O GLOBO - 25/05
A verdade que enfim emerge é condição de uma verdadeira reconciliação e fala por si: a tortura desonra quem a pratica
As carantonhas de torturadores e estupradores voltaram a assombrar os telejornais no último mês. Tudo os aproxima, parecem feitos de um mesmo barro. Inspiram igual indignação e repulsa. É melhor retirar as crianças da sala, é cedo para que conheçam o lado tenebroso do ser humano.
Estupro e tortura são crimes que exprimem uma radical negação da humanidade do outro. É martirizando o corpo que o torturador obriga alguém a falar. A força bruta parte ao meio a vítima, anula sua vontade, obrigando-a a fazer o que mais lhe repugna. O corpo, pela dor, cumpre o que o espírito recusa. A vítima se esfacela e carrega, desde então, um injustificado, mas recorrente, sentimento de culpa.
O estupro não é somente um crime covarde contra as mulheres. Desfigura suas relações mais íntimas com os homens, é um crime contra o amor. Ancestral, tem suas raízes na lei da selva e fermenta nas múltiplas agressões ao sexo feminino com que a sociedade contemporânea — o que é estarrecedor — ainda convive. O apartheid supostamente necessário nos trens da SuperVia é o exemplo da sobrevivência desse comportamento primata.
Desde que uma turista canadense foi violada dentro de uma van no Rio de Janeiro, o que provocou intensa comoção, veio à tona o que a opinião publica não sabia: não se trata de um caso esporádico. Existem no país dezenas de iniciativas solidárias que acolhem e socorrem mulheres violadas e nesses círculos é sabido que o estupro é uma ameaça que paira sobre qualquer mulher e independe da aparência ou personalidade da vítima.
Os dados oficiais, registrados nas Delegacias de Atendimento à Mulher, revelam a média de 17 casos de estupro por dia no Estado do Rio de Janeiro, o que caracteriza uma epidemia, aberração que clama por uma ação pública exemplar. Quantas outras calam por vergonha ou medo? A vergonha, o sentimento de imundície, de desonra, tudo corrobora na destruição psíquica da vítima que se refugia, solitária, no silêncio sem que por isso se cale sua memória dolorida.
No estupro como na tortura um paradoxo perverso se instala: as vítimas se autoflagelam enquanto os algozes se autoabsolvem. “Ela é uma sedutora, que me provocou”, diz o sádico travestido em pobre coitado. “É assim que se lida com terroristas”, proclamam os arautos da necessidade e da eficácia da tortura. Dar crédito a esse tipo de justificativa é uma forma de cumplicidade.
Tortura e estupro são crimes cujo alcance transcende as vítimas. Atentam contra a essência mesma de nossa humanidade, levam à falência todo um processo civilizatório que aboliu a lei do mais forte. Pela ferida que abrem no psiquismo individual e coletivo requerem uma tomada de posição radical da sociedade a favor da vítima, jamais do agressor. Sob pena de abrir uma fenda em si mesma, por onde passam os argumentos que vão corroer a democracia e acobertar barbáries.
A Comissão da Verdade acaba de apresentar seu primeiro relatório. Seu trabalho é, ao mesmo tempo, reconstrução da História do Brasil e da história das vítimas, já que só a verdade pode libertá-las, iluminando as zonas de sombra da memória. E, mesmo assim, há cicatrizes indeléveis. O escritor italiano Primo Levi, prisioneiro em um campo de concentração nazista e que quarenta anos depois se suicidou, em uma frase lapidar resumiu a tragédia do século XX: “Eu saí de Auschwitz, mas Auschwitz nunca saiu de mim.”
Os torturadores que queriam tanto que os torturados, subjugados, falassem agora querem que eles, homens e mulheres, hoje senhores de sua vontade, se calem.
Os sete membros da Comissão da Verdade, nomeados pela presidente da República, foram acusados por um coronel do Exército de “revanchismo de esquerda”, de “estar do lado dos que perderam na revolução”. Dos que ele chama, com desdém, “os derrotados”.
Ledo engano. A democracia que tanto nos custou restabelecer é a derrota da ditadura. A democracia brasileira elegeu para a Presidência da Republica uma mulher que foi torturada e que, recentemente, chamada de terrorista pelo ex-comandante de um dos principais centros de repressão da ditadura militar, ignorou a provocação, como convém a uma chefe de Estado. Nossa democracia é bem mais sólida do que imaginam aqueles que menosprezam os seus fundamentos.
A verdade que enfim emerge é condição de uma verdadeira reconciliação e fala por si: a tortura desonra quem a pratica. Essa é a lição do passado e um compromisso de nunca mais. Para os que, incapazes de arrependimento, persistem em justificar o injustificável, a sentença já lavrada é o desprezo.
sábado, maio 25, 2013
Boato! Neymar vai pro Vostok! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 25/05
Neymar deixa aquele topete crescer de novo e vai pra Disney fazer o papel do Mamute na "Era do Gelo 6"!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Qual o boato de hoje? Que o Palmeiras comprou o Messi! Ou, como diz o chargista Renato: "O boato hoje é que o Neymar vai pro Corinthians!".
Mas o Piauí Herald revela que o Neymar recebeu uma oferta do Circo Vostok! Como malabarista, equilibrista e foca! Rarará!
Melhor, vai treinar com os golfinhos de Miami! Melhor ainda, ele deixa aquele topete crescer de novo e vai pra Disney fazer o papel do Mamute na "Era do Gelo 6"!
Mas eu sei pra onde ele vai hoje com certeza: pro salão! Pro secador! Rarará!
E o verdadeiro boato de hoje é que o pastor Feliciano saiu do armário!
E a novela da bicha má? Essa novela não tem "Amor aos Ouvidos": Daniel e Paula Fernandes! Isso não é uma trilha, é um atentado terrorista, uma ameaça nuclear!
O Daniel grita mais que arara no cio: "Vida! Vida! Vida". Aliás: "Grita! Grita! Grita!". Parece um porco sangrando. Rarará!
E em homenagem à bicha má, ele deveria cantar: "Biiba! Biiiba! Biiiba".
E o tuiteiro Edudhow postou que "a Paula Fernandes parece locutora de rodoviária, tudo igual no mesmo tom: ônibus para o Rio, plataforma 45, ônibus para Natal, plataforma 28".
E por que a Bárbara Paz tá sempre com a maquiagem borrada?!
E atenção! O site Kibeloco mostra as manchetes de 2030! Como será o Brasil em 2030? Esportes: 1) "Conheça Caxirola, a menina de 16 anos que foi gerada durante a Copa de 2014." Parece o "Globo Repórter": "Conheça Caxirola, o que come, o que veste, o que pensa!"
2) "Neymar fecha com o Barcelona e promete beber até ficar em pé." Rarará!
Essa eu adorei: o Neymar vai beber até ficar em pé!
Política: "Criadas Comissões de Meias Verdades, Mentiras e Não Conto Nem F*DENDO". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E o Aécio foi ao "Programa do Ratinho" e disse que o PSDB é o pai da Bolsa Família.
Ué, mas o Bolsa Família não foi inventado pelo Lula pra sustentar vagabundo, como dizem por aí?! Vá entender! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Neymar deixa aquele topete crescer de novo e vai pra Disney fazer o papel do Mamute na "Era do Gelo 6"!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Qual o boato de hoje? Que o Palmeiras comprou o Messi! Ou, como diz o chargista Renato: "O boato hoje é que o Neymar vai pro Corinthians!".
Mas o Piauí Herald revela que o Neymar recebeu uma oferta do Circo Vostok! Como malabarista, equilibrista e foca! Rarará!
Melhor, vai treinar com os golfinhos de Miami! Melhor ainda, ele deixa aquele topete crescer de novo e vai pra Disney fazer o papel do Mamute na "Era do Gelo 6"!
Mas eu sei pra onde ele vai hoje com certeza: pro salão! Pro secador! Rarará!
E o verdadeiro boato de hoje é que o pastor Feliciano saiu do armário!
E a novela da bicha má? Essa novela não tem "Amor aos Ouvidos": Daniel e Paula Fernandes! Isso não é uma trilha, é um atentado terrorista, uma ameaça nuclear!
O Daniel grita mais que arara no cio: "Vida! Vida! Vida". Aliás: "Grita! Grita! Grita!". Parece um porco sangrando. Rarará!
E em homenagem à bicha má, ele deveria cantar: "Biiba! Biiiba! Biiiba".
E o tuiteiro Edudhow postou que "a Paula Fernandes parece locutora de rodoviária, tudo igual no mesmo tom: ônibus para o Rio, plataforma 45, ônibus para Natal, plataforma 28".
E por que a Bárbara Paz tá sempre com a maquiagem borrada?!
E atenção! O site Kibeloco mostra as manchetes de 2030! Como será o Brasil em 2030? Esportes: 1) "Conheça Caxirola, a menina de 16 anos que foi gerada durante a Copa de 2014." Parece o "Globo Repórter": "Conheça Caxirola, o que come, o que veste, o que pensa!"
2) "Neymar fecha com o Barcelona e promete beber até ficar em pé." Rarará!
Essa eu adorei: o Neymar vai beber até ficar em pé!
Política: "Criadas Comissões de Meias Verdades, Mentiras e Não Conto Nem F*DENDO". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E o Aécio foi ao "Programa do Ratinho" e disse que o PSDB é o pai da Bolsa Família.
Ué, mas o Bolsa Família não foi inventado pelo Lula pra sustentar vagabundo, como dizem por aí?! Vá entender! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Nem é bom lembrar. Ou é - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 25/05
No momento em que a Comissão da Verdade confirma que a tortura já era amplamente utilizada pelos militares em 1964, e não a partir de 1968, como resposta à luta armada, não se pode deixar de lembrar um episódio de muita repercussão na época e que se tornou emblemático por ter ocorrido em praça pública e com direito a plateia, como se fosse um daqueles espetáculos bárbaros de antigamente. Nos primeiros dias do golpe, o líder comunista Gregório Bezerra, depois de selvagemente espancado dentro de um quartel do Exército em Recife, foi puxado para a rua, onde aconteceu o que ele contou ao "Pasquim" em 1978, numa entrevista nunca desmentida. "O coronel Vilocq (Darcy Viana) gritava para a massa: "Lincha esse bandido, matem, joguem garrafas, pedaços de ferro, pedras nesse monstro que queria incendiar o bairro para queimar crianças"." Horrorizadas, as pessoas viravam o rosto. "Saíram me arrastando até o jardim da Casa Forte, onde Vilocq fez outro comício concitando a me linchar. Mais uma vez ninguém atendeu, o que me encorajava, me dava uma vontade louca de resistir."
A cena, presenciada pela então jovem advogada Mércia Albuquerque, foi assim descrita por ela: "Gregório, vestindo apenas calção preto, com a cabeça fraturada sangrando, banhado de suor, com os pés que haviam sido mergulhados em soda cáustica e os pulsos feridos pelas algemas, tinha uma corda de três pontas amarrada no pescoço e era arrastado por um grupo de soldados, seguido por um carro de combate." Segundo ainda seu relato, "o tenente-coronel Darcy Vilocq ensandecido agitava uma vareta de ferro e gritava, apoplético, injúrias contra o velho militante comunista, seu prisioneiro. Como se dirigisse um ato de fé da Inquisição, conclamava os espectadores tomados de pânico: "Venham ver o enforcamento do comunista Gregório Bezerra!""
Enquanto o cortejo sádico circundava a Praça da Casa Forte, com transmissão ao vivo por uma rádio e um canal de televisão, religiosos liderados por uma freira acionaram Dom Lamartine, bispo auxiliar, que telefonou para o general Justino Alves Bastos solicitando sua interferência. O então comandante do 4º Exército interveio, impedindo que a barbárie fosse coroada com o anunciado enforcamento.
Enfim, nem é bom lembrar essas coisas. Ou é - para que não se repitam. A História, já se disse, não deve servir de exemplo, mas pode servir de lição. É o que a Comissão da Verdade está tentando fazer.
Por falar em passado, vou parodiar os adversários de Richard Nixon: você compraria um carro usado do atual presidente do Brasil?
A cena, presenciada pela então jovem advogada Mércia Albuquerque, foi assim descrita por ela: "Gregório, vestindo apenas calção preto, com a cabeça fraturada sangrando, banhado de suor, com os pés que haviam sido mergulhados em soda cáustica e os pulsos feridos pelas algemas, tinha uma corda de três pontas amarrada no pescoço e era arrastado por um grupo de soldados, seguido por um carro de combate." Segundo ainda seu relato, "o tenente-coronel Darcy Vilocq ensandecido agitava uma vareta de ferro e gritava, apoplético, injúrias contra o velho militante comunista, seu prisioneiro. Como se dirigisse um ato de fé da Inquisição, conclamava os espectadores tomados de pânico: "Venham ver o enforcamento do comunista Gregório Bezerra!""
Enquanto o cortejo sádico circundava a Praça da Casa Forte, com transmissão ao vivo por uma rádio e um canal de televisão, religiosos liderados por uma freira acionaram Dom Lamartine, bispo auxiliar, que telefonou para o general Justino Alves Bastos solicitando sua interferência. O então comandante do 4º Exército interveio, impedindo que a barbárie fosse coroada com o anunciado enforcamento.
Enfim, nem é bom lembrar essas coisas. Ou é - para que não se repitam. A História, já se disse, não deve servir de exemplo, mas pode servir de lição. É o que a Comissão da Verdade está tentando fazer.
Por falar em passado, vou parodiar os adversários de Richard Nixon: você compraria um carro usado do atual presidente do Brasil?
A vida dos outros - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
FOLHA DE SP - 25/05
Nos blogs dos estrangeiros que moram no Brasil, o sofrimento de quem tenta entender o país
D. se mandou da Califórnia por amor. Despencou em "Caipirópolis", depois viveu numa cidade feia de praia, hoje mora em algum ponto próspero do interior paulista, onde encontra até comida coreana.
G., irlandês, vive no Recife. Adepto do realismo fantástico, escreve minicontos em que expressa seu desgosto diante da realidade local. "Como o ponto decimal arruinou o Brasil" é sua obra mais recente.
C. também mora numa capital, Florianópolis. Algumas vezes, ele reclama do Brasil. Em outras, também. Californiano, surfista, ele se expressa com ambiguidade. Seus textos são amargurados; suas fotos, só alegria: um mundo de camisas abertas no peito e índices muito baixos de gordura corporal.
M. está no interior de Minas. Faz parte de uma onda muito recente, muito específica e muito interessante de imigrantes: a das americanas que se casaram com mineiros na região de Boston, e agora acompanham seus maridos que decidiram voltar ao Brasil.
Sigo as vidas de D., G., C. e M. Os quatro têm blogs. Seus diários on-line, claro, são públicos. Mas, talvez por escreverem em inglês, percebe-se que os autores não imaginam ser lidos no Brasil. Eles se dirigem aos amigos e parentes "back home", desabafo e desilusão são os sentimentos mais comuns.
De todos, D. é quem mais pratica a tolerância e, por que não dizer, o relativismo cultural. Formada em linguística pela excelente Universidade da Califórnia em Berkeley, ela vem do ambiente onde o politicamente correto foi inventado. Ainda bem. Só assim para sobreviver ao choque.
D. ensinava inglês em San Francisco quando conheceu um aluno brasileiro, estudante de medicina no interior de São Paulo. O curso de inglês era curto, o namorado logo voltou ao Brasil. Pouco depois, ela veio atrás. Só que a cidade onde o rapaz fazia faculdade era um pouco menos que nada. D. apelidou o lugar, carinhosamente, de "Caipirópolis".
Depois de formado, o garotão arrumou emprego no litoral. D. postou algumas fotos do novo apartamento, que dava vista para uma parede. Os vizinhos tinham o curioso hábito de atirar lixo pela janela.
Agora, ele faz residência médica em uma cidade do interior mais rica e menos morta, que D. chama de Springfieldee (brincadeira com a fictícia Springfield, dos Simpsons). A californiana tolerante, finalmente, se sente mais em casa.
O mesmo não se pode dizer de G., o irlandês do Recife. Seus posts semificcionais, de humor ácido, mostram que ele se sente em um pesadelo sem fim.
Na apresentação do blog, de 2012, G. cospe fogo: "Vivo no Recife há quase dois anos, e essa cidade me enlouquece. É suja. Sinto que, pelo fato de nada funcionar, me tornei uma pessoa mais rude (...) Tento descrever como é morar numa cidade em que nada faz muito sentido".
