FOLHA DE SP - 26/07
Somos fruto de um pecado original, aquele que criou o Estado em 1822 sem que houvesse, de fato, uma nação que o reivindicasse
Pode parecer que há motivos variados e até mesmo conflitantes para as manifestações em todo o Brasil. Errado. Todos os protestos decorrem do indiscutível e inaceitável distanciamento que existe no Brasil entre a nação e o Estado.
A nação, constituída pelos cidadãos concretos, pelas pessoas reais, não reconhece nos poderes constituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário) seus representantes. "Nós" somos nós e "eles" são eles.
Expressar-se, como tem se expressado a sociedade, é mais sintomático ainda em se tratando de gente que poucas vezes sai às ruas (todos observamos o deslumbramento de muitos que as frequentavam pela primeira vez).
Mas, como escreveram em seus cartazes Lívia e Ana Paula, desde os primeiros dias, "são 513 anos e 20 centavos". Cabe-nos ler e entender o que elas queriam dizer com isso.
Somos fruto de um pecado original, aquele que criou o Estado brasileiro em 1822 sem que houvesse, de fato, uma nação que o reivindicasse --o contrário do que aconteceu na maioria dos países em que a estrutura jurídico-política surge como decorrência dos anseios de uma nação já constituída (nação aqui definida como o povo com consciência de sua identidade).
Pelo fato de, entre nós, criarmos um Estado com todo seu aparato que não respondia a anseios da população, esta nunca o reconheceu, tratando-o sempre na terceira pessoa do plural.
É verdade que governantes, legisladores e juízes não têm facilitado. Ao assumirem papéis na estrutura jurídico-política, deixam de ser povo e se transformam em "autoridades". Claro que, em qualquer país, há rituais inerentes a funções públicas, mas o exagero entre nós é evidente. Nossos supostos representantes vão muito além de cumprimento de obrigações protocolares: as "autoridades" exigem "respeito" equivalente ao que o Faraó, seus funcionários e sacerdotes exigiam dos súditos.
São automóveis com motoristas à disposição de toda a família, são diárias de viagem superiores ao salário mensal de professores, é o uso de aviões de serviço para conforto pessoal (e até da sogra), é cabeleireiro que cobra cinco salários mínimos por hora de trabalho. Tudo isso às custas dos nossos impostos diretos e indiretos.
Entre nós, ao contrário do que acontece na maioria das democracias, o modo como se exerce o poder distancia os representantes dos representados. Cidadãos brasileiros são percebidos pelos poderosos de plantão (ou os vitalícios, que os há) não como cidadãos, mas como súditos, simples massa de manobra, gente para ser enganada a cada eleição.
Talvez por isso nossos governantes quase não governem: uma vez no poder, dedicam-se a criar as bases de sua permanência (e da corriola, é claro) na função obtida, preparando-se para a próxima eleição. Não querem perder o direito ao uso (e abuso) das vantagens conquistadas. Detestariam voltar a ser apenas parte da nação.
Por outro lado, povo nas ruas pode ser bom, mas substituir a democracia representativa pela direta é inviável em uma sociedade complexa como a nossa. Afinal, não estamos na Grécia clássica, não cabemos todos em uma praça. Precisamos, pois, de representantes. Porém, chegou a hora destes mudarem sua forma de fazer política, criar leis, promover justiça. Temos que melhorar nossa democracia.
Estamos todos de acordo com penas mais severas e sentenças rápidas para os que confundem patrimônio público com o privado. Concordamos também que não tem sentido arrotar prioridade de transporte público e manter um modelo que isenta de impostos os automóveis privados. Não há dúvidas ainda sobre a necessidade de uma ampla reforma política. Mas, antes que o abismo cresça ainda mais, precisamos reaproximar o Estado da nação.
FOLHA DE SP - 26/07
Em 2010, em artigo neste espaço, defendi que o predomínio ocidental estava longe do fim. Minha posição contracorrente destoava da maioria dos analistas, entre os quais havia virado moda falar em mundo pós-americano. Fareed Zakaria foi só um desses autores.
Com a mesma facilidade peremptória, diz-se agora exatamente o contrário, que talvez a China esteja exaurindo o seu crescimento e que os Estados Unidos estão de volta, com a revolução tecnológica e energética promovida pelo xisto. Uma mudança radical em menos de três anos.
Fora dos EUA, tantos ressentimentos contra o chamado império criaram "wishful thinkings", tomando desejos por realidade. Simples: se não gostamos da grande potência do norte, então compramos a tese do seu declínio imediato.
O lugar-comum do mundo pós-americano serviu para vender livros, fazer gracejos e criar novas expectativas como a dos Brics. Agora, em refluxo, os mesmos analistas e consumidores de suas análises temem que o Brasil seja prejudicado pelo fim da exuberância chinesa e pela recuperação norte-americana.
Dizem que pode haver uma fuga de capitais em direção aos EUA e uma crise entre os emergentes, com os exageros de praxe. Mas, na realidade, a força de Washington perdurará em um mundo em deslocamento para o Pacífico, onde também fica a costa oeste americana.
A novidade é que a Europa já entendeu as mudanças em curso e, finalmente, pode realizar um acordo comercial com os EUA na tentativa de preservar a força do Atlântico Norte. A questão é quando o Brasil vai perceber esse cenário.
O Itamaraty tem demonstrado uma preocupante dissonância cognitiva, selecionando apenas os pedaços de informação que parecem mostrar que estamos bem, enquanto ignora dados mais relevantes. Esse é um traço da nossa cultura.
A política de prestígio da diplomacia brasileira valoriza excessivamente a conquista de um cargo na Organização Mundial do Comércio e menospreza o processo estrutural que nos torna dependentes da exportação de commodities. Pior, começam a se orgulhar disso.
Nos últimos cinco anos, Brasília dedicou-se a preparar uma política externa parecida com a era do café. Não é concebível como, em tão pouco tempo, jogamos no lixo décadas de uma luta pela diversificação industrial das relações internacionais.
Derrotado na OMC, o México e parceiros da Aliança do Pacífico "roubam" os investimentos que viriam para o Brasil. Os países da franja liberal da costa oeste latino-americana, como Peru, Chile e Colômbia, crescem mais com estabilidade econômica do que os estranhos desenvolvimentistas primário-exportadores do outro lado do continente.
Não obstante os discursos oficiais, a América do Sul é uma região partida. De um lado, temos democracias de mercado dinâmico com alternância de poder. De outro, regimes cada vez mais autoritários, com economias estatizadas e desorganizadas. Para variar, a posição do Brasil não é clara.
No século 19, já havia divisão. Os países mais bem-sucedidos até meados do século 20 foram aqueles que conseguiram conjugar alternância entre liberais e conservadores. Talvez vivamos outra bifurcação novamente que marcará o século 21.
O Estado de S.Paulo - 26/07
Domingo, sete da noite, entrou no Balcão, viu que seu lugar predileto estava vazio. Para quem não conhece o bar, o Balcão tem uma forma (quase) de ferradura e as pessoas sentam-se dos dois lados, isto é, dentro e fora. De maneira que, se você está com alguém, senta-se de frente para ela (ou ele). Muitos anos atrás, sentava-se apenas do lado de fora, como qualquer bar normal. Porém, em um dia que estava tudo lotado, um cliente simplesmente carregou a banqueta para dentro e ficou de frente para a namorada. Rapidamente copiado, outros que esperavam lugar fizeram o mesmo. Ficaram de pé, não havia banquetas para todos. No dia seguinte, Chico Milan e Ticha, sua mulher, os donos, tinham providenciado banquetas para todos, nunca mais a cena mudou. Tiveram apenas de rearrumar a logística dos garçons.
Ele sentou-se. Seu lugar era o primeiro, no que seria o pé da ferradura. Junto à ponta, onde fica o estreito corredor para passagens dos garçons. Ficava sempre de costas para o caixa e para o quadro negro onde escrevem o que falta naquela noite. Raramente falta alguma coisa. Pediu caipirosca de lichia. Nunca tinha bebido, até o dia em que viu duas mulheres morenas, muitíssimo parecidas, sorrisos esplendorosos, como ele definiu, tomando com ar deliciado. Um garçom informou que eram mãe e filha. A jovem, cantora, a mãe, arquiteta. Mais pareciam irmãs. Ele se interessou pela mãe, quis saber mais, porém o garçom calou-se, cioso da privacidade de suas clientes.
