quinta-feira, junho 06, 2013

Tijuca (quase) em paz - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 06/06

A UPP do Borel, na Tijuca, faz três anos amanhã. Uma comparação do primeiro trimestre de 2010 com o de 2013 mostra que o roubo de veículos na Grande Tijuca caiu 80%, o de celular, 70%, e o roubo a transeunte, 60%.
Nestes três anos, 16 armas foram apreendidas. Nenhuma era fuzil.

Boi na linha
Por atrasos no pagamento de sua cota, a Marfrig já não é mais patrocinadora da CBF.

Vizinho do barulho
Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, fica hospedado na cobertura de Ronaldo, num prédio de bacanas na Delfim Moreira, quando vem ao Rio.
Os vizinhos não gostam. Reclamam da grande movimentação de policiais.

Culpa do Neymar
Este traficante colombiano John Freddy Manco Torres, o Índio, preso na sexta, no Galeão, com documentos falsos, vinha assistir ao jogo Brasil x Inglaterra.

Calma, gente!
O prefeito tucano Arthur Virgilio, 68 anos, saltou de paraquedas de 3.657 metros, em Manaus, para divulgar os jogos Radicais da Amazônia.

Papa pop
Evangelina Himitian, a argentina autora de “A vida de Francisco — o Papa do povo”, lançado aqui pela Objetiva, foi a Roma entregar um exemplar ao Papa.
Na saída, ganhou um beijo e um comentário bem-humorado: “Pode ir. Me deixa aqui com os leões.”

Anitta para eles
Anitta, funkeira que toca até na França, virou nome de uma... casa de saliência no Centro do Rio.

Dose dupla
Dois romances de Ana Maria Machado, a grande escritora, vão ser lançados na Europa, agora no segundo semestre.
Na Itália, chega às livrarias “Infâmia”, e, na Espanha, “Tropical sol da liberdade”.

Aliás...
A posse de Rosiska Darcy de Oliveira, dia 14, na ABL, será um marco na história da casa.
Pela primeira vez, uma mulher tomará posse numa sessão presidida por uma presidente, Ana Maria.

Dona Gramática!
O senador Jayme Campos, do DEM de Mato Grosso, ao sabatinar o futuro ministro do STF, Luis Roberto Barroso, ontem, fez sérias agressões ao... português.
Primeiro, disse que o governo está lavando as “mões” (ui, meu ouvido!) e arrematou falando de uma geração de “mindingos” (ai!).

Xô, preconceito
A loja Subway do Shopping Tijuca, no Rio, tem entre seus funcionários um transexual.
Viva!

Teje preso
A ex-procuradora Vera Lúcia Sant’Anna Gomes, condenada por torturar uma criança de dois anos que estava sob sua guarda provisória, continuará atrás das grades.

A 49 Câmara Criminal do Rio negou seu pedido para diminuir a pena de oito anos e dois meses de reclusão dada pela 329 Vara Criminal da Capital.

Pedalando pela paz
Os participantes do “Pedala, Tijuca”, passeio ciclístico realizado há sete anos no simpático bairro da Zona Norte carioca, farão um ato público em memória dos ciclistas mortos no trânsito. Será no dia 7 de julho.

A turma vai distribuir minibicicletas e fazer um abaixo-assinado pedindo mais ciclovias e ciclofaixas na região.

Galeão na UTI
Ao descer, ontem, no aeroporto do Galeão, o comandante do GLO-1600, procedente de São Paulo, pediu aos passageiros para permanecer a bordo porque a Infraero informava que não tinha funcionário para operar o finger. Em seguida lamentou:

— Por ordem superior eu não posso reclamar. Mas vocês podem e devem.

Rede inchada
Cerca de seis milhões de moradores do Estado do Rio têm planos de saúde — equivale a 37,1% da população. Mas a rede particular não acompanhou o crescimento. Este é o tema de estreia do Blog Emergência, do nosso Daniel Brunet, que vai ao ar hoje.

Veja mais em www.oglobo.com.br/ rio/ancelmo/emergencia.

Cena carioca
Duas meninas, de uns 10 anos de idade, usando uniforme de escola pública, conversavam, semana passada, na Av. Gilberto Amado, na Barra da Tijuca:

— Cara, fulaninha é menor!

— Menor... menor nada! Ela já tem 8 anos na cara!

Anarquistas, neoliberais e Foucault - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 06/06

Neoliberais e anarquistas têm uma paixão comum: para ambos, a liberdade do indivíduo é o valor supremo


Por definição, os anarquistas não gostam de pertencer a coletividades, comunidades e grupos. Eles têm em comum uma antipatia (se não um ódio) pelos poderes instituídos, do Estado às igrejas, passando pelas torcidas, os partidos, os clubes etc. Fora esse sentimento comum, eles preferem pensar cada um por conta própria.

Mas, embora haja mil maneiras de ser anarquista, existe uma grande distinção que talvez seja legítima.

Há os anarquistas clássicos, que a esquerda gosta de incluir em suas fileiras. Grosso modo, eles acham que o fim do Estado e de todas as igrejas (por exemplo) criará uma nova sociedade de homens livres e pares. Tradicionalmente, esses anarquistas, por serem alérgicos ao poder dos partidos e dos Estados pretensamente "revolucionários", foram usados e, no fim, massacrados por seus supostos "companheiros" comunistas e socialistas (como aconteceu na guerra da Espanha).

E há os anarquistas que são hoje chamados de anarco-capitalistas, que a direita gosta de incorporar. Os anarco-capitalistas não sonham com uma sociedade radicalmente nova, eles apostam que a economia de mercado seja capaz de se contrapor ao Estado e aos poderes instituídos, de forma a substituí-los e torná-los desnecessários.

O que se ganharia com isso? Os anarco-capitalistas acham que, em matéria de liberdade, ser consumidor é um jeito relativamente pouco custoso de ser cidadão. Isso, sobretudo nas últimas décadas, em que o consumo tende a não ser massificado. Ou seja, a ideia anarco-capitalista é que, se deixássemos o mercado regrar nossa sociedade, nossa vida seria menos controlada e regrada do que ela é agora, pelo Estado e outros poderes.

Pergunta: sem o Estado, quem nos protegeria contra os abusos do mercado? É bom não esquecer que os anarquistas, em tese, se protegem sozinhos: se você não gosta de delegar poder a uma instituição, seja ela qual for, deve estar disposto a fazer polícia e justiça com suas mãos (é por isso, aliás, que o movimento libertário dos EUA sempre será fortemente favorável à livre circulação das armas).

Fato curioso, há uma similitude entre os anarco-capitalistas e os neoliberais. Mas é melhor explicar um pouco, porque (sobretudo se formos "progressistas") nossa visão dos neoliberais é distorcida.

Os liberais clássicos, tipo Adam Smith, querem preservar a liberdade do mercado dentro de qualquer sistema político.

Para os neoliberais de hoje, o mercado poderia (ou deveria) substituir qualquer sistema de governo a ponto de torná-lo desnecessário.

Há duas maneiras de entender essa ideia. Uma consiste em pensar que os neoliberais querem nos entregar de mãos atadas às grandes corporações e à sedução de sua propaganda. A outra consiste em pensar que os neoliberais são extremamente próximos dos anarco-capitalistas: querem que o mercado nos liberte, ou melhor, imaginam que o mercado seja a forma de organização social mínima, a que controla menos a nossa vida.

Para quem se deu a pena de ler Friedrich Hayek (que talvez seja o maior pensador do neoliberalismo --vários livros em português, publicados pelo Instituto Ludwig Von Mises), a resposta que faz mais sentido é a segunda.

Ou seja, há uma séria proximidade entre neoliberais e anarco-capitalistas. Essa proximidade consiste numa paixão comum pela liberdade do indivíduo como valor que não pode nem deve ser alienado em favor de entidade coletiva alguma.

Um sociólogo francês, Geoffroy de Lagasnerie, tenta há tempos defender uma leitura atenta dos autores neoliberais (para ter uma ideia da polêmica, um artigo dele de 2011, no "Le Monde", http://migre.me/eSa0S).

Em 2012, De Lagasnerie publicou um livro crucial sobre Michel Foucault, que acaba de ser traduzido, "A Última Lição de Michel Foucault" (Três Estrelas).

O livro mostra o irrefutável: em seu último seminário ("O Nascimento da Biopolítica", Martins Fontes), Foucault (um ícone da esquerda) leu, apresentou e (pasme) levou a sério os pensadores neoliberais (Hayek, em particular). E não foi uma loucura de última hora. Ao contrário, o interesse de Foucault pelos neoliberais não deveria nos escandalizar.

Aliás, qual seria o escândalo? Aparentemente, a ideia de que, para o bem ou para o mal, o neoliberalismo é também uma grandiosa defesa da diversidade e da liberdade do indivíduo --fato que não podia deixar indiferente o maior pensador anarquista do século 20, Michel Foucault.

