grécia, em Portugal e na Espanha, as taxas de desemprego entre os jovens estão em torno dos 50% - metade dos jovens não tem futuro. No Brasil, com encargos sociais e trabalhistas de quase 100% dos salários, um emprego é destruído para cada emprego criado.

Os jovens sem futuro são vítimas de instituições inadequadas. Justamente indignados, devem perguntar a seus pais por que as garantias trabalhistas e previdenciárias outorgadas a si próprios pelos membros das gerações mais velhas destruíram a capacidade de geração de empregos para os mais jovens. Afinal, herdam de seus pais não apenas valores morais e bens materiais, mas também seus países e suas instituições. O conflito entre as gerações aumenta quando a juventude é ameaçada pelo despreparo, pelo egoísmo, pela irresponsabilidade e pela desatenção dos mais velhos e pelo seu legado institucional.

Internet e democracia direta - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 29/07

As manifestações populares de junho tiveram o dom de despertar, por um lado, uma insuspeitada aplicação de parlamentares, governantes e partidos políticos e, por outro, a livre imaginação dos cidadãos em geral, todos voltados para a busca de novos meios e modos para o aperfeiçoamento da representação popular e dos mecanismos de captação da vontade das ruas. Descontados os inevitáveis exageros e impropriedades, é muito bom que assim seja. A democracia é um processo que exige participação ativa e permanente de todos, governantes e governados. Principalmente quando a cidadania descobre que esse processo está muito longe de atender às exigências mínimas do bem comum.

Chama a atenção em particular uma proposta de emenda à Constituição (PEC), oriunda do Senado, onde foi relatada, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Essa PEC, aprovada por aclamação na CCJ, reduz pela metade (de 1% para 0,5% do eleitorado nacional) a exigência de assinaturas para a apresentação de projetos de lei de iniciativa popular e abre a possibilidade de que essas assinaturas sejam colhidas também pela internet.

A conveniência ou não de reduzir pela metade o número de assinaturas exigidas para a apresentação de projetos de lei de iniciativa popular é uma questão que ainda divide opiniões de políticos e especialistas. Os que são a favor argumentam - em muitos casos, com indisfarçável inspiração demagógica e populista - que a redução de cerca de 1,5 milhão de assinaturas para aproximadamente 700 mil é um importante estímulo para a multiplicação das desejáveis iniciativas dessa natureza. Em sentido oposto, há quem acredite que essa redução poderá facilitar, isso sim, a manipulação de grupos de interesses específicos - religiosos, por exemplo -, já que induzir 700 mil cidadãos a subscrever um projeto de lei é tarefa obviamente muito mais exequível do que ter que arregimentar o dobro desse número.

Por outro lado, pode ser proveitosa a ideia de permitir que a subscrição de projetos de iniciativa popular seja feita também pela internet. Tratar-se-ia de colocar um notável desenvolvimento tecnológico a serviço do processo democrático. A internet já tem cumprido esse papel ao potencializar a comunicação entre os cidadãos e, consequentemente, a discussão de temas e pleitos de interesse comum, conforme ficou evidente nas manifestações de junho. Seria, portanto, desejável que essa conquista tecnológica, que amplia enormemente o eco popular, fosse colocada também a serviço dos procedimentos eleitorais e legislativos.

Deve-se tomar cuidado, contudo, com o açodamento com que muita gente já vislumbra no uso da internet um atalho para a implantação da chamada democracia direta. É certamente ainda muito cedo para saber com precisão em que medida, e exatamente de que forma, a internet contribuirá para o exercício da democracia. Se informação é poder - e um paradigma importante que a internet está quebrando é o do controle da informação pela mídia tradicional -, não há dúvida de que ela poderá ser cada vez mais um instrumento essencial para o aperfeiçoamento da convivência democrática.