Também não faz muito sentido o blog de C., o surfista californiano de Floripa. Ele é, digamos, o menos intelectual da turma. Empresário, veio ao país para abrir restaurantes. "Viver no Brasil pode levar qualquer homem normal à insanidade", decreta.
Diatribes contra a burocracia e a corrupção brasileiras são os temas dominantes. O tom em geral é tão amargo que eu nem prestava atenção nas fotos. Imaginava serem imagens genéricas do Google.
Até que notei um sujeito atlético e sempre sorridente em todas elas. Era C.! Surfando, curtindo em um iate, em festas maravilhosas, depois em festas mais maravilhosas ainda, com mulheres espetaculares, depois com mulheres mais espetaculares ainda, na praia com uma namorada de interromper o tráfego aéreo... E ele ainda reclama.
Bem menos glamourosa é a vida de M., a americana que acompanhou o marido brasileiro na volta ao interior de Minas. Com a ética protestante de trabalho em nível máximo, ela se atribuiu como missão consertar o sítio abandonado da família.
O fato de os próprios sogros costumarem jogar garrafas, latas e sapatos velhos nos jardins que ela havia acabado de arrumar não ajudava muito, mas M. se manteve firme. Até passou a vender os produtos do sítio na feira livre, depois de negociar o ponto com um tal de Miro.
Desculpe não entregar os endereços dos blogs. Como disse, sinto que os autores escrevem só para os mais chegados. Mas, com as dicas deste texto, é possível achá-los na web. Os mais interessados chegarão lá. Confio nessa seleção natural.
Nos blogs dos estrangeiros que moram no Brasil, o sofrimento de quem tenta entender o país
D. se mandou da Califórnia por amor. Despencou em "Caipirópolis", depois viveu numa cidade feia de praia, hoje mora em algum ponto próspero do interior paulista, onde encontra até comida coreana.
G., irlandês, vive no Recife. Adepto do realismo fantástico, escreve minicontos em que expressa seu desgosto diante da realidade local. "Como o ponto decimal arruinou o Brasil" é sua obra mais recente.
C. também mora numa capital, Florianópolis. Algumas vezes, ele reclama do Brasil. Em outras, também. Californiano, surfista, ele se expressa com ambiguidade. Seus textos são amargurados; suas fotos, só alegria: um mundo de camisas abertas no peito e índices muito baixos de gordura corporal.
M. está no interior de Minas. Faz parte de uma onda muito recente, muito específica e muito interessante de imigrantes: a das americanas que se casaram com mineiros na região de Boston, e agora acompanham seus maridos que decidiram voltar ao Brasil.
Sigo as vidas de D., G., C. e M. Os quatro têm blogs. Seus diários on-line, claro, são públicos. Mas, talvez por escreverem em inglês, percebe-se que os autores não imaginam ser lidos no Brasil. Eles se dirigem aos amigos e parentes "back home", desabafo e desilusão são os sentimentos mais comuns.
De todos, D. é quem mais pratica a tolerância e, por que não dizer, o relativismo cultural. Formada em linguística pela excelente Universidade da Califórnia em Berkeley, ela vem do ambiente onde o politicamente correto foi inventado. Ainda bem. Só assim para sobreviver ao choque.
D. ensinava inglês em San Francisco quando conheceu um aluno brasileiro, estudante de medicina no interior de São Paulo. O curso de inglês era curto, o namorado logo voltou ao Brasil. Pouco depois, ela veio atrás. Só que a cidade onde o rapaz fazia faculdade era um pouco menos que nada. D. apelidou o lugar, carinhosamente, de "Caipirópolis".
Depois de formado, o garotão arrumou emprego no litoral. D. postou algumas fotos do novo apartamento, que dava vista para uma parede. Os vizinhos tinham o curioso hábito de atirar lixo pela janela.
Agora, ele faz residência médica em uma cidade do interior mais rica e menos morta, que D. chama de Springfieldee (brincadeira com a fictícia Springfield, dos Simpsons). A californiana tolerante, finalmente, se sente mais em casa.
O mesmo não se pode dizer de G., o irlandês do Recife. Seus posts semificcionais, de humor ácido, mostram que ele se sente em um pesadelo sem fim.
Na apresentação do blog, de 2012, G. cospe fogo: "Vivo no Recife há quase dois anos, e essa cidade me enlouquece. É suja. Sinto que, pelo fato de nada funcionar, me tornei uma pessoa mais rude (...) Tento descrever como é morar numa cidade em que nada faz muito sentido".
Também não faz muito sentido o blog de C., o surfista californiano de Floripa. Ele é, digamos, o menos intelectual da turma. Empresário, veio ao país para abrir restaurantes. "Viver no Brasil pode levar qualquer homem normal à insanidade", decreta.
Diatribes contra a burocracia e a corrupção brasileiras são os temas dominantes. O tom em geral é tão amargo que eu nem prestava atenção nas fotos. Imaginava serem imagens genéricas do Google.
Até que notei um sujeito atlético e sempre sorridente em todas elas. Era C.! Surfando, curtindo em um iate, em festas maravilhosas, depois em festas mais maravilhosas ainda, com mulheres espetaculares, depois com mulheres mais espetaculares ainda, na praia com uma namorada de interromper o tráfego aéreo... E ele ainda reclama.
Bem menos glamourosa é a vida de M., a americana que acompanhou o marido brasileiro na volta ao interior de Minas. Com a ética protestante de trabalho em nível máximo, ela se atribuiu como missão consertar o sítio abandonado da família.
O fato de os próprios sogros costumarem jogar garrafas, latas e sapatos velhos nos jardins que ela havia acabado de arrumar não ajudava muito, mas M. se manteve firme. Até passou a vender os produtos do sítio na feira livre, depois de negociar o ponto com um tal de Miro.
Desculpe não entregar os endereços dos blogs. Como disse, sinto que os autores escrevem só para os mais chegados. Mas, com as dicas deste texto, é possível achá-los na web. Os mais interessados chegarão lá. Confio nessa seleção natural.
Saída negociada - VERA MAGALHÃES - PAINEL
O GLOBO - 25/05
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), deve sugerir como alternativa à CPI da Petrobras que a presidente da empresa, Graça Foster, vá ao Congresso dar explicações sobre suspeitas de irregularidades e falhas de gestão. Alves, que recebeu pedido do governo para engavetar a CPI, evita tomar partido sobre o requerimento e diz que não conhece sua fundamentação''. "Mas sei da disposição de Graça Foster para qualquer diálogo que se imponha esclarecedor."
Às falas
Ministros indicados pelas bancadas da Câmara, notadamente Moreira Franco e Toninho Andrade, do PMDB, e Aguinaldo Ribeiro, do PP, serão chamados a explicar o motivo de tanto apoio de seus partidos à CPI.
Delay...
Apesar de formalizada por Dilma Rousseff, a indicação de Luís Roberto Barroso para ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) não foi enviada na quinta-feira ao Congresso Nacional.
... burocrático
Barroso, que soube da nomeação quando se preparava para viajar, não havia enviado seu currículo para a Casa Civil. Com os documentos finalmente entregues, a indicação foi enviada ontem ao Senado.
Turma
Um dos melhores amigos do futuro ministro é o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que atua em casos de repercussão no Supremo. "Ele não deve nada a ninguém, foi escolhido pelos próprios méritos", elogia Kakay.
Sinais 1
Considerado uma das grandes incógnitas da fase de embargos de declaração do mensalão, o ministro Teori Zavascki tem concedido audiência a advogados que lhe pedem para entregar memoriais sobre os recursos.
Sinais 2
Nessas conversas, Zavascki pouco fala. Limita-se a perguntas secas e pontuais sobre o processo. "Não me ofereceu nem um copo d'água'', lamenta um defensor, que saiu do gabinete como entrou, ou seja, sem saber como ele votará.
Exceção
Celso de Mello e Marco Aurélio Mello têm defendido que, dada a complexidade do mensalão, Ricardo Lewandowski deveria manter o papel de revisor nos embargos de declaração, algo não previsto pelo regimento.
Ensaiada
A plateia do "Programa do Ratinho" foi orientada a não se manifestar durante a participação de Aécio Neves (PSDB-MG), quinta-feira. "Se você tem algo contra ou a favor, guarde para você'', instruíam funcionários do SBT, que indicavam os momentos de aplaudir.
Aí não 1
Aliados de Sérgio Cabral afirmam que o governador do Rio ficou irritado com o vazamento de sua fala durante jantar no Palácio do Jaburu, quando disse ver "alternativa" ao apoio do PMDB a Dilma e que seu filho também tem o sobrenome Neves, referindo-se a Aécio.
Aí não 2
Para Cabral, o vazamento cacifou o vice-presidente, Michel Temer, a posar de "bombeiro'' da crise. Antes da viagem à África, Dilma debateu com Lula as críticas do peemedebista, mas os dois evitaram decisão sobre palanque duplo no Rio.
Linha cortada
Irritada, Dilma não comunicou Cabral sobre a escolha de Barroso para o STF. O futuro ministro, que assinou ações do governo do Rio contra os novos critérios de distribuição dos royalties do pré-sal, tinha a torcida do governador.
Bonde
Descartada a candidatura de Celso Russomanno ao governo do Estado, o PRB espera que ele tenha entre 500 mil e 1 milhão de votos para deputado federal. A sigla calcula eleger quatro parlamentares em SP e dobrar a bancada na Câmara.
com ANDRÉIA SADI e LUIZA BANDEIRA
tiroteio
"No pior espírito antidemocrático, Sérgio Cabral tenta impedir o eleitor do Rio de Janeiro de escolher o próximo governador."
DO DEPUTADO ALESSANDRO MOLON (PT-RJ), sobre a tentativa do governador de evitar que o senador Lindbergh Farias (PT) concorra ao governo do Estado
contraponto
São tantas emoções
Ao dar início à última palestra de evento sobre as relações Brasil-África nesta semana, pouco antes de o ex-presidente Lula assumir o microfone, o embaixador do Gabão, Jérome Angouo, se disse emocionado por estar ao lado do petista, grande estrela do seminário.
-- Há grandes momentos na vida de um homem: quando a gente casa, quando o filho nasce e o terceiro, para mim, é estar na presença do ex-presidente Lula!
A fala do embaixador foi seguida de risos e palmas calorosas da plateia, que era formada por empresários e diplomatas brasileiros e africanos.
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), deve sugerir como alternativa à CPI da Petrobras que a presidente da empresa, Graça Foster, vá ao Congresso dar explicações sobre suspeitas de irregularidades e falhas de gestão. Alves, que recebeu pedido do governo para engavetar a CPI, evita tomar partido sobre o requerimento e diz que não conhece sua fundamentação''. "Mas sei da disposição de Graça Foster para qualquer diálogo que se imponha esclarecedor."
Às falas
Ministros indicados pelas bancadas da Câmara, notadamente Moreira Franco e Toninho Andrade, do PMDB, e Aguinaldo Ribeiro, do PP, serão chamados a explicar o motivo de tanto apoio de seus partidos à CPI.
Delay...
Apesar de formalizada por Dilma Rousseff, a indicação de Luís Roberto Barroso para ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) não foi enviada na quinta-feira ao Congresso Nacional.
... burocrático
Barroso, que soube da nomeação quando se preparava para viajar, não havia enviado seu currículo para a Casa Civil. Com os documentos finalmente entregues, a indicação foi enviada ontem ao Senado.
Turma
Um dos melhores amigos do futuro ministro é o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que atua em casos de repercussão no Supremo. "Ele não deve nada a ninguém, foi escolhido pelos próprios méritos", elogia Kakay.
Sinais 1
Considerado uma das grandes incógnitas da fase de embargos de declaração do mensalão, o ministro Teori Zavascki tem concedido audiência a advogados que lhe pedem para entregar memoriais sobre os recursos.
Sinais 2
Nessas conversas, Zavascki pouco fala. Limita-se a perguntas secas e pontuais sobre o processo. "Não me ofereceu nem um copo d'água'', lamenta um defensor, que saiu do gabinete como entrou, ou seja, sem saber como ele votará.
Exceção
Celso de Mello e Marco Aurélio Mello têm defendido que, dada a complexidade do mensalão, Ricardo Lewandowski deveria manter o papel de revisor nos embargos de declaração, algo não previsto pelo regimento.
Ensaiada
A plateia do "Programa do Ratinho" foi orientada a não se manifestar durante a participação de Aécio Neves (PSDB-MG), quinta-feira. "Se você tem algo contra ou a favor, guarde para você'', instruíam funcionários do SBT, que indicavam os momentos de aplaudir.
Aí não 1
Aliados de Sérgio Cabral afirmam que o governador do Rio ficou irritado com o vazamento de sua fala durante jantar no Palácio do Jaburu, quando disse ver "alternativa" ao apoio do PMDB a Dilma e que seu filho também tem o sobrenome Neves, referindo-se a Aécio.
Aí não 2
Para Cabral, o vazamento cacifou o vice-presidente, Michel Temer, a posar de "bombeiro'' da crise. Antes da viagem à África, Dilma debateu com Lula as críticas do peemedebista, mas os dois evitaram decisão sobre palanque duplo no Rio.
Linha cortada
Irritada, Dilma não comunicou Cabral sobre a escolha de Barroso para o STF. O futuro ministro, que assinou ações do governo do Rio contra os novos critérios de distribuição dos royalties do pré-sal, tinha a torcida do governador.
Bonde
Descartada a candidatura de Celso Russomanno ao governo do Estado, o PRB espera que ele tenha entre 500 mil e 1 milhão de votos para deputado federal. A sigla calcula eleger quatro parlamentares em SP e dobrar a bancada na Câmara.
com ANDRÉIA SADI e LUIZA BANDEIRA
tiroteio
"No pior espírito antidemocrático, Sérgio Cabral tenta impedir o eleitor do Rio de Janeiro de escolher o próximo governador."
DO DEPUTADO ALESSANDRO MOLON (PT-RJ), sobre a tentativa do governador de evitar que o senador Lindbergh Farias (PT) concorra ao governo do Estado
contraponto
São tantas emoções
Ao dar início à última palestra de evento sobre as relações Brasil-África nesta semana, pouco antes de o ex-presidente Lula assumir o microfone, o embaixador do Gabão, Jérome Angouo, se disse emocionado por estar ao lado do petista, grande estrela do seminário.
-- Há grandes momentos na vida de um homem: quando a gente casa, quando o filho nasce e o terceiro, para mim, é estar na presença do ex-presidente Lula!
A fala do embaixador foi seguida de risos e palmas calorosas da plateia, que era formada por empresários e diplomatas brasileiros e africanos.
A sorte está lançada - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 25/05
O candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, elegeu como prioridade investir no PMDB. Ele acredita que parcela do partido poderá apoiá-lo. Sua aposta é que a disputa nos estados entre PMDB e PT vai afetar a campanha da presidente Dilma. Aécio também conversa muito com o governador Eduardo Campos (PSB) na expectativa de que este descole do projeto petista de poder.
Relações estremecidas
Nem o PT nem a presidente Dilma, garante dirigente nacional petista, farão qualquer movimento para detonar a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo do Rio. O chororô do governador Sérgio Cabral, na reunião da cúpula do PMDB, não seduziu o Planalto. Um ministro, próximo à presidente Dilma, afirmou que Lindbergh tem um poderoso potencial eleitoral. E, no comando da campanha petista, prevalece a avaliação que Cabral, a despeito de seu protesto, não tem afinidade nem uma ligação relevante com a direção nacional de seu partido. Os petistas consideram blefe a ameaça de Cabral de apoiar Aécio Neves.
Pires na mão
A queda na arrecadação da União atingirá diretamente os estados e municípios em 2013. A previsão para as chamadas transferências constitucionais encolheu R$ 20,3 bilhões: passou de R$ 204,9 bilhões para R$ 184,6 bilhões.
Vira-casaca
Depois de ter liderado o movimento em defesa dos não produtores de petróleo, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), foi convidado para liderar a bancada dos produtores. O convite foi do deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), na foto. A ironia: na 11º rodada de licitação, foram arrematados 19 blocos no mar, em Barreirinhas (PI), e 20 em terra, em Parnaíba (PI).
