ESTADÃO - 24/05
O noticiário das últimas semanas deixou entrever um quadro desalentador da forma como o País vem administrando seu parco esforço de investimento. Basta ter em conta o mosaico de desacertos que emerge das notícias abaixo.
Incúria. Seis anos após ter sido iniciado com todas as fanfarras, o projeto de transposição do Rio São Francisco ainda está muito longe do fim. E não é só uma questão de atraso. Reportagem especial sobre a obra (Estado, 19/5) dá conta de um quadro de abandono, longos trechos inacabados, canais de concreto estourados e poucos canteiros de obras ainda em atividade. No biênio 2011-2012 o governo investiu no projeto 35% menos do que tinha sido investido no biênio anterior. E agora promete que "os problemas do passado não vão se repetir", que novos contratos serão assinados em breve, que o que estiver danificado será refeito e que em 2015 a transposição estará concluída e a água do São Francisco poderá afinal chegar às regiões que serão beneficiadas pelo projeto. Mas com base no deplorável padrão de gestão dos últimos anos é pouco provável que esse novo prazo venha a ser cumprido.
Custos. Os custos de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, vem estourando por larga margem os valores inicialmente orçados (Estado, 12/5). Entre as várias razões para o estouro de custos, num canteiro de obras marcado por relações muito tensas, têm sido mencionadas as sucessivas interrupções das atividades em decorrência de invasões de índios e paralisações promovidas pelos trabalhadores. As grandes construtoras vêm-se queixando também da baixa produtividade do trabalho. Alegam que, ao contrário do que se deveria esperar, tendo em vista a intensidade da inovação tecnológica e da mecanização observada nas últimas décadas, as obras de construção pesada têm exigido mais mão de obra do que no passado. Arguem que obras similares, feitas há mais de 30 anos, requeriam um contingente de mão de obra 30% menor do que hoje se faz necessário (Estado, 15/5). São alegações intrigantes que merecem análise mais detida.
Esferas. Na semana passada, por determinação judicial, a Petrobrás viu-se obrigada a interromper as obras do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), gigantesco projeto iniciado em 2008 com previsão de investimento de mais de US$ 8 bilhões. Um juiz federal de Itaboraí havia acolhido uma ação que contestava a suficiência da emissão de licenças ambientais na esfera estadual e arguia que um órgão federal, o Ibama, teria de se ter pronunciado sobre o projeto. Com a interrupção, 15 mil trabalhadores tiveram de voltar para casa. As obras só puderam ser restabelecidas dias depois, quando a Petrobrás conseguiu decisão cautelar da Justiça (Estado, 16 e 18/5).
Prioridades. Mobilizado com a reeleição, o governo agora se deu conta de que pouco ou nada fez nos últimos dez anos para enfrentar a vergonhosa carência de saneamento básico que ainda se vê no País. Cerca de metade da população não tem acesso à rede de esgoto. Como, no plano das ações, não há mais tempo para providências concretas, o governo resolveu mostrar-se preocupado com o problema no plano das intenções. A presidente pretende anunciar em junho, com o alarde de praxe, um amplo programa de investimento em saneamento básico (Estado, 15/5). A ideia é prometer universalização do serviço até 2033. Isso mesmo, daqui a 20 anos. Tempo suficiente para que uma menina de 7 anos, que hoje brinca no esgoto a céu aberto, ainda possa ver sua filha, com a mesma idade, na mesma situação. Causa espanto que um governo que alega representar os interesses das classes mais desfavorecidas entenda que, após tanto tempo de descaso, a universalização de serviços de saneamento ainda possa ser adiada por mais 20 anos. Mas a verdade é que Brasília tem outras prioridades. Basta lembrar a lamentável fixação do Planalto no projeto do trem-bala, roseamente orçado, por enquanto, em nada menos que R$ 35 bilhões.
sexta-feira, maio 24, 2013
Estreia na fogueira - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 24/05
Com a decisão de Joaquim Barbosa de deixar para agosto a análise dos embargos de declaração do mensalão, crescem as chances de que Luís Roberto Barroso, indicado ontem ministro do STF, participe dessa etapa. A corte ainda vai decidir se haverá revisor dos embargos. O regimento diz que não. Se não houver, Barroso será o primeiro a votar, depois do relator Joaquim Barbosa, nas mais de 2.000 páginas de recursos apresentadas pelos advogados às 60 mil páginas do acórdão.
Em frente Em meio à polêmica entre Congresso e STF, integrantes do STF dizem que Dilma escolheu alguém que sempre defendeu mais poderes à corte. "É um passo favorável ao ativismo judicial", diz um membro da corte.
Foro íntimo Como o STF ainda terá de julgar a ação contra a redistribuição dos royalties do pré-sal, há dúvida sobre se Barroso, que deu parecer para o governo do Rio, vai se declarar impedido. A decisão de atuar ou não no julgamento é pessoal.
Vespeiro 1 Barroso também já opinou contra o poder de investigação do Ministério Público, outra questão que caberá ao STF arbitrar.
Vespeiro 2 Na sabatina no Senado, o tema deve ser abordado pelo senador Pedro Taques (PDT-MT), que é procurador da República. A maioria dos senadores é favorável a reduzir o poder do Ministério Público.
Gestos A presidente telefonou para Michel Temer para comunicar da indicação do substituto de Ayres Britto. José Eduardo Cardozo (Justiça) telefonou para o presidente do STF, Joaquim Barbosa, e para Ricardo Lewandowski.
Ganha e perde O titular da Justiça prevaleceu na escolha. Cardozo foi o único ouvido por Dilma para bater o martelo. Luiz Fachin, outro finalista, tinha torcida de Luís Inácio Adams (AGU), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações).
Novela Com a saída do tributarista Heleno Torres do páreo, após vazamento de reunião dele com Dilma, a disputa voltou à estaca zero. Além de Cardozo, o ex-deputado Sigmaringa Seixas e o secretário-executivo da Casa Civil, Beto Vasconcelos, defenderam o nome de Barroso.
Calculadora Com o aumento da tarifa de ônibus, a prefeitura prevê cobrar entre R$ 144 e R$ 160 pelo Bilhete Único Mensal. A promessa do prefeito Fernando Haddad citava R$ 140, mas com base na tarifa atual. A definição deve acontecer em novembro.
On-line O censo do PSB com os diretórios municipais de SP sobre o apoio à candidatura de Eduardo Campos será via internet. Delegados responderão no site da sigla para agilizar o resultado, mostrar que ele tem apoio e não desistiu de concorrer.
Aliança O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), conversou com Campos sobre a ideia de o deputado Márcio França (SP) ser vice de Alckmin em 2014. Segundo aliados, o governador de PE encampou o pleito.
Mapa O Planalto computou 52 assinaturas do PMDB a favor da CPI da Petrobras. Temer telefonou para o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para pedir que a comissão não saia.
Visitas à Folha José Roberto Maciel, vice-presidente do SBT, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Marcelo Parada, diretor nacional de jornalismo da emissora.
Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Samuel Figueiredo, assessor de imprensa.
com ANDRÉIA SADI e LUIZA BANDEIRA
tiroteio
"Se a moda pega, Alckmin vai ter que criar novas secretarias para abrigar partidos aliados no Palácio dos Bandeirantes."
DO DEPUTADO ESTADUAL LUIZ CLAUDIO MARCOLINO (PT-SP), sobre o ingresso do PRB no governo estadual em troca de apoio à reeleição do tucano em 2014.
contraponto
Direto ao ponto
Luís Roberto Barroso discursava em formatura de alunos da Uerj, no Rio, quando viu que se alongava. O agora indicado ao STF resolveu parar por ali, lembrando que o discurso de posse de Barack Obama teve 20 minutos.
-- Tenho passado a vida assombrado desde que li o seguinte: George Washington fez o menor discurso de posse na história americana, com apenas 133 palavras. William Henry Harrison fez o maior, com 8.433.
E concluiu, arrancando risos dos formandos:
--Ele morreu um mês depois, de gripe. Creio que seja a maldição que recai sobre quem fala além do seu tempo!
Com a decisão de Joaquim Barbosa de deixar para agosto a análise dos embargos de declaração do mensalão, crescem as chances de que Luís Roberto Barroso, indicado ontem ministro do STF, participe dessa etapa. A corte ainda vai decidir se haverá revisor dos embargos. O regimento diz que não. Se não houver, Barroso será o primeiro a votar, depois do relator Joaquim Barbosa, nas mais de 2.000 páginas de recursos apresentadas pelos advogados às 60 mil páginas do acórdão.