Então, ele viu entrar uma mulher alta, jeito de modelo, um menear nervoso de cabeça. Ela olhou em torno e, mesmo com o Balcão semivazio, era inicio da noite de domingo, sentou-se diante dele. Podia ter sentado onde quisesse, mas veio para perto. Indagou:
- Está esperando alguém?
- Não.
- Então não incomodo?
- Por que haveria de?
- Como você disse?
- Por que haveria de?
- Engraçado esse teu modo de falar.
A caipirosca dele chegou, ela quis saber do que era. Lichia, ele respondeu, lacônico. A jovem era interessante, bonita, lembrava a atriz Scarlett Johansson. Ela pediu uma caipirosca igual.
- Você é casado?
- Não preciso responder a essa pergunta. Minha vida é minha vida.
- Você mexe com quê?
- Como?
- Mexe com quê? O que faz?
- Você é mineira?
- Sou, como adivinhou?
- Por causa da pergunta. Mexe com quê. Mineiro que fala assim. Vendo seringas.
- Seringa de injeção?
- Sim.
- Que profissão mais engraçada. Tenho horror a injeções, quando preciso tomar alguma, desmaio. Desmaio mesmo. Caio dura. Dá para viver disso?
- Me viro bem.
Ela tomou um gole, dois, em silêncio, parecia acabrunhada.
- Você está bem?
- De baixo astral, vim aqui para encher a cara. Meu noivo me largou. Desapareceu faz seis dias, não telefonou, não deu notícias, não mandou e-mail nem telegrama.
- Tinham brigado?
- Usei calcinha vermelha, ele odiou, disse que ia comprar...
- Cigarro, e não voltou.
- Não, ia buscar um beirute, estávamos com fome. Sumiu.
- Foi à lanchonete onde ele costumava comprar? Perguntou?
- Disseram que ele apanhou o beirute, dois guaranás e contou que ia comer com a namorada.
- Que é você?
- Ele terá outra?
A lágrima correu pelo rosto dela, ele quis ajudar, buscou um lenço no bolso, não tinha. Houve época em que os homens andavam com lenços de tecidos finos, podiam oferecer, podiam enxugar as lágrimas das mulheres, era de bom tom. Odiou-se ao apanhar um guardanapo de papel e ousou passá-lo sobre a pele dela. Sentiu imenso carinho sentindo o desamparo dela. A jovem chorou convulsivamente. Levantou-se:
- Me desculpe, preciso ir. Preciso ir.
- Para onde vai? Quer que vá junto?
- Não! Vou passar em casa, ver se ele chegou. Se não chegou, irei à lanchonete de novo. Tenho passado por todos os lugares onde há um bom beirute, estou com fome. Fome e dor de cotovelo são horríveis.
- Come aqui, é bom, muito bom.
- Tenho medo dele ter voltado e não me achar em casa. Você me paga a caipirosca?
- Claro...
Saiu correndo, chorando, Ticha e Chico, que chegavam, ficaram olhando. Marcelo, no caixa, fez um ar de quem não entendeu, achou que os dois tinham brigado. Porém o Marcelo já viu tantas naquele bar que não se surpreende mais com nada.
FOLHA DE SP - 26/07
RIO DE JANEIRO - Um seriado de TV, "Batman", de fins dos anos 60, marcou época. Era um glorioso deboche, meio "thriller", meio chanchada. Cesar Romero fazia o Coringa; Frank Gorshin, o Charada; Burgess Meredith, o Pinguim. Cada episódio era uma festa de astros convidados. E, quando Batman e Robin lutavam a socos com os bandidos, os ruídos, "Sock!! Pow!! Crash!!", piscavam na tela em letras psicodélicas e coloridas --cores de que não se sentia falta em nossos aparelhos em PB.
Mas o grande sucesso da série eram as exclamações de espanto de Robin (Burt Ward, dublado): "Santa barbaridade, Batman!", "Santo buraco na rosca!", "Santos ratos na ratoeira!" --sem nenhuma relação com a coisa mencionada. Em inglês, era o mesmo nonsense: "Holy flypaper!" (Santo papel pega-mosca!), "Holy here we go again!" (Santo, lá vamos nós de novo!), "Holy mashed potatoes!" (Santo purê de batata!) etc. Robin usou 347 exclamações diferentes nas três temporadas da série.
Todas elas, por mais absurdas, eram apenas variantes de "Holy Christ!" (Santo Deus!) e "Holy Mary!" (Santa Maria!) --que os jovens dos EUA eram ensinados a não dizer porque seria usar os santos nomes em vão. Daí, eles as substituíram por "Holy cats!" e "Holy mackerel!", que soavam parecido e não caracterizavam blasfêmia --e, aos poucos, foram enriquecendo o vernáculo com "Holy smoke!", "Holy cow!" e outras bem cabeludas.
No Brasil, onde até os ateus se valem do "Minha nossa [Senhora]!" ou do "Graças a Deus!" sem maldade ou segundas intenções --eu, por exemplo--, os verdadeiros equivalentes para as exclamações de Robin seriam "Caramba!", "Putzgrila!" ou, no caso de radicalizar, o velho e confiável "P.q.p.!".
Apenas para lembrar que, por esses dias, se você se vir diante do papa numa rua do Rio, refreie sua exclamação. Use o sistema do Robin.
O GLOBO - 26/07
Como uma metáfora brasiliense, eles acham que a mureta que separa o público do campo, no padrão Fifa, só serve para conter a ralé que paga ingresso
Junto com estádios modernos e confortáveis, com lugares marcados, banheiros limpos e gramados impecáveis no “padrão Fifa”, veio também um novo padrão de espetáculos de futebol. Agora paga-se mais caro para receber comandos e estímulos como se fossemos uma manada de idiotas macaqueando as plateias dos estádios americanos, com luzes coloridas e imagens de show de rock nos telões e DJs bombardeando o público com batucadas digitais e palavras de ordem de show de axé.
Por que não nos deixam assistir em paz a guerra metafórica do futebol no campo? Por que temos que esperar o início do jogo como se estivéssemos num bailão brega e passar o intervalo, não como um momento para relaxar um pouco e comentar o jogo, mas envolvidos por luzes e lasers ofuscantes e com os ouvidos estourando com o bate-estaca nas caixas de som? Os estádios são espaços de liberdade e diversidade, de cada torcedor e das torcidas, não precisam de animadores. O que eles querem, organizar a paixão?
No Maracanãzinho, na Liga Mundial de Vôlei, quando o time do Brasil ia sacar apareciam duas mãozinhas nos telões batendo palminha e pedindo para gritar a palavra “ace” (ponto direto no saque). Nem as crianças obedecem, os adultos se sentem infantilizados, os torcedores de verdade preferem gritar e vaiar o saque dos adversários. Nos pedidos de tempo técnico, momentos de alta tensão, o DJ tenta transformar o ginásio num baile funk.
Há dois domingos, no estádio mais caro da Copa, o mais suspeito de roubalheiras na sua construção, não por acaso em Brasília, dezenas de convidados dos donos da casa feita com dinheiro público, não contentes com a boca-livre nas cadeiras e camarotes, desceram para o gramado — que custou mais de 5 milhões de reais e com dois meses de uso já está todo remendado e amarelado — como se estivessem na pista do sambódromo com um crachá da Liesa. Se fosse em Wembley seriam presos.
Como uma metáfora brasiliense, eles acham que a mureta que separa o publico do campo, no padrão Fifa, só serve para conter a ralé que paga ingresso. É nessas horas que mais se lamenta a proibição da caxirola.
FOLHA DE SP - 26/07
Mais uma semana e o papa vai aprender a dançar o 'Show das Poderosas' e a fazer o quadradinho de oito
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Esse papa é muito simpático, muy guapo, mas eu vou botar uma vassoura atrás da porta!
Brasileiro pega intimidade com uma rapidez, não é mais nem papa e nem pontífice, agora é Francisco.
"Tudo pronto para a chegada de Francisco". "Francisco se aproxima do povo". Mais uma semana e o povo vai começar a gritar: "Vaaaaai, Francisco". "Dá-lhe, CHICO!".