Mais empregos
A contratação de pessoal no turismo cresceu 4,1% em 2012 (Pesquisa de Conjuntura Econômica do Turismo). As áreas de melhor desempenho, relata o ministro Gastão Vieira, são: organização de eventos (16,2%) e locação de automóveis (10,6%).
Volta por cima
O Planalto vive às turras com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que perdeu o cargo de líder do governo. À revelia, ele virou relator do Orçamento de 2013 e teve papel de destaque na aprovação da MP dos Portos. Por isso, foi chamado pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), pois, além da PEC das Domésticas, ele vai relatar vários projetos de interesse do Poder Executivo.
Futebol e política
A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público assinou convênio com a CBF e, antes das partidas do Campeonato Brasileiro, será exibida a faixa "Ministério Público atuante é a garantia de cemocracia e de cidadania".
Vassouras
Com a indicação do jurista Luís Roberto Barroso para o STF, o município de Vassouras (RJ) faz seu quarto ministro naquela Corte. Antes dele, foram nomeados Sebastião Lacerda (1912), Edgar Costa (1945) e Ary Franco (1956).
O EX-DEPUTADO JOÃO ALMEIDA (BA) foi convidado pelo presidente do PSDB, Aécio Neves, para assumir o comando executivo e administrativo do partido.
Relações estremecidas
Nem o PT nem a presidente Dilma, garante dirigente nacional petista, farão qualquer movimento para detonar a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo do Rio. O chororô do governador Sérgio Cabral, na reunião da cúpula do PMDB, não seduziu o Planalto. Um ministro, próximo à presidente Dilma, afirmou que Lindbergh tem um poderoso potencial eleitoral. E, no comando da campanha petista, prevalece a avaliação que Cabral, a despeito de seu protesto, não tem afinidade nem uma ligação relevante com a direção nacional de seu partido. Os petistas consideram blefe a ameaça de Cabral de apoiar Aécio Neves.
"Os líderes do PT e do PMDB precisam conversar todos os dias, se não, trava o Congresso. Estou empenhado na reaproximação e no diálogo"
José Guimarães
Líder do PT na Câmara (CE)
Pires na mão
A queda na arrecadação da União atingirá diretamente os estados e municípios em 2013. A previsão para as chamadas transferências constitucionais encolheu R$ 20,3 bilhões: passou de R$ 204,9 bilhões para R$ 184,6 bilhões.
Vira-casaca
Depois de ter liderado o movimento em defesa dos não produtores de petróleo, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), foi convidado para liderar a bancada dos produtores. O convite foi do deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), na foto. A ironia: na 11º rodada de licitação, foram arrematados 19 blocos no mar, em Barreirinhas (PI), e 20 em terra, em Parnaíba (PI).
Mais empregos
A contratação de pessoal no turismo cresceu 4,1% em 2012 (Pesquisa de Conjuntura Econômica do Turismo). As áreas de melhor desempenho, relata o ministro Gastão Vieira, são: organização de eventos (16,2%) e locação de automóveis (10,6%).
Volta por cima
O Planalto vive às turras com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que perdeu o cargo de líder do governo. À revelia, ele virou relator do Orçamento de 2013 e teve papel de destaque na aprovação da MP dos Portos. Por isso, foi chamado pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), pois, além da PEC das Domésticas, ele vai relatar vários projetos de interesse do Poder Executivo.
Futebol e política
A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público assinou convênio com a CBF e, antes das partidas do Campeonato Brasileiro, será exibida a faixa "Ministério Público atuante é a garantia de cemocracia e de cidadania".
Vassouras
Com a indicação do jurista Luís Roberto Barroso para o STF, o município de Vassouras (RJ) faz seu quarto ministro naquela Corte. Antes dele, foram nomeados Sebastião Lacerda (1912), Edgar Costa (1945) e Ary Franco (1956).
O EX-DEPUTADO JOÃO ALMEIDA (BA) foi convidado pelo presidente do PSDB, Aécio Neves, para assumir o comando executivo e administrativo do partido.
Saindo do forno - SONIA RACY
ESTADÃO - 25/05
Dilma deve assinar o decreto do Vale Cultura no final de julho, e os trabalhadores já poderão utilizar o benefício a partir de agosto. A previsão é da ministra Marta Suplicy, que acaba de voltar de périplo por Fortaleza para apresentar o projeto a empresários.
Forno 2
No decreto, a presidente deixará claro que os R$ 50 não são tributáveis. O que, nas contas do MinC, beneficiará pequenas e médias empresas e fará com que salte de 18 milhões para 42 milhões o número de brasileiros que podem ser beneficiados.
Sem urgência
Mantega ouviu com atenção ontem, no Iedi, dez pontos apresentados pelos empresários durante quatro horas de almoço em São Paulo. A percepção geral foi de que o ministro da Fazenda está alinhado com as colocações. A diferença? O timing de Mantega.
Porta-retrato
A Paranoid, de Heitor Dhalia, lançará selo de fotografia. Para concentrar o acervo de fotos still. Idealizado e liderado por Paulo Vainer e pelo coletivo Cia de Foto.
Afifão
No vernissage de Confesso que Bebi, anteontem, Paulo Caruso deu sequência à produção de charges nas garrafas de seu whisky preferido, Black & White. Escreveu no rótulo: “Dose Dupla”, completando com conversa entre dois cães da raça fox terrier: “Souvice e sou ministro”, disse um. “Juntos chegaremos lá”, completou o outro.
Fogo amigo
Corintiano roxo, Fernando Capez exibiu vídeo da derrota do Timão para o Boca, na Assembleiapaulista. Paraprovar que os erros de arbitragem valiam queixa ao Procon. E devolução aos torcedores do dinheiro dos ingressos. Se esqueceu que o mandante da partida é o... Corinthians.
Emoções
Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, que serão colegas no STF, são tidos como adversários acadêmicos. Mas as divergências foram deixadas de lado quando Barroso teve câncer e Gilmar lhe telefonou: os dois caíram no choro.
Pelo telefone
Alckmin está negociando com a Vivo a isenção da taxa de assinatura de toda a telefoniafixa de seu governo. Objetivo? Economizar pelo menos R$15 milhões por ano no gasto público com telefone.
GURU
ESSÊNCIA DE VIDA
De passagem pelo Brasil, para “afinar” os professores da Arte de Viver, Rajshree Patel é direta. A ONG, que ensina técnicas respiratórias dentro de um contexto de individualização, não prega religião alguma. “Entendo por que alguém possa pensar assim, pois Sri Sri Ravi Shankar, o fundador, é da Índia e nasceu em família hindu. Mas não temos religião”, explica. Leia a seguir os principais trechos da conversa com a coluna.
O que é a Arte de Viver? São ferramentas, técnicas, princípios básicos que nos ensinam a gerenciar a nós mesmos. Você pode chamar de autodesenvolvimento. Esta é uma ciência que foi descoberta por mestres indianos que foram fundo em si mesmos. Sabemos gerenciar tudo externamente, mas não como nos gerenciar no mundo.
Por que a forma de respirar é tão importante?
Se você não respira, não vive. Essa é a ferramenta número um. No primeiro ato de nossa vida, inspiramos, é a vida. O último é expirar, a morte. No intervalo, inspiramos e expiramos. É uma técnica antiga, mas a ciência dela foi perdida. E Sri Sri a recuperou.
O que é preciso fazer para quem quiser ir à Arte de Viver?
A pessoa precisa reconhecer que pode fazer mais na vida do que está fazendo. Posso ser feliz se rio 20 vezes por dia. Posso fazer isso 30 vezes por dia. Se estou atingindo 80%, posso atingir 90%. Se sou amável, posso ser mais amável. Assim, você não precisa fazer nada. Só precisa querer ir.
Vocês têm um trabalho com as Nações Unidas. Trabalhamos em vários níveis com a ONU, defendendo questões globais. Há dois anos, estive na Conferência Anual da Juventude, dando uma palestra sobre resolução de conflitos, com o ator Forest Whitaker. Recentemente, fizemos uma parceria com Sudão, Sudão do Sul e Uganda, trabalhando com crianças-soldados – ensinamos técnicas para gerenciar formas extremas de violência. E fazemos trabalho comunitário.
O que diria a quem quer conhecer a Arte de Viver? Ontem mesmo, na palestra, eu disse: “Se alguém fala com você 10 horas por dia sem parar, não importa o quanto você ame a pessoa, ficará entediado de ouvir”. Isso acontece também em nossa mente. O problema é que não estamos mais ouvindo – aliás, ninguém está. Um carro tem de passar por revisão a cada 30 mil, 100 mil quilômetros. Com a mente acontece o mesmo: você tem de ajustá-la, aprendendo a ficar em silêncio, para que algo novo surja, alguma energia apareça na vida. É essencial.
Forno 2
No decreto, a presidente deixará claro que os R$ 50 não são tributáveis. O que, nas contas do MinC, beneficiará pequenas e médias empresas e fará com que salte de 18 milhões para 42 milhões o número de brasileiros que podem ser beneficiados.
Sem urgência
Mantega ouviu com atenção ontem, no Iedi, dez pontos apresentados pelos empresários durante quatro horas de almoço em São Paulo. A percepção geral foi de que o ministro da Fazenda está alinhado com as colocações. A diferença? O timing de Mantega.
Porta-retrato
A Paranoid, de Heitor Dhalia, lançará selo de fotografia. Para concentrar o acervo de fotos still. Idealizado e liderado por Paulo Vainer e pelo coletivo Cia de Foto.
Afifão
No vernissage de Confesso que Bebi, anteontem, Paulo Caruso deu sequência à produção de charges nas garrafas de seu whisky preferido, Black & White. Escreveu no rótulo: “Dose Dupla”, completando com conversa entre dois cães da raça fox terrier: “Souvice e sou ministro”, disse um. “Juntos chegaremos lá”, completou o outro.
Fogo amigo
Corintiano roxo, Fernando Capez exibiu vídeo da derrota do Timão para o Boca, na Assembleiapaulista. Paraprovar que os erros de arbitragem valiam queixa ao Procon. E devolução aos torcedores do dinheiro dos ingressos. Se esqueceu que o mandante da partida é o... Corinthians.
Emoções
Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, que serão colegas no STF, são tidos como adversários acadêmicos. Mas as divergências foram deixadas de lado quando Barroso teve câncer e Gilmar lhe telefonou: os dois caíram no choro.
Pelo telefone
Alckmin está negociando com a Vivo a isenção da taxa de assinatura de toda a telefoniafixa de seu governo. Objetivo? Economizar pelo menos R$15 milhões por ano no gasto público com telefone.
GURU
ESSÊNCIA DE VIDA
De passagem pelo Brasil, para “afinar” os professores da Arte de Viver, Rajshree Patel é direta. A ONG, que ensina técnicas respiratórias dentro de um contexto de individualização, não prega religião alguma. “Entendo por que alguém possa pensar assim, pois Sri Sri Ravi Shankar, o fundador, é da Índia e nasceu em família hindu. Mas não temos religião”, explica. Leia a seguir os principais trechos da conversa com a coluna.
O que é a Arte de Viver? São ferramentas, técnicas, princípios básicos que nos ensinam a gerenciar a nós mesmos. Você pode chamar de autodesenvolvimento. Esta é uma ciência que foi descoberta por mestres indianos que foram fundo em si mesmos. Sabemos gerenciar tudo externamente, mas não como nos gerenciar no mundo.
Por que a forma de respirar é tão importante?
Se você não respira, não vive. Essa é a ferramenta número um. No primeiro ato de nossa vida, inspiramos, é a vida. O último é expirar, a morte. No intervalo, inspiramos e expiramos. É uma técnica antiga, mas a ciência dela foi perdida. E Sri Sri a recuperou.
O que é preciso fazer para quem quiser ir à Arte de Viver?
A pessoa precisa reconhecer que pode fazer mais na vida do que está fazendo. Posso ser feliz se rio 20 vezes por dia. Posso fazer isso 30 vezes por dia. Se estou atingindo 80%, posso atingir 90%. Se sou amável, posso ser mais amável. Assim, você não precisa fazer nada. Só precisa querer ir.
Vocês têm um trabalho com as Nações Unidas. Trabalhamos em vários níveis com a ONU, defendendo questões globais. Há dois anos, estive na Conferência Anual da Juventude, dando uma palestra sobre resolução de conflitos, com o ator Forest Whitaker. Recentemente, fizemos uma parceria com Sudão, Sudão do Sul e Uganda, trabalhando com crianças-soldados – ensinamos técnicas para gerenciar formas extremas de violência. E fazemos trabalho comunitário.
O que diria a quem quer conhecer a Arte de Viver? Ontem mesmo, na palestra, eu disse: “Se alguém fala com você 10 horas por dia sem parar, não importa o quanto você ame a pessoa, ficará entediado de ouvir”. Isso acontece também em nossa mente. O problema é que não estamos mais ouvindo – aliás, ninguém está. Um carro tem de passar por revisão a cada 30 mil, 100 mil quilômetros. Com a mente acontece o mesmo: você tem de ajustá-la, aprendendo a ficar em silêncio, para que algo novo surja, alguma energia apareça na vida. É essencial.
FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA
O GLOBO - 25/05
OCUPAÇÃO EM QUEDA NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Na pesquisa do IBGE, total de trabalhadores do setor encolheu 3,2% de janeiro a abril de 2013, após dois anos em alta
Num mercado de trabalho marcado pelo desemprego baixo, o corte maciço de vagas na construção civil chama atenção nos resultados da Pesquisa Mensal de Emprego, no 1º quadrimestre de 2013. Depois de crescer 4,5% de janeiro a abril de 2011, e 6,5% no mesmo período de 2012, a ocupação no setor caiu 3,2% em 2013. Na média geral da pesquisa, caiu 2,7% nos quatro primeiros meses deste ano. Cimar Azeredo, gerente da PME-IBGE, diz que o total de ocupados foi reduzido em 60 mil desde dezembro: "A perda forte na construção civil foi o dado mais sensível e inesperado da pesquisa". O setor encerrou abril de 2013 com 104 mil vagas a menos que um ano antes. Foi queda de 5,5%. Os cortes alcançam quatro das seis áreas metropolitanas investigadas pelo IBGE: São Paulo (-8,5%), Belo Horizonte (-8%), Porto Alegre (-6,1%) e Rio (-1,4%). No Grande Rio, o total de ocupados foi reduzido em seis mil, um décimo dos cortes de São Paulo, de 63 mil no total. Em um ano, a participação da construção no mercado de trabalho caiu meio ponto percentual. O setor somava 8,2% da mão de obra ocupada em abril de 2012. A proporção passou a 7,7% no mesmo mês deste ano.
Embalagens
A indústria de embalagens Dozés construirá fábrica em Paracambi (RJ). Aporte de R$ 43,4 milhões, vai gerar 350 empregos em cinco anos. Deve começar a operar no 19 semestre de 2014.
A CPPDE, comissão para desenvolvimento do Estado do Rio, aprovou redução de ICMS esta semana.
Laticínios
A Vitalatte, de Valença (RJ), estuda implantar centro de distribuição no Nordeste. Em 2014, quer chegar em Brasília e no Sul. Em abril, começou a vender em São Paulo. Prevê dobrar receitas. Produz 80 toneladas de laticínios por mês.
MILHÃO DE OCUPADOS
É a mão de obra da construção civil estimada pelo 1BGE na PME de abril. 0 setor cortou 60 mil vagas no primeiro quadrimestre. A Grande São Paulo, sozinha, perdeu 12 mil ocupados.
Inovação
O programa Start-up Brasil, parceria do Ministério da C&T com nove aceleradoras, ganhou atenção de empresas novatas de base tecnológica no exterior. É que um quarto das cem vagas da 1á fase vai para projetos internacionais. O edital já bateu três mil downloads fora do país. EUA (24,6%), Chile (9,9%) e Argentina (7,7%) lideram. As inscrições vão até sexta.
Solar
Em dois dias, trinta empresas de oito países manifestaram interesse em investir em projetos de energia solar da EBD, start-up da Coppe/UFRJ. O anúncio para atrair parceiros saiu no LinkedIn.
ARRAIA
Sophie Charlotte, atriz de "Sangue bom", estrela a campanha da 109 edição do Arraial da Providência. Será veiculada em TV, a partirde segunda. A Negocine produziu.
0 evento será realizado de 7 a 9 de junho, no Jockey Club, na Gávea. Juntas, as nove edições anteriores reuniram 250 mil visitantes e faturaram mais de R$ 4 milhões. A renda é revertida para projetos sociais do Banco da Providência.