Geração após geração - CARLOS RAMALHETE

GAZETA DO POVO - PR

Há alegrias que vêm de súbito e ficam na memória. Outras, todavia, começam ocultas e vão crescendo às claras, por vezes literalmente. A maior delas, creio eu, são os filhos. Um rapaz e uma moça se amam – há receitas artificiais, que estão para a natural como comprimidos de vitaminas estão para uma fruta madura e sumarenta, colhida no pé em dia de verão; deixemo-las de lado – e desse amor surge, escondida ainda no ventre da mãe, uma pessoinha que é um pouco de um, um pouco de outro e tudo dela mesma.

Cada bebê, ainda antes de nascer, já tem temperamento próprio. E nasce, para alegria e pavor dos pais: o que fazer? Pode isso? Tem de fazer mesmo aquilo?! Um pavor tão perfeitamente irracional quanto é natural cuidar de um neném. Se mães precisassem de manuais, não haveria humanidade.

E cresce, o serzinho. Vai descobrindo o mundo, os olhinhos brilhando, as perninhas gorduchas ganhando firmeza, os dedinhos levando à boca tudo o que encontram. E cresce, vivendo aventuras mil, descobrindo coisas que os próprios pais ignoravam. O temperamento, que no mais das vezes já se podia discernir até no ritmo dos chutes que dava ainda na barriga da mãe, soma-se à criação e às oportunidades, no intrincadíssimo processo de construção de uma pessoa, que começa na concepção e não acaba enquanto vivemos.

Um dia, o pai ou a mãe tem a doce alegria de ver um brinquedo numa loja e pensar “que pena que não vi isso anos atrás, quando faria tão feliz minha criança, que não o é mais!”. Aí perguntamos àquela moça ou àquele rapaz que um dia foram nossos bebês se se lembram deste ou daquele brinquedo ou prazer intenso que um dia tiveram. Não, não lembram. São segredos que ficam guardados no coração dos pais.

As alegrias e preocupações se renovam, crescem e tornam-se crônicas e agudas ao mesmo tempo. Aqueles pedaços do coração da gente – que aprenderam a andar segurando-nos os indicadores com as mãozinhas gorduchas – têm a audácia de se tornar como éramos quando os geramos. Têm o desplante de, julgando-se imortais como nós um dia nos julgamos, sair à noite, apaixonar-se, casar-se e nos dar netos, que são filhos com açúcar.

A imortalidade de que todo jovem se julga dotado é, na verdade, a imortalidade da espécie humana, das possibilidades infinitas que existem para uma moça e um rapaz. Desde que o mundo é mundo, os encontros de olhares apaixonados prometem a vida que há de vir, a repetição infinita e sempre tão nova das mesmas descobertas, a continuação, pelo amor, da beleza que é sermos humanos.

Ting-ling - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O Estado de S.Paulo - 06/06

Nas casas senhoriais do Japão antigo era comum colocarem sininhos sob o assoalho dos corredores. Era impossível pisar numa taboa do chão de um corredor sem que soassem os sininhos. Conhecendo-se a violenta história do Japão medieval, com facções em luta constante pelo poder, é fácil deduzir que os sininhos existiam para denunciar a aproximação de espiões ou assassinos. Mas o ting-ling também devia servir como alarme contra ladrões e para prevenir o flagrante de adultério. Imagine-se a senhora da casa prestes a arrancar as calças do entregador de pizzas, ou o equivalente na época, quando este levanta a cabeça e pergunta:

- Esse som de sininhos, é do templo?

- Não, é o meu marido!

O ting-ling era uma maneira prática de evitar surpresas. Mas pode-se imaginar o grau de desconfiança de uma sociedade em permanente pavor do que vem pelo corredor. Até que se revelasse quem ou o que vinha, os sininhos poderiam significar qualquer coisa, alimentar qualquer paranoia. E qualquer tilintar poderia ser confundido com o ting-ling. Um gorjeio de passarinho, um pingo de chuva no teto, um brinde com cristais, até os inocentes sininhos do templo. E um gato solto num corredor espalharia o terror pela casa toda.

No Brasil de hoje desenvolvemos uma paranoia parecida. De tanto ouvir falar em roubalheira e maracutaias nos acostumamos a equacionar política e corrupção. Tudo que vem pelo corredor é suspeito, todo ting-ling é um prenúncio de escândalo. E como no Japão antigo também vivemos em permanente estado de desconfiança. Claro que a classe política é responsável pela sua própria má reputação, mas há exceções importantes. E hoje não se rouba mais do que antes - é que antes não se ficava sabendo a metade.

Enfim: nem tudo que tilinta é má notícia.

Motivo. Da série Poesia Numa Hora Dessas?!

"Ele em Porto Alegre

onde o aeroporto

vira e mexe

fecha.

Ela em São Paulo

onde tem nevoeiro

de janeiro a janeiro.

Resultado: o amor acabou.

Por nenhum motivo concreto

- por falta de teto."

MINHA CASA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 06/06

Terminou empatada anteontem no STJ (Superior Tribunal de Justiça) votação em que um morador que vive próximo do Rodoanel de SP pede indenização por ter sido obrigado a deixar a sua casa por algumas horas na época das obras. O resultado orientará mais de mil ações em andamento, pelo mesmo motivo.

APITO
Cerca de seis famílias estão representadas em cada um dos mil processos. Os moradores dizem que sofreram abalo psicológico grave ao serem avisados, pela Petrobras, pela Dersa e pela empreiteira Camargo Correa, que as obras haviam causado um vazamento de gás na região. Deixaram suas casas. Voltaram horas depois.

FÁBRICA
A votação está empatada, em 2 a 2. O ministro Marco Buzzi pediu vista e dará o voto decisivo. Os magistrados que apoiaram o pagamento admitiram o dano moral. O ministro Luis Felipe Salomão, contrário, disse que há "uma indústria" de indenizações em torno do caso. E que, se os moradores vencerem, estará criado um precedente perigoso já que qualquer ação de segurança preventiva no país poderá gerar um pagamento milionário.

BLOCO
A ministra Gleisi Hoffmann virou máscara: os organizadores da Marcha da Maconha de São Paulo, no próximo sábado, incluíram a auxiliar de Dilma Rousseff na ala chamada de "Bloco do Atraso". Serão distribuídas também máscaras dos deputados Osmar Terra (PMDB-RS), Marco Feliciano (PSC-SP) e Givaldo Carimbão (PSB-AL), envolvidos em polêmicas sobre drogas, homofobia, racismo e demarcação de terras indígenas. Eles representariam uma "ofensiva religiosa, moralista, ruralista e conservadora" no país.

CONTAR ATÉ DEZ
De Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa dos governos Lula e Dilma Rousseff, sobre o descontentamento em relação à presidente, grande inclusive em seu partido, o PMDB: "Diálogo é fundamental na política. Tem que ter paciência e parece que paciência não existe". Ele deu a declaração num evento em SP.

SENHOR DA RAZÃO
O padre Fábio de Melo e o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) vão escrever mais uma obra a quatro mãos. Será "Carta entre Amigos - sobre o Tempo e a Lucidez". Os dois primeiros volumes da série, "Sobre Medos Contemporâneos" e "Sobre Ganhar e Perder", venderam juntos mais de um milhão de exemplares.

PONTA DE PÉ
Já tem data a abertura da primeira loja da francesa Repetto no Brasil: dia 18, no shopping Cidade Jardim, em SP. Na inauguração, haverá na cobertura do centro de compras uma apresentação de balé, dança que inspira as coleções de sapatos e roupas da marca.

PÉ NO FREIO
Teste inédito feito pela Proteste, associação de defesa do consumidor, mostra que em SP uma pessoa demorou 2 horas e 26 minutos para fazer de ônibus um percurso de 14 km (entre o Brooklin e o centro) que levou apenas 35 minutos de moto. Gastou ainda uma hora de metrô e 42 minutos de carro. Os resultados sairão na nova edição da revista da organização, na segunda.

PÉ NO FREIO
O teste foi feito também no Rio de Janeiro.

Mas a Proteste alerta que, embora mais ágil, a moto é um veículo mais perigoso e requer cuidados na direção.

NOSSOS GURIS
O Projeto Guri, da Secretaria de Estado da Cultura de SP, faz 18 anos. Para celebrar a data, que coincide com a idade em que os jovens terminam sua formação musical no programa, serão realizados concertos com o grupo The Rodney Mack Philadelphia Big Brass, em Bauru e no Auditório Ibirapuera, nos dias 28 e 30 deste mês.

"Também lançaremos livros sobre a iniciativa, que atende 25 mil alunos por ano, em 316 cidades", diz Alessandra Costa, diretora da Associação Amigos do Projeto Guri.