E como disse o tuiteiro João Junior: "Mais uma semana e o papa vai aprender a dançar o Show das Poderosas' e a fazer quadradinho de oito". Rarará!
Papa Francisco! O argentino virou brasileiro!
E mais um mês que ele fique no Brasil, e o carioca vai começar a falar: "Ih, lá vem aquele chato do papa". É verdade! É assim!
E vão ter que arrumar cinco brasileiros pra se confessar com o papa? Acho difícil um brasileiro se confessar com um argentino, assim espontaneamente.
Uma amiga vai se confessar assim: "Papa, eu pequei. Dei prum argentino!".
Dar pra argentino não é pecado, é crime ambiental: maus-tratos à perereca! Rarará.
"Papa, eu pequei. Torci pro Boca!". E o papa já fez seu primeiro milagre no Brasil: Atlético campeão da Libertadores! Diz que em BH tinha um galo em cada encruzilhada. Vivo!
E como disse o chargista Zedassilva: "O Galo canta e o OlimPIA!". E o presidente do Galo: "A taça é mais gostosa que mulher". Traição ao queijo! Só o queijo é mais gostoso que mulher. Rarará!
E o Ronaldinho Gaúcho brilhou e se deu bem em Minas. Trocou o gargalo pelo galo! Rarará!
Pior um amigo meu, que foi até Aparecida levar uma camiseta do São Paulo pra benzer e não conseguiu entrar na basílica. Que fase! Mas eu avisei que ele era papa. E não Deus! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
País da Piada Pronta! Deu na Mônica Bergamo: o livro mais lido nas penitenciárias federais do Brasil: "A Menina que Roubava Livros". E o único roubo que não é considerado roubo é roubo de Viagra. Furto famélico: roubar pra comer!
E chega de frio. Não aguento mais usar o "look" vândalo: moletom com capuz! E cara tapada! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colirio alucinógeno!
O GLOBO - 26/07
O Ramadã também traz à tona o melhor das pessoas. Todo mundo parece mais alegre e leve
Estamos no meio do mês sagrado do Ramadã, quando todo muçulmano adulto deve ficar em jejum durante o dia e se abster não somente de comida e água, mas também de sexo e de maledicência. Muçulmanos acreditam que foi ao longo deste mês que Deus revelou o Alcorão Sagrado para o profeta Maomé, fazendo desse mês um tempo de reflexão espiritual, purificação e de ajuda aos mais pobres.
Infelizmente em muitos países do Golfo, incluindo a Arábia Saudita, este mês se tornou um período de gula e de preguiça, no qual quase nada anda nas repartições publicas, e no qual estrangeiros indo para esses países a negócio são aconselhados a adiar suas viagens. Nos três dias antes de o Ramadã começar, você pode ver os supermercados lotados de pessoas com pelo menos dois carrinhos de compras cada um, cheios de comida. Parece que vai acontecer uma escassez.
“Expatriados não muçulmanos que vivem e trabalham no Golfo podem ser desculpados por assumir que o Ramadã é um mês de excessos gastronômicos e de ficar plantado no sofá em casa vendo televisão”, desabafou o colunista saudita Tariq Al Maeena num artigo recente no “Gulf News”. Ele notou que recebeu uma verdadeira avalanche de anúncios para Iftars (a refeição do desjejum) suntuosos, uma mais extravagante do que a outra. Ele escreve que alguns dos anúncios até deixam claro que duvidam de sua fé se você não saborear o banquete oferecido por eles!
É neste mês também que todos os canais de televisão por satélite lançam suas superproduções de novelas religiosas ou históricas, que custam milhões para produzir e comandam valores altíssimos dos anunciantes. Pelo menos 70 produções especiais foram lançadas neste Ramadã, variando de drama até a comédia. Na Arábia Saudita, a comédia “Tash ma Tash” (“Não é grande coisa”, em tradução livre), que somente era transmitida no Ramadã, virou um enorme sucesso, com sua abordagem de temas sociais sensíveis como o desemprego, a falta de juízes no trabalho, e se mulheres deviam dirigir carros ou não. Para a tristeza de muitos telespectadores, a série parou de ser produzida no ano passado, depois de 18 anos no ar.
Mas são exatamente essas atividades novas de poder ficar acordado a noite inteira vendo televisão, comer demais, ou fazer compras em shoppings abertos até meia-noite ou uma da madrugada — tudo no conforto de um ambiente ar-condicionado — que têm levado muitos críticos desse novo jeito de passar o Ramadã ao desespero. Eles insistem que esta não é a essência do espírito de Ramadã, apontando que em países muçulmanos menos ricos as pessoas continuam acordando de manhã para trabalhar, e não trocam a noite pelo dia.
Essa comilança e preguiça de fazer qualquer tipo de esforço físico neste mês levam muitas pessoas surpreendentemente, ou não, a ganhar peso. Menos surpreendente é o fato que a produtividade dos trabalhadores sofre quedas de 35 a 50% neste mês, por causa da jornada menor e por as pessoas ficarem acordadas a noite inteira. No Ramadã, todos os muçulmanos no Golfo somente trabalham seis horas por dia, em vez das habituais oito horas.
Como você pode imaginar, o trânsito no Ramadã também vira um perigo, especialmente perto da hora do pôr do sol, quando pessoas — enfraquecidas e menos atentas pelo jejum — aceleram para chegar em casa a tempo para o desjejum do Iftar. Isso levou o cônsul americano na capital saudita, Riad, a mandar um aviso a todos os cidadãos americanos no reino para tomar cuidado quando dirigindo nas estradas durante este mês. “Agora que a escola entrou em férias e o Ramadã começou, precisamos ser especialmente cautelosos quando dirigindo durante o pôr do sol e à noite. Mais carros estão nas estradas nesses momentos em que as pessoas estão ansiosas para chegar aos seus destinos para quebrar o jejum e visitar parentes e amigos. Fadiga e perda de concentração também podem ser responsabilizadas por muitos acidentes”, escreveu o cônsul David Tyler.
Mas não ficam somente os pontos negativos deste mês. O Ramadã também traz à tona o melhor das pessoas. Tudo mundo parece mais alegre e leve, tendo sentido as dores da fome durante o dia, e a falta de água. Se a pessoa não pode fazer jejum num certo dia, ele ou ela tem que dar comida para uma pessoa necessitada de sua comunidade, e completar os dias perdidos de jejum antes do próximo Ramadã. Na cidade de Jidá, o jornal “Arab News” noticiou que um grupo de jovens voluntários começou um programa para distribuir de graça refeições no Iftar para os necessitados da cidade. Começando em 2010, o grupo inicialmente distribuía 300 refeições por dia no Ramadã em três distritos. Hoje eles estão distribuindo mais de 3.000 refeições por dia em mais de sete distritos.
É lamentável que a vida moderna tenha deturpado o sentido original do mês do Ramadã para tantos muçulmanos. Desligar-se do mundo material, através do jejum e de orações, faz bem a qualquer pessoa, mesmo as mais laicas como eu.
O Estado de S.Paulo - 26/07
O transporte ferroviário não vai muito bem. Sobretudo no caso dos chamados Trens de Alta Velocidade (TGV), uma maravilhosa invenção francesa que permitiu aos trens atingirem velocidades irreais, de 300 ou 350 quilômetros por hora, e se disseminou pelo mundo inteiro, incluindo Canadá e China.
Há 15 dias, um TGV descarrilou na estação francesa de Bretigny, na região parisiense. Seis mortos. Horror. Esta semana, um trem de alta velocidade espanhol, que fazia o percurso de Madri a Santiago de Compostela, também descarrilou - 80 mortos. Foi aberto um inquérito para saber as razões do desastre.
As causas não são conhecidas ainda, mas já se sabe que o descarrilamento ocorreu numa curva muito fechada que deveria ser feita à velocidade máxima de 80 quilômetros por hora. Contudo, o trem estava a 190 quilômetros por hora. Algumas testemunhas afirmam mesmo que ele estava a 260 quilômetros.
Sem esperar as conclusões do inquérito (que jamais entendemos corretamente), acredito que a culpada é a velocidade, um dos flagelos da Idade Moderna. A velocidade multiplamente assassina, delituosa, que, em vez de levar à prisão, recebe medalhas, louros e recompensas.