EM FAMÍLIA
Rubens Barrichel lo e os filhos, Eduardo e Fernando, estrelam a campanha de lançamento da Protex For Men, 19 linha de sabonetes antibacterianos para homens da marca. É 19 vez queo piloto aparececom a prole num comercial. A veiculação começa na 29, junto com a promoção que sorteará seis carros com um ano deseguro pago. Quem assina éo núcleo Red Fuse, deVMLeY&R.
MELHOR DIVERSÃO
A Raccord assina a campanha que comemora o milhão de ingressos do Cinema Para Todos. 0 projeto exibiu 192 filmes em mil escolas estaduais do Rio. Alessandra Negrini, Fábio Porchat (foto) e José W i l ker estão entre os artistas que gravaram depoimentos. 0 vídeo estreia na web no fim desemana. Já a Netshoesfaz sua 19 ação de posicionamento de produto em "Odeio o Dia dos Namorados". 0 filme estreia dia 7.
EM CAMPO
As Casas Bahia põem em campo campanha sobre os lançamentos em televisores, nos intervalos da primeira rodada do Campeonato Brasileiro 2013.0 filme mostra um atleta do time da varejista jogando com raça, embaixo de chuva. Ele tema imagem transmitida em monitores instalados no gramado. AYoung& Rubicam assina. Vai ao ar aos domingos e quartas.
INSPIRAÇAO
0 designer Zanini de Zanine está na campanha institucional do Shopping Leblon. Nos anúncios, personalidades contam o que as inspiram.
Vão circular, a partir de hoje, em impressos, web e mobiliário urbano. Ana Laet assina.
ECOLÓGICA
A Amoedo lança a ação "Especial sustentabilidade", na segunda-feira. Nove lojas do Rio, e-commerce e televendas darão descontos em 70 produtos ecologicamente corretos, até 11 de junho. É referência ao Dia do Meio Ambiente, 516. Terá campanha em impressos. A Núcleo 5 criou. A rede espera vender 15% mais.
É gol
A Brahma retoma neste fim de semana o projeto "Alegria no pé, Floresta de pé". Por cada gol feito no Brasileirão 2013, a marca vai plantar e cuidar de cem árvores. Fez parceria com o Instituto Ipê.
Lá fora
A JMJ estreou site para vender produtos oficiais no exterior. Aceita dólar e euro.
Livre Mercado
A Borelli, grife masculina, abre loja no Plaza Shopping hoje. Investiu R$ 500 mil. Prevê vender 20% mais. O Bibi Sucos abriu outra loja em Copacabana. É a 118 unidade da rede no Rio. 0 grupo espera alta de 15% no faturamento.
A CNI lança perfil no Instagram (@cnibr), hoje, Dia da 1ndústria. É 18 entidade patronal na rede.
OCUPAÇÃO EM QUEDA NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Na pesquisa do IBGE, total de trabalhadores do setor encolheu 3,2% de janeiro a abril de 2013, após dois anos em alta
Num mercado de trabalho marcado pelo desemprego baixo, o corte maciço de vagas na construção civil chama atenção nos resultados da Pesquisa Mensal de Emprego, no 1º quadrimestre de 2013. Depois de crescer 4,5% de janeiro a abril de 2011, e 6,5% no mesmo período de 2012, a ocupação no setor caiu 3,2% em 2013. Na média geral da pesquisa, caiu 2,7% nos quatro primeiros meses deste ano. Cimar Azeredo, gerente da PME-IBGE, diz que o total de ocupados foi reduzido em 60 mil desde dezembro: "A perda forte na construção civil foi o dado mais sensível e inesperado da pesquisa". O setor encerrou abril de 2013 com 104 mil vagas a menos que um ano antes. Foi queda de 5,5%. Os cortes alcançam quatro das seis áreas metropolitanas investigadas pelo IBGE: São Paulo (-8,5%), Belo Horizonte (-8%), Porto Alegre (-6,1%) e Rio (-1,4%). No Grande Rio, o total de ocupados foi reduzido em seis mil, um décimo dos cortes de São Paulo, de 63 mil no total. Em um ano, a participação da construção no mercado de trabalho caiu meio ponto percentual. O setor somava 8,2% da mão de obra ocupada em abril de 2012. A proporção passou a 7,7% no mesmo mês deste ano.
Embalagens
A indústria de embalagens Dozés construirá fábrica em Paracambi (RJ). Aporte de R$ 43,4 milhões, vai gerar 350 empregos em cinco anos. Deve começar a operar no 19 semestre de 2014.
A CPPDE, comissão para desenvolvimento do Estado do Rio, aprovou redução de ICMS esta semana.
Laticínios
A Vitalatte, de Valença (RJ), estuda implantar centro de distribuição no Nordeste. Em 2014, quer chegar em Brasília e no Sul. Em abril, começou a vender em São Paulo. Prevê dobrar receitas. Produz 80 toneladas de laticínios por mês.
MILHÃO DE OCUPADOS
É a mão de obra da construção civil estimada pelo 1BGE na PME de abril. 0 setor cortou 60 mil vagas no primeiro quadrimestre. A Grande São Paulo, sozinha, perdeu 12 mil ocupados.
Inovação
O programa Start-up Brasil, parceria do Ministério da C&T com nove aceleradoras, ganhou atenção de empresas novatas de base tecnológica no exterior. É que um quarto das cem vagas da 1á fase vai para projetos internacionais. O edital já bateu três mil downloads fora do país. EUA (24,6%), Chile (9,9%) e Argentina (7,7%) lideram. As inscrições vão até sexta.
Solar
Em dois dias, trinta empresas de oito países manifestaram interesse em investir em projetos de energia solar da EBD, start-up da Coppe/UFRJ. O anúncio para atrair parceiros saiu no LinkedIn.
ARRAIA
Sophie Charlotte, atriz de "Sangue bom", estrela a campanha da 109 edição do Arraial da Providência. Será veiculada em TV, a partirde segunda. A Negocine produziu.
0 evento será realizado de 7 a 9 de junho, no Jockey Club, na Gávea. Juntas, as nove edições anteriores reuniram 250 mil visitantes e faturaram mais de R$ 4 milhões. A renda é revertida para projetos sociais do Banco da Providência.
EM FAMÍLIA
Rubens Barrichel lo e os filhos, Eduardo e Fernando, estrelam a campanha de lançamento da Protex For Men, 19 linha de sabonetes antibacterianos para homens da marca. É 19 vez queo piloto aparececom a prole num comercial. A veiculação começa na 29, junto com a promoção que sorteará seis carros com um ano deseguro pago. Quem assina éo núcleo Red Fuse, deVMLeY&R.
MELHOR DIVERSÃO
A Raccord assina a campanha que comemora o milhão de ingressos do Cinema Para Todos. 0 projeto exibiu 192 filmes em mil escolas estaduais do Rio. Alessandra Negrini, Fábio Porchat (foto) e José W i l ker estão entre os artistas que gravaram depoimentos. 0 vídeo estreia na web no fim desemana. Já a Netshoesfaz sua 19 ação de posicionamento de produto em "Odeio o Dia dos Namorados". 0 filme estreia dia 7.
EM CAMPO
As Casas Bahia põem em campo campanha sobre os lançamentos em televisores, nos intervalos da primeira rodada do Campeonato Brasileiro 2013.0 filme mostra um atleta do time da varejista jogando com raça, embaixo de chuva. Ele tema imagem transmitida em monitores instalados no gramado. AYoung& Rubicam assina. Vai ao ar aos domingos e quartas.
INSPIRAÇAO
0 designer Zanini de Zanine está na campanha institucional do Shopping Leblon. Nos anúncios, personalidades contam o que as inspiram.
Vão circular, a partir de hoje, em impressos, web e mobiliário urbano. Ana Laet assina.
ECOLÓGICA
A Amoedo lança a ação "Especial sustentabilidade", na segunda-feira. Nove lojas do Rio, e-commerce e televendas darão descontos em 70 produtos ecologicamente corretos, até 11 de junho. É referência ao Dia do Meio Ambiente, 516. Terá campanha em impressos. A Núcleo 5 criou. A rede espera vender 15% mais.
É gol
A Brahma retoma neste fim de semana o projeto "Alegria no pé, Floresta de pé". Por cada gol feito no Brasileirão 2013, a marca vai plantar e cuidar de cem árvores. Fez parceria com o Instituto Ipê.
Lá fora
A JMJ estreou site para vender produtos oficiais no exterior. Aceita dólar e euro.
Livre Mercado
A Borelli, grife masculina, abre loja no Plaza Shopping hoje. Investiu R$ 500 mil. Prevê vender 20% mais. O Bibi Sucos abriu outra loja em Copacabana. É a 118 unidade da rede no Rio. 0 grupo espera alta de 15% no faturamento.
A CNI lança perfil no Instagram (@cnibr), hoje, Dia da 1ndústria. É 18 entidade patronal na rede.
CASO PORSCHE - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 25/05
A família de Carolina Menezes Cintra Santos pede indenização em torno de R$ 1,5 milhão ao engenheiro Marcelo Malvio Alves de Lima, motorista do Porsche que atingiu o carro dela em colisão fatal para a advogada no bairro Itaim Bibi, em 2011. A ação está na 5ª Vara Cível do Fórum de Pinheiros e deverá ser julgada nos próximos dias.
CASO PORSCHE 2
"Acreditamos que a condenação será alta devido à gravidade do fato. A família também incluiu no cálculo o custo do carro da Carolina [um Tucson] e o traslado do corpo", afirma o advogado Cláudio Daólio. A advogada de Alves de Lima, Maria Conceição Coelho, diz que vai esperar a sentença. "Temos a esperança de que a decisão seja razoável, porque Carolina foi culpada, avançou o sinal vermelho." O engenheiro também responde a processo por homicídio doloso.
NO SOL
Apesar da crença de alguns auxiliares de Dilma Rousseff, que acreditavam até a última hora que Luiz Fachin, do Paraná, era o seu preferido para o STF (Supremo Tribunal Federal), ele tinha saído do radar da presidente há alguns dias. Ela esteve com o advogado --mas não "sentiu firmeza", segundo raro interlocutor com quem a petista se abriu.
NA MOITA
Já Luís Roberto Barroso, enfim o escolhido, seguiu à risca o conselho de que a melhor coisa que poderia fazer, desta vez, para ser indicado ao STF, era absolutamente nada. Ele chegou a anunciar a amigos que passaria temporada na Alemanha nos próximos meses. Dizia já ter até viajado ao país para alugar um apartamento.
TRIBO
E um dos processos espinhosos que Barroso herdará do gabinete de Carlos Ayres Britto é o da reserva indígena Raposa/Serra do Sol. O STF vai julgar recurso que pede a derrubada das dezenas de condicionantes aprovadas em 2009 pela corte --entre elas, a que libera a intervenção em terras indígenas sem consultas aos índios nem à Funai (Fundação Nacional do Índio). O governo já aplica algumas medidas, sob críticas dos indígenas.
TRINÔMIO
Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, que formavam o Tribalistas, estão reunidos de novo para gravar uma música para a campanha Casamento Civil Igualitário, lançada pelo deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ).
ARCO-ÍRIS
E anteontem Wyllys falou sobre união entre pessoas do mesmo sexo no Brasil, França e EUA, em aula gratuita para 50 pessoas na Casa do Saber do Itaim Bibi. A palestra, prevista para durar das 20h às 22h, foi até as 22h30, sem intervalo. O parlamentar disse querer voltar em breve ao local para abordar a formação da subjetividade gay.
RESPIRAR FUNDO
O governo de SP adere nesta segunda à campanha Conte até Dez, de combate aos homicídios cometidos por impulso ou motivos fúteis. Cerca de 30% dos assassinatos dolosos no Estado ocorrem dessa forma, segundo a Secretaria da Segurança. Anteontem, por exemplo, em Santana de Parnaíba, uma discussão entre vizinhos por causa de barulho deixou três mortos. O governo anunciará em rádios e distribuirá panfletos em locais como o metrô.
RESPIRAR FUNDO 2
A campanha é promovida pelo Conselho Nacional do Ministério Público e foi lançada em novembro em SP. Anderson Silva e Junior Cigano são garotos-propaganda.
É COM VOCÊ, FÁTIMA
Fátima Bernardes e William Bonner inspiraram um dos ambientes da Casa Cor, que abre amanhã para convidados. A arquiteta Simone Goltcher fez uma suíte baseada no gosto de Fátima pela dança e por sapatos, e no de Bonner por tecnologia.
BUENOS AIRES E UM BANDONEÓN
Cristina Álvarez Rodríguez, sobrinha-neta de Eva Perón, e sua filha, Alma Cuberos, estiveram no coquetel comemorativo do Dia da Pátria da República Argentina, anteontem. O ministro do Turismo da Argentina, Carlos Meyer, o embaixador Luis María Kreckler, o cônsul Agustin Molina Arambarri, Eloisa Arruda, secretária da Justiça de SP, e Marcos Ferraz, da Associação das Operadoras de Turismo, participaram da festa, que teve apresentação de Rodolfo Mederos e Orquestra, no Memorial da América Latina.
UM VIVA PARA O IMORTAL
O poeta Paulo Bomfim recebeu homenagem na Academia Paulista de Letras pelos 50 anos do seu ingresso na associação. A escritora Lygia Fagundes Telles, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Eros Grau, o médico Raul Cutait e o corregedor geral da Justiça José Renato Nalini foram ao evento anteontem.
CURTO-CIRCUITO
A 17ª Festa de São Vito Mártir, no Brás, começa hoje e segue nos fins de semana até 30 de junho, com comida e shows italianos.
A galeria Mezanino, de Renato De Cara, promove hoje leilão com mais de 150 obras, na Liberdade.
Os DJs Nicolas Jaar e Jamie Lidell tocam na festa de 13 anos da D-Edge, hoje, no Metrópole. 18 anos.
O concurso de curtas Como Seria o Mundo sem Regras?, de Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi, recebe inscrições até 31 de julho.
A exposição "Wedding Awards", com vestidos de noiva criados por Vera Wang e Oscar de la Renta, fica em cartaz até 31 de maio, no JK Iguatemi.
CASO PORSCHE 2
"Acreditamos que a condenação será alta devido à gravidade do fato. A família também incluiu no cálculo o custo do carro da Carolina [um Tucson] e o traslado do corpo", afirma o advogado Cláudio Daólio. A advogada de Alves de Lima, Maria Conceição Coelho, diz que vai esperar a sentença. "Temos a esperança de que a decisão seja razoável, porque Carolina foi culpada, avançou o sinal vermelho." O engenheiro também responde a processo por homicídio doloso.
NO SOL
Apesar da crença de alguns auxiliares de Dilma Rousseff, que acreditavam até a última hora que Luiz Fachin, do Paraná, era o seu preferido para o STF (Supremo Tribunal Federal), ele tinha saído do radar da presidente há alguns dias. Ela esteve com o advogado --mas não "sentiu firmeza", segundo raro interlocutor com quem a petista se abriu.
NA MOITA
Já Luís Roberto Barroso, enfim o escolhido, seguiu à risca o conselho de que a melhor coisa que poderia fazer, desta vez, para ser indicado ao STF, era absolutamente nada. Ele chegou a anunciar a amigos que passaria temporada na Alemanha nos próximos meses. Dizia já ter até viajado ao país para alugar um apartamento.
TRIBO
E um dos processos espinhosos que Barroso herdará do gabinete de Carlos Ayres Britto é o da reserva indígena Raposa/Serra do Sol. O STF vai julgar recurso que pede a derrubada das dezenas de condicionantes aprovadas em 2009 pela corte --entre elas, a que libera a intervenção em terras indígenas sem consultas aos índios nem à Funai (Fundação Nacional do Índio). O governo já aplica algumas medidas, sob críticas dos indígenas.
TRINÔMIO
Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, que formavam o Tribalistas, estão reunidos de novo para gravar uma música para a campanha Casamento Civil Igualitário, lançada pelo deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ).
ARCO-ÍRIS
E anteontem Wyllys falou sobre união entre pessoas do mesmo sexo no Brasil, França e EUA, em aula gratuita para 50 pessoas na Casa do Saber do Itaim Bibi. A palestra, prevista para durar das 20h às 22h, foi até as 22h30, sem intervalo. O parlamentar disse querer voltar em breve ao local para abordar a formação da subjetividade gay.