Mas é preciso ir devagar com o andor. Até porque no caso do Brasil, como no da esmagadora maioria dos países, apesar da crescente expansão de seu uso, a internet é ainda ferramenta ao alcance apenas da população que desfruta de renda suficiente para pagar por ela. É uma mídia ainda privativa de segmentos privilegiados da população. Isso não impede, é claro, que a internet seja usada para vocalizar os anseios e necessidades das camadas da população economicamente menos favorecidas ou mesmo marginalizadas da atividade econômica. Basta que o façam os cidadãos que a ela têm acesso e que também têm consciência das mazelas sociais que o mundo ainda não conseguiu resolver.

Mas aí a questão extrapola para o âmbito da educação, sem a qual é impossível desenvolver consciência cívica e solidariedade social. Também nisso a internet pode, é claro, ser extremamente útil. Mas ela é apenas meio, não fim - e jamais uma panaceia para as questões superiores da política.

Com apenas um veto - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 29/07


Ao tornar sem efeito decisão sobre fim da multa adicional do FGTS, Dilma expõe, de uma vez, várias facetas da incúria de seu governo


Um veto de Dilma Rousseff acaba de expor, de modo concentrado, os efeitos de anos de imprudência financeira e improviso na administração pública.

A presidente tornou sem efeito a decisão do Congresso de dar cabo da multa adicional de 10% sobre o valor do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) de trabalhadores demitidos sem justa causa. As empresas devem esse percentual ao governo desde 2001.

A contribuição adicional foi criada a fim de cobrir perdas nos saldos de contas do FGTS, provocadas de forma indevida por planos econômicos dos anos 1980 e 1990.

Embora a diferença tenha sido quitada no ano passado, o governo manteve a cobrança da contribuição extra --que é, afinal, provisória-- com o argumento de que os fundos recolhidos financiam programas sociais, como habitação e saneamento. Reafirmou-se o raciocínio no veto presidencial.

Há um motivo mais imediato e, talvez, inconfessável: a aguda escassez de recursos em um ano de baixa arrecadação de impostos.

A decisão do Congresso privaria o governo de cerca de R$ 3 bilhões anuais. Decerto provocaria a interrupção de obras importantes. É fácil demonstrar, porém, que tal possibilidade está no horizonte devido a imprevidências elementares.

Primeiro, não importa a situação orçamentária ou econômica, o governo não deveria contar com uma receita provisória nem pretender desvirtuar o emprego precípuo de tais recursos.

Segundo, note-se que, apenas no primeiro semestre de 2013, o governo deixou de arrecadar R$ 35 bilhões em consequência de desonerações fiscais concedidas com o objetivo frustrado de estimular a atividade econômica.

É evidente que o governo poderia ter adotado providências a fim de manter no caixa dinheiro bastante para compensar a perda da receita extraordinária do FGTS.

Medidas comezinhas de planejamento financeiro permitiriam que o governo abrisse mão dessa contribuição provisória, ora transformada em tributo permanente --taxação que, de resto, causa distorções no mercado de trabalho.

Não chega a surpreender num governo incapaz até mesmo de cuidar dos seus próprios interesses políticos. Com o veto, abre-se mais uma frente de conflito com o Congresso e com a sociedade --empresários já se articulam contra a decisão da presidente.

O fim da cobrança da multa do FGTS é reivindicação antiga e razoável das empresas. Foi negociada pacientemente com o Congresso, embora os parlamentares tenham aprovado a medida no embalo algo demagógico da reação aos protestos de junho.

A incúria governamental cria mais distorção tributária, desordem orçamentária e conflito político --tudo com apenas um veto.

Equilíbrio e mediação - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 29/07

Os conflitos recentes em Mato Grosso do Sul entre fazendeiros e índios é mais um capítulo de uma longa e violenta história de desentendimento em que faltam mediação e equilíbrio. A radicalização de fazendeiros — muitos com terras tituladas há gerações — e tribos indígenas teria de ser evitada por uma revisão de métodos e regras com que a questão indígena vem sendo tratada no país.