As pessoas podem dizer que tenho saudade do carro puxado por cavalos, das lâmpadas de óleo, dos ritmos lentos da Idade Média, que sou um nostálgico. arcaico. Eu responderei logo, sem me deixar intimidar, que "sim, tenho saudade". Mas, em seguida, acrescentaria algumas nuances.
Certamente estou satisfeito com os aviões que voam com rapidez, sobretudo porque há menos acidentes com eles. Para mostrar que não sou "retrógrado", critiquei o relatório da Academia de Ciências de Paris que, em 1830, protestou contra os primeiros trens que começavam a transportar passageiros em torno da capital francesa.
Um comunicado alertava os cidadãos para não subirem naquelas máquinas assustadoras que atingiam velocidade de 40 quilômetros por hora. Depois de estudos profundos, os sábios haviam descoberto que, acima de 30 quilômetros por hora, o corpo humano não conseguiria resistir e seus pulmões explodiriam.
Apesar dos alertas da Academia de Ciências, os trens avançaram. Contudo, precauções eram adotadas. Antes de soar o apito da partida, o chefe da estação travava com um grande martelo as portas dos vagões (à época de madeira) para não abrirem bruscamente em consequência da rapidez diabólica do trem.
Como resultado, em 1842, um dos grandes exploradores franceses do Polo Sul, Jules Dumont d'Urville, morreu com sua família num acidente ferroviário. O trem descarrilou e incendiou-se. E, como as portas dos vagões estavam travadas, os passageiros não conseguiram escapar. Assim, em lugar do grande explorador francês foi encontrado um bloco de carvão em brasa e fumegante.
Portanto, não é a velocidade que deploro, mas o seu abuso. Sua inutilidade. As idiotices cometidas. A velocidade tornou-se uma droga e colocou sua terrível pata sobre a nossa sociedade. Vivemos num imenso cronômetro, o olho fixado na pequena agulha dos segundos, porque um segundo "é dinheiro". No entanto, um segundo também é "morte".
Assim, o tempo tornou-se o produto mais raro e mais luxuoso do nosso século. Há alguns anos, comprei um pão que me foi fornecido enrolado num saco de papel onde o padeiro colocou os "ingredientes" do produto: farinha, fermento, etc. E acrescentou também: "três horas para a massa repousar". Para mim, esse padeiro era um sábio, um poeta. Um milionário em minutos e segundos. E o pão era delicioso.
Lembro-me também do trem que tomei, em 1946, quando parti da minha província para Paris, que não conhecia. Era um trem venerável. Foram necessárias 36 horas para ele fazer o percurso de 800 quilômetros entre Marselha e Paris. É verdade que as linhas férreas estavam bastante danificadas pelos bombardeios alemães e americanos.
Entretanto, que viagem voluptuosa. De vez em quando, o trem parava em cidadezinhas do interior. Depois, partia. Os campos se abriam diante da nossa pequena locomotiva arquejante e o sol se inclinava lentamente na montanha.
O céu mudava de cor e o horizonte desaparecia. A noite era um grande túnel e, do outro lado dele, a aurora exibia suas transparências. Então, penetrávamos suavemente no esplendor das coisas./TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA.
O GLOBO - 26/07
A transferência da vigília do Papa Francisco de Guaratiba para Copacabana pode complicar uma festa de casamento para 400 pessoas, amanhã, no Copacabana Palace.
Ontem, os noivos, Iris e Rodrigo, tentavam conseguir um passe livre para os convidados.
Woodstock católico
Desde quarta-feira, Dilma já estava preocupada com as chuvas no Campus Fidei, em Guaratiba.
A pessoas próximas chegou a dizer que o evento em meio ao lamaçal poderia se tornar num “Woodstock católico”.
Por falar em Dilma...
Ela terá a companhia de Cristina Kirchner, Evo Morales e Rafael Correa na missa de domingo.
Por falar nos ‘hermanos’...
Eduardo Paes continua implicando com os argentinos, mesmo que a vítima seja o próprio Papa Francisco.
Ontem, no Palácio da Cidade, o prefeito apresentou alguns atletas ao Papa tirando sarro:
— Este és Oscar, ganó mucho de Argentina.
— Este és Zico, ganó mucho de Argentina.
Só que...
A ideia de o Papa abençoar bandeiras olímpicas é polêmica na própria Igreja.
Um religioso se pergunta como os católicos se sentiriam se um rabino, uma autoridade muçulmana ou Edir Macedo abençoasse as bandeiras? Ele acha que este tipo de evento esportivo não tem religião, raça ou ideologia.
É. Pode ser.
No mais
O Papa Francisco é a melhor coisa desta JMJ.
Rainha das calçadas
Beatriz Segall, a querida atriz que se machucou, domingo, após cair numa calçada esburacada na Gávea, recebeu um telefonema do prefeito Paes. Ele prometeu cuidar mais da conservação das calçadas e pediu desculpas. Meio a contragosto, ela aceitou:
— Sou uma pessoa educada. Aceitei as desculpas, mas disse que espero que ele, de fato, faça o que está prometendo.
Aliás...
Com a repercussão da notícia do tombo, a atriz recebeu muitas manifestações de apoio, inclusive de grupos que defendem a conservação das calçadas em São Paulo, onde ela mora.
A intérprete da mais famosa vilã da TV, Odete Roitman, virou uma espécie de “rainha das calçadas”.
Cadê a PF?
Um voo fretado da Gol, entre Assunção e Belo Horizonte, trouxe 180 torcedores do Olímpia para assisir à final da Copa Libertadores. Na viagem, houve confusão e saiu até tapa.
O comandante da aeronave, após pousar em Confins, na manhã de quarta, foi à delegacia da PF, mas não encontrou quem pudesse registrar a ocorrência.
Professora livre
Lembra o caso da professora de matemática Cristiane Teixeira Maciel Barreiras, presa, em 2011, acusada de abusar sexualmente de uma aluna, que na época tinha 13 anos?
Pois bem, a 6ª Câmara Criminal do Rio a absolveu da acusação de estupro de vulnerável. O desembargador Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez foi o relator da decisão.
Ai, que fome!
Os peregrinos têm reclamado do vale-alimentação que compraram junto com o kit da JMJ.
Dizem que é aceito em poucos lugares.
Ai, que frio!
As garçonetes do restaurante Beduíno, no Centro da cidade, estão passando frio.
Estão proibidas, coitadas!, de usar casaco por cima do uniforme.
Gato doce
A Confeitaria Palace, em Copacabana, foi pega pela Light. Fez uma ligação clandestina.
Coisa feia.
Mais médicos
A tradicional Academia Nacional de Medicina, fundada sob o reinado do imperador D. Pedro I, em 1829, também desancou o chamado Programa Mais Médicos.
Na nota manifestou “sua estranheza e repúdio às recentes, arbitrárias, açodadas e rudimentares medidas tomadas pelo governo federal”.
Deus castiga
O nosso Jorge Ben Jor cantou que todo dia era dia de índio. Mas, ontem, um grupo de 30 jovens europeus, interessados em conhecer as origens do Brasil, bateu com a cara na porta ao tentar visitar o Museu do Índio, em Botafogo.
Estava fechado.
FOLHA DE SP - 26/07
Causou perplexidade no Palácio do Planalto a decisão da CNI (Confederação Nacional da Indústria) de realizar pesquisa de avaliação do governo fora do calendário trimestral de levantamentos da entidade. A última pesquisa CNI/Ibope tinha sido divulgada em junho, no auge dos protestos no país. A intenção ao realizar nova rodada, segundo o presidente, Robson Andrade, foi justamente medir o impacto das manifestações na avaliação de Dilma Rousseff e dos governadores.
Saudosismo 1 Disparou o percentual de eleitores que consideram o governo Dilma pior que o de Lula, pela CNI/Ibope. Em março, 18% dos entrevistados diziam que a atual administração é inferior à passada. Agora, são 46%.
Saudosismo 2 O índice de eleitores que dizem que Dilma faz governo melhor que o de Lula caiu de 20% em março para 10%. O grupo que acha as gestões equivalentes caiu de 61% para 42%.
Tóxico O pior desempenho de Dilma se dá no Rio de Janeiro de Sérgio Cabral (PMDB), onde ela tem 19%. Petistas dizem que a presidente deveria se descolar do governador, ao lado de quem vai aparecer no domingo.