DE VOLTA AO AROUCHE
Os atores Miguel Falabella, Marisa Orth, Aracy Balabanian, Luis Gustavo e Marcia Cabrita se reuniram, anteontem, na primeira das quatro gravações de episódios inéditos da série "Sai de Baixo", para o canal a cabo Viva. O apresentador Zeca Camargo, a humorista Dani Calabresa, as atrizes Regina Duarte e Alessandra Maestrini e o músico Junior Lima, com a namorada, Mônica Benini, estiveram na sessão, no teatro Procópio Ferreira.

QUERIDO DIÁRIO
José Pastore autografou a biografia "Antônio Ermírio de Moraes - Memórias de um Diário Confidencial", sobre o empresário à frente do Grupo Votorantim, anteontem. Foram ao lançamento na Fnac Pinheiros o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de SP, Geraldo Alckmin, o ator Marcos Caruso, o empresário Albano Franco e Regina Moraes Waib, filha de Antônio Ermírio.

CURTO-CIRCUITO
Cris Zanetti e Fê Resende lançam o livro "Vista Quem Você É - Descubra e Aperfeiçoe Seu Estilo Pessoal", às 19h, na Livraria da Vila de Higienópolis.

Reinaldo Lourenço faz bazar com coleções passadas, em seu showroom, até 22 de junho, em Pinheiros.

"Mais Náufragos que Navegantes", documentário de Guillermo Planel, será exibido e debatido hoje na Câmara dos Deputados.

O ator Freddie Highmore chega ao Brasil no dia 20 para promover a série americana "Bates Motel".

Enrolados na bandeira - VINICIUS CARRASCO E JOÃO MANOEL P. DE MELLO

O GLOBO - 06/06

Uma matéria do "Financial Times" mostra como as restrições à produção e à exportação de minério causaram o colapso da exportação indiana, antes a terceira maior do mundo. Para nós brasileiros, não é surpreendente o motivo para coibir as exportações: ajudar a siderurgia local. Recentemente, representantes da siderurgia brasileira, devidamente enrolados na bandeira nacional (como diz Marcelo de Paiva Abreu), defendiam restrições à exportação de sucata para a China. "O mundo está de cabeça para baixo e não há espaço para ingenuidade", escreveu neste jornal um representante do Instituto Aço Brasil, contando com a ingenuidade alheia.

O que ocorreu quando a Índia reduziu suas exportações? Primeiro, o preço aumentou. Depois os concorrentes aumentaram suas capacidades de produção, reduzindo o preço para um nível parecido com o que prevalecia antes da redução indiana. No jargão de Teoria dos Jogos, as escolhas de capacidade são substitutos estratégicos: em reação à retração indiana, os concorrentes aumentam suas capacidades. No frigir dos ovos, o preço ficou parecido, o produtor indiano vende menos, e os concorrentes vendem mais. Como as decisões de capacidade são permanentes, no longo prazo a política conseguiu o feito de diminuir a fatia de mercado das empresas indianas. As políticas indianas, que muitos aqui adotariam com entusiasmo - cínico ou ingênuo -, foram um maná permanente para as empresas estrangeiras. No curto prazo, talvez a siderurgia local tenha se beneficiado de preços baixos. No longo, é preciso combinar com as mineradoras para que elas continuem investindo em capacidade. A Índia está a importar minério, algo inusitado.

O Brasil, no entanto, não é Índia. Ainda. Por aqui, é a lentidão do licenciamento ambiental quem cumpre o papel de prejudicar a mineração doméstica em prol de empresas estrangeiras.

A previsão inicial era que Serra Sul - o maior projeto de expansão de capacidade da Vale - produziria no começo de 2012, mas a licença ambiental da mina só saiu agora. Faltam as licenças de logística. Se tudo der certo, começará no final de 2016. A MMX ainda não tem a licença de rejeito de seu projeto de Serra Azul. Não discutimos o valor da proteção ambiental, que é muito alto. Apontamos somente os custos da morosidade do licenciamento. Nem precisa dizer que a incerteza sobre o marco regulatório contribui para o pessimismo dos produtores.

Quanto serão os royalties? Haverá participação especial? E impostos de exportação? A Austrália, nosso principal concorrente, agradece. Segundo US Geological Survey, até 2007 ela produzia 20% a menos do que o Brasil.

Em 2011 produziu 31% a mais. Dados preliminares mostram que a diferença aumentou de lá para cá. Os analistas atribuem essa reversão à lentidão do licenciamento ambiental no Brasil.

Pela razão descrita acima, será difícil recuperar o terreno perdido. É a política industrial às avessas: atrapalha nossas empresas. Só não foi pior porque a irracionalidade indiana superou nossa incompetência. Essa é mais uma manifestação do mesmo fenômeno que ocorreu nos últimos anos: o Brasil foi bem, mas poderia ter ido muito melhor. Nosso sucesso se deve, em parte, ao fracasso alheio. Edmar Bacha cunhou a expressão Belíndia para descrever o Brasil: uma Bélgica dentro de uma Índia. Parafraseando, somos a Austríndia do mercado de minério.

Ueba! Saiu o Bonde do Mantegão! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 06/06

E avisa o Pastor Malafaia que casamento gay é opcional. Ele não é obrigado a se casar com o pastor Feliciano


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o chargista Flavio anuncia: "PIB, jurão e inflação, é o Bonde do Mantegão". É um novo funk, "O Bonde do Mantegão" pela McDilma!

E como diz o Laerte: o pior da inflação é aguentar aquele monte de charge com dragãozinho.

É dragãozinho no colo da Dilma, dragãozinho embaixo da mesa da Dilma, dragãozinho pregando susto na Dilma, o Mantega fantasiado de dragãozinho!

"Maaaaantega, avisa pra esses dragõezinhos que o Dragão aqui sou eu." E cospe fogo. O Dragão X Os Dragõezinhos!

E tô adorando esses horários políticos no intervalo da novela. Primeiro foi o Aécio Never contando piada. Melhor que o Ary Toledo.

E o PSDB vira Partido Social de Minas. Partido Social Dos Bão!

E agora vem o DEM! DEM quer dizer Deu Merda. Porque foi todo mundo embora. Eles vão ter que pedir político emprestado pra fazer o horário. Rarará!

A estrela vai ser o ACMeio Metro! Vai ter que gravar em cima de oito engradados de cerveja. Ele é todo arrumadinho, parece feito de Lego. O prefeito Lego.

E Aécio devia dar receita de repôi no ái com ói: "Casca o ái, quenta o ói e foga o aí no ói quente e joga o trem no repôi".

E o Neymar mandou avisar aos espanhóis que ele não pode emprestar dinheiro porque vai se casar com atriz global e dá muita despesa. Rarará!

E avisa ao pastor Malafaia que casamento gay é opcional. Ele não é obrigado a se casar com o pastor Feliciano.

Aliás, eles podiam se casar e passar a lua de mel em Vegas, no show da Cher. Melhor, eles podiam se casar ao som da marcha-rancho "As Pastorinhas", de Ataulfo Alves. Malafaia e Feliciano, As Pastorinhas! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Mais três para a minha série Os Predestinados!

Representante permanente do Brasil na Conferência do Desarmamento: Antonio Guerreiro! Rarará!

E um amigo foi fazer exame no São Carlos Imagens e o médico solicitante: Pedro Pinto Firmeza! Ueba! Senti a maior firmeza! Doutor Pinto Firmeza não dá moleza. Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

De Tahir a Taksim - DEMÉTRIO MAGNOLI

O GLOBO - 06/06

Desde 2001, quando Erdogan fundou o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), a Turquia engajou-se num experimento histórico de vastas implicações


“Os que nomeiam esses eventos como a Primavera Turca não conhecem a Turquia”, exclamou o primeiro-ministro Recep Erdogan, enquanto as manifestações se espalhavam nacionalmente, a partir da Praça Taksim, no centro de Istambul. O espectro de uma outra praça — Tahir, no Cairo — atormentava Erdogan e animava os manifestantes. Taksim não é Tahir, mas as duas praças convergem, por vias diversas, à condição de símbolos de uma segunda primavera no Grande Oriente Médio. O que está em jogo é a oportunidade histórica da reforma do Islã, por meio da plena aceitação das liberdades públicas e individuais.

Na Praça Tahir, em fevereiro de 2011, o pêndulo se inclinou em definitivo quando os trabalhadores entraram em cena, precipitando a queda do ditador Hosni Mubarak. O levante da Praça Taksim começou pelas classes médias, como em Tahir, mas os trabalhadores ensaiaram uma greve geral já no quinto dia dos protestos. Taksim não é Tahir, por motivos políticos (o governo de Erdogan não é uma ditadura) e culturais (a Turquia não faz parte do mundo árabe). Contudo, Erdogan age como quem “não conhece a Turquia” — ou, ao menos, conhece apenas uma Turquia simplificada, que é islâmica, otomana e imperial.