Reclama-se de projeto de lei que transfere para o Congresso a última palavra na demarcação de reservas. Militantes da chamada causa indígena enxergam nesta iniciativa o lobby ruralista, preocupado com o avanço de reservas sobre propriedades produtivas. O caso recente mais rumoroso foi o da área ianomâmi da Raposa Serra do Sol, em Roraima, concedida aos índios, afinal, no início de 2009, decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Fazendas produtoras de arroz tiveram de ser desativadas. Existe o mesmo risco em Mato Grosso do Sul.

Mas não há como deixar de garantir direitos aos povos indígenas, reconhecidos pela Constituição. Trata-se, porém, de buscar o equilíbrio neste eterno cabo de guerra, também com a preocupação de garantir direitos dos produtores rurais, um segmento essencial para a economia e a sociedade brasileiras.

A tensão no setor cresceu à medida que, como em outros braços administrativos do Executivo federal, a Funai e áreas afins passaram a atuar, sob o lulopetismo, quase de forma autônoma, resultado do processo de aparelhamento ideológico da máquina pública.

Sob a égide do “politicamente correto”, nestes últimos anos os índios passaram a ser um tema privilegiado em Brasília. Merecidamente, contanto que seja considerada toda a diversidade do país e não haja privilégios a este ou aquele segmento em função de alianças com o campo político no poder. Assim como acontece no âmbito das “ações afirmativas” e na “política da mulher”, na questão indígena atuam grupos organizados, ONGs bastante influentes dentro do Estado. Na questão, transitam, ainda, segmentos do Ministério Público e da Igreja, esta por meio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Não faltam projetos delirantes — nem por isso desprovidos de apoio — contra a própria noção de Estado. Caso da criação de nações indígenas que desrespeitam as fronteiras nacionais. Algo inaceitável.

Pode não ser função adequada ao Congresso sancionar reservas indígenas. Como também a Funai não deve ser um instrumento autônomo dentro da burocracia estatal. O falecido ministro do Supremo Carlos Alberto Direito, favorável aos ianomâmis no processo da Raposa Serra do Sol, deixou, no seu voto, uma relação de condicionantes para a administração deste problema. Entre eles, está a garantia da ação dos poderes do Estado nessas áreas, como é preciso. Além de ser um voto aprovado no Supremo, serve de roteiro para a imprescindível revisão da forma como a questão indígena tem sido tratada no Brasil.

O protesto dos médicos - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 29/07

A medida que obriga o estudante de Medicina a passar mais dois anos trabalhando no SUS não é nem adequada, nem necessária, nem proporcional; os médicos fazem bem em protestar contra ela



Médicos em todo o Brasil promovem, amanhã e na quarta-feira, mais uma rodada de protestos, e entre os fatores que provocaram a indignação da classe estão as regras para o programa Mais Médicos, lançado recentemente pelo governo federal. Ele prevê, entre outras medidas, a “importação” de profissionais e a obrigatoriedade de que os estudantes de Medicina que ingressarem na faculdade a partir de 2015 prestarem dois anos adicionais de serviços no Sistema Único de Saúde (SUS) como condição para receberem seus diplomas – o que, na prática, estende o curso dos atuais seis para oito anos de duração.

Quanto ao convite para que médicos estrangeiros se estabeleçam no Brasil, em princípio não haveria problema algum: afinal, se há poucos médicos brasileiros dispostos a trabalhar no interior (um direito legítimo que lhes cabe, é preciso ressaltar), e há estrangeiros interessados em preencher essa lacuna, nada mais justo que lhes seja dada essa oportunidade – desde que esses profissionais passem pelo Revalida, o atual sistema que confere aos formados no exterior a possibilidade de atuar no Brasil, e que consiste de um rigoroso exame. No entanto, não é isso que o Mais Médicos prevê. Ao permitir que médicos estrangeiros atuem no país sem terem sido certificados pelo Revalida, o governo na prática reduz os padrões de qualidade do exercício da medicina no país, um precedente altamente perigoso, que só se justificaria em casos extremos.