Auto-ajuda Quem leu a nota da atleticana Dilma saudando o time pelo título na Libertadores viu recado político no final: "Parabéns não apenas pela vitória. Parabéns por, mesmo diante de resultado adverso, não desistirem, não esmorecerem e, por isso mesmo, se superarem".
Deserto Dado o cenário de perda de popularidade de governantes em geral, Geraldo Alckmin (PSDB) disse a correligionários que prevê um número recorde de votos em branco e nulos nas eleições para deputado em 2014.
Calma Eduardo Campos (PSB) reagiu com cautela aos 58% de aprovação. Vai concentrar a agenda em Pernambuco. A aliados, tem dito que "a hora é de entregar".
Boletim médico Dilma ligou para Roberto Kalil para se informar acerca da saúde de José Genoino. O deputado petista foi internado ontem em São Paulo após sentir fortes dores no peito.
Em alerta Por conta da transferência do local onde o papa Francisco realizará a missa de domingo, de Guaratiba para Copacabana, a Polícia Federal já apura possíveis manifestações na região, com as quais o governo não contava no local original.
Caixa... O prefeito Fernando Haddad (PT) começou a consultar representantes da sociedade civil sobre a aceitação de cobrança de tributos sobre a gasolina de carros particulares como forma de compensar a redução das tarifas de ônibus.
...antecipado O petista quer colocar o modelo da Cide municipal em prática até o ano que vem, para evitar ou amortecer o impacto de um novo aumento das passagens previsto para 2014.
Sem sinal O PSDB na Câmara segura a tramitação do projeto de lei de antenas, já aprovado no Senado e considerado por técnicos do governo fundamental para agilizar os procedimentos para licenciamento de antenas e aumentar a cobertura de celulares nas grandes cidades.
Rua O deputado estadual paulista Campos Machado (PTB) vai lançar em 22 de agosto uma campanha nacional pela redução da maioridade penal, com coleta de assinaturas para propor um plebiscito sobre o tema.
Visita à Folha Dirceu Barbano, diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), visitou ontem a Folha. Estava com Márcia Turcato, assessora de comunicação.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Não é profecia nenhuma prever que um Giannazi qualquer' tomaria uma atitude para defender a ética no exercício da política."
DO DEPUTADO ESTADUAL CARLOS GIANNAZI (PSOL-SP), sobre o alerta que Guilherme Afif diz ter recebido sobre a possibilidade de seu impeachment.
contraponto
Nos tempos da brilhantina
O governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) discursou animado para uma plateia de aposentados, esta semana, quando anunciou o "passe livre" para idosos em ônibus intermunicipais. Primeiro, disse que os bailes da terceira idade são os mais animados. Depois, citou Fernando Henrique Cardoso para dizer que a vida começa aos 80. Por fim, ao citar autores célebres, o tucano fez referência a Honoré de Balzac e emendou:
--Antigamente, as pessoas chamavam as mulheres de 30 anos de balzaquianas, mas hoje tem muita mulher de 40 anos que é um brotinho!
O GLOBO - 26/07
Os tucanos ainda não sabem se serão o instrumento que a população vai escolher para confrontar o governo petista. Além de Aécio Neves, há Marina Silva e Eduardo Campos no páreo. O que importa para o PSDB é que há uma virada de expectativa importante na opinião pública e a indicação de que não chegaremos a 2014 com uma eleição monótona e resolvida previamente.
Cautela no governo
O fato que mais preocupa o governo Dilma, na pesquisa CNI/Ibope, divulgada ontem, segundo ministros, é a grande vinculação entre as avaliações negativas da presidente e dos governadores. Acreditam que essa cola negativa atingiu índices inéditos, decorrentes de uma catarse nacional coletiva. Mas consideram que essa pesquisa, que repete resultados de outras sondagens, mostra que ela, ao menos, parou de cair . Sobre uma eventual recuperação da imagem da presidente Dilma, seus auxiliares preveem que nada se dará a curto prazo, em razão da magnitude do fenômeno sociopolítico das manifestações de junho.
“Entre mortos e feridos, salvou-se o governador de Pernambuco , Eduardo Campos (PSB)
Lúcio Vieira Lima
Deputado (PMDB-BA), sobre ter sido o socialista o governador mais bem avaliado
Palanques abertos
A intervenção do governador Eduardo Campos (PE) no PSB mineiro animou a oposição. O novo presidente, deputado Julio Delgado, é parceiro dos tucanos. A escolha sinaliza que podem não se repetir antigos esquemas rígidos de alianças.
À flor da pele
Ministros amenizam o resultado da pesquisa CNI/Ibope. Alegam que a maioria esmagadora dos governadores acompanhou a queda, na mesma proporção. E que a avaliação tem caráter emocional, pois a perda de confiança é menor onde as pessoas têm relação mais afetiva com a presidente, como Nordeste e Rio Grande do Sul.
Procura-se um culpado
Os publicitários, que servem a diversos governos, estão se irritando com os políticos que, ao primeiro sinal de crise, colocam a culpa na “comunicação do governo”. Dizem que os políticos precisam trabalhar e fazer política.
Boicote seletivo
As entidades médicas se retiraram de todos os grupos de trabalho do governo, em retaliação ao programa Mais Médicos. Mas ontem, por interesse próprio, retomaram assento na reunião do Conselho Nacional de Residência Médica para aprovar o aumento de dois para três anos da residência de pediatria. Aprovado o item, levantaram e foram embora.
Virou mantra
Os ministros do PMDB já não se queixam mais apenas com o vice-presidente Michel Temer. Eles agora abrem o coração para políticos de suas relações, no governo e na oposição, e dizem: “a presidente não ouve ninguém”.
Sem trégua
A presidente Dilma não terá trégua no Congresso na volta do recesso. A quantidade de vetos explosivos na pauta dará o tom do descontentamento dos aliados. São seis na fila, o mais novo deles, o fim da multa de 10% do FGTS.
O GOVERNISTA GIM ARGELLO (PTB-DF) atua para derrubar veto da presidente Dilma que impedia a transferência por herança de licenças de táxi.
FOLHA DE SP - 26/07
A taxa de ocupação dos hotéis do Rio durante a Jornada Mundial da Juventude ficou em apenas 62%. Já em 13 municípios vizinhos, a média chegou a 85%, segundo dados da Associação da Indústria de Hotéis do Estado do Rio.
HÓSPEDES A MAIS
Na serra fluminense, Petrópolis, Teresópolis e Penedo registram 100% de ocupação neste período. Vassouras e Conservatória, no vale do Café, também têm todos os quartos reservados. No litoral, Paraty e Macaé estão com lotação completa.
HÓSPEDES A MAIS 2
Em Nova Friburgo e Itatiaia, a taxa é de 95%. Já cidades litorâneas têm ocupação menor: Arraial do Cabo (75%), Angra dos Reis e Cabo Frio (70%) e Armação de Búzios e Rio das Ostras (50%).
CHECK-IN
A Pesquisa de Preços da Hotelaria, da Embratur, mostra que a média de preços dos hotéis cariocas na JMJ (R$ 500,24) é maior do que na Copa das Confederações (R$ 455,48). Valores para reservas feitas em maio.
MILHAGEM
David Neeleman, presidente da Azul Linhas Aéreas, separou-se da mulher, Vicki, com quem tem nove filhos, mas mantém a rotina de morar nos Estados Unidos e passar quatro dias na sede da empresa em Barueri (SP), a cada duas semanas.
Filho de missionários mórmons, o executivo americano mora em New Canaan, em Connecticut. A assessoria da Azul diz que "não vai comentar o assunto".
COM AFETO
Uma das melhores amigas de Diana, a embaixatriz Lúcia Flecha de Lima acompanha com emoção especial a chegada do neto da princesa morta em 1997. "Ela ficaria muito feliz, ainda mais por ser um menino." O filho de William e Kate é terceiro na linha de sucessão ao trono britânico. Lúcia vai mandar os cumprimentos ao casal e um presentinho para o bebê.