Em frente Em meio à polêmica entre Congresso e STF, integrantes do STF dizem que Dilma escolheu alguém que sempre defendeu mais poderes à corte. "É um passo favorável ao ativismo judicial", diz um membro da corte.
Foro íntimo Como o STF ainda terá de julgar a ação contra a redistribuição dos royalties do pré-sal, há dúvida sobre se Barroso, que deu parecer para o governo do Rio, vai se declarar impedido. A decisão de atuar ou não no julgamento é pessoal.
Vespeiro 1 Barroso também já opinou contra o poder de investigação do Ministério Público, outra questão que caberá ao STF arbitrar.
Vespeiro 2 Na sabatina no Senado, o tema deve ser abordado pelo senador Pedro Taques (PDT-MT), que é procurador da República. A maioria dos senadores é favorável a reduzir o poder do Ministério Público.
Gestos A presidente telefonou para Michel Temer para comunicar da indicação do substituto de Ayres Britto. José Eduardo Cardozo (Justiça) telefonou para o presidente do STF, Joaquim Barbosa, e para Ricardo Lewandowski.
Ganha e perde O titular da Justiça prevaleceu na escolha. Cardozo foi o único ouvido por Dilma para bater o martelo. Luiz Fachin, outro finalista, tinha torcida de Luís Inácio Adams (AGU), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações).
Novela Com a saída do tributarista Heleno Torres do páreo, após vazamento de reunião dele com Dilma, a disputa voltou à estaca zero. Além de Cardozo, o ex-deputado Sigmaringa Seixas e o secretário-executivo da Casa Civil, Beto Vasconcelos, defenderam o nome de Barroso.
Calculadora Com o aumento da tarifa de ônibus, a prefeitura prevê cobrar entre R$ 144 e R$ 160 pelo Bilhete Único Mensal. A promessa do prefeito Fernando Haddad citava R$ 140, mas com base na tarifa atual. A definição deve acontecer em novembro.
On-line O censo do PSB com os diretórios municipais de SP sobre o apoio à candidatura de Eduardo Campos será via internet. Delegados responderão no site da sigla para agilizar o resultado, mostrar que ele tem apoio e não desistiu de concorrer.
Aliança O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), conversou com Campos sobre a ideia de o deputado Márcio França (SP) ser vice de Alckmin em 2014. Segundo aliados, o governador de PE encampou o pleito.
Mapa O Planalto computou 52 assinaturas do PMDB a favor da CPI da Petrobras. Temer telefonou para o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para pedir que a comissão não saia.
Visitas à Folha José Roberto Maciel, vice-presidente do SBT, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Marcelo Parada, diretor nacional de jornalismo da emissora.
Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Samuel Figueiredo, assessor de imprensa.
com ANDRÉIA SADI e LUIZA BANDEIRA
tiroteio
"Se a moda pega, Alckmin vai ter que criar novas secretarias para abrigar partidos aliados no Palácio dos Bandeirantes."
DO DEPUTADO ESTADUAL LUIZ CLAUDIO MARCOLINO (PT-SP), sobre o ingresso do PRB no governo estadual em troca de apoio à reeleição do tucano em 2014.
contraponto
Direto ao ponto
Luís Roberto Barroso discursava em formatura de alunos da Uerj, no Rio, quando viu que se alongava. O agora indicado ao STF resolveu parar por ali, lembrando que o discurso de posse de Barack Obama teve 20 minutos.
-- Tenho passado a vida assombrado desde que li o seguinte: George Washington fez o menor discurso de posse na história americana, com apenas 133 palavras. William Henry Harrison fez o maior, com 8.433.
E concluiu, arrancando risos dos formandos:
--Ele morreu um mês depois, de gripe. Creio que seja a maldição que recai sobre quem fala além do seu tempo!
A palavra - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 24/05
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai passar por uma prova de fogo. As MPs 601 (desoneração da folha) e 605 (redução tarifa de energia), ainda não votadas na Câmara, chegarão ao Senado com prazo inferior a sete dias para caducarem. Renan não fará nem a leitura das MPs. Renan garante: "Esta é uma decisão tomada pelo plenário. A regra não é do Renan, é da Casa".
STF e "partidos de mentirinha"
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, não votou na sessão, em 2006, em que foi assegurada a sobrevivência de 29 partidos. Na época, sobre a cláusula de barreira que fulminaria partidos com menos de 5% dos votos para a Câmara, disseram: "esdrúxula, extravagante e incongruente" (Marco Aurélio Melo); "inaceitável instrumento de exclusão das minorias" (Celso de Mello); "sacrifício radical das minorias" (Gilmar Mendes); e "fere de morte o pluralismo político" (Ricardo Lewandowski). Cármen Lúcia sustentou que "a minoria de hoje tem que ter espaço para ser maioria amanhã". Essa é a posição do STF que, agora, está sendo atacada por seu presidente.
PT do Rio chuta o balde
O vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, reage ao governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ): "O PT do Rio não aceita chave de galão de ninguém. O processo político tem que ser feito com diálogo e não com pressão."
Na berlinda
Governistas, tanto petistas quanto aliados, debitam ao ministro Guido Mantega (Fazenda) o naufrágio de acordo para aprovar a reforma do ICMS. Ele rejeitou o que havia sido negociado pelo demissionário secretário-executivo Nelson Barbosa. No fim, a ministra Ideli Salvatti foi acionada, mas já era tarde para o salvamento.
Tesoura no PMDB
Irritação com o corte no Orçamento das pastas geridas pelo partido. O Turismo perdeu mais de 70% da verba. O Desenvolvimento Agrário, petista, ficou com mais recursos (R$ 2,9 bi) que a peemedebista Agricultura (R$ 1,6 bi).
Os novos piratas
A Amazon, empresa americana de comércio na internet, quer ficar dona da palavra "Amazônia". O pleito foi criticado ontem, no Senado, por Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Esta não é a primeira vez que tal apropriação indevida é tentada. No passado, o Itamaraty derrotou empresa japonesa que queria ter a exclusividade no uso das palavras "cupuaçu" e "açaí".
Empurrando a máquina
Uma autoridade do PMDB diz que não ouviu a governadora Roseana Sarney (MA) criticar o vice Michel Temer no Jaburu. Relatou que ela pediu, e Temer vai cobrar do BNDES o prometido crédito de R$ 1 bi para o Programa Viva Maranhão.
A volta do soldado do passo certo
O ex-presidente Lula, a exemplo de Dilma, também tinha seu analista de mídia. O assessor Bernardo Kucinski, enquanto esteve no governo, exercia o papel. Ele escrevia, todo dia, a "Carta crítica", que "elogiava e espinafrava"
PEQUENOS PRODUTORES, que não usam o Pronaf, ficaram de fora de projeto, votado na Câmara, que renegocia as dívidas de quem perdeu a safra.
"Sou da base. O PMDB tem o vice-presidente. Sempre defendi a redução dos ministérios. Daqui a pouco, se tivermos 50 partidos, vamos ter 50 pastas"
Valdir Raupp Presidente do PMDB, em exercício, e senador (RO)
STF e "partidos de mentirinha"
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, não votou na sessão, em 2006, em que foi assegurada a sobrevivência de 29 partidos. Na época, sobre a cláusula de barreira que fulminaria partidos com menos de 5% dos votos para a Câmara, disseram: "esdrúxula, extravagante e incongruente" (Marco Aurélio Melo); "inaceitável instrumento de exclusão das minorias" (Celso de Mello); "sacrifício radical das minorias" (Gilmar Mendes); e "fere de morte o pluralismo político" (Ricardo Lewandowski). Cármen Lúcia sustentou que "a minoria de hoje tem que ter espaço para ser maioria amanhã". Essa é a posição do STF que, agora, está sendo atacada por seu presidente.
PT do Rio chuta o balde
O vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, reage ao governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ): "O PT do Rio não aceita chave de galão de ninguém. O processo político tem que ser feito com diálogo e não com pressão."
Na berlinda
Governistas, tanto petistas quanto aliados, debitam ao ministro Guido Mantega (Fazenda) o naufrágio de acordo para aprovar a reforma do ICMS. Ele rejeitou o que havia sido negociado pelo demissionário secretário-executivo Nelson Barbosa. No fim, a ministra Ideli Salvatti foi acionada, mas já era tarde para o salvamento.