No entanto, ainda mais preocupante é a exigência dos dois anos adicionais no SUS para os futuros estudantes de Medicina. Impressiona-nos que poucos tenham percebido o grau de interferência na vida pessoal e profissional dos estudantes que o governo tenta impor com essa medida. Aqui, é preciso analisar a garantia constitucional da liberdade profissional, quais são os seus eventuais limites, e onde o Mais Médicos respeita ou viola esses preceitos.

A Constituição Federal afirma, no inciso XIII do artigo 5.º, que “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Ou seja, admitem-se algumas restrições legais ao exercício profissional. É com base nessas restrições, por exemplo, que se admite a exigência de diploma universitário para certas atividades, ou o sucesso no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil para o exercício da advocacia. Assim, à primeira vista, pareceria aceitável a exigência da prestação de dois anos de serviço no SUS para os alunos de Medicina – desde que consagrada em lei, e não em medida provisória, como fez o governo no caso do Mais Médicos.

Mas, como dissemos, é apenas à primeira vista que tal medida parece aceitável. Porque, na verdade, ela ofende o critério da proporcionalidade. Perguntemo-nos: essa decisão tem o objetivo principal de contribuir com a formação do futuro médico ou o de resolver um problema de alocação de recursos humanos – no caso, a falta de médicos no interior? Bem sabemos que a resposta está na segunda opção, e nem mesmo os representantes do governo escondem essa intenção, apesar de às vezes mascará-la com o discurso sobre formar “especialistas em gente”.

Ora, se o objetivo é resolver o problema de gestão, a maneira encontrada pelo Mais Médicos não é nem adequada (pois, na prática, cria um serviço social obrigatório travestido de educação), nem necessária (pois há diversas outras maneiras de levar médicos ao interior sem recorrer a imposições), nem proporcional (pois interfere excessivamente na vida pessoal e profissional do estudante).

O governo federal já deu sinais de que pode recuar dessa exigência; os ministros da Saúde e da Educação consideram a possibilidade de que, em vez de dois anos no SUS, houvesse dois anos de residência obrigatória. De fato, o modelo atual do Mais Médicos é inaceitável. Se o governo busca alternativas, que elas respeitem o critério legal da proporcionalidade e, principalmente, não estabeleçam imposições que apenas prejudicam a vida profissional do futuro médico.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

PDT APOSTA EM CRISTOVAM PARA VICE DE CAMPOS

Apesar de o governador Eduardo Campos (PSB-PE) ter sondado Osmar Dias (PDT-PR) para ser seu vice em 2014, o PDT aposta mais no nome do senador Cristovam Buarque (DF), caso o partido realmente decida apoiar o socialista na disputa para Presidente da República. O desembarque da aliança com a presidente Dilma (PT) será discutido durante congresso do PDT marcado para os dias 23 e 24 de agosto.


NOME NATURAL

O PDT avalia que, além de ser nacionalmente conhecido, Cristovam goza de posição mais confortável por ter mandato no Senado até 2018.


MAMÃE MANDOU…

A cúpula da sigla levanta outros quadros como Miro Teixeira (RJ), Alceu Collares (RS), Reguffe (DF) e o ministro Manoel Dias (Trabalho).


FORA DO NORDESTE

Dono de três minutos de tempo de TV, o PDT sugere nomes do Sul, Sudeste e Centro Oeste, onde Eduardo Campos tem menor inserção.


RECUO ESTRATÉGICO

De Paulo Pereira (PDT-SP) sobre a ausência de Campos em encontro da Força, ao qual tinha confirmado presença: “Isso é pra não apanhar”.