PORTA-RETRATOS
Os fotógrafos Mauricio Simonetti e Soraya Montanheiro convidaram colegas renomados para selecionar imagens autorais do seus acervos para serem emolduradas e vendidas como quadros. Fazem parte do projeto Mirafoto obras de Juan Esteves e Alex Soletto e duas do próprio Simonetti que integram o acervo do Masp. As coleções estarão à venda na Paralela Gift 2013, em agosto.
SEM TOPETE
Neymar deve seguir à risca a recomendação do seu novo clube, o Barcelona, de deixar a cabeleira mais discreta. Cosme Salles, responsável pelos visuais originais do jogador há anos, passou o bastão do famoso topete. "Eu disse pra ele se virar. Na Espanha tem muito brasileiro que sabe cortar o básico, que é fácil", relata o cabeleireiro, que atende em Santos.
Ex-mocaino e louro, o craque agora está com uma discreta franja.
GRAN FINALE
O musical "O Rei Leão" foi interrompido anteontem por três minutos na cena do confronto entre Scar e Simba, em que há um voo programado do alto de uma pedra até o chão. As luzes do teatro Renault foram acesas na hora do duelo final.
O espetáculo é automatizado. Como um dos computadores detectou um possível problema técnico no voo de Scar, que acabou não acontecendo.
BATE E VOLTA
Marcos Mion está na ponte área São Paulo/Miami neste mês. Como sua mulher Suzana Gullo e os três filhos passam férias na casa que a família mantém por lá, ele vem toda semana gravar "Legendários", da Record, e volta para os EUA em seguida.
A IRMÃ MAIS NOVA DE BEYONCÉ
A cantora americana Solange Knowles vai apresentar no festival paulistano Popload Gig, no dia 21 de novembro, seu repertório de R&B e hip hop.
Elogiada pela crítica e com participação em vários eventos de música nos EUA e Europa, ela é irmã de outra cantora famosa: Beyoncé, 31. As duas têm uma grife de roupas, a House of Deréon.
Aos 27 anos, Solange é também atriz, modelo, dançarina, DJ e empresária. Por causa de seu estilo, foi contratada por Giorgio Armani para ser embaixadora da linha jovem da marca.
EM TRÂNSITO
O secretário municipal de Cultura de São Paulo, Juca Ferreira, foi à abertura da exposição "Transit_SP" com o filho Rafael. Também estiveram no pavilhão da Oca, no Ibirapuera, o músico e dançarino Antonio Nóbrega e as artistas plásticas Sandra Penha dos Santos e Fatima Esponda.
CURTO-CIRCUITO
Vitor Ramil canta hoje e amanhã, às 21h, no auditório Ibirapuera. Livre.
Marco Leone, vice-cônsul da Itália em SP, irá para a embaixada da Sérvia.
O espetáculo "Cabarezinho" é atração hoje, às 22h30, no CIT Ecum, na Consolação. 18 anos.
A Banda Mais Bonita da Cidade se apresenta hoje, às 23h, no Mundo Pensante, na Bela Vista. 18 anos.
Iates de até R$ 20 milhões estão à venda no Boutique Boat Show, no Guarujá.
O GLOBO - 26/07
COMÉRCIO CARIOCA ABERTO NO FERIADO MUNICIPAL
Lanchonetes e supermercados elevam vendas em até 100%. Ministério do Turismo vai traçar o perfil do peregrino
O comércio carioca não aderiu ao feriado municipal da JMJ. Na expectativa de aproveitar o movimento de 1,5 milhão de peregrinos na cidade, 90% das lojas estão abertas, diz Aldo Gonçalvez, presidente do CDL-Rio e do Sindilojas-Rio. Na prática, o bom desempenho em vendas está concentrado no setor de alimentação, dizem empresários. O Bob’s viu dobrar o faturamento de suas filiais de Copacabana, Centro e Tijuca, desde o início do evento. Na Bibi Sucos, rede de lanches saudáveis, a alta é de 30%. O varejo de moda focado na classe BC também ganha. A grife feminina Mercatto elevou vendas em 15%. “Com o frio e a promoção de fim de coleção, estamos vendendo, sobretudo, agasalhos”, conta o diretor Renato Cohen. O padrão de compras pode ter a ver com o perfil dos peregrinos. A maioria (60%) não ocupa o mercado tradicional de hospedagem, mas casas de família, paróquias e seminários; 80% têm até 35 anos. São dados preliminares de pesquisa encomendada pelo Ministério do Turismo, que ouvirá quatro mil pessoas até domingo. A previsão do CDL-Rio é de aumento de 10% em vendas durante o evento.
Sustentável
A americana Wyndham terá hotel em Niterói. Projeto de R$ 25 milhões, o Ramada Encore ficará no bairro de Boa Viagem. Usará práticas sustentáveis como água aquecida à energia solar. JPR, Premag e Lest são parceiras. A Vert Hotéis representa a empresa estrangeira no país.
Latinos
Os destinos mais buscados para o inverno por turistas latinos são Santiago (Chile), Rio e São
Paulo, diz pesquisa do Decolar.com. As cidades brasileiras bateram Buenos Aires pela 1ª vez. É efeito de Copa das Confederações e JMJ. A venda de passagens do Chile para o Rio subiu 53% no 1º semestre.
Naval
A indústria naval e offshore no Brasil deve bater cem mil funcionários em estaleiros até 2016. Hoje são 70 mil. O cálculo é de Augusto Mendonça, presidente da Abenav, associação que representa o segmento. Ele cita a falta de mão de obra especializada como um dos principais desafios do setor.
Obra verde
Em operação há dois meses, a OCC Empreendimentos, construtora especializada em obras sustentáveis, deve iniciar dois projetos ainda este ano. Os galpões logísticos, em São Paulo e Bahia, somam R$ 80 milhões em aporte. Em 2014, prevê executar R$ 200 milhões em obras de shopping centers e prédios corporativos.
Residenciais
O Grupo Labes, que reúne incorporadora e construtora, vai lançar em outubro e novembro empreendimento com 1.685 unidades no Recreio. Serão três fases de vendas. A ideia é tornar o complexo, de 51.000m2, um bairro. Estima alcançar R$ 1,1 bilhão em vendas.
Niterói
A João Fortes Engenharia Niterói, que cobre a atuação da empresa na cidade fluminense e no interior do Rio, fechou o 1º semestre com dois lançamentos. Juntos, totalizam R$ 100,5 milhões em estimativa de vendas. Em janeiro a junho de 2012, também lançou um par de projetos, somando R$ 110,68 milhões em vendas.
FOLHA DE SP - 26/07
MG terá shopping de atacado de R$ 280 milhões
A cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, irá receber um shopping de moda de atacado.
Batizado como Fashion City Brasil, o empreendimento será instalado a quatro quilômetros do aeroporto de Confins e terá 514 lojas, além de um hotel com 150 apartamentos para receber os varejistas.
O local ainda terá um centro de eventos e, no futuro, um segundo hotel.
"Será um edifício totalmente horizontal e economicamente sustentável. Não terá gasto de energia com escadas rolantes e elevadores", diz o diretor-presidente do shopping, Gilson Amaral Brito Jr.
Entre os investidores do projeto, que aportarão cerca de R$ 140 milhões, estão os controladores do shopping Mega Polo Moda, de São Paulo, o grupo Precon, a MVD Empreendimentos e a Atitude Inteligência.
Aproximadamente 35% desse capital será financiado. O Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais deverá conceder parte dos recursos.
Outros R$ 140 milhões deverão ser injetados pelos lojistas, prevê Brito Jr.
Os representantes das empresas assinam hoje um protocolo de intenções com o governo de Minas Gerais.
A inauguração do empreendimento está prevista para o primeiro semestre de 2015. As projeções dos investidores apontam que 15 mil pessoas deverão fazer compras por mês no local.
Multinacional planeja centro de pesquisa no interior de SP
A multinacional norte-americana Dow AgroSciences vai implantar um centro de pesquisa e desenvolvimento em Cravinhos, na região de Ribeirão Preto, no interior do Estado de São Paulo.
O financiamento para a unidade foi aprovado nesta semana pelo BNDES no valor de R$ 26,8 milhões.
O aporte, segundo a instituição, representa 46% do projeto --o que eleva o valor total do investimento para cerca de R$ 60 milhões.
O centro de pesquisa terá atividades que devem acelerar o lançamento de novas tecnologias para a agricultura, em processos de melhoramento genético de sementes e características de plantas.