A pátria ideológica e cultural de Erdogan é uma Turquia amputada dos noventa anos de história da república secular, europeísta, fundada por Kemal Ataturk. A fagulha da Primavera Árabe acendeu-se na palha seca de anos de depressão econômica. Na Turquia, pelo contrário, a revolta eclodiu após uma década de forte crescimento econômico. O motor original das manifestações foi um projeto de substituição do Parque Gezi por um complexo de edificações comerciais, culturais e religiosas, mas a revolta levantou voo quando a violenta repressão policial evidenciou uma desconexão política fundamental: nas ruas, os cidadãos estão dizendo que existe uma outra Turquia, cujos valores são desrespeitados pelo governo.

“Nós somos filhos de Ataturk”, dizem os cartazes de Taksim. Ataturk, o “pai dos turcos”, reinventou a Turquia como Estado-Nação, renunciando à visão imperial otomana. O plano de Erdogan para a área do Parque Gezi inclui a demolição do Centro Cultural Ataturk e a construção de um simulacro de um antigo quartel otomano. Na raiz da revolta, encontra-se a ampla oposição pública ao envolvimento da Turquia na guerra civil síria — ou seja, ao renascimento neo-otomano acalentado pelo governo. Mas isso não é tudo, nem o principal. Ataturk aboliu o califado, separou a escola da mesquita, conferiu às mulheres direitos iguais aos dos homens. Sob Erdogan, no alto funcionarismo público, mensagens não muito ocultas instruem as mulheres a se vestirem em padrões tradicionais, as escolas reintroduzem cursos corânicos, adverte-se contra o beijo em lugares públicos e uma nova lei restringe o comércio de bebidas alcoólicas. “Nos exames, surgem diversos itens ideológicos adaptados aos apoiadores do governo”, disse um estudante secundarista envolvido nos protestos de Taksim. A praça Taksim não é a Tahir original, mas parece-se com a segunda Tahir, onde as correntes seculares egípcias desafiam o tradicionalismo islâmico do governo da Irmandade Muçulmana.

Desde 2001, quando Erdogan fundou o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), a Turquia engajou-se num experimento histórico de vastas implicações. No novo partido, abrigaram-se correntes islâmicas oriundas dos estilhaços de partidos fundamentalistas condenados à ilegalidade, além das novas elites urbanas desencantadas com a corrupção do antigo partido dirigente nacionalista ancorado na herança de Ataturk. Ao longo de uma década de governo, o AKP utilizou os acordos da candidatura turca à União Europeia para quebrar a armadura do chamado “Estado Profundo”, o sistema de poder da cúpula militar kemalista, e introduzir uma coleção de reformas democráticas. Ironicamente, o partido de origens islâmicas deflagrou uma segunda “europeização” da Turquia.

Há dois anos, numa coletiva de imprensa, líderes partidários rejeitaram o adjetivo “islamista” convencionalmente associado ao AKP. Na ocasião, o ex-ministro da Educação Huseyin Çelik definiu-o como um “partido democrático conservador”, enfatizando que o conservadorismo “circunscreve-se aos temas morais e sociais”. Filtrou-se da entrevista a ideia de uma “democracia islâmica”, um conceito ambíguo que faz sucesso entre as facções modernizantes da Irmandade Muçulmana egípcia.

“Erdogan é um político muito ousado e muito autoritário, e não mais ouve ninguém, mas precisa entender que a Turquia não é um reino”, observou um cientista político da Universidade do Bósforo. Num indício de inquietude, o primeiro-ministro apontou o partido kemalista de oposição como responsável pelo levante. A revolta que se estende pela Turquia não tem a marca de um partido, abrangendo jovens e velhos, homens e mulheres, turcos e curdos, esquerdistas e liberais. Não é a nação inteira que se levanta, mas é quase toda a sua face resolutamente secular. Os protestos têm cobertura limitada dos veículos de comunicação, pois o governo Erdogan aprendeu a manipular de acordo com as suas conveniências as leis de segurança nacional do “Estado Profundo” kemalista que permitem processar jornalistas com base em acusações de ressonâncias orwellianas.

A Praça Tahir foi o símbolo das revoluções democráticas que saltaram de um país árabe a outro, derrubando ditaduras e provocando reformas em anacrônicas monarquias. Hoje, porém, em nome do Islã e no váculo político criado pela Primavera Árabe, iracundos fundamentalistas tentam tolher as liberdades civis e seitas de fanáticos perseguem as mulheres que ousam mostrar o rosto em público. A Praça Taksim está enviando uma mensagem, que será ouvida muito além da Turquia, de resistência ao inverno fundamentalista. Erdogan pode dizer o que quiser, mas isso é, sim, uma Primavera Turca.

Drogas, hora de mudar o enfoque - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 06/06

OEA começa a discussão sobre uma nova política, porque a repressão pura e simples fracassou


Uma discussão que o Brasil teimosamente insiste em escamotear entrou ontem na agenda de uma organização multilateral, a Organização dos Estados Americanos, que está iniciando mais uma Assembleia-Geral.

Trata-se de repensar a guerra às drogas, com base em alentado estudo de 400 páginas que um grupo de peritos apresentou à instituição no mês passado, respondendo a uma encomenda feita pelos chefes de Estado/governo durante a Cúpula de Cartagena, no ano passado.

"O relatório rompe com o pensamento único em matéria de drogas", diz o embaixador uruguaio na OEA, Milton Romani Gerner.

Ou, como prefere Ethan Nadelmann, diretor-executivo da Aliança para uma Política de Drogas, "é a primeira vez que qualquer organização multilateral faz algo assim".

A ênfase do relatório que está à mesa da Assembleia-Geral é na despenalização do uso de drogas, em especial da maconha, de longe a mais consumida, embora a cocaína faça mais sucesso na mídia por ser uma droga de classe média.

O texto diz que "a descriminalização da droga precisa ser considerada elemento básico em qualquer estratégia de saúde pública".

Mas o documento não é uma recomendação formal em favor da descriminalização. Pede "avaliar sinais e tendências que se inclinam por uma descriminalização ou legalização da produção, venda e consumo de maconha. Cedo ou tarde decisões nessa direção terão que ser tomadas".

Simples assim. Avaliar, levando em conta diferentes realidades de cada país, para depois decidir.

No Brasil, é mais que hora de fazer tal avaliação. Não parece uma aventura especular que alguns ou muitos dos recentes crimes absurdamente violentos tenham como responsável uma alteração dos sentidos provocada pelo uso de drogas.

Logo, avaliar se a liberação do consumo levaria a uma diminuição da violência associada ao tráfico/consumo de drogas ou, ao contrário, a incrementá-la é uma providência inicial para enfrentar o terror dos moradores de grandes cidades, claramente expressado ontem no Painel do Leitor desta Folha.

Mas, atenção, o cenário de despenalização é apenas um dos quatro apresentados no estudo da OEA. Trata também da reforma do sistema de justiça criminal (necessidade básica no Brasil, como se sabe) e examina as instituições e arranjos necessários para atender vítimas da droga, sejam os que abusam delas, sejam as comunidades assoladas pelo crime, sejam jovens delinquentes.

O principal argumento para repensar a política para as drogas, centrada hoje exclusivamente na repressão, aparece no quarto cenário: examina as potenciais consequências de manter inalterado o enfoque repressivo atual e conclui que todos e cada um dos países das Américas estarão em pior situação em 2025.

O documento final da Assembleia-Geral encampará o essencial do relatório, mas, até ontem, estava aberto um ponto crucial: como continuar o debate que agora se abre no âmbito interamericano.

O Brasil --governo e sociedade-- não tem o direito de continuar se omitindo.

Da série “não tem nada demais” - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 06/06

Sabia que está em curso no Senado um projeto para que as prefeituras possam cobrar o Imposto sobre Serviços (ISS) sobre aluguéis residenciais e comerciais?


Vamos imaginar que uma dessas companhias de telecomunicações colocasse em seu site, num belo dia, sem prévio aviso, a seguinte informação: "O serviço de call center, incluindo atendimento telefônico ao cliente, está suspenso por tempo indeterminado; o contrato com a terceirizada prestadora desse serviço não foi renovado; estamos providenciando um outro; enquanto isso, o cliente pode se comunicar via site".

Já pensaram? Imediamente desabariam sobre a empresa todos os Procons, Ministério Público e delegacias do consumidor, sem contar a Polícia Federal. Os ministros das Comunicações e da Justiça prometeriam punições rigorosas à empresa. A Anatel já aplicaria as primeiras multas e exigiria a reabertura imediata do call center.

Pois bem, foi mais ou menos o que fez a Secretaria da Receita Federal no último dia 31. Anunciou a suspensão do seu call center, por problemas na renovação do contrato com a terceirizada e informou que todos os esforços estavam sendo feitos para a contratação de uma outra empresa. Enquanto isso, o contribuinte pode se virar no site da Receita, para fazer agendamentos, acertar parcelamentos ou tirar informações.