RESPIRAR FUNDO
O governo de SP adere nesta segunda à campanha Conte até Dez, de combate aos homicídios cometidos por impulso ou motivos fúteis. Cerca de 30% dos assassinatos dolosos no Estado ocorrem dessa forma, segundo a Secretaria da Segurança. Anteontem, por exemplo, em Santana de Parnaíba, uma discussão entre vizinhos por causa de barulho deixou três mortos. O governo anunciará em rádios e distribuirá panfletos em locais como o metrô.
RESPIRAR FUNDO 2
A campanha é promovida pelo Conselho Nacional do Ministério Público e foi lançada em novembro em SP. Anderson Silva e Junior Cigano são garotos-propaganda.
É COM VOCÊ, FÁTIMA
Fátima Bernardes e William Bonner inspiraram um dos ambientes da Casa Cor, que abre amanhã para convidados. A arquiteta Simone Goltcher fez uma suíte baseada no gosto de Fátima pela dança e por sapatos, e no de Bonner por tecnologia.
BUENOS AIRES E UM BANDONEÓN
Cristina Álvarez Rodríguez, sobrinha-neta de Eva Perón, e sua filha, Alma Cuberos, estiveram no coquetel comemorativo do Dia da Pátria da República Argentina, anteontem. O ministro do Turismo da Argentina, Carlos Meyer, o embaixador Luis María Kreckler, o cônsul Agustin Molina Arambarri, Eloisa Arruda, secretária da Justiça de SP, e Marcos Ferraz, da Associação das Operadoras de Turismo, participaram da festa, que teve apresentação de Rodolfo Mederos e Orquestra, no Memorial da América Latina.
UM VIVA PARA O IMORTAL
O poeta Paulo Bomfim recebeu homenagem na Academia Paulista de Letras pelos 50 anos do seu ingresso na associação. A escritora Lygia Fagundes Telles, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Eros Grau, o médico Raul Cutait e o corregedor geral da Justiça José Renato Nalini foram ao evento anteontem.
CURTO-CIRCUITO
A 17ª Festa de São Vito Mártir, no Brás, começa hoje e segue nos fins de semana até 30 de junho, com comida e shows italianos.
A galeria Mezanino, de Renato De Cara, promove hoje leilão com mais de 150 obras, na Liberdade.
Os DJs Nicolas Jaar e Jamie Lidell tocam na festa de 13 anos da D-Edge, hoje, no Metrópole. 18 anos.
O concurso de curtas Como Seria o Mundo sem Regras?, de Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi, recebe inscrições até 31 de julho.
A exposição "Wedding Awards", com vestidos de noiva criados por Vera Wang e Oscar de la Renta, fica em cartaz até 31 de maio, no JK Iguatemi.
Inimputáveis? - SÉRGIO MAGALHÃES
O GLOBO - 25/05
A cidade teve muitos de seus melhores espaços públicos desqualificados pela invasão rodoviarista, no Centro, na orla, nos bairros
Acidentes que se multiplicam, veículos com centenas de infrações, multas não pagas, carros sem conforto — são tantas as queixas sobre os ônibus que é justo indagar: eles são inatingíveis? Cobrado, diz o presidente da Federação das Empresas de Transporte: “O Rio cresceu sem planejamento.”
As cidades modernas, resultantes da industrialização, tornaram-se grandes cidades quando o sistema de transporte coletivo foi capaz de transportar amplos contingentes. Elas se apoiaram no transporte rápido, nem sempre subterrâneo, em geral sobre trilhos. Londres inaugurou o metrô nos anos 1860; Paris, em 1900.
Ao contrário do que se diz, o Rio cresceu bem estruturado — pelo transporte e obedecendo à geografia. Quando a cidade precisou se expandir para além da área que hoje chamamos de Centro, ela o fez apoiada pelos trilhos. Na Zona Norte, ampla e larga, ainda no século XIX construiu as linhas ferroviárias suburbanas. Na Zona Sul, área restrita, foram os bondes que orientaram o crescimento. Os bondes ainda interligavam as ferrovias, em delicados percursos. Era uma boa estrutura.
Mas, nos anos 1960, as cidades brasileiras foram levadas a desmobilizar o modo sobre trilhos, adotando o modo rodoviário (implantava-se a indústria automobilística). Para o Rio, cidade então mais bem estruturada do País, urbanisticamente, foi uma hecatombe. Não modernizou os trens, que se degradaram, e fez um metrô peculiar: isolado das ferrovias, uma só linha, ao invés de uma rede. Apostou no ônibus e no carro. Nem o ônibus é adequado para grandes percursos, nem o carro o é para grandes contingentes. Assim, entre as cidades brasileiras, no Rio é maior a percentagem de pessoas que gastam de uma a duas horas na viagem casa-trabalho (ANTP, 2011).
A cidade teve muitos de seus melhores espaços públicos desqualificados pela invasão rodoviarista, no Centro, na orla, nos bairros. A dupla automóvel-ônibus é gulosa por território; quando imposta hegemonicamente a tecido urbano preexistente, rompe a escala dos lugares, inibe a relação cidadão-cidade, exclui alternativas de mobilidade.
Não, o Rio não cresceu sem planejamento. A cidade teve imposta uma troca modal em desacordo com sua estrutura. Está em tempo de reconhecer o erro (a indústria automobilística já é forte). O rodoviarismo ainda pressiona para transformar todo tecido urbano em área de passagem.
O Rio precisa redesenhar sua mobilidade em sintonia com suas estruturas urbanísticas. Onde a urbanização é estruturada pelo automóvel, como na Barra, adequando-se a esse modal; mas, no sistema metropolitano e na Zona Norte-Zona Sul-Centro, dando ênfase a modos de alto rendimento, tipo metrô em rede e transformação dos trens em metrô.
A indefinição político-institucional da cidade metropolitana certamente responde pela ausência de respostas. É inércia que há décadas penaliza a população.
Todos os modos de transporte têm o seu lugar. Mas não é por reconhecermos sua óbvia inadequação como principal modo de transporte da metrópole que os ônibus se tornam inimputáveis.
A propósito: Há melhor sintonia com a estrutura do bairro que o bondinho em Santa Teresa? Quando voltará?
A cidade teve muitos de seus melhores espaços públicos desqualificados pela invasão rodoviarista, no Centro, na orla, nos bairros
Acidentes que se multiplicam, veículos com centenas de infrações, multas não pagas, carros sem conforto — são tantas as queixas sobre os ônibus que é justo indagar: eles são inatingíveis? Cobrado, diz o presidente da Federação das Empresas de Transporte: “O Rio cresceu sem planejamento.”
As cidades modernas, resultantes da industrialização, tornaram-se grandes cidades quando o sistema de transporte coletivo foi capaz de transportar amplos contingentes. Elas se apoiaram no transporte rápido, nem sempre subterrâneo, em geral sobre trilhos. Londres inaugurou o metrô nos anos 1860; Paris, em 1900.
Ao contrário do que se diz, o Rio cresceu bem estruturado — pelo transporte e obedecendo à geografia. Quando a cidade precisou se expandir para além da área que hoje chamamos de Centro, ela o fez apoiada pelos trilhos. Na Zona Norte, ampla e larga, ainda no século XIX construiu as linhas ferroviárias suburbanas. Na Zona Sul, área restrita, foram os bondes que orientaram o crescimento. Os bondes ainda interligavam as ferrovias, em delicados percursos. Era uma boa estrutura.
Mas, nos anos 1960, as cidades brasileiras foram levadas a desmobilizar o modo sobre trilhos, adotando o modo rodoviário (implantava-se a indústria automobilística). Para o Rio, cidade então mais bem estruturada do País, urbanisticamente, foi uma hecatombe. Não modernizou os trens, que se degradaram, e fez um metrô peculiar: isolado das ferrovias, uma só linha, ao invés de uma rede. Apostou no ônibus e no carro. Nem o ônibus é adequado para grandes percursos, nem o carro o é para grandes contingentes. Assim, entre as cidades brasileiras, no Rio é maior a percentagem de pessoas que gastam de uma a duas horas na viagem casa-trabalho (ANTP, 2011).
A cidade teve muitos de seus melhores espaços públicos desqualificados pela invasão rodoviarista, no Centro, na orla, nos bairros. A dupla automóvel-ônibus é gulosa por território; quando imposta hegemonicamente a tecido urbano preexistente, rompe a escala dos lugares, inibe a relação cidadão-cidade, exclui alternativas de mobilidade.
Não, o Rio não cresceu sem planejamento. A cidade teve imposta uma troca modal em desacordo com sua estrutura. Está em tempo de reconhecer o erro (a indústria automobilística já é forte). O rodoviarismo ainda pressiona para transformar todo tecido urbano em área de passagem.
O Rio precisa redesenhar sua mobilidade em sintonia com suas estruturas urbanísticas. Onde a urbanização é estruturada pelo automóvel, como na Barra, adequando-se a esse modal; mas, no sistema metropolitano e na Zona Norte-Zona Sul-Centro, dando ênfase a modos de alto rendimento, tipo metrô em rede e transformação dos trens em metrô.
A indefinição político-institucional da cidade metropolitana certamente responde pela ausência de respostas. É inércia que há décadas penaliza a população.
Todos os modos de transporte têm o seu lugar. Mas não é por reconhecermos sua óbvia inadequação como principal modo de transporte da metrópole que os ônibus se tornam inimputáveis.
A propósito: Há melhor sintonia com a estrutura do bairro que o bondinho em Santa Teresa? Quando voltará?
Trabalho em debate - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 25/05
Os números do mercado de trabalho que saíram nos últimos dias deixariam eufóricos certos países europeus. Em abril, o IBGE captou 5,8% de desemprego, e o mercado formal criou 200 mil vagas. É o lado bom de uma economia que está crescendo pouco e com inflação alta e resistente. O Brasil não está sozinho na boa notícia: a América Latina também está com desemprego baixo.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) registraram que na América Latina a taxa média de desemprego do ano passado foi de 6,4%. No México, a taxa média foi de 5,9%; Uruguai, 6,2%; Chile, 6,4%; Peru, 6,8%; Equador, 4,9%. Mas nem toda a região vai bem: Venezuela, Argentina e Colômbia estão com taxas mais altas.
A OIT e a Cepal explicam que o círculo virtuoso começou com o crescimento da economia, aumento dos salários, expansão do crédito e do consumo. O problema, dizem, é a falta de investimento para manter esse movimento.
No Brasil, como se pode ver no gráfico abaixo, depois da queda abrupta de 2009, por causa da crise, a criação de empregos formais se recuperou, mas está em forte desaceleração. Este foi o pior abril desde 2010. No ponto mais alto deste gráfico, o país estava criando 2,2 milhões de empregos, no acumulado de 12 meses, e agora está em 778 mil.
No caso da PME, o desemprego de 5,8% em abril ficou praticamente igual ao do mês passado, 5,7%, mas houve aumento em São Paulo, de 6,3% para 6,7%. O curioso é que o Caged mostrou aumento do emprego na indústria e o IBGE mostrou queda no emprego industrial. Eles não medem o mesmo fenômeno, nem usam os mesmos dados, mas é interessante terem dado tendências opostas.
O emprego está no meio de um debate entre os economistas. Há os que acham que o mercado de trabalho
aquecido é parte do problema da inflação. O rombo nas contas correntes e a inflação estariam provando que
não falta demanda na economia. O problema seria de oferta. Falta investimento. Mas o Ministério da Fazenda
tem usado mecanismos de desoneração e elevação de gastos para incentivar o consumo,como se o problema
fosse de falta de demanda.
Os dados, no entanto, mostram que o mercado de trabalho não está piorando, mas o ritmo de crescimento do emprego está em queda. Caiu 9% em abril, em relação ao mesmo mês de 2012, e vem desacelerando o total dos empregos criados num período de 12 meses. O modelo estaria se esgotando.
De qualquer forma, resta a boa notícia de que os empresários não estão demitindo, apesar do baixo crescimento. Estão cortando horas trabalhadas, mas mantendo o quadro de funcionários. Isso pode indicar que o empresariado está com expectativa de que a economia vai se recuperar, retomando o crescimento. Que seja através de mais investimento.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) registraram que na América Latina a taxa média de desemprego do ano passado foi de 6,4%. No México, a taxa média foi de 5,9%; Uruguai, 6,2%; Chile, 6,4%; Peru, 6,8%; Equador, 4,9%. Mas nem toda a região vai bem: Venezuela, Argentina e Colômbia estão com taxas mais altas.
A OIT e a Cepal explicam que o círculo virtuoso começou com o crescimento da economia, aumento dos salários, expansão do crédito e do consumo. O problema, dizem, é a falta de investimento para manter esse movimento.
No Brasil, como se pode ver no gráfico abaixo, depois da queda abrupta de 2009, por causa da crise, a criação de empregos formais se recuperou, mas está em forte desaceleração. Este foi o pior abril desde 2010. No ponto mais alto deste gráfico, o país estava criando 2,2 milhões de empregos, no acumulado de 12 meses, e agora está em 778 mil.
No caso da PME, o desemprego de 5,8% em abril ficou praticamente igual ao do mês passado, 5,7%, mas houve aumento em São Paulo, de 6,3% para 6,7%. O curioso é que o Caged mostrou aumento do emprego na indústria e o IBGE mostrou queda no emprego industrial. Eles não medem o mesmo fenômeno, nem usam os mesmos dados, mas é interessante terem dado tendências opostas.
O emprego está no meio de um debate entre os economistas. Há os que acham que o mercado de trabalho
aquecido é parte do problema da inflação. O rombo nas contas correntes e a inflação estariam provando que
não falta demanda na economia. O problema seria de oferta. Falta investimento. Mas o Ministério da Fazenda
tem usado mecanismos de desoneração e elevação de gastos para incentivar o consumo,como se o problema
fosse de falta de demanda.
Os dados, no entanto, mostram que o mercado de trabalho não está piorando, mas o ritmo de crescimento do emprego está em queda. Caiu 9% em abril, em relação ao mesmo mês de 2012, e vem desacelerando o total dos empregos criados num período de 12 meses. O modelo estaria se esgotando.
De qualquer forma, resta a boa notícia de que os empresários não estão demitindo, apesar do baixo crescimento. Estão cortando horas trabalhadas, mas mantendo o quadro de funcionários. Isso pode indicar que o empresariado está com expectativa de que a economia vai se recuperar, retomando o crescimento. Que seja através de mais investimento.
Instabilidade política e direito - WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 25/05
Parlamentares demonstram não se preocupar em mudar de opinião, desde que isso lhes permita colher frutos
"O pior defeito é a opinião instável." Se o leitor estiver acompanhando manifestações de figuras destacadas em recentes enunciados públicos --sem excluir qualquer partido--, emitidas sobre relações entre os três Poderes, talvez concorde com a frase inicial. Pode até supor que o comentarista defende alguma das partes envolvidas.
Não é o caso, por três motivos.
O primeiro decorre do inciso 5º do art. 1º da Constituição. Vê, no pluralismo político, um dos fundamentos constitutivos da República. Em segundo lugar, porque o direito de mudar de opinião vem preservado pela Carta Magna, com a livre manifestação do pensamento (art. 5º, inciso 4º).
Por último, porque a frase inicial é velhíssima. Foi escrita por Sófocles, autor de "Édipo Rei", um dos três grandes clássicos do teatro grego. Era tesoureiro das contas públicas atenienses. Faleceu em 406 antes de Cristo. Sófocles integrou a administração de sua cidade. Era político, mas lhe repugnava a instabilidade de opiniões.
A longa introdução se explica. Tramita no Congresso proposta legislativa cujo objetivo final é restringir a criação de novos partidos políticos na atual legislatura. Foi sustada por liminar concedida no STF (Supremo Tribunal Federal) pelo ministro Gilmar Mendes, por vários motivos. Um deles está em que o projeto (n. 14/2013) impõe nas regras do jogo mudanças que podem prejudicar minorias políticas. Gerou críticas pela variação de critérios, em curto espaço de tempo.
O leitor reclamará da aparente falta de ligação do grande Sófocles, de 2.500 anos atrás, com este terceiro milênio. A ligação é integral: parlamentares brasileiros dos dois lados da discussão demonstraram, em vários exemplos, que não se preocupam com serem acusados de instabilidade de opinião, desde que isso lhes permita colher frutos no debate político. É o que se tem visto quando gerado por mudanças de interesse do Poder Executivo.