Com a unidade, etapas que atualmente são desenvolvidas pela empresa nos Estados Unidos devem passar a ser feitas no Brasil, segundo informações do BNDES.
A empresa não divulgou detalhes do projeto, mas confirmou que o novo centro de pesquisas em Cravinhos é um entre outros investimentos que ainda serão comunicados oficialmente.
A companhia informou ainda que considera o Brasil um mercado estratégico e que, por isso, investe constantemente em recursos e estrutura no país.
TECNOLOGIA BANCÁRIA
O Itaú Unibanco prevê para o início de 2014 a instalação de equipamentos e, em seguida, os testes do novo centro de dados que está em construção em Mogi Mirim, no interior de São Paulo.
A estrutura vai assumir as operações tecnológicas que hoje ocorrem na unidade da Mooca, na capital paulista. A migração será feita em dez etapas, durante dois anos.
"É uma operação complexa de mudança para um modelo novo, com dois prédios, sendo um espelho do outro, para garantir segurança e performance", diz o vice-presidente Alexandre de Barros.
O projeto recebeu aporte inicial de R$ 2,3 bilhões.
No Santander, que aplicou R$ 450 milhões em um novo centro de dados em Campinas, obras e testes de infraestrutura terminam neste mês.
O Bradesco foi um dos primeiros a investir na modernização da área --inaugurou um centro tecnológico em 2008, com vida útil de ao menos 20 anos. "A unidade está suportando o banco em todos os sentidos", diz o vice-presidente Aurélio Conrado Boni.
Tratamento preferencial
O Brasil ocupou a nona posição no ranking de atendimentos profissionais mais amistosos em 2012, segundo levantamento da consultoria Better Business World Wide feito em 57 países.
Os clientes foram recebidos com sorrisos em 83% das recepções comerciais brasileiras, segundo a pesquisa.
A Espanha lidera a lista, com 96%, seguida por Grécia (95%) e Polônia (94%).
"O brasileiro tem muito a melhorar, principalmente na naturalidade. Não adianta o profissional dizer frases decoradas, pois as pessoas estão cada vez mais exigentes", diz Stella Kochen Susskind, presidente da Shopper Experience, consultoria que coordenou a pesquisa no país.
Cuidados com a pele
A qualidade é o principal critério de escolha de compra de cosméticos na América Latina, segundo pesquisa da Nielsen feita em 58 países.
O fator foi apontado por 32 % dos entrevistados na região, seguido por preço (27%) e marca e utilidade (22%).
"Para os latinos, o resultado é mais importante do que o custo. Ele compra mesmo que fique um tempo sem poder gastar com outras coisas", diz Claudio Czarnobai, porta-voz da consultoria.
Na América do Norte e na Europa, o valor dos produtos se destacou com 36% e 33%, respectivamente.
"Há mais marcas próprias e bem desenvolvidas nessas regiões, o que aumenta a competitividade", diz.
Apoio às pequenas A Desenvolve, agência de fomento do governo de Alagoas, em parceria com a Fiea (federação das indústrias), lançou um programa de apoio às microindústrias. Haverá auxílio financeiro a projetos de expansão.
Dia de feira Sábado é o dia preferido dos consumidores para comprar em supermercados, segundo o Sincovaga (sindicato do setor). Dos 200 ouvidos em São Paulo, 37% citaram a data. A quarta-feira vem em seguida, com 17%.
Transporte... O governo da Bahia vai repassar para gestão da iniciativa privada três terminais hidroviários do Estado. Um deles fica na Ponta de Nossa Senhora, na Ilha dos Frades, e os outros dois, no município de Maragogipe.
...marítimo Com a concessão dos terminais, as empresas operadoras deverão aplicar recursos na ampliação e na melhoria da estrutura das três unidades. Os investimentos iniciais estão estimados em R$ 6,2 milhões.
Celular... As funções multimídia são o principal critério usado pelos clientes para a escolha de smartphones (36%), segundo pesquisa da Kantar Worldpanel feita com 24 mil brasileiros. Marca e modelo ficam em segundo lugar (23%).
...em dia O design e a cor do aparelho são apontados como prioritários por 15%, seguidos pela facilidade de uso (4%). Sobre o perfil dos consumidores, pessoas entre 25 e 34 anos de idade são os principais compradores (28%).
Compras na ponta do dedo
Os brasileiros gastaram mais de R$ 680 milhões em sites estrangeiros usando smartphones e tablets no primeiro semestre deste ano.
Esse mercado possui 2,1 milhões de consumidores no país, segundo levantamento do PayPal, rede de pagamentos on-line.
"O consumidor que faz compras via dispositivos móveis é economicamente superior", diz Mario Mello, diretor-geral do PayPal para a América Latina.
"Se o cliente não tiver acesso à internet no celular, ele vai usar a do trabalho, o que aumenta o potencial da compra on-line", afirma.
Os mercados mais procurados pelos brasileiros são os Estados Unidos, China, Hong Kong e Reino Unido.
Entre os itens de preferência dos consumidores aparecem peças de vestuário, calçados e acessórios, além de remédios e cosméticos.
Também estão na lista joias e relógios, eletrônicos pessoais, computadores, hardware e eletroeletrônicos.
A pesquisa aponta ainda que esse mercado crescerá 232% em até cinco anos, atingindo R$ 5,6 bilhões com 5,7 milhões de consumidores.
Cerca de 65% dos entrevistados, no entanto, citaram o medo do roubo de dados e de fraudes como empecilhos para comprar pela rede.
O Estado de S.Paulo - 26/07
A falta de compromisso com a solidez da economia por parte do governo Dilma é por si só um risco para os próximos meses, quando se esperam desdobramentos negativos na economia mundial.
Apesar dos inegáveis avanços no sentido de dar mais consistência institucional, o bloco do euro dá sinais insistentes de estagnação e de aumento dos desequilíbrios, sobretudo fiscais, para os quais ontem advertiu o Fundo Monetário Internacional (FMI). Também preocupa a fragilidade patrimonial dos bancos da área. Como carregam enormes volumes de títulos de dívida dos países da região, uma eventual deterioração das condições fiscais em certos países, que coloque em risco o resgate de dívidas públicas, pode exigir dos bancos ainda mais reforços de capitalização que, em última análise, pressionarão ainda mais as finanças públicas.
Mas o principal epicentro de turbulência provável é o impacto sobre os mercados a ser disparado pelo desmonte já anunciado da política monetária altamente expansionista do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Por mais cuidadosa que venha a ser, essa operação tende a provocar uma importante valorização do dólar e uma forte migração de capitais para os Estados Unidos.
O governo Dilma não está em condições de afirmar que a economia brasileira resistirá impávida a esses e a outros eventuais trancos, como aconteceu em 2008, quando sucessivas ondas de pânico, provocadas pela quebra do Lehman Brothers, chegaram ao Brasil "como uma marolinha" - como então alardeou o presidente Lula -, embora não tenha sido exatamente assim.
A economia brasileira apresenta hoje fragilidades preocupantes. Não consegue crescer mais do que 2% ao ano; enfrenta uma inflação anual renitente próxima dos 6%; vai aprofundando o rombo nas contas externas; apresenta uma política fiscal confusa e pouco previsível; e continua gerando custos que tiram competitividade da indústria.
Ainda assim, a embarcação brasileira apresentaria um mínimo de consistência, se o objetivo fosse enfrentar mar calmo e céu azul. No entanto, se confirmadas as turbulências que o próprio governo vem prevendo, nada garante o mesmo resultado.
Se lá fora, por exemplo, voltasse a quebrar um banco importante ou se outras forças provocassem forte aversão ao risco, a fuga de capitais do Brasil poderia ser letal, por mais robusta que esteja a posição em reservas externas. No mínimo, a economia teria de enfrentar novas altas do dólar no câmbio interno, com o devido preço a ser pago em mais inflação.
Até agora, a presidente Dilma não parece motivada a reforçar os fundamentos macroeconômicos e a produzir mais confiança. As decisões sobre política fiscal anunciadas na segunda-feira mostraram que as correções de rumo continuam superficiais e não passam firmeza. Não há nenhum interesse do governo federal em trocar o atual arranjo de políticas macroeconômicas, que não deu certo, por outro mais consistente, que inspire credibilidade.