E está tudo bem. Não tem nada demais.

As regras para atendimento telefônico ao consumidor são muito rigorosas. Você sabia, por exemplo, que o call center de empresa privada tem apenas um minuto para transferir a ligação para o setor que resolva o problema? E que o atendimento deve funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana?

Nenhum órgão público cumpre essas regras, nem mesmo os Procons. Tente, por exemplo, reclamar do atendimento em alguma unidade do SUS. Já os hospitais e planos de saúde privados têm cada vez mais obrigações e sofrem severa vigilância.

Pode-se dizer que são contratos diferentes. No caso de uma empresa de celular, o consumidor escolhe e compra o produto e o serviço, de modo que se trata de um contrato privado entre duas partes. Tanto que o cliente pode, por exemplo, cancelar tudo. Aliás, a lei é muito precisa nisso. Se o consumidor ligar para o call center e disser logo de cara que deseja cancelar o serviço, isso tem que ser feito imediatamente, sem transferência de ligação e mesmo que o cliente esteja devendo.

Já com a Receita, ninguém pode ligar lá — muito menos nestes dias — e pedir o cancelamento dos serviços do órgão. Muitos até sonham com isso. Já pensou? Você ao telefone: "É, isso mesmo, quero cancelar tudo, declaração, pagamento e fiscalização, e não me transfira a ligação, nem coloque a musiquinha!"

Pois é, mas não pode. O contrato com a Receita é, digamos, obrigatório.

Mas por isso mesmo o cliente/cidadão deveria ser mais bem atendido. Entre outras coisas, porque é ele mesmo, com seus impostos, que está pagando o serviço e os funcionários que o prestam.

Isso vale para o SUS, para os Detrans, as delegacias de polícia, as prefeituras (tente obter em um minuto a resposta para seu projeto de reforma do banheiro) e, no limite, para a Presidência da República. Todo cidadão deveria ter o direito de ligar para o Palácio do Planalto, ser atendido em menos de um minuto, ter seu pleito (ou elogio, tudo bem) anotado e respondido em tempo determinado.

Agora, o que surpreendeu mesmo nesse caso do call center da Receita foi ter ocorrido com esse órgão, conhecido e premiado por sua eficiência tecnológica. Que a Valec, a estatal encarregada da construir ferrovias tenha ficado sem trilhos, por falhas nos contratos, a gente entende e até espera por isso. Mas logo a Receita se atrapalhar com um contrato...

xxxxx

Imposto sobre aluguel

Sabia o leitor que está em curso no Senado um projeto para que as prefeituras possam cobrar o Imposto sobre Serviços (ISS) sobre aluguéis residenciais e comerciais?

É isso mesmo. Num aluguel de mil reais, o inquilino pagaria mais cinquentinha, 5% de ISS.

Tem mais. Sabe baixar música via streaming? Pois é, mais 5%. Computação na nuvem, hospedagem de dados, áudio, vídeo etc. — mais 5% para a prefeitura.

Trata-se do projeto de lei do Senado número 386/2012. Além de mais uma garfada, se aprovado, vai gerar confusão na Justiça.

Ocorre que o Supremo Tribunal Federal, pela Súmula Vinculante 31, declarou inconstitucional a cobrança de ISS sobre locação de bens móveis. Disse que locação não é serviço. Logo a Súmula deve se aplicar também a bens imóveis, dizem advogados.

E o que dizem senadores? Que as prefeituras, especialmente das capitais, precisam de dinheiro.

O projeto de lei tem outra curiosidade. Diz que cometerá crime o prefeito que conceder desoneração de imposto.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 06/06

COPA DAS CONFEDERAÇOES NAO ENCHE HOTÉIS DO RIO
Com menos de 60% dos quartos ocupados para o evento, setor já teme sofrer com excesso de oferta depois de 2016

Amenos de dez dias da Copa das Confederações, a ocupação da hotelaria carioca para o período do campeonato está em 57,29%, segundo a ABIH-RJ. A estimativa é chegar a 70%. Mesmo que a previsão se confirme, o desempenho estará abaixo dos 75% de junho de 2012, quando a cidade abrigou a Rio+20, e empatada com a taxa do mesmo mês de 2011.O resultado morno, em parte, tem a ver com a crise mundial. Além disso, a Copa das Confederações é realizada em seis capitais, explica Alfredo Lopes, da ABIH-RJ. “Outra questão é que o volume de turistas estrangeiros que vêm ao Brasil está estagnado”, completa. O risco, continua Lopes, é que os mais de 12 mil novos quartos que o Rio terá até os Jogos 2016 virem um estorvo. O ministro do Turismo, Gastão Vieira, concorda que o Brasil está aquém do potencial para receber visitantes internacionais. “Investimos em promoção no exterior. Mas o problema maior é que estamos criando fama de destino caro. O que atrai o turista é o preço justo”, alerta. Hoje, Vieira se reúne com o setor hoteleiro em Brasília, para discutir as tarifas da Copa 2014. “Queremos evitar problemas, como na Rio+20”, diz. O evento ficou marcado pelas altas tarifas.

6,2 MILHÕES DE TURISTAS
É o número de visitantes estrangeiros que o Brasil deve receber este ano, estima o ministro Gastão Vieira. “Em 2012, o país recebeu 5,7 milhões. Foi pouco, mas crescemos 4,5%, apesar da crise”, diz.

Crédito
Bateu R$ 6 bilhões o total de financiamentos do Progredir, programa da Petrobras para ampliar e baratear o crédito à cadeia de fornecedores. Em dois anos, 510 empresas fecharam 1.200 operações. BB, Bradesco, Caixa e Itaú estão entre os bancos parceiros. As garantias são os contratos com a estatal.

Logística
A quantia, distribuidora química, fechou contrato com Petrobras/Cenpes.

Vai cuidar da operação de logística de amostras de pesquisas que saem dos campos da companhia. No total, 1.200 toneladas de produtos serão armazenadas no centro de distribuição em Duque de Caxias, dobrando o movimento atual.

Tecnologia
A Rio Negócios identificou oito empresas de tecnologia dos EUA interessadas na cidade. A agência carioca de atração de investimentos fez road show em São Francisco e Nova York, em maio. Estão na lista: US Market Access, General Assembly, 500 Startups, Dropbox, Square, PariSoma/Fabernovel, Foursquare e Voxy Capitalização
A Bradesco Capitalização registrou alta de 23,6% no faturamento no 1º trimestre, para R$ 983 milhões.

A carteira chegou a 22 milhões de títulos ativos. Rio de Janeiro (61,8%), Pernambuco (36,9%) e Piauí (32,3%) foram os estados de maior crescimento.

Por dentro
A Jambo Sports Business, de gestão esportiva, investigou fornecedores de material esportivo das 209 seleções do ranking da Fifa. A Adidas é a marca líder. Veste 61 seleções (29,2%). Nike e Puma têm 29 (13,9%), cada. A Copa das Confederações repete o trio. Adidas tem quatro times; Nike e Puma, dois cada.

Por fora
Patrocinadora da seleção, a Gatorade, de isotônicos, lança embalagens verde (limão) e amarela (tangerina) com imagens de dois convocados de Felipão: Lucas e Leandro Damião. A marca está fora da Copa das Confederações. Não tem contrato com a Fifa.

Festival
A ABP tirou do Rio o Festival Brasileiro de Publicidade. Em 2012, a festa foi em Búzios. Este ano, será em Campos do Jordão (SP), em outubro.


Livre Mercado
A joalheria Carla Amorim, de São Paulo, abre 1ª loja no Rio, hoje. Fica no Shopping Leblon. Prevê alta de 10% no fatura mento.

A Alice Disseabre loja no Barra Garden, 2ª. Investiu R$ 250 mil. Espera vender 30% mais.

Fiszpan e W Spa lançam concurso cultural na web. Esperam faturar 15% mais no Dia dos Namorados.

Na rede Werner, a cada R$ 200 em serviços clientes concorrem a viagem ou jantar romântico.

A procura deve subir 30%.

VIDEO BLOG
A City Shoes, de calçados e acessórios, começa a exibir hoje, nas lojas, vídeos com a blogueira Aline Lopes. Ela vai presentar produtos da marca. A meta é elevar em 20% as vendas. 

NO AR
A Finep usará como mídia dois aviões da Azul portrês meses, a partir de hoje. É para divulgara verba para projetos inovadores. O órgão federal já emprestou R$ 80 milhões à aérea. Acampanha é da Agência3.