O jogo das conveniências políticas supera a conveniência da lógica comportamental, conforme o presidente do STF, Joaquim Barbosa, suscitou em palestra acadêmica de grande repercussão durante a semana, pela falta de coerência em pronunciamentos contrários à corte.
Alguns políticos que defendem hoje a opinião "a", antes sufragavam a opinião "z", afrontando estatutos partidários. Sófocles, que também foi valente agente fiscal, queria a persistência das opiniões. Detestava a instabilidade.
Para o bom direito, lidas as normas constitucionais do presente, o Projeto 14 (cuja velocidade no andamento parlamentar causou espanto) poderá prejudicar, se aprovado, práticas da democracia. Curiosamente, alguns dos que hoje estão na posição dos caçadores (com "ç"), defenderam posições de caçados (com "ç"). Justificam a fragilidade criticada pelo presidente do Supremo.
Conclusão: não se quer o político de opinião imutável, permanente. Tal posição seria irracional, em face de muitas mudanças na realidade subjacente. Ocorre, porém, que o rubor das faces ante contraditórias opiniões emitidas exigiria de deputados e senadores mais cuidado nas alterações de rumo, sobretudo em face do Poder Executivo.
O pior defeito da opinião está na persistente inconstância lógica da mutabilidade, conforme é a tendência atual.
Parlamentares demonstram não se preocupar em mudar de opinião, desde que isso lhes permita colher frutos
"O pior defeito é a opinião instável." Se o leitor estiver acompanhando manifestações de figuras destacadas em recentes enunciados públicos --sem excluir qualquer partido--, emitidas sobre relações entre os três Poderes, talvez concorde com a frase inicial. Pode até supor que o comentarista defende alguma das partes envolvidas.
Não é o caso, por três motivos.
O primeiro decorre do inciso 5º do art. 1º da Constituição. Vê, no pluralismo político, um dos fundamentos constitutivos da República. Em segundo lugar, porque o direito de mudar de opinião vem preservado pela Carta Magna, com a livre manifestação do pensamento (art. 5º, inciso 4º).
Por último, porque a frase inicial é velhíssima. Foi escrita por Sófocles, autor de "Édipo Rei", um dos três grandes clássicos do teatro grego. Era tesoureiro das contas públicas atenienses. Faleceu em 406 antes de Cristo. Sófocles integrou a administração de sua cidade. Era político, mas lhe repugnava a instabilidade de opiniões.
A longa introdução se explica. Tramita no Congresso proposta legislativa cujo objetivo final é restringir a criação de novos partidos políticos na atual legislatura. Foi sustada por liminar concedida no STF (Supremo Tribunal Federal) pelo ministro Gilmar Mendes, por vários motivos. Um deles está em que o projeto (n. 14/2013) impõe nas regras do jogo mudanças que podem prejudicar minorias políticas. Gerou críticas pela variação de critérios, em curto espaço de tempo.
O leitor reclamará da aparente falta de ligação do grande Sófocles, de 2.500 anos atrás, com este terceiro milênio. A ligação é integral: parlamentares brasileiros dos dois lados da discussão demonstraram, em vários exemplos, que não se preocupam com serem acusados de instabilidade de opinião, desde que isso lhes permita colher frutos no debate político. É o que se tem visto quando gerado por mudanças de interesse do Poder Executivo.
O jogo das conveniências políticas supera a conveniência da lógica comportamental, conforme o presidente do STF, Joaquim Barbosa, suscitou em palestra acadêmica de grande repercussão durante a semana, pela falta de coerência em pronunciamentos contrários à corte.
Alguns políticos que defendem hoje a opinião "a", antes sufragavam a opinião "z", afrontando estatutos partidários. Sófocles, que também foi valente agente fiscal, queria a persistência das opiniões. Detestava a instabilidade.
Para o bom direito, lidas as normas constitucionais do presente, o Projeto 14 (cuja velocidade no andamento parlamentar causou espanto) poderá prejudicar, se aprovado, práticas da democracia. Curiosamente, alguns dos que hoje estão na posição dos caçadores (com "ç"), defenderam posições de caçados (com "ç"). Justificam a fragilidade criticada pelo presidente do Supremo.
Conclusão: não se quer o político de opinião imutável, permanente. Tal posição seria irracional, em face de muitas mudanças na realidade subjacente. Ocorre, porém, que o rubor das faces ante contraditórias opiniões emitidas exigiria de deputados e senadores mais cuidado nas alterações de rumo, sobretudo em face do Poder Executivo.
O pior defeito da opinião está na persistente inconstância lógica da mutabilidade, conforme é a tendência atual.
O que falta no pré-sal - CELSO MING
ESTADÃO - 25/05
O governo federal decidiu colocar em marcha a exploração de petróleo do pré-sal, sem, no entanto, ter resolvido alguns dos problemas que durante cinco anos o mantiveram paralisado.
Como foi anunciado pela diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, na quinta-feira, o primeiro leilão foi antecipado para outubro, quando será ofertada uma única área, o gigantesco campo de Libra, cujo potencial de óleo recuperável pode se aproximar dos 12 bilhões de barris (de 159 milhões de litros). Será também a primeira licitação sob regime de partilha (veja o Entenda).
Ao contrário das licitações anteriores, nesta o consórcio vencedor terá previamente à sua disposição enorme massa de conhecimentos geológicos que reduzirá substancialmente o risco de exploração.
Libra foi uma das áreas pré-selecionadas para fazer parte da cessão onerosa, operação por meio da qual o Tesouro subscreveu sua participação no último aumento de capital da Petrobrás. Como as descobertas em outras áreas, sobretudo nas de Franco e de Florim, já perfizeram os 5 bilhões de barris de petróleo a que a Petrobrás passou a ter direito, o potencial de Libra está agora disponível para leilão.
O novo marco regulatório impõe não só a participação da Petrobrás em todas as áreas novas de exploração do pré-sal, à proporção mínima de 30%, mas também a condição de única operadora.
A Petrobrás já não está dando conta da enorme tarefa que tem pela frente. Seu plano de negócios prevê investimentos de nada menos que US$ 237,7 bilhões até 2017, o que já é, por si só, programa de enormes proporções. A Petrobrás vem dando inúmeros sinais de que enfrenta o esgotamento de suas condições financeiras e administrativas para dar cabo do que já está decidido. Suas metas de desempenho vêm sendo sistematicamente descumpridas. Seu nível de capitalização já é insuficiente para o tamanho da empreitada e sua capacidade de endividamento já encosta nos limites técnicos, apesar da enorme disponibilidade de recursos no mercado internacional.
Dadas as proporções do novo campo e o risco relativamente baixo a ser enfrentado, tanto o bônus de assinatura como as condições a que se submeterá o consórcio vencedor tendem a ser especialmente duros. Além de arcar com ao menos 30% do custeio do empreendimento, a Petrobrás terá de aceitar essas condições.
É também conhecida a hemorragia de caixa da Petrobrás, na medida em que o governo exige que pague um pedaço da conta que caberia ao consumidor de combustíveis.
Os especialistas vêm recomendando que a legislação seja revista para que a Petrobrás possa reduzir sua participação obrigatória. Mas o governo não insiste apenas em manter essa exigência, como também continua pressionando seu fluxo de caixa.
Uma saída que evitasse reajustes realistas de preços dos combustíveis ao consumidor e a disparada da inflação talvez fossem providências que levassem o Tesouro a assumir o ônus dos subsídios e compensassem a Petrobrás com novas concessões de petróleo futuro sem risco de reservatório, como aconteceu na cessão onerosa. Mas nada disso parece em consideração em Brasília.
ENTENDA
Por que os leilões
Por disposição da Constituição, as riquezas do subsolo são da União e podem ser exploradas por terceiros, com autorização legal para isso.
Regime de concessão
É o que prevaleceu até aqui e continua sendo adotado nas áreas de petróleo existente acima da camada de sal (pós-sal). Os riscos da produção e a propriedade dos hidrocarbonetos são do consórcio que obteve a concessão. Em troca, deve ao Tesouro participações especiais sobre o valor da produção e o pagamento de royalties aos Estados e municípios onde realiza a atividade.
Regime de partilha
Nesse caso, o dono do petróleo é o Tesouro que, no entanto, reparte a produção, nas proporções previamente contratadas, com o consórcio, já deduzidos os custos.
Vulnerabilidade
A maior crítica que se faz ao regime de partilha é a alta vulnerabilidade a fraudes quando se contabilizam os custos de produção.
Fechados somos nós - ALEXANDRE VIDAL PORTO
FOLHA DE SP - 25/05
Se sua ideia de país fechado é o Japão, pense de novo. Temos cinco vezes menos estrangeiros que eles
O Primeiro-Ministro do Japão é um sucesso. Shinzo Abe tomou posse em dezembro de 2012 e, em menos de seis meses, parece ter conseguido reverter um quadro econômico negativo que se arrastava havia anos. Nos primeiros três meses de 2013, a economia indicou crescimento anualizado de 3,5%. A popularidade de Abe supera 70%. Sua abordagem econômica ficou conhecida como "Abenomics" e lhe rendeu, só na semana passada, uma matéria muito lisonjeira no "New York Times" e a capa da revista "Economist", na qual ele aparece caracterizado como super-herói.
A fase seguinte da "Abenomics" será anunciada em junho. Abe acredita que a consolidação desse processo de retomada deva incluir políticas de internacionalização do país. Por isso, adotará medidas para dobrar o número de turistas em cinco anos, aumentar a exportação da produção cultural japonesa e atrair número maior de estudantes para universidades locais.
O Japão sempre projetou a imagem de país isolado. Até 1854, seus portos estiveram fechados para a quase totalidade dos estrangeiros. Em comparação com outros países industrializados, tem um dos menores índices de população nascida no exterior. Em 2011, a Itália tinha 8% de estrangeiros. A Alemanha, 9%; e os Estados Unidos, 15%. O Japão, por sua vez, apenas 1,6%.
No entanto, se sua ideia de país fechado é o Japão, pense de novo. Olhe em volta e conte quantos estrangeiros há ao seu redor. Não serão muitos. Proporcionalmente, temos cinco vezes menos estrangeiros que o Japão. Fechados somos nós.
A proporção de estrangeiros na população brasileira (0,3%) é dez vezes inferior à média mundial. Várias causas terão contribuído para o nosso isolamento, mas as consequências dessa falta de diversidade é clara. Ao nos fecharmos ao que é de fora, tornamo-nos provincianos. A falta de estrangeiros faz o Brasil menor e mais pobre.
Os imigrantes trazem um sentido de empreendedorismo e determinação necessários a um país que quer e precisa crescer. Pode ser o garçom peruano na pizzaria em São Paulo, o pequeno empresário coreano que abre seu primeiro negócio no Paraná. Ou, ainda, o médico cubano no Maranhão ou o engenheiro húngaro no Ceará. Além de determinação, trazem conhecimento e experiência que suprem carências nacionais e promovem inovação.
Costumamos pensar na imigração como um fenômeno histórico importante --que trouxe nossos avós e bisavós para o Brasil--, mas que ficou no passado, sem relevância. Nada é menos verdadeiro. Há muitos estrangeiros que querem e merecem trabalhar aqui. Temos de aproveitar seu talento em nosso favor. Se não o fizermos, algum outro país o fará.
O governo federal já se deu conta da necessidade de atrair mais estrangeiros para o país. Recentemente, anunciou medidas para simplificar a concessão de vistos de trabalho e concedeu anistia a pessoas em situação imigratória irregular. Esse tipo de medida dará bons resultados a longo prazo. É essa a direção em que devemos seguir.
Se sua ideia de país fechado é o Japão, pense de novo. Temos cinco vezes menos estrangeiros que eles
O Primeiro-Ministro do Japão é um sucesso. Shinzo Abe tomou posse em dezembro de 2012 e, em menos de seis meses, parece ter conseguido reverter um quadro econômico negativo que se arrastava havia anos. Nos primeiros três meses de 2013, a economia indicou crescimento anualizado de 3,5%. A popularidade de Abe supera 70%. Sua abordagem econômica ficou conhecida como "Abenomics" e lhe rendeu, só na semana passada, uma matéria muito lisonjeira no "New York Times" e a capa da revista "Economist", na qual ele aparece caracterizado como super-herói.
A fase seguinte da "Abenomics" será anunciada em junho. Abe acredita que a consolidação desse processo de retomada deva incluir políticas de internacionalização do país. Por isso, adotará medidas para dobrar o número de turistas em cinco anos, aumentar a exportação da produção cultural japonesa e atrair número maior de estudantes para universidades locais.
O Japão sempre projetou a imagem de país isolado. Até 1854, seus portos estiveram fechados para a quase totalidade dos estrangeiros. Em comparação com outros países industrializados, tem um dos menores índices de população nascida no exterior. Em 2011, a Itália tinha 8% de estrangeiros. A Alemanha, 9%; e os Estados Unidos, 15%. O Japão, por sua vez, apenas 1,6%.
No entanto, se sua ideia de país fechado é o Japão, pense de novo. Olhe em volta e conte quantos estrangeiros há ao seu redor. Não serão muitos. Proporcionalmente, temos cinco vezes menos estrangeiros que o Japão. Fechados somos nós.
A proporção de estrangeiros na população brasileira (0,3%) é dez vezes inferior à média mundial. Várias causas terão contribuído para o nosso isolamento, mas as consequências dessa falta de diversidade é clara. Ao nos fecharmos ao que é de fora, tornamo-nos provincianos. A falta de estrangeiros faz o Brasil menor e mais pobre.
Os imigrantes trazem um sentido de empreendedorismo e determinação necessários a um país que quer e precisa crescer. Pode ser o garçom peruano na pizzaria em São Paulo, o pequeno empresário coreano que abre seu primeiro negócio no Paraná. Ou, ainda, o médico cubano no Maranhão ou o engenheiro húngaro no Ceará. Além de determinação, trazem conhecimento e experiência que suprem carências nacionais e promovem inovação.
Costumamos pensar na imigração como um fenômeno histórico importante --que trouxe nossos avós e bisavós para o Brasil--, mas que ficou no passado, sem relevância. Nada é menos verdadeiro. Há muitos estrangeiros que querem e merecem trabalhar aqui. Temos de aproveitar seu talento em nosso favor. Se não o fizermos, algum outro país o fará.
O governo federal já se deu conta da necessidade de atrair mais estrangeiros para o país. Recentemente, anunciou medidas para simplificar a concessão de vistos de trabalho e concedeu anistia a pessoas em situação imigratória irregular. Esse tipo de medida dará bons resultados a longo prazo. É essa a direção em que devemos seguir.
'Fargo', um roteiro sul-americano - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S. PAULO - 25/05
A costumado a escrever torto por linhas tortas, o governo federal, incapaz de combater a inflação por métodos sérios, convenceu o governador paulista e o prefeito de São Paulo a limitar o reajuste, já com atraso, das tarifas de trens, metrô e ônibus. Já havia feito isso, no começo do ano, quando a alta de preços acumulada em 12 meses furava o limite de tolerância,6,5%.Agora,o aumento nominal nem de longe acompanha a inflação, mas a perda será atenuada com a suspensão da cobrança de PIS/Cofins sobre o transporte coletivo.A medida valerá para todo o País, em mais uma improvisação.Cortar tributos pode ser muito bom para consumidores e empresas, mas só um governo irresponsável e trapalhão age dessa forma. É mais uma demonstração de como os erros tendem a amontoar-se e a gerar mais distorções quando as pessoas preferem cuidar dos problemas pelo facilitário.
Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner convocou movimentos sociais e especialmente organizações juvenis - sim,há uma juventude kirchnerista - para vigiarem o comércio e denunciarem os desvios da política oficial de preços, complicada com mais uma fase de congelamento.Empenhado em permanente campanha eleitoral, o governo decidiu frear pelo método mais tosco, e mais ineficiente,as prováveis pressões inflacionárias derivadas dos novos aumentos salariais e de outros benefícios. Só esses benefícios lançarão 16,8 bilhões de pesos no mercado de consumo, segundo o jornal La Nación. Marretar os índices de inflação,uma prática iniciada no tempo do presidente Néstor Kirchner, é muito mais fácil que conter de fato os preços encontrados pelo consumidor em suas compras.
Na Venezuela, o governo anunciou a importação de 50 milhões de rolos de papel higiênico para atenuar uma penosa escassez no mercado interno.