Tesoura no PMDB
Irritação com o corte no Orçamento das pastas geridas pelo partido. O Turismo perdeu mais de 70% da verba. O Desenvolvimento Agrário, petista, ficou com mais recursos (R$ 2,9 bi) que a peemedebista Agricultura (R$ 1,6 bi).
Os novos piratas
A Amazon, empresa americana de comércio na internet, quer ficar dona da palavra "Amazônia". O pleito foi criticado ontem, no Senado, por Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Esta não é a primeira vez que tal apropriação indevida é tentada. No passado, o Itamaraty derrotou empresa japonesa que queria ter a exclusividade no uso das palavras "cupuaçu" e "açaí".
Empurrando a máquina
Uma autoridade do PMDB diz que não ouviu a governadora Roseana Sarney (MA) criticar o vice Michel Temer no Jaburu. Relatou que ela pediu, e Temer vai cobrar do BNDES o prometido crédito de R$ 1 bi para o Programa Viva Maranhão.
A volta do soldado do passo certo
O ex-presidente Lula, a exemplo de Dilma, também tinha seu analista de mídia. O assessor Bernardo Kucinski, enquanto esteve no governo, exercia o papel. Ele escrevia, todo dia, a "Carta crítica", que "elogiava e espinafrava"
PEQUENOS PRODUTORES, que não usam o Pronaf, ficaram de fora de projeto, votado na Câmara, que renegocia as dívidas de quem perdeu a safra.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 24/05
Empresa constrói complexo de R$ 500 mi no RS
Com R$ 500 milhões em investimentos, um complexo urbanístico que inclui shopping, hotel, torres comerciais e residenciais está em construção em Gravataí (a aproximadamente 25 quilômetros de Porto Alegre).
O projeto é do M.Grupo, empresa de São Carlos (SP) que atua com maior densidade no Rio Grande do Sul.
"É um Estado que ainda tem muito espaço para novos investimentos", afirma o presidente da companhia, Lorival Rodrigues.
"Queremos focar nossos projetos em shoppings. Fizemos uma pesquisa para ver quais cidades tinham capacidade para receber um. Estudamos Pelotas, Canoas, São Leopoldo e Gravataí", diz.
O município foi escolhido por não possuir nenhum outro centro de compras de grande porte e por ter um dos maiores PIBs do Estado.
"Também observamos o fluxo de carros de Gravataí nos estacionamentos dos shoppings de Porto Alegre e da região. É enorme", acrescenta o executivo.
Algumas das obras do complexo serão entregues ainda neste ano. A conclusão total do projeto, porém, está prevista para 2015.
Parte do capital investido no empreendimento é da própria empresa e outra foi financiada, de acordo com Rodrigues.
A companhia administra hoje outros dois shoppings, está construindo dois hotéis (sem considerar o de Gravataí) e já concluiu quatro condomínios residenciais --todos na região Sul do país.
Toque... A Vale decidiu adaptar ambientes e condições de trabalho para suas funcionárias e viabilizar o aumento de mulheres nos quadros da empresa.
...feminino A mineradora integra um grupo de empresas que apoiam os Princípios de Empoderamento das Mulheres, conjunto de sugestões elaboradas pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global das Nações Unidas.
Embarque... A brasileira Borrachas Vipal, fabricante de produtos para uso na reforma de pneus e câmaras de ar, vai destinar exclusivamente uma de suas três fábricas para a exportação.
...gaúcho A unidade escolhida é a de Nova Prata, no Rio Grande do Sul. A decisão será anunciada em uma feira do setor em Bolonha, na Itália, que será realizada até o próximo domingo.
Remédio de uso contínuo impulsiona setor de genéricos
O aumento do consumo de medicamentos genéricos de uso contínuo pode alavancar as vendas do setor, cujo ritmo de crescimento diminuiu entre 2011 e 2012.
"Mas ainda é prematuro afirmar que o segmento voltará à média histórica", afirma a presidente da PróGenéricos (associação da indústria), Telma Salles.
No ranking atual dos dez genéricos líderes de venda, cinco são de uso contínuo. Em março do ano passado, eram quatro produtos de uso contínuo, contra três no mesmo período de 2011.
A maior participação dos medicamentos para doenças crônicas --como diabetes e hipertensão arterial-- traz implicações diretas no aumento da receita.
Os dados, de acordo com a executiva, são consequência da maior confiança dos consumidores nos medicamentos genéricos. A previsão de crescimento desse mercado para 2013 é semelhante à do ano anterior, quando foi registrada alta de 17%.
EMPRESÁRIO SEGURADO
A contratação do seguro de responsabilidade civil ambiental deve crescer 20% ao ano até 2018, segundo estimativa da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais).
No primeiro trimestre de 2013, a arrecadação do segmento foi de R$ 5 milhões, resultado 21,7% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior.
A saúde financeira é o que mais atrai as companhias para a modalidade, segundo Marco Antônio Ferreira, presidente da comissão de riscos ambientais da federação.
"O custo de remediar o dano ambiental é muito alto e pode impactar severamente o desempenho da empresa."
NÚMEROS
R$ 33 milhões
foi quanto as operadoras arrecadaram com o seguro ambiental em 2012
R$ 5 milhões
foi o montante que o segmento faturou nos primeiros três meses deste ano
20% ao ano
deverá ser o potencial de crescimento do setor pelos próximos cinco anos
50 pedidos
de cotação por mês é a média atual das operadoras para o seguro ambiental
ENERGIA CONSUMIDA
O consumo de energia elétrica no mercado livre cresceu 1,69% em abril ante o mês anterior, de acordo com índice da Comerc (gestora independente de energia). Na comparação com abril de 2012, a expansão foi de 3,35%.
A empresa considera prematuro afirmar que o aumento no gasto energético esteja relacionado com um aquecimento econômico.
A hipótese mais provável para essa elevação é o maior número de dias úteis no mês --dois a mais em relação a março de 2013 e a abril de 2012.
Os setores têxtil e eletromecânico foram os que apresentaram maiores taxas de crescimento entre março e abril deste ano, com 6,15% e 6,14%, respectivamente.
Na outro ponta, aparece o varejo, com queda de 5,35%. A temperatura média na cidade de São Paulo --em patamar mais baixo-- é apontada como uma das responsáveis pela retração.
A diminuição de 3,25% no varejo no comparativo entre abril de 2013 e de 2012 também pode refletir questões meteorológicas.
Consenso... Mais de 99% dos brasileiros comem algum tipo de massa, segundo uma pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel encomendada pela Abima (associação brasileira das indústrias de massas). O estudo identificou o consumo de 1,2 milhão de toneladas em 2012 no país.
...nacional A maior parte desse volume é formada pelas massas secas ou tradicionais, que têm penetração de 98,7%. As massas instantâneas atingem 90,9% dos brasileiros, enquanto as frescas atendem a 29,9% da população. As regiões Norte e Nordeste são as campeãs no consumo.
Empresa constrói complexo de R$ 500 mi no RS
Com R$ 500 milhões em investimentos, um complexo urbanístico que inclui shopping, hotel, torres comerciais e residenciais está em construção em Gravataí (a aproximadamente 25 quilômetros de Porto Alegre).
O projeto é do M.Grupo, empresa de São Carlos (SP) que atua com maior densidade no Rio Grande do Sul.
"É um Estado que ainda tem muito espaço para novos investimentos", afirma o presidente da companhia, Lorival Rodrigues.
"Queremos focar nossos projetos em shoppings. Fizemos uma pesquisa para ver quais cidades tinham capacidade para receber um. Estudamos Pelotas, Canoas, São Leopoldo e Gravataí", diz.
O município foi escolhido por não possuir nenhum outro centro de compras de grande porte e por ter um dos maiores PIBs do Estado.
"Também observamos o fluxo de carros de Gravataí nos estacionamentos dos shoppings de Porto Alegre e da região. É enorme", acrescenta o executivo.
Algumas das obras do complexo serão entregues ainda neste ano. A conclusão total do projeto, porém, está prevista para 2015.
Parte do capital investido no empreendimento é da própria empresa e outra foi financiada, de acordo com Rodrigues.
A companhia administra hoje outros dois shoppings, está construindo dois hotéis (sem considerar o de Gravataí) e já concluiu quatro condomínios residenciais --todos na região Sul do país.
Toque... A Vale decidiu adaptar ambientes e condições de trabalho para suas funcionárias e viabilizar o aumento de mulheres nos quadros da empresa.