SOBREMESINHA
A rede Yoggi lança hoje o frozen yogurt em miniformato. O Yoggizin vem em pote de 65 gramas. A meta é vender 15% mais. AQuiero assina a campanha.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 06/06

Bolsa quer facilitar IPOs de pequenas e médias empresas
A BM&FBovespa apresenta hoje ao ministro Guido Mantega (Fazenda) um projeto para dar maior acesso ao mercado de capitais para pequenas e médias empresas.

A ideia é estimular a abertura de capital de 15 mil empresas no Brasil com faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 400 milhões por ano.

"É um potencial espetacular que o país tem de empresas que seriam beneficiadas para poderem se financiar ao menor custo existente, que é o do mercado de ações", afirma Edemir Pinto, diretor-presidente da Bolsa.

Para ser criado, no entanto, o projeto precisa obter incentivos fiscais para essas companhias.

A BM&FBovespa fez um estudo sobre o mercado de capitais para pequenas e médias companhias depois de visitar sete países, entre eles Coreia do Sul, Inglaterra, Austrália, Canadá e Polônia, identificados como de bom desempenho nesse segmento.

Na Coreia, há várias operações na faixa de US$ 50 milhões a US$ 80 milhões.

"Queremos reduzir o tamanho dos IPOs [oferta pública inicial de ações] no Brasil, que são em média de cerca de R$ 400 milhões. Já foram de R$ 650 milhões, mas ainda são de valor alto", afirma.

"Em 2013, o mercado brasileiro de IPOs foi o segundo maior do mundo pelo volume de seis operações, com primeiras ofertas, e de emissões secundárias, que somaram R$ 18 bilhões", acrescenta.

Os Estados Unidos foram o primeiro, com cerca de 72 operações.

DA FÁBRICA PARA A LOJA
A Tip Top, empresa fabricante de roupas infantis que entrou no varejo há cinco anos, está preterindo suas raízes e reforçando a atuação no comércio. Neste ano, pretende abrir 15 franquias --atualmente são 70.

"Nossa estratégia é nos consolidarmos no varejo. As fábricas são secundárias. Inclusive, hoje temos ociosidade", afirma David Bobrow, sócio-proprietário do grupo TDB Têxtil, que detém a marca.

Quase ao mesmo tempo em que passou a abrir lojas, em 2008, a companhia começou a importar peças. Os desembarques, vindos principalmente da China, correspondem agora a 40% do total comercializado.

"O varejo exigiu produtos com um nível de elaboração e preços impossíveis de serem feitos no Brasil", diz.

"Apenas a linha de praia continua bem competitiva."

As lojas da marca devem faturar R$ 65 milhões em 2013 --alta de 23% ante o ano anterior. O grupo TDB estima uma receita de cerca de R$ 160 milhões.

Portos de SC terão obras para receber 'supernavios'
Os portos de Itajaí e de Navegantes, em Santa Catarina, receberão R$ 287 milhões para que navios de grande porte possam atracar no local.

Os governos federal e estadual fecharam ontem um acordo para repartir os custos das obras, que deverão começar ainda neste ano.

"Hoje, a largura do rio impede a entrada de embarcações maiores, com capacidade de 10 mil a 14 mil TEUs [unidade equivalente a um contêiner de 20 pés, ou cerca de seis metros]", diz o secretário estadual de Planejamento, Murilo Flores.

O governo catarinense estima que, até 2015, 65% dos cargueiros que chegarem aos portos do país terão essa capacidade.

Por isso, segundo o secretário, são necessárias mudanças para que a movimentação de Itajaí e de Navegantes não fique comprometida.

As obras concentram-se no aumento da bacia de evolução (alongamento da margem), para que os navios possam manobrar para o retorno, e do molhe norte (estrutura na entrada entre o mar e o rio).

Os recursos devem ser vinculados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O acordo foi firmado durante audiência em Brasília entre a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), o ministro interino da Secretaria de Portos, Mario Lima Junior, e o governador Raimundo Colombo (PSD).

5%
é quanto os dois portos representam da comercialização por contêiner no Brasil

85%
é a porcentagem no Estado de Santa Catarina

R$ 165 MILHÕES
serão custeados pelo governo federal

R$ 122 MILHÕES
é a parte que sairá dos cofres do governo catarinense

Mais shoppings... A companhia mineira Tenco Shopping Centers vai construir um shopping em Guarapuava, no Paraná. O projeto da nova unidade integra o plano de expansão da empresa, orçado em R$ 500 milhões.

...no Paraná Também estão previstas as inaugurações de quatro novos empreendimentos até dezembro deste ano. A empresa criou um fundo com o Pátria Investimentos e planeja abrir o capital em 2015 ou 2016.

CONSUMO INTERIORANO
O gasto com bens não duráveis em cidades do interior do país cresceu mais que nas regiões metropolitanas, segundo levantamento da consultoria Kantar Worldpanel.

No ano passado, a expansão do consumo com essas mercadorias em municípios do interior foi de 6%. A média nacional de crescimento ficou em 5,4%.

A pesquisa foi feita com base em dados de 8.200 famílias.

MATÉRIA-PRIMA EM FALTA
A Justiça Federal no Rio Grande do Sul negou recurso de empresas mineradoras e manteve suspensa a extração de areia no rio Jacuí, na região de Porto Alegre.

As atividades foram paralisadas no local, no mês passado, por causa de possíveis danos ambientais.

Desde então, o preço do mineral dobrou na capital gaúcha, afetando o setor de construção civil.

O valor do concreto também registrou alta --passou de R$ 235 o metro cúbico para R$ 260, de acordo com o Sinduscon/RS (sindicato da construção civil).

Antes dos trabalhos no rio serem interrompidos, três mineradoras exploravam areia na região. Juntas, elas eram responsáveis por suprir cerca de 95% da demanda de Porto Alegre e aproximadamente 60% da estadual.

É o câmbio virando - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 06/06

A decisão de zerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas entradas de capital estrangeiro destinadas a aplicações em renda fixa é o reconhecimento do governo de que as contas externas estão desequilibradas e precisam de ajuste.

Mas, atenção, o governo já vinha denunciando uma tendência indesejável nas contas externas, mas em sentido contrário. Era pelo lado de excesso de entrada de moeda estrangeira. Até há dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se notabilizava por denúncias de existência de uma guerra cambial prejudicial aos interesses da economia. Na mesma direção, a presidente Dilma atacava o "tsunami monetário" dos países ricos, a atuação dos grandes bancos centrais que inundam as praças dos países emergentes com excesso de moeda e alijam a indústria local dos mercados. O governo também vinha batalhando para coibir a especulação do capital estrangeiro com juros no Brasil - e essa foi a razão pela qual, em 2010, foi instituído esse IOF de 6%.

Agora, as coisas parecem reviradas. O capital estrangeiro especulativo, antes aproveitador das condições favoráveis do Brasil, não é mais afugentado. Ao contrário, passa a ser requisitado, seja especulativo ou não.

Por trás dessa nova postura está, como ficou dito, a já preocupante deterioração das contas externas (veja o gráfico ao lado). O saldo comercial fortemente positivo (exportações mais altas do que importações) pode desaparecer e transformar-se em déficit ainda este ano. Isso porque o brasileiro está consumindo parte do que antes era exportado e gastando mais em importações; os capitais internacionais não só tendem a ficar nos Estados Unidos, mas, também, a acorrer para lá. E, não menos importante, a desvalorização cambial (alta do dólar) no Brasil, tida até aqui como necessária para dar competitividade à indústria, começa a jogar contra outro objetivo agora vital para o governo Dilma, que é o controle da inflação.

Não basta reconhecer que as condições externas começam a mudar e que a grande bonanza de capitais pode diminuir. É preciso admitir que a economia brasileira está desequilibrada não só em relação aos novos ventos que sopram lá fora, mas, também, está descontrolada em relação aos objetivos propostos aqui dentro: crescer entre 3% e 4% ao ano e, para isso, trabalhar para ter um investimento em torno de 24% do PIB; impedir um desemprego superior a 6% ao ano; garantir a inflação na meta; obter um equilíbrio nas contas externas e reverter a estagnação da indústria.

Para isso, não basta construir um puxadinho aqui e outro ali para aproveitar melhor a casa. Vai ser necessário recolocar no lugar os fundamentos da economia. Não é verdade que as contas públicas estejam à beira do precipício. Elas apenas não estão no nível adequado para dar conta do que tem de ser feito.

Vai ser necessário muito mais disciplina fiscal e mais redução do consumo interno (proporcionado pelas transferências de renda) para que sobrem recursos para o investimento e para que a economia brasileira esteja em condições de enfrentar o tranco que vem aí.

A maldição dos Bourbons - EVERARDO MACIEL

O ESTADÃO - 06/06

Talleyrand (1754-1838), notável político e diplomata francês, reservava um juízo pouco lisonjeiro sobre os Bourbons, ao sentenciar que eles nada esqueciam e nada aprendiam.