A atual estratégia consiste em ganhar tempo, confiar na sorte e evitar convulsões que possam colocar em risco as eleições de 2014. É pouco.
FOLHA DE SP - 26/07
Um mercado de trabalho mais acomodado deve ajudar o Banco Central a combater a inflação
Os dados sobre o emprego formal divulgados nesta semana reforçam o quadro de esgotamento do modelo de crescimento do governo Lula, que teve continuidade com Dilma.
O aumento do desemprego registrado no ultimo mês pelo IBGE é o resultado do crescimento econômico medíocre dos últimos dois anos. Usando uma imagem popular, ele é mais uma carta de um castelo de baralho a ruir em razão de fatores econômicos que vêm ocorrendo há algum tempo. E o governo não se deu ainda conta disso.
Colocadas por André Muller, economista que trabalha comigo na Quest, em um mesmo gráfico, as taxas de desemprego mensal de cada um dos últimos quatro anos compõem uma figura interessante e muito esclarecedora.
Pela primeira vez, desde 2009, a curva que une os dados mensais da taxa de desemprego do ano corrente (2013) cruza a linha do ano anterior (2012).
Em outras palavras, pela primeira vez em mais de quatro anos a taxa de desemprego em um mês do ano corrente é maior do que a verificada em mesmo mês do ano anterior.
Outra forma de olhar a mudança de sinal na dinâmica do mercado de trabalho é a de comparar o volume de novos postos formais criados no período de 12 meses no ano (t) com o mesmo número do ano (t-1).
Nos 12 meses até junho passado, foram criados apenas 667,5 mil novos postos formais de trabalho, um número inferior ao de novos entrantes no mercado nesse mesmo período. Essa mesma estatística era de 2,15 milhões na passagem de 2010 para 2011, momento em que se inicia um processo continuado de queda até se chegar a junho último.
Mas esse aumento da taxa de desemprego, motivado pela menor geração de postos formais de trabalho, não deve chegar a algo dramático nos próximos meses.
O crescimento econômico atual --próximo de 2% ao ano-- é suficiente para manter a população ocupada crescendo a taxas bem modestas, com o aumento do desemprego vindo da entrada de um número maior de novos trabalhadores no mercado.
Mas esse descompasso será suficiente para diminuir a pressão dos sindicatos sobre as empresas na busca de ganhos reais de salários e, indiretamente, sobre a inflação.
Esta descompressão já está chegando ao mercado de serviços pessoais, segmento que tem mostrado uma inflação acima dos 8% ao ano nos últimos anos.
A menor pressão vinda de um mercado de trabalho em acomodação deve ajudar a tarefa do Banco Central no combate à inflação.
Depois de um ajuste forte nos preços dos alimentos --que ainda está ocorrendo--, uma menor taxa de inflação nos mercados de serviços pode dar continuidade à descompressão do IPCA na parte final de 2013 e em 2014.
Com isso, o cenário de catástrofe, pintado pelos mais afobados há alguns meses, deve ser substituído por um olhar mais calmo para o comportamento dos preços, com reflexos sobre as previsões para 2014 e que já se encontram abaixo do número mágico de 6% ao ano.
Fica no ar apenas a questão da taxa de câmbio. A continuidade da especulação com o valor das moedas emergentes, em razão de um dólar forte e do crescimento mais fraco da China, vem provocando uma desvalorização adicional da moeda brasileira.
Pelo menos temos agora um Banco Central que olha para a taxa de câmbio não como um fator para ajudar no crescimento econômico, mas como um preço que pode atrapalhar seus esforços de estabilizar os índices de inflação em níveis mais próximos do centro da meta em 2014.
Aliás, foi a desvalorização forçada do real, inclusive pela ação da mesa de câmbio do Banco Central, um ano atrás, que fez com que a inflação mudasse de patamar.
A pressão de hoje sobre nossa moeda tem origem externa, e a ação do BC vendendo dólares nos mercados de câmbio é muito mais limitada. A eficácia de suas ações na tentativa de estabilizar o real depende da dinâmica de outros mercados, principalmente os de juros nos Estados Unidos.
Resta-nos apenas rezar para que o banco central americano tenha sucesso na transição de sua política monetária, algo que deve começar a acontecer em setembro.
O GLOBO - 26/07
O economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, que tinha a posição mais otimista do mercado, vai divulgar nova previsão com bem menos crescimento e mais inflação. A projeção de 4% de alta do PIB para 2013 foi revista para 2%. A inflação foi de 5,5% para 5,8%. A indústria: de 3,5% para 1,5%. As causas são internas: perda de confiança na política econômica e inflação.
No ano passado, Nilson Teixeira foi o primeiro a prever que o PIB de 2012 ficaria em torno de 1%. Na época, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou a projeção de piada. Mas Teixeira estava certo, e o resultado acabou sendo 0,9%. Para este ano, o economista sustentou um otimismo destoante. Ainda em março, em entrevista ao meu programa na GloboNews, manteve a projeção de 4% para 2013, quando muitos bancos e consultorias já haviam cortado drasticamente o número. Ele justifica a mudança radical: houve muitas surpresas negativas, quase todas da própria economia brasileira.
- Não revemos o PIB com muita frequência e essa projeção de 4% foi feita antes da divulgação do resultado fraco do primeiro trimestre, que também trouxe revisão dos números de outros trimestres de 2012. Houve muita coisa nova no período: inflação mais alta, aumento de juros, perda muito grande de credibilidade da política fiscal, queda na confiança de empresários e consumidores - disse Nilson.
O economista argumenta que parte do projetado aconteceu: os investimentos foram fortes no início do ano, puxados pelas máquinas agrícolas, tratores e caminhões. A agricultura teve o crescimento alto esperado e as exportações para a Argentina também cresceram no primeiro semestre - 5% segundo dados do MDIC - e isso ajudou a indústria, porque 7% da produção de manufaturados vão para lá.
Mas as decepções foram maiores. O consumo foi muito impactado pela inflação, que se manteve alta por um período prolongado. Principalmente as famílias de baixa renda foram afetadas com a alta dos alimentos. A desvalorização do real estava fora do radar e agora vai impedir que os preços caiam de forma mais acentuada no final do ano. Nilson previa que os alimentos fechassem com alta em torno de 5%, depois de baterem na máxima de 14%. Agora, fala num número na casa de 8%:
- A inflação dos alimentos demorou mais a cair do que se esperava. Agora, com a desvalorização do real, esperamos um repasse para os preços que pode chegar a 0,6% do IPCA num período de 12 meses. Também está preocupando a defasagem do preço da gasolina e do diesel, que não está na conta e pode obrigar a um novo reajuste mais à frente.
A balança comercial teve uma forte redução do saldo, por causa das importações de petróleo e derivados. Isso não era previsto. No mercado de trabalho, a equipe econômica do Credit Suisse projeta aumento do desemprego médio este ano, para 5,7%. A taxa ainda é muito baixa, se comparada com os países em crise. Mas, explica Nilson, será o primeiro ano de alta desde 2004, quando se exclui 2009, atípico pela crise internacional. O aumento do salário real, que vinha oscilando ano a ano entre 2,7% e 4%, ficará na casa de 1,5%.
Nilson não acha, no entanto, que tenha havido uma mudança estrutural na economia brasileira que coloque o país condenado a uma taxa de crescimento de apenas 2%. Estima alta de 3% em 2014 e mantém o otimismo de que é possível voltar a crescer 4%. Mas avalia que houve perda de confiança muito grande na política econômica, por parte de empresários, investidores e famílias. Pelo lado externo, a ameaça de retirada de estímulos do Fed e a desaceleração da China também contribuíram para aumentar as incertezas.
- As principais causas são internas. O governo tomou algumas medidas corretas, reduziu o spread, custos setoriais, preço da energia. Mas é praticamente consenso que o intervencionismo está alto, e que se enfraqueceu a instituição da política fiscal. Isso afeta a confiança e os investimentos, que precisam crescer - disse.
Nilson Teixeira não vê nenhum gargalo novo na economia brasileira que já não estivesse presente quando o país cresceu 7,5%, em 2010. O que mudou, segundo o economista, foi a percepção sobre os problemas, por causa da perda de confiança na política econômica. Espera que haja uma mudança forte na postura do governo.