...feminino A mineradora integra um grupo de empresas que apoiam os Princípios de Empoderamento das Mulheres, conjunto de sugestões elaboradas pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global das Nações Unidas.
Embarque... A brasileira Borrachas Vipal, fabricante de produtos para uso na reforma de pneus e câmaras de ar, vai destinar exclusivamente uma de suas três fábricas para a exportação.
...gaúcho A unidade escolhida é a de Nova Prata, no Rio Grande do Sul. A decisão será anunciada em uma feira do setor em Bolonha, na Itália, que será realizada até o próximo domingo.
Remédio de uso contínuo impulsiona setor de genéricos
O aumento do consumo de medicamentos genéricos de uso contínuo pode alavancar as vendas do setor, cujo ritmo de crescimento diminuiu entre 2011 e 2012.
"Mas ainda é prematuro afirmar que o segmento voltará à média histórica", afirma a presidente da PróGenéricos (associação da indústria), Telma Salles.
No ranking atual dos dez genéricos líderes de venda, cinco são de uso contínuo. Em março do ano passado, eram quatro produtos de uso contínuo, contra três no mesmo período de 2011.
A maior participação dos medicamentos para doenças crônicas --como diabetes e hipertensão arterial-- traz implicações diretas no aumento da receita.
Os dados, de acordo com a executiva, são consequência da maior confiança dos consumidores nos medicamentos genéricos. A previsão de crescimento desse mercado para 2013 é semelhante à do ano anterior, quando foi registrada alta de 17%.
EMPRESÁRIO SEGURADO
A contratação do seguro de responsabilidade civil ambiental deve crescer 20% ao ano até 2018, segundo estimativa da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais).
No primeiro trimestre de 2013, a arrecadação do segmento foi de R$ 5 milhões, resultado 21,7% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior.
A saúde financeira é o que mais atrai as companhias para a modalidade, segundo Marco Antônio Ferreira, presidente da comissão de riscos ambientais da federação.
"O custo de remediar o dano ambiental é muito alto e pode impactar severamente o desempenho da empresa."
NÚMEROS
R$ 33 milhões
foi quanto as operadoras arrecadaram com o seguro ambiental em 2012
R$ 5 milhões
foi o montante que o segmento faturou nos primeiros três meses deste ano
20% ao ano
deverá ser o potencial de crescimento do setor pelos próximos cinco anos
50 pedidos
de cotação por mês é a média atual das operadoras para o seguro ambiental
ENERGIA CONSUMIDA
O consumo de energia elétrica no mercado livre cresceu 1,69% em abril ante o mês anterior, de acordo com índice da Comerc (gestora independente de energia). Na comparação com abril de 2012, a expansão foi de 3,35%.
A empresa considera prematuro afirmar que o aumento no gasto energético esteja relacionado com um aquecimento econômico.
A hipótese mais provável para essa elevação é o maior número de dias úteis no mês --dois a mais em relação a março de 2013 e a abril de 2012.
Os setores têxtil e eletromecânico foram os que apresentaram maiores taxas de crescimento entre março e abril deste ano, com 6,15% e 6,14%, respectivamente.
Na outro ponta, aparece o varejo, com queda de 5,35%. A temperatura média na cidade de São Paulo --em patamar mais baixo-- é apontada como uma das responsáveis pela retração.
A diminuição de 3,25% no varejo no comparativo entre abril de 2013 e de 2012 também pode refletir questões meteorológicas.
Consenso... Mais de 99% dos brasileiros comem algum tipo de massa, segundo uma pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel encomendada pela Abima (associação brasileira das indústrias de massas). O estudo identificou o consumo de 1,2 milhão de toneladas em 2012 no país.
...nacional A maior parte desse volume é formada pelas massas secas ou tradicionais, que têm penetração de 98,7%. As massas instantâneas atingem 90,9% dos brasileiros, enquanto as frescas atendem a 29,9% da população. As regiões Norte e Nordeste são as campeãs no consumo.
FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA
O GLOBO - 24/05
REDE BOURBON VAI CONSTRUIR MAIS DEZ HOTÉIS
Investimento de R$ 600 milhões, a expansão pode dobrar receitas do grupo. Inaugurações acontecem até 2015
ABourbon Hotéis & Resorts vai anunciar a construção de mais dez empreendimentos este ano. No total, serão cerca de R$ 600 milhões em investimento, diz o presidente Alceu Vezozzo. Com a expansão, a rede hoteleira, criada 50 anos atrás no Paraná, vai aumentar em 50% a atual oferta de três mil quartos. “É um crescimento planejado, que acompanha a consolidação da economia brasileira, da imagem do país no exterior”, explica Vezozzo. A estratégia passa por investir em lazer e negócios: “Somos o maior operador hoteleiro de espaços para congressos e convenções na América do Sul, com mais de 26 mil metros quadrados disponíveis nos empreendimentos”. Dos dez novos projetos, seis serão da marca Rio Hotel by Bourbon, lançada em 2012, que tem a brasilidade como tema. Ficarão em Botucatu (SP), Macaé (RJ), Foz do Iguaçu, Ponta Grossa e Curitiba (PR)., além de Ciudad del Este, no Paraguai. Os quatro restantes serão construídos também em Macaé, em Limeira (1) e em São Paulo (2). O Grand Bourbon Alphaville, consumirá, sozinho, R$ 240 milhões em investimento. Todos entram em operação até o fim de 2015. A previsão é duplicar as receitas do grupo.
4º lugar
EM EVENTOS INTERNACIONAIS Foz do Iguaçu saiu de 8ª para 4ª cidade que mais recebeu eventos internacionais no país em 2012, diz a ICCA. No mundo, passou para 142ª, subindo 92 posições. A cidade ganhará um hotel Bourbon.
CABELEIRA
Os penteados do craque Neymar são mote da campanha do Gol Rallye e do Gol Track, que a Volkswagen estreia hoje na TV. Uma aventura a bordo dos modelos começa quando um amigo pergunta onde o jogador corta o cabelo. AAlmapBBDO criou. Sairá também em impressos e web.
GARRINCHA VIVE
Propeg e Academia Filmes ressuscitaram Mané Garrincha na campanha de rei nauguração do Estádio Nacional de Brasília, que leva o nome do jogador. No filme, o craque do Botafogo eda Seleção está em campo, driblando adversários, numa partida quemistura imagens do Canal 100 e de computação gráfica. É a alegria do povo de volta. No ar, domingo.
Amazônia
O BNDES espera atrair mais doadores para o Fundo Amazônia, com a aprovação da Lei 12.810/2013, que isenta as transferências de PIS/Cofins. O fundo, hoje, tem R$ 1,3 bi em repasses dos governos de Noruega, Alemanha e da Petrobras.
Em tempo
A Noruega tinha se queixado da tributação nas doações. O dinheiro financia projetos sustentáveis na Amazônia.
Energia
Eletrobras Furnas planeja investir R$ 300 milhões em pesquisa, desenvolvimento e inovação até 2016. Só este ano, serão R$ 100 milhões. Na carteira de projetos, há um conversor de geração de energia com as ondas do mar (RJ) e uma usina de tratamento de lixo (MG).
Acelera
Faperj e PSA Peugeot Citröen assinam convênio de R$ 1,6 milhão, quarta que vem. O dinheiro vai financiar projetos de P&D para o setor automotivo no Estado do Rio. O foco são soluções para biocombustíveis e motores. Serão dois editais: um este ano; outro em 2014.
Conveniência
A Petrobras Distribuidora decidiu ampliar a rede de conveniência de seus postos de combustíveis. Até 2017, virão mais 550 lojas BR Mania. No fim de 2012, eram 765. Abrirá ainda 1.100 filiais da Lubrax+, franquia de lubrificação. Hoje, são 357.
Feriadão 1
Buenos Aires é o destino internacional preferido dos brasileiros para o feriadão de Corpus Christi, informa o buscador de viagens Mundi. A capital argentina manteve o 1º lugar no ranking das dez cidades mais procuradas. Teve 15,37% das consultas. Em 2012, concentrava 50%.
Feriadão 2
Subiram de posição Miami, Nova York e Orlando. De fora em 2012, Paris, Lisboa, Londres e Cancún agora aparecem na lista. Para o Mundi, é sinal que brasileiros topam viajar para longe, mesmo por poucos dias.
Em tempo
De janeiro a abril deste ano, os brasucas gastaram US$ 8,1 bi em viagens ao exterior.