Esse sarcástico juízo é bem apropriado para qualificar alguns episódios recentes da política fiscal brasileira, especialmente quando se considera o preocupante contexto que inclui o recrudescimento da inflação, o modesto desempenho do PIB, a instabilidade dos juros e do câmbio, a abandonada política de austeridade fiscal, a desconfiança recorrente dos investidores e a imprevisibilidade do cenário externo.

Impressiona muito a abundância de soluções esdrúxulas para velhos problemas – algumas já testadas e reconhecidamente ineficazes. Prevalece nosso histórico pendor por pajelanças e meizinhas.

O desequilíbrio fiscal é enfrentado por patéticas invencionices contábeis, consistindo em aditar receitas fictícias e subtrair despesas reais, na presunção de que todos são ignorantes.

As tentativas de controlar o surto inflacionário reproduzem conhecidas e malsucedidas práticas, desde o intervencionismo voluntarista nos preços administrados e monitorados (energia elétrica, combustíveis, transportes públicos, etc.) até a desoneração tributária pontual, que só torna mais complexo o sistema tributário. Algumas iniciativas, na área fiscal, concorrem para agravar ainda mais esse lamentável quadro.

Ao que parece, continuamos sem entender a natureza da guerra fiscal. Após a estapafúrdia Resolução nº 13 do Senado, concebida para combater especificamente a denominada "guerra dos portos", foi proposto um pacote de medidas, abrangendo uma pífia e temporária alteração na Lei Complementar nº 24, que dispõe sobre a concessão de incentivos fiscais no âmbito do ICMS, uma complexa e insubsistente alteração nas alíquotas interestaduais daquele imposto e a criação de fundos para compensar as perdas dos entes federativos. Esses fundos demandariam, no curso de sua existência, recursos acima de R$ 400 bilhões, com óbvia repercussão sobre a carga tributária. Felizmente, ao menos por ora, interrompeu-se a tramitação do malsinado pacote.

O controle da guerra fiscal deveria pautar-se nos seguintes pressupostos: não se pode retirar dos Estados competência para conceder benefícios fiscais do ICMS com o objetivo
de reduzir disparidades inter-regionais de renda, desde que observados determinados requisitos; o veículo normativo deveria ser a lei complementar, como prevê a Constituição, e não Resolução do Senado, destinada a estabelecer a partilha horizontal de rendas; deveriam ser fixadas sanções pelo descumprimento das normas, caso contrário serão apenas regras de boas maneiras; a questão deveria ser tratada conjuntamente com outras questões federativas, como dívidas dos estados e municípios perante a União e critérios de distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e dos royalties do petróleo.

Passados mais de três anos após a decisão do STF que considerou inconstitucionais os vigentes critérios de rateio do FPE, o Congresso está prestes a aprovar nova lei complementar dispondo sobre a matéria. A nova lei surpreende ao, de forma oblíqua, prorrogar por dois anos os critérios vigentes. Se se trata de prorrogação, por que a nova lei? Além disso, mantém o que foi tido como inconstitucional pelo STF, em afronta direta
à decisão daquela Corte.

O fundamento utilizado para dar sustentação ao projeto de lei complementar é estarrecedor. Argumenta-se que a "prorrogação" dos critérios inconstitucionais dar-se-ia em respeito aos contratos celebrados pelos governos estaduais no âmbito dos planos plurianuais!

Afora isso, a Câmara dos Deputados acaba de aprovar projeto de lei complementar que permitirá a criação de mais de 400 novos municípios e os correspondentes "empregos" de prefeitos, vereadores e assessores.

É assim que cresce a carga tributária. Continua atual a máxima de Nelson Rodrigues: "Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos".


Suspensão das travas - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 06/06

O ministro Guido Mantega está convencido de que o Brasil tem, no comércio exterior, problemas pontuais. "É a conta petróleo que representa a maior do déficit deste ano," disse ele. Segundo ele, a decisão de suspender as barreiras ao dólar para aplicação em renda fixa foi tomada a partir da constatação de que começa a mudar o cenário monetário internacional.

O cenário em que foram instaladas travas sucessivas à entrada de dólar no país foi o do começo de 2011, quando em três meses entraram US$ 36 bilhões, derrubando o dólar e tirando a competitividade da economia brasileira. Os juros estavam mais altos, acima de 11%, e havia maior liquidez internacional.

- A economia americana está começando a mudar. Não está tão bem quanto dizem, porque o ISM (pesquisa com os gerentes de compras das empresas) deu abaixo de 50 pontos (o que representa, em geral, queda da produção industrial), mas o Fed começou a dar sinais de reduzir o ritmo dos estímulos monetários. O mercado antecipa e começa a tomar suas decisões de alocação de recursos prevendo um desmonte da liquidez. É por isso que o Brasil tem que se preparar para um ambiente em que não haverá enxurradas de dólares para países emergentes - explicou o ministro.

Primeiro, foi retirado o IOF sobre renda variável, depois, sobre empréstimos internacionais feitos por empresas e bancos. O IOF só não era cobrado para quem tomasse crédito acima de 5 anos, agora, empréstimos a partir de 360 dias já não pagam:

- Mas não tem empresa nem banco querendo pegar dinheiro curto, a tendência é crédito mais longo mesmo.

Na terça-feira, o ministro anunciou que a terceira trava ao câmbio foi retirada: a que pesava nas aplicações de renda fixa. Normalmente, esse dinheiro é identificado com o capital especulativo, mas o ministro alega que o interesse de fazer "a arbitragem" de juros é menor porque as taxas brasileiras caíram, em relação há dois anos, quando as barreiras ao câmbio foram instaladas. De fato, caíram, mas agora nós estamos no meio de um ciclo de alta de juros. Mantega nega que a retirada do IOF seja uma forma de atrair capital especulativo para cobrir o déficit em transações correntes:

- O déficit vai ser de 2,8% a 3% do PIB. É um número financiável. O mercado está favorável ao Brasil. O BB Seguridade acabou de captar US$ 3 bilhões, a Petrobras, US$ 11 bilhões. E eu acho que daqui para a frente haverá mais interesse em investimentos no Brasil com as novas rodadas de petróleo, principalmente a do pré-sal, que é num campo muito promissor.

Para Mantega, o déficit comercial do petróleo tende a cair de agora em diante porque a Petrobras aumentará a produção com as novas plataformas entrando em operação e até com as novas refinarias:

- A Bacia de Campos caiu muito a produção, chegando a 70%, mas a tendência é aumentar agora com a entrada de 14 novas plataformas.

Ele confia que, ao fim das paradas técnicas em várias plataformas e a entrada das novas, a produção sairá dos atuais 1,9 milhões de barris/dia para 2,2 milhões. E o Brasil importará menos.

Argumentei que grande parte desse rombo do petróleo foi causado pelo subsídio concedido pelo governo ao uso da gasolina através do controle de preços. Ele disse que isso também está mudando:

- Os preços foram elevados aqui, e lá fora o preço do petróleo está caindo, e isso esta diminuindo o diferencial de preços.

Apesar das dificuldades no balanço de pagamento e da alta da inflação, ele sustenta que a tirada do IOF não é para tentar segurar a alta do dólar.

- A tendência é deixar o câmbio flutuar ao máximo. Por isso o BC tem feito muito menos intervenção no mercado. Ele atua quando é para evitar a volatilidade que tira a previsão da economia - disse Mantega.

PIB tartaruga? Acelera, Brasil! - ROBERTO MACEDO

ESTADÃO - 06/06

Começo insistindo na minha pregação contra o termo "pibinho". O Produto Interno Bruto (PIB) é um valor absoluto, e esse diminutivo é erroneamente empregado como referência à sua taxa de variação. O que se vê são taxinhas. O PIB é um "pibão" que coloca o Brasil como a sétima economia mundial. Contudo, tal tamanho não é documento para medir o desenvolvimento do País. O que vale é outra proporção, o PIB por habitante, que o deixa no meio do caminho, nem muito pobre nem rico. E corre o risco de ficar por aí com essas taxinhas.

Assumem várias formas. Usarei só uma delas, a mais à frente no tempo. É a do primeiro trimestre de 2013 relativamente ao quarto de 2012, que foi de apenas 0,6%. Se repetida até o fim do ano, levaria a um crescimento anual de 2,42%. Também uma taxinha, pois o Brasil poderia ver o dobro disso com uma política econômica digna do nome. Sua grande fragilidade é o lado fiscal federal, de receitas e gastos. Arrecada demais, gasta mal e é dominado pelo objetivo de reeleger a presidente. A economia segue a reboque. E já há analistas prevendo um crescimento mais perto de 2%.