As intervenções em nome da gloriosa revolução bolivariana já resultaram em problemas variados de abastecimento e num aumento brutal da importação de comida.O governo venezuelano arrasou a produção agrícola nacional e submeteu as cadeias internas de distribuição a um controle cada vez mais estrito e, naturalmente, com efeitos cada vez mais desastrosos. Isso explica boa parte do aumento das exportações brasileiras de alimentos para o mercado bolivariano.
Os produtores colombianos também entraram na festa.
Mas os pagamentos voltaram de novo a atrasar, porque, na Venezuela, as autoridades julgaram conveniente racionar o uso de dólares.
A Argentina perdeu posições como exportadora de trigo, por causa das muitas bobagens cometidas pelo governo, e a Venezuela, apesar de suas enormes reservas de petróleo, tem problemas para custear as compras no exterior. De tempo sem tempos aparecem notícias de atrasos na liquidação das contas venezuelanas. Segundo cálculo recente,divulgado nesta semana pelo Valor, as contas penduradas pelos importadores chegam desta vez a US$ 9 bilhões. Exportadores brasileiros são credores de US$ 1,5 bilhão.
Parece justo creditaras realizações mais notáveis à dinastia Kirchner. Para disfarçar a inflação o governo falsifica indicadores há vários anos e proíbe a divulgação de cálculos independentes. Também tem congelado preços e dificultado exportações com impostos e cotas. A valorização do peso, parte da política de marretação de índices de preços, mina o poder de competição do país.
Com essas lambanças, o país passou de 3.º maior exportador de carne em 2005 para 11.º, atrás do Paraguai (10.º), do Uruguai (8.º) e muito longe do Brasil, superado apenas pela Austrália. Nesse período, o rebanho argentino encolheu, a oferta diminuiu e a carne encareceu no mercado interno.
Durante anos, o Tesouro argentino, sem acesso ao mercado,só conseguiu rolar seus títulos graças à colaboração do presidente Hugo Chávez, quando a Venezuela tinha petrodólares para gentilezas como essas.
Atualmente o governo bolivariano tem de se preocupar com outro tipo de papel, negociado fora do mercado financeiro, mas nem por isso desimportante.Mas até a escassez desse material foi convertida em sinal de progresso pela retórica oficialista. Segundo o diretor do Instituto Nacional de Estatísticas, Elias Ejuri, a demanda de papel higiênico cresceu nos últimos anos porque, graças à revolução bolivariana, "as pessoas estão comendo mais".
Nem o Indec argentino, encarregado de maquiar a inflação, se tem mostrado tão criativo.
No Brasil, o alto nível de emprego e a expansão da massa de rendimentos têm resultado em maiores importações, porque a política oficial, embora o governo afirme o contrário, tem estimulado muito mais o consumo que a produção.A capacidade produtiva continuará baixa por alguns anos, porque o investimento, mesmo com alguma expansão em 2013, permanece inferior a 20% do produto interno bruto (PIB). Com isso o potencial de crescimento sustentável dificilmente passará de 3,5% ainda por alguns anos. Se nada mudar para valer, continuarão as pressões inflacionárias e a deterioração das contas externas, Mantidos os vícios, o governo continuará improvisando remendos tributários e intervindo nos preços, inspirado, talvez,pelo exemplo argentino,mas sem condições políticas de falsificar estatísticas e controlar o varejo.
Os governos argentino, brasileiro e venezuelano têm seguido um roteiro comum, abandonado por outros países da região. A linha básica é a do filme Fargo, dos irmãos Coen.
Um vendedor de carros em apuro financeiro contrata dois bandidos para forjar um sequestro de sua mulher. O plano é pedir ao sogro um resgate de US$ 1 milhão. O plano dá errado, ocorrem três mortes e cada nova mentira para contornar a burrada complica a situação. É um tratado notável de política econômica.
A costumado a escrever torto por linhas tortas, o governo federal, incapaz de combater a inflação por métodos sérios, convenceu o governador paulista e o prefeito de São Paulo a limitar o reajuste, já com atraso, das tarifas de trens, metrô e ônibus. Já havia feito isso, no começo do ano, quando a alta de preços acumulada em 12 meses furava o limite de tolerância,6,5%.Agora,o aumento nominal nem de longe acompanha a inflação, mas a perda será atenuada com a suspensão da cobrança de PIS/Cofins sobre o transporte coletivo.A medida valerá para todo o País, em mais uma improvisação.Cortar tributos pode ser muito bom para consumidores e empresas, mas só um governo irresponsável e trapalhão age dessa forma. É mais uma demonstração de como os erros tendem a amontoar-se e a gerar mais distorções quando as pessoas preferem cuidar dos problemas pelo facilitário.
Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner convocou movimentos sociais e especialmente organizações juvenis - sim,há uma juventude kirchnerista - para vigiarem o comércio e denunciarem os desvios da política oficial de preços, complicada com mais uma fase de congelamento.Empenhado em permanente campanha eleitoral, o governo decidiu frear pelo método mais tosco, e mais ineficiente,as prováveis pressões inflacionárias derivadas dos novos aumentos salariais e de outros benefícios. Só esses benefícios lançarão 16,8 bilhões de pesos no mercado de consumo, segundo o jornal La Nación. Marretar os índices de inflação,uma prática iniciada no tempo do presidente Néstor Kirchner, é muito mais fácil que conter de fato os preços encontrados pelo consumidor em suas compras.
Na Venezuela, o governo anunciou a importação de 50 milhões de rolos de papel higiênico para atenuar uma penosa escassez no mercado interno.
As intervenções em nome da gloriosa revolução bolivariana já resultaram em problemas variados de abastecimento e num aumento brutal da importação de comida.O governo venezuelano arrasou a produção agrícola nacional e submeteu as cadeias internas de distribuição a um controle cada vez mais estrito e, naturalmente, com efeitos cada vez mais desastrosos. Isso explica boa parte do aumento das exportações brasileiras de alimentos para o mercado bolivariano.
Os produtores colombianos também entraram na festa.
Mas os pagamentos voltaram de novo a atrasar, porque, na Venezuela, as autoridades julgaram conveniente racionar o uso de dólares.
A Argentina perdeu posições como exportadora de trigo, por causa das muitas bobagens cometidas pelo governo, e a Venezuela, apesar de suas enormes reservas de petróleo, tem problemas para custear as compras no exterior. De tempo sem tempos aparecem notícias de atrasos na liquidação das contas venezuelanas. Segundo cálculo recente,divulgado nesta semana pelo Valor, as contas penduradas pelos importadores chegam desta vez a US$ 9 bilhões. Exportadores brasileiros são credores de US$ 1,5 bilhão.
Parece justo creditaras realizações mais notáveis à dinastia Kirchner. Para disfarçar a inflação o governo falsifica indicadores há vários anos e proíbe a divulgação de cálculos independentes. Também tem congelado preços e dificultado exportações com impostos e cotas. A valorização do peso, parte da política de marretação de índices de preços, mina o poder de competição do país.
Com essas lambanças, o país passou de 3.º maior exportador de carne em 2005 para 11.º, atrás do Paraguai (10.º), do Uruguai (8.º) e muito longe do Brasil, superado apenas pela Austrália. Nesse período, o rebanho argentino encolheu, a oferta diminuiu e a carne encareceu no mercado interno.
Durante anos, o Tesouro argentino, sem acesso ao mercado,só conseguiu rolar seus títulos graças à colaboração do presidente Hugo Chávez, quando a Venezuela tinha petrodólares para gentilezas como essas.
Atualmente o governo bolivariano tem de se preocupar com outro tipo de papel, negociado fora do mercado financeiro, mas nem por isso desimportante.Mas até a escassez desse material foi convertida em sinal de progresso pela retórica oficialista. Segundo o diretor do Instituto Nacional de Estatísticas, Elias Ejuri, a demanda de papel higiênico cresceu nos últimos anos porque, graças à revolução bolivariana, "as pessoas estão comendo mais".
Nem o Indec argentino, encarregado de maquiar a inflação, se tem mostrado tão criativo.
No Brasil, o alto nível de emprego e a expansão da massa de rendimentos têm resultado em maiores importações, porque a política oficial, embora o governo afirme o contrário, tem estimulado muito mais o consumo que a produção.A capacidade produtiva continuará baixa por alguns anos, porque o investimento, mesmo com alguma expansão em 2013, permanece inferior a 20% do produto interno bruto (PIB). Com isso o potencial de crescimento sustentável dificilmente passará de 3,5% ainda por alguns anos. Se nada mudar para valer, continuarão as pressões inflacionárias e a deterioração das contas externas, Mantidos os vícios, o governo continuará improvisando remendos tributários e intervindo nos preços, inspirado, talvez,pelo exemplo argentino,mas sem condições políticas de falsificar estatísticas e controlar o varejo.
Os governos argentino, brasileiro e venezuelano têm seguido um roteiro comum, abandonado por outros países da região. A linha básica é a do filme Fargo, dos irmãos Coen.
Um vendedor de carros em apuro financeiro contrata dois bandidos para forjar um sequestro de sua mulher. O plano é pedir ao sogro um resgate de US$ 1 milhão. O plano dá errado, ocorrem três mortes e cada nova mentira para contornar a burrada complica a situação. É um tratado notável de política econômica.
A armadilha da informalidade - ELIZABETH TINOCO
O GLOBO - 25/05
Durante os últimos anos, a América Latina conseguiu ter uma situação de crescimento econômico com redução de desemprego. No entanto, nesta região ainda há mais de 100 milhões de pessoas que trabalham na informalidade, esta zona turva de nossas economias onde se perpetua a pobreza e aumenta a desigualdade.
Em todos os países latino-americanos está presente a informalidade laboral. O crescimento econômico é essencial para gerar mais empregos de melhor qualidade, mas não é suficiente. Inclusive se a região crescesse a 4% anualmente, um nível alto e que por certo já não será alcançado neste ano de incertezas, seriam necessários pelo menos 55 anos para reduzir a informalidade à metade. Este é um prazo demasiado longo, em desacordo com as aspirações de desenvolvimento de nossos países.
Portanto, para reduzir a informalidade é preciso colocar em práticas políticas e ações deliberadas que complementem o crescimento econômico.
O primeiro passo é melhorar a medição e o diagnóstico de um fenômeno complexo e que tem características diferentes segundo o território, o setor, ou grupo de população. Por exemplo, a informalidade afeta mais as mulheres e os jovens.
Quais trabalhadores são informais? Os números disponíveis indicam que na América Latina existem altas taxas de informalidade entre os trabalhadores por conta própria (83%), os trabalhadores domésticos (77,9%), os empregadores (36,3%) e inclusive os assalariados nas empresas (29,3%).
Quase 80% do emprego nesta região são gerados pelo setor privado. Existem cerca de 58,8 milhões de pessoas que possuem um negócio, mas a grande maioria, 48 milhões, são unidades unipessoais, e outras 8,5 milhões são micro e pequenas empresas com menos de cinco empregados. Em ambos os casos, predomina a informalidade.
Na luta contra a informalidade, é crucial revisar as normas para facilitar o cumprimento por parte de empresas e trabalhadores. Também são relevantes os incentivos para a formalização.
E, desde logo, melhorar a capacidade da administração pública para a inspeção do cumprimento das leis. Educação e formação dos trabalhadores, inovação e desenvolvimento tecnológico, simplificação de trâmites, acesso a mercados, também são essenciais.
Vivemos uma realidade dinâmica: a cada ano se incorporam ao mercado de trabalho da região cerca de 5 milhões de pessoas, a maioria jovens. Significa que até 2020 será preciso gerar cerca de 40 milhões de empregos formais, somente para que a situação atual não piore.
Em todos os países latino-americanos está presente a informalidade laboral. O crescimento econômico é essencial para gerar mais empregos de melhor qualidade, mas não é suficiente. Inclusive se a região crescesse a 4% anualmente, um nível alto e que por certo já não será alcançado neste ano de incertezas, seriam necessários pelo menos 55 anos para reduzir a informalidade à metade. Este é um prazo demasiado longo, em desacordo com as aspirações de desenvolvimento de nossos países.
Portanto, para reduzir a informalidade é preciso colocar em práticas políticas e ações deliberadas que complementem o crescimento econômico.
O primeiro passo é melhorar a medição e o diagnóstico de um fenômeno complexo e que tem características diferentes segundo o território, o setor, ou grupo de população. Por exemplo, a informalidade afeta mais as mulheres e os jovens.
Quais trabalhadores são informais? Os números disponíveis indicam que na América Latina existem altas taxas de informalidade entre os trabalhadores por conta própria (83%), os trabalhadores domésticos (77,9%), os empregadores (36,3%) e inclusive os assalariados nas empresas (29,3%).
Quase 80% do emprego nesta região são gerados pelo setor privado. Existem cerca de 58,8 milhões de pessoas que possuem um negócio, mas a grande maioria, 48 milhões, são unidades unipessoais, e outras 8,5 milhões são micro e pequenas empresas com menos de cinco empregados. Em ambos os casos, predomina a informalidade.
Na luta contra a informalidade, é crucial revisar as normas para facilitar o cumprimento por parte de empresas e trabalhadores. Também são relevantes os incentivos para a formalização.
E, desde logo, melhorar a capacidade da administração pública para a inspeção do cumprimento das leis. Educação e formação dos trabalhadores, inovação e desenvolvimento tecnológico, simplificação de trâmites, acesso a mercados, também são essenciais.
Vivemos uma realidade dinâmica: a cada ano se incorporam ao mercado de trabalho da região cerca de 5 milhões de pessoas, a maioria jovens. Significa que até 2020 será preciso gerar cerca de 40 milhões de empregos formais, somente para que a situação atual não piore.
Paralelo 16 Sul - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 25/05
A ocupação econômica parece ter separado o Brasil novamente com outra linha imaginária, o paralelo 16 Sul
Nos primeiros tempos de nossa história, um meridiano concebido pelos homens --o meridiano de Tordesilhas-- quis dividir nosso país em dois mundos diferentes.
Mas a obra dos reis não conseguiu separar os brasileiros que, nas inesquecíveis palavras de Tancredo Neves, empurraram com o seu peito a linha imaginária até onde eles julgaram ser terra brasileira.
Séculos depois, a ocupação econômica efetiva do nosso território parece ter separado novamente o Brasil com outra linha imaginária: o paralelo 16 Sul.
Abaixo dela, prosperaram as cidades, multiplicaram-se as indústrias e implantou-se um extenso sistema de infraestrutura, com rodovias, ferrovias, energia e portos.
Acima, com exceção da faixa costeira do Nordeste brasileiro, uma vasta extensão de terras restou quase intocada.
Mais uma vez, os brasileiros não se curvaram frente ao destino que lhes impunha a linha imaginária.
Cruzaram-na com energia, construindo a partir do nada um vigoroso sistema de produção.
Hoje, esse espaço já produz 80,3 milhões de toneladas de soja e milho --mais da metade da produção nacional, embora nosso sistema logístico continue funcionando como se o Brasil só existisse ao sul daquele paralelo.
Essa anomalia faz com que 86% dos grãos produzidos no Mato Grosso, Goiás, Tocantins, oeste da Bahia e sul do Maranhão e do Piauí sejam exportados a partir dos portos de Santos, Paranaguá, São Francisco do Sul e Vitória.
Depois de percorrer mais de 2.000 km de estradas precárias, essa carga ainda fica presa no tráfego das cidades portuárias por dias. Um triste espetáculo que se repete a cada ano e faz com que a tão produtiva agricultura brasileira perca renda e competitividade.
Enquanto a maior parte da nossa produção estava localizada no sul do país, próxima dos portos do Sul e Sudeste, o custo do transporte da fazenda ao porto era de US$ 28 a tonelada.
O dobro dos US$ 14 registrados na Argentina e dos US$ 15 dos Estados Unidos.
Mas, isso, no ano de 2003.
Passada uma década, a situação agravou-se. Com a transferência da produção para o Norte, o custo Brasil do transporte subiu para incríveis US$ 85 a tonelada, contra US$ 23 dos Estados Unidos e US$ 20 da Argentina.
É de se lamentar, pois o alto custo logístico subtrai renda do produtor, uma vez que o preço final é fixado pelo mercado global.
Isso não é aceitável e não pode continuar, porque o abastecimento do mercado internacional de soja e milho será feito, de forma crescente, pelo Arco Norte do Brasil.