São dados do Banco Central.
Salário
Saiu o acordo coletivo entre o Simerj, do varejo de material elétrico, e o sindicato dos comerciários. Trabalhadores que ganham até R$ 4.400 terão 8,2% de reajuste. Foi mais que o INPC, de 7,15%.
Emprego
Os supermercados Guanabara abriram 836 vagas no Estado do Rio. Do total, 815 são para profissionais com educação fundamental ou nível médio.
Vendido
O NEO Life, residencial que a Living/RJZ-Cyrela lançou ontem, foi todo vendido. Fica em São Cristóvão. Terá 280 apartamentos em três torres.
MAIS QUE MERCADORIAS
Deuma fábrica também saem caixas de outros bens: cidadania, educação, desenvolvimento e profissionalização, por exemplo. É a mensagem do filme que a Firjan exibe hoje, em homenagem ao Dia da Indústria, amanhã. Acriação éda DM9Rio, com produção da Yes.
É festa
A Fisher-Price, americana de brinquedos e utensílios infantis, fez parceria com a Regina Festas. A brasileira vai fabricar e distribuir linha de 18 itens para chá de bebê.
Zona Oeste
A Nokia abre quiosque no West Shopping hoje. É o 8º do tipo inaugurado no mall desde abril. Chilli Beans e Euro Relógios foram outros que investiram no formato. Aporte total de R$ 900 mil.
Zona Franca
A Zinzane abre loja mês que vem, em Manaus. A grife feminina investiu R$ 600 mil na filial, a 80ª da rede. Virão mais 20 no país este ano.
NAMORADOS
A grife Aviator põe na rua hoje o catálogo do Dia dos Namorados. Serão 70 mil exemplares. O modelo Fernando Diniz posou para Markos Fortes. A marca quervender20% mais na data.
Livre Mercado
Os advogados Paulo Valois e Hel ler Barroso vão falar sobre o mercado brasileiro de óleo e gás em seminário na Noruega, 12 de junho.O interessede investidores cresceu após a 11ª Rodada. O Espaço Rubro Negro abre loja no Recreio Shopping hoje. É investimento de R$ 300 mil.
A Oi não enviou representante à reunião marcada pela Alô, que reúne lojistas da operadora. A Pousada Bahiamarela, em Búzios, ganhou certificado de excelência do site Tri pAdvisor.
REDE BOURBON VAI CONSTRUIR MAIS DEZ HOTÉIS
Investimento de R$ 600 milhões, a expansão pode dobrar receitas do grupo. Inaugurações acontecem até 2015
ABourbon Hotéis & Resorts vai anunciar a construção de mais dez empreendimentos este ano. No total, serão cerca de R$ 600 milhões em investimento, diz o presidente Alceu Vezozzo. Com a expansão, a rede hoteleira, criada 50 anos atrás no Paraná, vai aumentar em 50% a atual oferta de três mil quartos. “É um crescimento planejado, que acompanha a consolidação da economia brasileira, da imagem do país no exterior”, explica Vezozzo. A estratégia passa por investir em lazer e negócios: “Somos o maior operador hoteleiro de espaços para congressos e convenções na América do Sul, com mais de 26 mil metros quadrados disponíveis nos empreendimentos”. Dos dez novos projetos, seis serão da marca Rio Hotel by Bourbon, lançada em 2012, que tem a brasilidade como tema. Ficarão em Botucatu (SP), Macaé (RJ), Foz do Iguaçu, Ponta Grossa e Curitiba (PR)., além de Ciudad del Este, no Paraguai. Os quatro restantes serão construídos também em Macaé, em Limeira (1) e em São Paulo (2). O Grand Bourbon Alphaville, consumirá, sozinho, R$ 240 milhões em investimento. Todos entram em operação até o fim de 2015. A previsão é duplicar as receitas do grupo.
4º lugar
EM EVENTOS INTERNACIONAIS Foz do Iguaçu saiu de 8ª para 4ª cidade que mais recebeu eventos internacionais no país em 2012, diz a ICCA. No mundo, passou para 142ª, subindo 92 posições. A cidade ganhará um hotel Bourbon.
CABELEIRA
Os penteados do craque Neymar são mote da campanha do Gol Rallye e do Gol Track, que a Volkswagen estreia hoje na TV. Uma aventura a bordo dos modelos começa quando um amigo pergunta onde o jogador corta o cabelo. AAlmapBBDO criou. Sairá também em impressos e web.
GARRINCHA VIVE
Propeg e Academia Filmes ressuscitaram Mané Garrincha na campanha de rei nauguração do Estádio Nacional de Brasília, que leva o nome do jogador. No filme, o craque do Botafogo eda Seleção está em campo, driblando adversários, numa partida quemistura imagens do Canal 100 e de computação gráfica. É a alegria do povo de volta. No ar, domingo.
Amazônia
O BNDES espera atrair mais doadores para o Fundo Amazônia, com a aprovação da Lei 12.810/2013, que isenta as transferências de PIS/Cofins. O fundo, hoje, tem R$ 1,3 bi em repasses dos governos de Noruega, Alemanha e da Petrobras.
Em tempo
A Noruega tinha se queixado da tributação nas doações. O dinheiro financia projetos sustentáveis na Amazônia.
Energia
Eletrobras Furnas planeja investir R$ 300 milhões em pesquisa, desenvolvimento e inovação até 2016. Só este ano, serão R$ 100 milhões. Na carteira de projetos, há um conversor de geração de energia com as ondas do mar (RJ) e uma usina de tratamento de lixo (MG).
Acelera
Faperj e PSA Peugeot Citröen assinam convênio de R$ 1,6 milhão, quarta que vem. O dinheiro vai financiar projetos de P&D para o setor automotivo no Estado do Rio. O foco são soluções para biocombustíveis e motores. Serão dois editais: um este ano; outro em 2014.
Conveniência
A Petrobras Distribuidora decidiu ampliar a rede de conveniência de seus postos de combustíveis. Até 2017, virão mais 550 lojas BR Mania. No fim de 2012, eram 765. Abrirá ainda 1.100 filiais da Lubrax+, franquia de lubrificação. Hoje, são 357.
Feriadão 1
Buenos Aires é o destino internacional preferido dos brasileiros para o feriadão de Corpus Christi, informa o buscador de viagens Mundi. A capital argentina manteve o 1º lugar no ranking das dez cidades mais procuradas. Teve 15,37% das consultas. Em 2012, concentrava 50%.
Feriadão 2
Subiram de posição Miami, Nova York e Orlando. De fora em 2012, Paris, Lisboa, Londres e Cancún agora aparecem na lista. Para o Mundi, é sinal que brasileiros topam viajar para longe, mesmo por poucos dias.
Em tempo
De janeiro a abril deste ano, os brasucas gastaram US$ 8,1 bi em viagens ao exterior.
São dados do Banco Central.
Salário
Saiu o acordo coletivo entre o Simerj, do varejo de material elétrico, e o sindicato dos comerciários. Trabalhadores que ganham até R$ 4.400 terão 8,2% de reajuste. Foi mais que o INPC, de 7,15%.
Emprego
Os supermercados Guanabara abriram 836 vagas no Estado do Rio. Do total, 815 são para profissionais com educação fundamental ou nível médio.
Vendido
O NEO Life, residencial que a Living/RJZ-Cyrela lançou ontem, foi todo vendido. Fica em São Cristóvão. Terá 280 apartamentos em três torres.
MAIS QUE MERCADORIAS
Deuma fábrica também saem caixas de outros bens: cidadania, educação, desenvolvimento e profissionalização, por exemplo. É a mensagem do filme que a Firjan exibe hoje, em homenagem ao Dia da Indústria, amanhã. Acriação éda DM9Rio, com produção da Yes.
É festa
A Fisher-Price, americana de brinquedos e utensílios infantis, fez parceria com a Regina Festas. A brasileira vai fabricar e distribuir linha de 18 itens para chá de bebê.
Zona Oeste
A Nokia abre quiosque no West Shopping hoje. É o 8º do tipo inaugurado no mall desde abril. Chilli Beans e Euro Relógios foram outros que investiram no formato. Aporte total de R$ 900 mil.
Zona Franca
A Zinzane abre loja mês que vem, em Manaus. A grife feminina investiu R$ 600 mil na filial, a 80ª da rede. Virão mais 20 no país este ano.