EMBAIXADOR TENTA ESCAPAR DE GRAVE ACUSAÇÃO

Investigado no Itamaraty por assédio moral e sexual no consulado-geral em Sidney (Austrália), o embaixador Américo Fontenelle foi à chancelaria em Brasília na segunda (22) em busca de uma “saída honrosa” para o escândalo que envolve seu adjunto César Cidade, denunciado na Coluna Cláudio Humberto em fevereiro: uma nova função no Brasil ou novo posto no exterior. Poderá ser “punido” com a aposentadoria, se prevalecer o poder que alardeia no Itamaraty.


‘SURTO’

Diplomatas que acompanham o caso em Brasília acreditam que Fontenelle “surtou”, dadas as evidências acumuladas contra ele.


FILME DE TERROR

A sindicância foi aberta em maio, com depoimentos quase sempre assustadores dos funcionários em Sidney – entre eles uma grávida.


PRESTÍGIO

Fontenelle se diz “amigo” do ex-ministro José Dirceu, condenado no mensalão, que o teria indicado ao posto no início do governo Dilma.


AGORA VAI

Após repercussão negativa de notícias sobre os salários de marajás da Infraero, a direção vai solicitar ao governo federal que libere ao menos a recomposição salarial dos servidores, com base na inflação, antes que nova greve baixe ainda mais os índices de popularidade de Dilma.


ESTRATÉGICO

A fim de melhorar a interlocução com a mídia, o PSDB decidiu contratar assessores de imprensa para Aécio Neves (MG) – virtual candidato do partido à Presidência em 2014 – em cada um dos estados brasileiros.


INDEFINIÇÕES

Em campanha para disputar o governo de Pernambuco, o ministro Fernando Bezerra (Integração) tirou os últimos dias para rodar Estado. Ele tenta apoio de Eduardo Campos (PSB) ou da presidente Dilma (PT)


ENQUADRADOS

Advogado Fernando Humberto Fernandes pede que OAB e Ministério Público leiam bem artigo 16 da lei 10823/2006: coquetel molotov não é “explosivo”, mas “produto incendiário” que pode matar, e manifestantes com tal “arma” deveriam ser enquadrados em tentativa de homicídio.


PROFISSÃO POLÍTICO

Quem conhece bem a política amapaense garante que o senador José Sarney (PMDB), 83 anos, é candidatíssimo à reeleição em 2014 em chapa cujo cabeça deverá ser o vereador Lucas Barreto (PSD).


HOMEM DE BEM

O jornal italiano Messaggero contou a emoção do reencontro em Aparecida (SP) do papa Francisco e um casal italiano, que ele casou, ainda padre em Buenos Aires e ajudou a fugir na ditadura argentina.


BÓIA DE SALVAÇÃO

Atingido duramente por escândalos em série e queda brutal de popularidade em pesquisas, o governador Cabral espera aceno de Lula ou Dilma para encerrar a carreira política num cargo “honroso” no Brasil ou no exterior, ainda que precise engolir o adversário petista Lindbergh.


INTERMINÁVEL

Condenado por compra de votos e abuso de poder econômico, o ex- distrital Benício Tavares (PMDB) apresentou recurso contra decisão do TJDF que cassou seus direitos políticos. O processo tramita há 30 anos


PENSANDO BEM…

… se os números não mentem, Dilma não tem 31% de aprovação, mas 61% de reprovação.

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Jornada Mundial da Juventude – No adeus ao Rio, Papa defende reforma profunda na Igreja
Folha: Francisco critica liberais e conservadores da igreja
Estadão: Tesouro bancará R$ 6,7 bi do desconto da conta de luz
Correio: A revolução de Francisco está nas ruas
Valor: Investimento brasileiro no exterior aumenta 60%
Estado de Minas: Até 2017, Francisco
Jornal do Commercio: Vitória Timbu na Arena
Zero Hora: Em crise e gastando mais – Total de CCs cresce 16% em prefeituras
Brasil Econômico: Energia no país está numa encruzilhada