O que se passa com o PIB? Quase tudo em economia gira em torno de oferta e demanda. Oferta é o lado da produção. A demanda define o destino que lhe é dado por quem a adquire. Na oferta, a agropecuária mais uma vez foi a salvação da lavoura nacional, pois, ao crescer 9,7% (!) no trimestre, impediu uma taxinha do PIB ainda pior. A indústria andou na contramão, com -0,3%, e os serviços avançaram 0,5%, perto da taxinha do PIB.

Na demanda, o consumo das famílias, que o governo sempre se empenhou em estimular, aumentou apenas 0,1% no trimestre. Entre outras razões, há o maior comprometimento da renda familiar com endividamento e a inflação maior, que até estimulou a oposição. O consumo do governo, usualmente crescente, desta vez não aumentou nada, e seria bom que ficasse por aí. O que o governo precisa aumentar mesmo é o seu investimento.

Quanto ao investimento em geral, teve um desempenho robusto de 4,6%, mas vindo de valores muito baixos. Em parte, foi estimulado temporariamente pela demanda de caminhões, turbinada por incentivos governamentais e pela demanda que se havia contraído enquanto aguardava novos modelos com motores ajustados a novas exigências ambientais.

A demanda pelo PIB inclui a de outros países, atendida via exportações, que mostraram forte retrocesso, de 6,4%. Já a demanda externa brasileira, de importações, cresceu fortemente, à taxa de 6,3%, e beneficiou o PIB de outras nações.

Uma síntese do lado da oferta indica que um setor muito ajudado pelo governo, a indústria, atrapalhou o PIB. E a agropecuária ajudou, mesmo com o governo a atrapalhando ao não lhe prover uma infraestrutura de transportes adequada. Muito ajuda quem não atrapalha, é um velho ditado que deveria ser objeto de permanente reflexão nos gabinetes governamentais.

É claro que esse resultado poderia ser visto de outro modo, com o governo tentando ajudar quem não está bem, como neste caso crônico da indústria. Mas, de qualquer forma, mostra que o tratamento não funciona a contento. Em particular, medicações adotadas têm efeitos colaterais. Por exemplo, o estímulo ao consumo via crédito vaza em parte para importações. Desonerações da folha de pagamento para ampliar a competitividade e a produção das empresas podem ter seu efeito diluído por aumentos das margens de lucro.

O Brasil tem hoje problemas mais do lado da oferta. O caminho está em estimular a produção mediante ampliação de investimentos que fortaleçam a capacidade produtiva do País. Ou seja, a de gerar PIBs maiores a taxas satisfatórias, e não essas taxinhas que o IBGE registra.

Esse caminho envolve várias rotas, e uma das mais importantes é a do investimento em infraestrutura nas suas várias dimensões, como a de energia e transportes em geral, de grande impacto econômico, e a de natureza social, em ações como saneamento básico, transporte urbano de passageiros e programas habitacionais. Em infraestrutura, o papel governamental é indispensável, como condutor do processo e também mediante seus próprios investimentos. Mas faltam-lhe recursos e capacidade gerencial para fazer e administrar o que foi feito. Assim, tem e terá de recorrer a concessões de serviços públicos e a parcerias público-privadas.

Ainda que muito tardiamente, parece que o governo federal acordou para essa necessidade. São Paulo é um Estado que despertou bem antes, e bons resultados são evidentes. Basta transitar pelas estradas estaduais e compará-las com as de outros Estados, inclusive as federais, que fazem as interligações entre eles, para perceber a diferença.

Mas o governo federal despertou ainda um tanto sonolento. No ano passado, entusiasmei-me com o seu programa de concessão de ferrovias e rodovias, no valor de R$ 133 bilhões, anunciado pela presidente Dilma em 15 de agosto. Foi dito que logo seria posto em andamento, com licitações entre dezembro de 2012 e maio deste ano, o que até aqui não ocorreu. Já está próximo do primeiro aniversário...

Enfim, mais investimentos são a rota corretamente escolhida pelo governo, mas é preciso acelerar em muito a velocidade de seus projetos e obras. O PIB se mede por unidade de tempo. Falei do PIB trimestral, mas há também o anual e o mensal, além de outros, sempre avaliados nessa dimensão temporal. Assim, uma forma de acelerá-lo é fazer tudo mais rápido. Os economistas chamam isso de aumento da produtividade, mas acho que é preciso comunicar melhor a mensagem. Assim, recorri ao apresentador Galvão Bueno em suas mensagens a Ayrton Senna e optei por: "Acelera, Brasil!". É o grito que repetidamente deveria ecoar pelo País e ser ouvido e seguido pelos governantes que o pilotam.

A missão da educação - MARCELO MITERHOF

FOLHA DE SP - 06/06

A educação não é tão crucial ao desenvolvimento como dito por alguns; ela é mais resultado do que requisito


É comum o argumento de que o ensino de baixa qualidade é a causa final da dificuldade do Brasil de se tornar desenvolvido.

Em épocas de prosperidade, isso é usado para alertar contra a ilusão do consumo. Como a economia é cíclica, as crises sempre chegam, dando a chance para a constatação implacável: "Viu no que dá não fazer o dever de casa?".

Há ainda um uso diversionista do tema. Ninguém discorda de que a educação precisa melhorar no Brasil. Contudo, não é isso que está em jogo no debate econômico. O apelo à educação é um expediente de quem crê que o Estado não deve ter políticas monetária e fiscal ativas nem intervir nos esforços produtivos.

O ativismo econômico atrapalharia sua ação naquilo em que ele seria de fato crucial: a educação. População educada, carga tributária baixa etc. bastariam para estimular o empreendedorismo e, assim, o desenvolvimento.

Entretanto, a educação não é tão crucial ao desenvolvimento econômico, como obstáculo ou alavanca. Se preciso, não faltam engenheiros europeus dispostos a trabalhar no Brasil. Se ela fosse um impulso tão decisivo, a Rússia seria hoje altamente desenvolvida, pois o comunismo fez um dos mais impressionantes esforços de educação e ciência já vistos.

A educação é mais resultado do que requisito do desenvolvimento. É claro que as coisas se retroalimentam, mas o arranque vem mais do aspecto econômico. Na Coreia, a educação é um sucesso, mas foi o capitalismo coreano que puxou o desenvolvimento. De qualquer forma, não há um dilema em questão. A educação tem um valor em si e é dessa maneira que vale a pena tratar do tema.

Pouco entendo de educação. Ainda assim, peço licença para fazer algumas reflexões diletantes. Agir diletantemente tem o sentido de fazer algo com amor ou de forma pouco sistematizada. As reflexões a seguir sofrem das duas coisas.

Uma das razões que me fizeram cursar outra faculdade foi a vontade de após a aposentadoria dar aulas na escola pública. Isso mostra um dos problemas do ensino básico no Brasil: não ser uma boa opção de emprego. Ser professor, sim, mas só quando não precisar mais trabalhar para ganhar a vida.

Nas gerações mais antigas de minha família, há pelo menos seis professoras de escola pública. A profissão era uma boa opção, ao menos para mulheres, quando o trabalho feminino não era tão comum. Hoje, apenas uma prima é professora.

Um país de renda mediana como o Brasil pode pagar um salário anual médio de R$ 100 mil para que o magistério seja uma profissão atrativa. Como o país tem cerca de dois milhões de docentes na escola básica, o gasto anual ao fim da mudança seria de R$ 200 bilhões, menos de 5% do PIB de 2012.

O aumento salarial ao menos em parte precisaria depender de novos concursos. Senão, há o risco de aumentar o gasto sem melhorar a qualidade dos professores. Talvez o papel direto da União na educação básica devesse aumentar, realizando concursos nacionais para contratar professores e criar um sistema de alocação que incentive o jovem de regiões mais ricas a se mudar.

O Brasil também pode tirar vantagens do atraso. Mesmo nos países ricos, é comum privilegiar os aspectos culturais do conhecimento. O Brasil pode saltar à frente intensificando a dedicação às ciências, enfatizando conteúdos mais atuais. Ensinar aos jovens noções básicas de mecânica quântica, relatividade, neurociência e geometrias não euclidianas, entre outras coisas, não é tão difícil.

Tais alterações curriculares sofisticam o entendimento que temos do mundo, por exemplo, flexibilizando o determinismo da física newtoniana e o domínio da geometria euclidiana na racionalização do espaço.

Isso não quer dizer que se deva reduzir o espaço das humanidades. Por exemplo, no Brasil o esforço em línguas precisa crescer. Há também o que ser revisto em história, que tem sofrido com um peso excessivo do entendimento marxista.

Essas são mudanças tão difíceis que o seu equacionamento fiscal deve ser o menos problemático. Para citar um obstáculo, o conflito de ter dois corpos docentes seria enorme e duro de resolver. Outra dúvida é se o país tem hoje quantidade de pessoas preparadas para promover as mudanças de conteúdo.

A tarefa não é trivial. Mas ajuda a fazer escolhas ao menos ter claro por que a educação é prioridade: ela é uma missão civilizatória.