NAMORADOS
A grife Aviator põe na rua hoje o catálogo do Dia dos Namorados. Serão 70 mil exemplares. O modelo Fernando Diniz posou para Markos Fortes. A marca quervender20% mais na data.
Livre Mercado
Os advogados Paulo Valois e Hel ler Barroso vão falar sobre o mercado brasileiro de óleo e gás em seminário na Noruega, 12 de junho.O interessede investidores cresceu após a 11ª Rodada. O Espaço Rubro Negro abre loja no Recreio Shopping hoje. É investimento de R$ 300 mil.
A Oi não enviou representante à reunião marcada pela Alô, que reúne lojistas da operadora. A Pousada Bahiamarela, em Búzios, ganhou certificado de excelência do site Tri pAdvisor.
Ueba! Saiu o Bolsa Arrastão - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 24/05
Ontem, por coincidência ou perseguição, foi o Dia Mundial da Tartaruga e aniversário do Rubinho
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Bagurança Pública: "Policial ganhará bônus de até R$ 10 mil para reduzir crime em São Paulo". É o Bolsa Arrastão!
"Governador, peguei um di menor fazendo um arrastão." Dez mil! Aliás, por 10 mil, eles vão prender até você. Rarará!
Como disse um amigo: "Prefiro dar 10 mil pro bandido pra ele não me assaltar!". Rarará!
Alckmin lança o Bolsa Arrastão! Aliás, Bolsa Arrastão é assim: todo paulista terá direito a um arrastão.
E eu gosto da terminologia policial daquele programa da Band, "Polícia 24 horas". Eles chamam briga de "desinteligência". "Fomos informados de uma desinteligência em Taboão da Serra". Vinte mil. Rarará!
E aquele PM no programa do Datena: "Estamos na captura de um elemento pardo trajando bermudas e sandália Havaianas". Então tão na captura do Brasil. Rarará!
E a lista das mais poderosas da revista "Forbes"? 1) Angela Merkel. 2) Dilma Rousseff. 95) Gisele Bündchen. Agora tira a roupa delas e refaz a lista. Rarará! Observação bem machista. Rarará!
E quando a revista chegou no Planalto, a Dilma gritou: "Maaaaantega, quem é essa que tá em primeiro?". "Outra mocreia." Rarará!
E a Dilma, na foto, tá parecendo o Kung Fu Panda. E a Angela Merkel com aquela eterna cara de ressaca de Oktoberfest! Aquela cara de quem passou quatro dias no Oktoberfest e acordou pra tirar foto pra "Forbes"!
E a Dilma e o Eduardo Campos na inauguração da Arena Pernambuco?! Falsos, porém simpáticos. Rarará!
E já que estamos falando de violência e polícia, olha a brilhante ideia da PM para a Virada Cultural: "PM quer tapumes para cercar a Virada Cultural".
Sei, um chiqueirinho. Chiqueirinho cultural. Jaula é mais moderno. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Ontem, por coincidência ou perseguição, foi o Dia Mundial da Tartaruga e aniversário do Rubinho. Então parabéns ao Rubinho e a todas as outras tartarugas. Rarará!
E em Salvador tem um despachante chamado Evilásio Araponga. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Ontem, por coincidência ou perseguição, foi o Dia Mundial da Tartaruga e aniversário do Rubinho
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Bagurança Pública: "Policial ganhará bônus de até R$ 10 mil para reduzir crime em São Paulo". É o Bolsa Arrastão!
"Governador, peguei um di menor fazendo um arrastão." Dez mil! Aliás, por 10 mil, eles vão prender até você. Rarará!
Como disse um amigo: "Prefiro dar 10 mil pro bandido pra ele não me assaltar!". Rarará!
Alckmin lança o Bolsa Arrastão! Aliás, Bolsa Arrastão é assim: todo paulista terá direito a um arrastão.
E eu gosto da terminologia policial daquele programa da Band, "Polícia 24 horas". Eles chamam briga de "desinteligência". "Fomos informados de uma desinteligência em Taboão da Serra". Vinte mil. Rarará!
E aquele PM no programa do Datena: "Estamos na captura de um elemento pardo trajando bermudas e sandália Havaianas". Então tão na captura do Brasil. Rarará!
E a lista das mais poderosas da revista "Forbes"? 1) Angela Merkel. 2) Dilma Rousseff. 95) Gisele Bündchen. Agora tira a roupa delas e refaz a lista. Rarará! Observação bem machista. Rarará!
E quando a revista chegou no Planalto, a Dilma gritou: "Maaaaantega, quem é essa que tá em primeiro?". "Outra mocreia." Rarará!
E a Dilma, na foto, tá parecendo o Kung Fu Panda. E a Angela Merkel com aquela eterna cara de ressaca de Oktoberfest! Aquela cara de quem passou quatro dias no Oktoberfest e acordou pra tirar foto pra "Forbes"!
E a Dilma e o Eduardo Campos na inauguração da Arena Pernambuco?! Falsos, porém simpáticos. Rarará!
E já que estamos falando de violência e polícia, olha a brilhante ideia da PM para a Virada Cultural: "PM quer tapumes para cercar a Virada Cultural".
Sei, um chiqueirinho. Chiqueirinho cultural. Jaula é mais moderno. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Ontem, por coincidência ou perseguição, foi o Dia Mundial da Tartaruga e aniversário do Rubinho. Então parabéns ao Rubinho e a todas as outras tartarugas. Rarará!
E em Salvador tem um despachante chamado Evilásio Araponga. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Desaceleração - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 24/05
Dois indicadores divulgados ontem sinalizam desaceleração do setor da construção civil, principalmente em São Paulo. O primeiro deles veio com os dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE. O outro, com a Sondagem Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O balanço da taxa de desocupação no País, tomado como um todo, não mostra nenhuma alteração relevante. O desemprego aumentou de 5,7% da força de trabalho, em março, para 5,8%, em abril. Pontinho acima ou pontinho abaixo é variação normal em qualquer curva desse tipo. A economia vive momento sem precedentes de pleno emprego ou algo perto disso.
A indicação preocupante se concentra na indústria da construção civil, que registrou redução do emprego de 3,2% no primeiro quadrimestre de 2013 em relação a igual período do ano passado. O coordenador da área de Trabalho e Rendimento do IBGE, economista Cimar Azeredo, assinala que se trata de "uma queda surpreendente na população ocupada na construção civil", especialmente quando comparada com a alta de 2,5% observada no primeiro quadrimestre de 2012.
Quando o foco se dirige para a região metropolitana de São Paulo, observa Azeredo, o declínio é ainda mais surpreendente. A ampliação do emprego de 8,7% no primeiro quadrimestre do ano passado agora se transformou em contração de 1,4%.
Os números da CNI têm outro critério de mensuração, mas apontam para a mesma direção. Em abril, a atividade do setor da construção civil ficou nos 45,5 pontos, abaixo da linha dos 50 pontos que indica desempenho "normal".
Outros termômetros já vinham acusando retração de atividade no segmento: queda de preços, desova de estoques e redução de lançamentos de edifícios. A Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) já tinha mostrado que, no primeiro trimestre deste ano, o valor do metro quadrado dos imóveis com um ou dois dormitórios (de maior procura) havia caído 7,8% em relação a dezembro de 2012.
Como a indústria da construção civil é grande empregadora de mão de obra, um recuo dessa grandeza acende uma fileira de luzes amarelas, sobretudo quando se leva em conta que o governo Dilma pôs muita energia no programa "Minha Casa, Minha Vida".
Fator relevante que deve ter contribuído para isso foi a disparada de preços dos imóveis nos três últimos anos, especialmente em São Paulo, numa conjuntura em que o poder aquisitivo do comprador ficou para trás a partir de 2012, pelo aumento da inflação que corroeu a renda e pela desaceleração da atividade econômica.
Pode-se contra-argumentar que o crédito para aquisição de imóveis continua farto e relativamente mais barato. No entanto, a evolução dos financiamentos esbarra em um problema técnico importante: insuficiência de renda familiar do candidato a mutuário em relação aos preços ainda praticados no mercado e em relação aos custos crescentes da construção.
Dois indicadores divulgados ontem sinalizam desaceleração do setor da construção civil, principalmente em São Paulo. O primeiro deles veio com os dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE. O outro, com a Sondagem Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O balanço da taxa de desocupação no País, tomado como um todo, não mostra nenhuma alteração relevante. O desemprego aumentou de 5,7% da força de trabalho, em março, para 5,8%, em abril. Pontinho acima ou pontinho abaixo é variação normal em qualquer curva desse tipo. A economia vive momento sem precedentes de pleno emprego ou algo perto disso.