A produção do Sul, por sua vez, estará cada vez mais comprometida com os imensos plantéis de suínos e aves. Afinal, o país já é o maior exportador mundial de frango.
E o que se produz acima do paralelo 16 poderá ser exportado por vários terminais que já estão em construção nos sistemas portuários de Belém e São Luiz.
As saídas do Arco Norte economizarão entre 500 e mil quilômetros de fretes terrestres.
Os portos dessa região respondem por apenas 14% das exportações do país devido à carência de infraestrutura e de acessos por rodovia, ferrovia ou hidrovia.
Mas vem aí um complexo intermodal que inclui estradas federais e três hidrovias (do Madeira, Teles-Pires Tapajós e Tocantins), além da ferrovia Norte-Sul com seus dois braços (o Fiol, que vai até Ilhéus e o Fico, até Mato Grosso).
Com esses três novos corredores rodohidroferroviários, teremos uma economia em torno de 30% no custo do frete. E os novos portos têm a vantagem adicional de acesso ao canal do Panamá, reduzindo o trajeto marítimo até a Ásia, principal destino dessas exportações.
Essa nova infraestrutura portuária vai reconfigurar a geografia do Brasil, completando a heroica ocupação iniciada pelos primeiros agricultores que descobriram de fato nosso país, como os bandeirantes no passado.
É claro que isso só está se tornando possível pela presença da iniciativa privada.
Mas ainda há quem queira que portos sejam exclusividade do Estado e privilégio de dois ou três grupos econômicos!
A ocupação econômica parece ter separado o Brasil novamente com outra linha imaginária, o paralelo 16 Sul
Nos primeiros tempos de nossa história, um meridiano concebido pelos homens --o meridiano de Tordesilhas-- quis dividir nosso país em dois mundos diferentes.
Mas a obra dos reis não conseguiu separar os brasileiros que, nas inesquecíveis palavras de Tancredo Neves, empurraram com o seu peito a linha imaginária até onde eles julgaram ser terra brasileira.
Séculos depois, a ocupação econômica efetiva do nosso território parece ter separado novamente o Brasil com outra linha imaginária: o paralelo 16 Sul.
Abaixo dela, prosperaram as cidades, multiplicaram-se as indústrias e implantou-se um extenso sistema de infraestrutura, com rodovias, ferrovias, energia e portos.
Acima, com exceção da faixa costeira do Nordeste brasileiro, uma vasta extensão de terras restou quase intocada.
Mais uma vez, os brasileiros não se curvaram frente ao destino que lhes impunha a linha imaginária.
Cruzaram-na com energia, construindo a partir do nada um vigoroso sistema de produção.
Hoje, esse espaço já produz 80,3 milhões de toneladas de soja e milho --mais da metade da produção nacional, embora nosso sistema logístico continue funcionando como se o Brasil só existisse ao sul daquele paralelo.
Essa anomalia faz com que 86% dos grãos produzidos no Mato Grosso, Goiás, Tocantins, oeste da Bahia e sul do Maranhão e do Piauí sejam exportados a partir dos portos de Santos, Paranaguá, São Francisco do Sul e Vitória.
Depois de percorrer mais de 2.000 km de estradas precárias, essa carga ainda fica presa no tráfego das cidades portuárias por dias. Um triste espetáculo que se repete a cada ano e faz com que a tão produtiva agricultura brasileira perca renda e competitividade.
Enquanto a maior parte da nossa produção estava localizada no sul do país, próxima dos portos do Sul e Sudeste, o custo do transporte da fazenda ao porto era de US$ 28 a tonelada.
O dobro dos US$ 14 registrados na Argentina e dos US$ 15 dos Estados Unidos.
Mas, isso, no ano de 2003.
Passada uma década, a situação agravou-se. Com a transferência da produção para o Norte, o custo Brasil do transporte subiu para incríveis US$ 85 a tonelada, contra US$ 23 dos Estados Unidos e US$ 20 da Argentina.
É de se lamentar, pois o alto custo logístico subtrai renda do produtor, uma vez que o preço final é fixado pelo mercado global.
Isso não é aceitável e não pode continuar, porque o abastecimento do mercado internacional de soja e milho será feito, de forma crescente, pelo Arco Norte do Brasil.
A produção do Sul, por sua vez, estará cada vez mais comprometida com os imensos plantéis de suínos e aves. Afinal, o país já é o maior exportador mundial de frango.
E o que se produz acima do paralelo 16 poderá ser exportado por vários terminais que já estão em construção nos sistemas portuários de Belém e São Luiz.
As saídas do Arco Norte economizarão entre 500 e mil quilômetros de fretes terrestres.
Os portos dessa região respondem por apenas 14% das exportações do país devido à carência de infraestrutura e de acessos por rodovia, ferrovia ou hidrovia.
Mas vem aí um complexo intermodal que inclui estradas federais e três hidrovias (do Madeira, Teles-Pires Tapajós e Tocantins), além da ferrovia Norte-Sul com seus dois braços (o Fiol, que vai até Ilhéus e o Fico, até Mato Grosso).
Com esses três novos corredores rodohidroferroviários, teremos uma economia em torno de 30% no custo do frete. E os novos portos têm a vantagem adicional de acesso ao canal do Panamá, reduzindo o trajeto marítimo até a Ásia, principal destino dessas exportações.
Essa nova infraestrutura portuária vai reconfigurar a geografia do Brasil, completando a heroica ocupação iniciada pelos primeiros agricultores que descobriram de fato nosso país, como os bandeirantes no passado.
É claro que isso só está se tornando possível pela presença da iniciativa privada.
Mas ainda há quem queira que portos sejam exclusividade do Estado e privilégio de dois ou três grupos econômicos!
A nossa Pasionaria - ALBERTO DINES
GAZETA DO POVO - PR - 25/05
No seu artigo semanal na Folha de S. Paulo, Marina Silva, a ex-ministra, ex-senadora e pré-candidata à sucessão da presidente Dilma Rousseff, deixou de lado a sua inspirada pregação em defesa das causas ambientais e adotou veemência e indignação inusitadas. Sem medo de ser acusada de inimiga da liberdade de expressão, investiu pesadamente contra as centrais de difamação e desinformação que funcionam abertamente na blogosfera.
“Uma investigação poderia mostrar essa espécie de mensalão da internet, indústria subterrânea da calúnia”, escreveu ela, furiosa. A perversa boataria dando conta da suspensão dos benefícios do programa Bolsa Família foi um dos episódios que a revoltaram, outro foi a manipulação de uma declaração dela própria ao condenar os equívocos cometidos pelo pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP) e, ao mesmo tempo, reclamar que não fossem estendidos à confissão religiosa da qual ele faz parte. Marina então descobriu falsos perfis espalhados nas redes sociais e organizações com brigadas digitais encarregadas de manipular e distorcer o noticiário ao seu respeito. De repente, o que seria uma condenação das ideias do pastor foi rapidamente convertida em endosso.
No momento em que a chamada mídia tradicional admite sua incapacidade para enfrentar o dilúvio informativo produzido pelo que Marina designa como “jornalismo autoral”, sua advertência transcende a esfera da sociologia da comunicação e encaixa-se na agenda política e eleitoral irreversivelmente antecipada. Mas ela não pode ignorar que uma parte apreciável dos 20 milhões de votos obtidos nas presidenciais de 2010 veio de internautas.
A revolta da candidata da futura Rede Sustentabilidade é justificada, mas dificilmente produzirá resultados. A internet é basicamente incontrolável e assim deverá manter-se. Seu antídoto natural – o jornalismo impresso – está vitalmente absorvido com a sua própria sobrevivência. As manipulações extremas poderão eventualmente ser identificadas e punidas judicialmente. Mas os filtros da sociedade estão entupidos, incapazes de eliminar a incrível quantidade de intrigas e maledicência incessantemente colocadas em circulação.
Resta saber se a própria sociedade está disposta a trocar o seu ócio prazeroso pelo empenho em reduzir o lixo e os detritos que ela produz na febre de consumir maquinetas e aplicativos.
Marina Silva é a nossa Pasionaria (1895-1989) – a voz da Espanha que repudiou o fascismo do general Franco – frágil e poderosa, intransigente em suas devoções, mesmo quando confrontada por forças superiores. Não merece ser abandonada.
No seu artigo semanal na Folha de S. Paulo, Marina Silva, a ex-ministra, ex-senadora e pré-candidata à sucessão da presidente Dilma Rousseff, deixou de lado a sua inspirada pregação em defesa das causas ambientais e adotou veemência e indignação inusitadas. Sem medo de ser acusada de inimiga da liberdade de expressão, investiu pesadamente contra as centrais de difamação e desinformação que funcionam abertamente na blogosfera.
“Uma investigação poderia mostrar essa espécie de mensalão da internet, indústria subterrânea da calúnia”, escreveu ela, furiosa. A perversa boataria dando conta da suspensão dos benefícios do programa Bolsa Família foi um dos episódios que a revoltaram, outro foi a manipulação de uma declaração dela própria ao condenar os equívocos cometidos pelo pastor-deputado Marco Feliciano (PSC-SP) e, ao mesmo tempo, reclamar que não fossem estendidos à confissão religiosa da qual ele faz parte. Marina então descobriu falsos perfis espalhados nas redes sociais e organizações com brigadas digitais encarregadas de manipular e distorcer o noticiário ao seu respeito. De repente, o que seria uma condenação das ideias do pastor foi rapidamente convertida em endosso.
No momento em que a chamada mídia tradicional admite sua incapacidade para enfrentar o dilúvio informativo produzido pelo que Marina designa como “jornalismo autoral”, sua advertência transcende a esfera da sociologia da comunicação e encaixa-se na agenda política e eleitoral irreversivelmente antecipada. Mas ela não pode ignorar que uma parte apreciável dos 20 milhões de votos obtidos nas presidenciais de 2010 veio de internautas.
A revolta da candidata da futura Rede Sustentabilidade é justificada, mas dificilmente produzirá resultados. A internet é basicamente incontrolável e assim deverá manter-se. Seu antídoto natural – o jornalismo impresso – está vitalmente absorvido com a sua própria sobrevivência. As manipulações extremas poderão eventualmente ser identificadas e punidas judicialmente. Mas os filtros da sociedade estão entupidos, incapazes de eliminar a incrível quantidade de intrigas e maledicência incessantemente colocadas em circulação.
Resta saber se a própria sociedade está disposta a trocar o seu ócio prazeroso pelo empenho em reduzir o lixo e os detritos que ela produz na febre de consumir maquinetas e aplicativos.
Marina Silva é a nossa Pasionaria (1895-1989) – a voz da Espanha que repudiou o fascismo do general Franco – frágil e poderosa, intransigente em suas devoções, mesmo quando confrontada por forças superiores. Não merece ser abandonada.
"Office boy" do despotismo - MARCELO COUTINHO
O GLOBO - 25/05
Toda vez que o governo comete uma grande incongruência em matéria de política externa envolvendo seu apoio, direto ou indireto, a regimes autoritários, alega puro pragmatismo. "Nosso ponto de vista é comercial, não político", dizem os diplomatas. Mas a verdade é outra.
Uma nova embaixada brasileira aberta em 2009 no regime mais fechado do mundo e que quase desencadeou uma guerra nuclear, na Coreia do Norte, rendeu muito pouco em termos reais. O comércio anual entre os dois países é ínfimo, em torno de US$ 350 milhões (com a Coreia do Sul é de US$ 15 bi).
O estreitamento de laços com o Irã acompanhou o aumento das exportações para US$ 2,5 bi. No entanto, há maneiras menos perigosas de se estimulá-las. Países como China e Alemanha, que não tentaram nenhuma aventura, como subscrever o programa nuclear iraniano que pode desencadear uma guerra de grandes proporções, conseguiram melhores relações comerciais na terra dos aiatolás. Isso sem falar na Síria.
Com a África, nossas relações comerciais cresceram 85% em seis anos, atingindo 26 bi de dólares em 2012, mas não foi por causa de ditaduras como na Guiné Equatorial. A demora em se posicionar na queda de Kadafi na Líbia não salvou o investimento de uma construtora brasileira, ao contrário. Para obter vantagens econômicas, não é necessário que Brasília envie uma carta ao Comitê dos Direitos Humanos na ONU, como foi feito em 2010, pedindo para pararem de censurar as violações dessas ditaduras. O Brasil não pode fazer papel de "office boy" do despotismo mundial.
A cobertura que o governo brasileiro dá aos irmãos Castro em Cuba e aos chavistas na Venezuela se deve à lógica "longe dos EUA, perto do Brasil". O comércio com a ilha caribenha é irrisório e os investimentos brasileiros por lá beneficiam mais Havana. Já na Venezuela, justamente porque o vizinho se tornou um bom mercado para o Brasil é que não deveriam nos interessar instabilidades provocadas pelo labirinto autoritário.
A verdade é que essa política torta do Brasil em questões de direitos humanos e democracia foi acompanhada por um inédito processo de desindustrialização. Além de já termos perdido quase 1/3 dos nossos mercados externos potenciais em manufaturas desde 2008, as exportações brasileiras totais, incluindo alimentos e bens primários, caíram 5,3% só em 2012.
Apoiar ditaduras não está gerando mais empregos no Brasil e nem ajudando o país a crescer. Outra prova de que a perda comercial coincide com o recrudescimento da política externa é que a diferença entre importados e exportados de produtos industriais aumentou 11 vezes desde 2007.
A eleição na OMC não altera em nada o incrível déficit de US$ 100 bi previsto para este ano. O próprio Roberto Azevedo disse ao Congresso que temos que ter orgulho da condição primário-exportadora do Brasil, inaugurando, assim, a "política externa da soja". Portanto, inventem outra desculpa para os seus erros nesse inútil sacrifício de valores.
Uma nova embaixada brasileira aberta em 2009 no regime mais fechado do mundo e que quase desencadeou uma guerra nuclear, na Coreia do Norte, rendeu muito pouco em termos reais. O comércio anual entre os dois países é ínfimo, em torno de US$ 350 milhões (com a Coreia do Sul é de US$ 15 bi).
O estreitamento de laços com o Irã acompanhou o aumento das exportações para US$ 2,5 bi. No entanto, há maneiras menos perigosas de se estimulá-las. Países como China e Alemanha, que não tentaram nenhuma aventura, como subscrever o programa nuclear iraniano que pode desencadear uma guerra de grandes proporções, conseguiram melhores relações comerciais na terra dos aiatolás. Isso sem falar na Síria.
Com a África, nossas relações comerciais cresceram 85% em seis anos, atingindo 26 bi de dólares em 2012, mas não foi por causa de ditaduras como na Guiné Equatorial. A demora em se posicionar na queda de Kadafi na Líbia não salvou o investimento de uma construtora brasileira, ao contrário. Para obter vantagens econômicas, não é necessário que Brasília envie uma carta ao Comitê dos Direitos Humanos na ONU, como foi feito em 2010, pedindo para pararem de censurar as violações dessas ditaduras. O Brasil não pode fazer papel de "office boy" do despotismo mundial.
A cobertura que o governo brasileiro dá aos irmãos Castro em Cuba e aos chavistas na Venezuela se deve à lógica "longe dos EUA, perto do Brasil". O comércio com a ilha caribenha é irrisório e os investimentos brasileiros por lá beneficiam mais Havana. Já na Venezuela, justamente porque o vizinho se tornou um bom mercado para o Brasil é que não deveriam nos interessar instabilidades provocadas pelo labirinto autoritário.
A verdade é que essa política torta do Brasil em questões de direitos humanos e democracia foi acompanhada por um inédito processo de desindustrialização. Além de já termos perdido quase 1/3 dos nossos mercados externos potenciais em manufaturas desde 2008, as exportações brasileiras totais, incluindo alimentos e bens primários, caíram 5,3% só em 2012.
Apoiar ditaduras não está gerando mais empregos no Brasil e nem ajudando o país a crescer. Outra prova de que a perda comercial coincide com o recrudescimento da política externa é que a diferença entre importados e exportados de produtos industriais aumentou 11 vezes desde 2007.
A eleição na OMC não altera em nada o incrível déficit de US$ 100 bi previsto para este ano. O próprio Roberto Azevedo disse ao Congresso que temos que ter orgulho da condição primário-exportadora do Brasil, inaugurando, assim, a "política externa da soja". Portanto, inventem outra desculpa para os seus erros nesse inútil sacrifício de valores.