A indicação preocupante se concentra na indústria da construção civil, que registrou redução do emprego de 3,2% no primeiro quadrimestre de 2013 em relação a igual período do ano passado. O coordenador da área de Trabalho e Rendimento do IBGE, economista Cimar Azeredo, assinala que se trata de "uma queda surpreendente na população ocupada na construção civil", especialmente quando comparada com a alta de 2,5% observada no primeiro quadrimestre de 2012.
Quando o foco se dirige para a região metropolitana de São Paulo, observa Azeredo, o declínio é ainda mais surpreendente. A ampliação do emprego de 8,7% no primeiro quadrimestre do ano passado agora se transformou em contração de 1,4%.
Os números da CNI têm outro critério de mensuração, mas apontam para a mesma direção. Em abril, a atividade do setor da construção civil ficou nos 45,5 pontos, abaixo da linha dos 50 pontos que indica desempenho "normal".
Outros termômetros já vinham acusando retração de atividade no segmento: queda de preços, desova de estoques e redução de lançamentos de edifícios. A Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp) já tinha mostrado que, no primeiro trimestre deste ano, o valor do metro quadrado dos imóveis com um ou dois dormitórios (de maior procura) havia caído 7,8% em relação a dezembro de 2012.
Como a indústria da construção civil é grande empregadora de mão de obra, um recuo dessa grandeza acende uma fileira de luzes amarelas, sobretudo quando se leva em conta que o governo Dilma pôs muita energia no programa "Minha Casa, Minha Vida".
Fator relevante que deve ter contribuído para isso foi a disparada de preços dos imóveis nos três últimos anos, especialmente em São Paulo, numa conjuntura em que o poder aquisitivo do comprador ficou para trás a partir de 2012, pelo aumento da inflação que corroeu a renda e pela desaceleração da atividade econômica.
Pode-se contra-argumentar que o crédito para aquisição de imóveis continua farto e relativamente mais barato. No entanto, a evolução dos financiamentos esbarra em um problema técnico importante: insuficiência de renda familiar do candidato a mutuário em relação aos preços ainda praticados no mercado e em relação aos custos crescentes da construção.
Governo tolera, mas não usa o mercado - CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 24/05
Juros reais próximos de zero, metas fiscais flutuantes, desvalorização cambial induzida e expansão da oferta de crédito público foram os diques abertos simultaneamente pelo governo que levaram a economia a sancionar os aumentos de preços - numa indicação de que ele não estava disposto a ceder em nada para conter a inflação.
O Banco Central, ajudado pela cobrança da sociedade, começou a aumentar os juros. Ele sabe que o IPCA vai cair nos próximos três meses, mas começa a subir novamente a partir de agosto, embora de forma mais moderada do que no segundo semestre do ano passado. De maio a julho a inflação mensal cai, mas não a acumulada em doze meses. Daí em diante, a esperança é de que o IPCA de doze meses comece a ceder e encerre o exercício na casa dos 5,7%. Sem a ajuda da tarifa de energia, da isenção de impostos da cesta básica e outras intervenções oficiais, porém, a inflação rondaria 8%.
Os primeiros dados de maio sustentam a expectativa do BC. O IPCA-15 foi de 0,46% e o índice de difusão veio mais razoável - caiu de 74% em março para 61% agora. A queda dos preços dos alimentos no atacado, porém, está demorando a chegar ao varejo. O BC suspeita que isso decorra do encarecimento do frete.
Há, nessa composição, portanto, um grave problema de logística que remete às crônicas deficiências da economia pelo lado da oferta, principalmente de infraestrutura. Nos últimos dez anos as concessões na área de logística foram vacilantes. Resultaram num modelo frágil e na ausência de cumprimento dos compromissos assumidos nos contratos. Esse é o caso de várias rodovias que foram passadas para a iniciativa privada entre 2008 e 2009.
Para recuperar o longo tempo perdido, este governo tentou correr com uma nova rodada de concessões. Mas o cronograma original já está comprometido. O objetivo era licitar todos os trechos de rodovias até abril. Não conseguiu licitar nenhum. As regras dos editais já foram alteradas duas vezes para tentar atrair investidores. No caso das rodovias, eles não concordavam com a limitação da taxa de retorno e com o volume de obras que deveriam ser entregues nos primeiros cinco anos. O governo fez mudanças, mas estas pouco agradaram.
É intrigante constatar que os investidores e a imprensa internacional estão mais interessados, hoje, no México do que no Brasil. Lá o sistema político não é plural, a distribuição da renda é ruim e a economia é fortemente dependente da americana. E não há uma carteira de bons projetos para investimentos como há no Brasil. Provavelmente, o México atrai os olhares e os interesses mais pelos defeitos do Brasil do que por seus próprios méritos. Por que?
"Temos um governo que apenas tolera o mercado e, ao contrário do que sugeria Adam Smith, não usa o mercado como instrumento de governo", comentou um empresário, arriscando uma resposta. Esse mesmo interlocutor, que acompanha atentamente o desenrolar das concessões, conta que assistiu por 12 horas as discussões sobre a Medida Provisória dos Portos, na semana passada, no Congresso Nacional. "Como aprovada, a MP vai na direção correta, mas tal como ocorreu com o setor elétrico, o governo não cuidou bem da transição entre o velho e o novo modelo. Os que entrarem agora nas concessões dos portos terão mais vantagens do que os que já estão lá".
Mais importante do que concessões de subsídios - que podem ser retirados a qualquer momento - o que leva o setor privado a investir é a confiança nas regras vigentes e na expectativa de bons resultados. Para isso, é importante que o sistema de preços funcione.
Em um encontro de empresários em São Paulo, ontem, discutiu-se custos de produção da indústria. Dados apresentados na conversa apontaram que nos últimos seis anos os custos para a indústria teriam aumentado 1% nos Estados Unidos, 18% na Coreia e 65% no Brasil, dentre outros, contou um dos presentes. Mesmo com toda a desoneração de impostos, esse quadro não mudou. "A desoneração é uma gota nesse oceano", disse.
Um dos motivos do salto nos custos da indústria doméstica teria sido o aumento do salário real, nesse período, sem qualquer correspondência no aumento da produtividade. Com um mundo que produz mais barato do que aqui, a demanda da economia brasileira está vazando para o exterior.
Há indícios de que no mercado de trabalho - que até agora não sentiu os tropeços da atividade - a situação também pode estar mudando. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego teve um ligeiro aumento, de 5,7% em março para 5,8% em abril. Houve um elevado número de demissões e de contratações. Isso pode significar que os empregados estão tomando a iniciativa de trocar de emprego para melhorar os salários. Mas é mais provável que seja o contrário: um sinal de que as empresas estão demitindo os salários altos e contratando a um preço menor.
Nesse quadro, o destino da taxa Selic no curto prazo ganha ainda maior relevância. Na próxima semana o Comitê de Política Monetária (Copom) deve aumentar os juros, mesmo ciente de que a inflação reflete a escassez de oferta. O mercado se divide nas apostas de uma alta de 0,25% ou 0,50%.
A combinação simultânea de políticas fiscal, monetária e de crédito expansionistas, mais a desvalorização forçada da moeda no ano passado, como citado, geraram um ambiente de pressão inflacionária e não produziram crescimento econômico. O mesmo empenho que levou o governo do PT a promover a legítima distribuição da renda deveria ser aplicado, agora, na melhoria da eficiência da economia, com ganhos de produtividade e de competitividade. Sem isso, o futuro dificilmente será melhor do que o passado.
Juros reais próximos de zero, metas fiscais flutuantes, desvalorização cambial induzida e expansão da oferta de crédito público foram os diques abertos simultaneamente pelo governo que levaram a economia a sancionar os aumentos de preços - numa indicação de que ele não estava disposto a ceder em nada para conter a inflação.
O Banco Central, ajudado pela cobrança da sociedade, começou a aumentar os juros. Ele sabe que o IPCA vai cair nos próximos três meses, mas começa a subir novamente a partir de agosto, embora de forma mais moderada do que no segundo semestre do ano passado. De maio a julho a inflação mensal cai, mas não a acumulada em doze meses. Daí em diante, a esperança é de que o IPCA de doze meses comece a ceder e encerre o exercício na casa dos 5,7%. Sem a ajuda da tarifa de energia, da isenção de impostos da cesta básica e outras intervenções oficiais, porém, a inflação rondaria 8%.
Os primeiros dados de maio sustentam a expectativa do BC. O IPCA-15 foi de 0,46% e o índice de difusão veio mais razoável - caiu de 74% em março para 61% agora. A queda dos preços dos alimentos no atacado, porém, está demorando a chegar ao varejo. O BC suspeita que isso decorra do encarecimento do frete.
Há, nessa composição, portanto, um grave problema de logística que remete às crônicas deficiências da economia pelo lado da oferta, principalmente de infraestrutura. Nos últimos dez anos as concessões na área de logística foram vacilantes. Resultaram num modelo frágil e na ausência de cumprimento dos compromissos assumidos nos contratos. Esse é o caso de várias rodovias que foram passadas para a iniciativa privada entre 2008 e 2009.
Para recuperar o longo tempo perdido, este governo tentou correr com uma nova rodada de concessões. Mas o cronograma original já está comprometido. O objetivo era licitar todos os trechos de rodovias até abril. Não conseguiu licitar nenhum. As regras dos editais já foram alteradas duas vezes para tentar atrair investidores. No caso das rodovias, eles não concordavam com a limitação da taxa de retorno e com o volume de obras que deveriam ser entregues nos primeiros cinco anos. O governo fez mudanças, mas estas pouco agradaram.
É intrigante constatar que os investidores e a imprensa internacional estão mais interessados, hoje, no México do que no Brasil. Lá o sistema político não é plural, a distribuição da renda é ruim e a economia é fortemente dependente da americana. E não há uma carteira de bons projetos para investimentos como há no Brasil. Provavelmente, o México atrai os olhares e os interesses mais pelos defeitos do Brasil do que por seus próprios méritos. Por que?
"Temos um governo que apenas tolera o mercado e, ao contrário do que sugeria Adam Smith, não usa o mercado como instrumento de governo", comentou um empresário, arriscando uma resposta. Esse mesmo interlocutor, que acompanha atentamente o desenrolar das concessões, conta que assistiu por 12 horas as discussões sobre a Medida Provisória dos Portos, na semana passada, no Congresso Nacional. "Como aprovada, a MP vai na direção correta, mas tal como ocorreu com o setor elétrico, o governo não cuidou bem da transição entre o velho e o novo modelo. Os que entrarem agora nas concessões dos portos terão mais vantagens do que os que já estão lá".
Mais importante do que concessões de subsídios - que podem ser retirados a qualquer momento - o que leva o setor privado a investir é a confiança nas regras vigentes e na expectativa de bons resultados. Para isso, é importante que o sistema de preços funcione.
Em um encontro de empresários em São Paulo, ontem, discutiu-se custos de produção da indústria. Dados apresentados na conversa apontaram que nos últimos seis anos os custos para a indústria teriam aumentado 1% nos Estados Unidos, 18% na Coreia e 65% no Brasil, dentre outros, contou um dos presentes. Mesmo com toda a desoneração de impostos, esse quadro não mudou. "A desoneração é uma gota nesse oceano", disse.
Um dos motivos do salto nos custos da indústria doméstica teria sido o aumento do salário real, nesse período, sem qualquer correspondência no aumento da produtividade. Com um mundo que produz mais barato do que aqui, a demanda da economia brasileira está vazando para o exterior.
Há indícios de que no mercado de trabalho - que até agora não sentiu os tropeços da atividade - a situação também pode estar mudando. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego teve um ligeiro aumento, de 5,7% em março para 5,8% em abril. Houve um elevado número de demissões e de contratações. Isso pode significar que os empregados estão tomando a iniciativa de trocar de emprego para melhorar os salários. Mas é mais provável que seja o contrário: um sinal de que as empresas estão demitindo os salários altos e contratando a um preço menor.
Nesse quadro, o destino da taxa Selic no curto prazo ganha ainda maior relevância. Na próxima semana o Comitê de Política Monetária (Copom) deve aumentar os juros, mesmo ciente de que a inflação reflete a escassez de oferta. O mercado se divide nas apostas de uma alta de 0,25% ou 0,50%.
A combinação simultânea de políticas fiscal, monetária e de crédito expansionistas, mais a desvalorização forçada da moeda no ano passado, como citado, geraram um ambiente de pressão inflacionária e não produziram crescimento econômico. O mesmo empenho que levou o governo do PT a promover a legítima distribuição da renda deveria ser aplicado, agora, na melhoria da eficiência da economia, com ganhos de produtividade e de competitividade. Sem isso, o futuro dificilmente será melhor do que o passado.
Os três leilões - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 24/05
Há tanta chance de ter petróleo no campo de Libra, a ser leiloado em outubro, na primeira licitação do pré-sal, que o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, João Carlos de Luca, diz que "Libra desequilibra". Ontem, a ANP anunciou a antecipação do leilão do pré-sal, uma semana depois da 11ª rodada no velho modelo. Em novembro, será o leilão em que o gás de xisto será a atração.
Depois de um longa espera de cinco anos, em que o governo anunciou que estava mudando o marco regulatório por causa do pré-sal, agora tudo começa a andar e três leilões foram marcados, dois deles no modelo antigo. O da semana passada trouxe várias novidades. Uma delas, disse De Luca, numa entrevista que me concedeu na Globonews, foi a pluralidade de atores. Há várias áreas em que a Petrobras nem disputou ou entrou como minoritária, os blocos disputados foram ao longo de todo o Brasil, em terra, na foz de rios ou no mar. Empresas brasileiras entraram com força, como a Petra. Empresas estrangeiras ganharam espaço importante, como a Total. A Statoil, da Noruega, concentrou-se no litoral do Espírito Santo onde vai operar quatro dos seis poços em que está associada à Petrobras.
Mauro Andrade, vice-presidente de relações institucionais da Statoil, diz que o mercado brasileiro é um dos que a estatal norueguesa dá mais prioridade de investimento. O curioso é que, segundo Andrade, ao contrário do que repetiu tantas vezes o governo, na Noruega os leilões são feitos no sistema de concessão e não no de partilha.
O governo interrompeu a série de rodadas argumentando que o modelo de partilha era o que defendia melhor o interesse nacional. Nele, a Petrobrás será obrigatoriamente a operadora, terá que ter 30% do negócio, e haverá uma nova estatal que ficará com as receitas de petróleo.
Ao fim de cinco anos de confusões, brigas pelos royalties que dividiram os estados brasileiros, redução da área prospectada e diminuição da produção de petróleo, o governo recuou. Voltou com os leilões e começou fazendo igualzinho ao modelo de concessão que havia execrado. Deu certo. O governo arrecadou R$ 2,7 bilhões de bônus de assinatura e garantiu R$ 7 bilhões de investimentos. Ele comemorou como se não tivesse, no passado, criticado o modelo que usou.
Agora, fará uma licitação de apenas um campo no modelo de partilha, mas os empresários que ouvi ontem informam que as regras do novo modelo ainda não estão definidas. O interesse dependerá dessas regras. Para ter mais chance de sucesso no modelo que escolheu, o governo decidiu que o grande teste será num campo em que há indícios de haver uma grande quantidade de petróleo. Ele terá que ser apanhado a 7 mil metros de profundidade.
Em novembro, será o leilão de gás nas bacias em que já há indícios da existência do produto, e do gás de xisto. Ainda há muitas dúvidas sobre o gás de xisto. A única coisa que se sabe ao certo é que a tecnologia de extração permite um produto muito mais barato do que o gás natural normal.
Para extraí-lo, é preciso usar muita água com componentes químicos que têm grande risco de contaminar o lençol freático. Os especialistas ouvidos ontem disseram que os Estados Unidos estão correndo com as pesquisas para aumentar o grau de proteção dessa fonte que está sendo apresentada como a atual revolução energética. Enquanto isso, no entanto, alguns estados americanos e alguns países, como a França, preferiram proibir a exploração do gás retirado pelo fracionamento da rocha, usando o princípio da precaução.
No Brasil, mesmo se for encontrado, o gás de xisto não terá a facilidade da rede de gasodutos que corta os Estados Unidos. Mesmo assim, empresas já vêm fazendo pesquisas há alguns anos, para estarem preparadas para esta nova frente da indústria de óleo e gás.
Uma hipótese que se pode imaginar é que se for encontrado petróleo e gás em outros estados, seja em terra, seja em mar, a proposta defendida com tanto ardor no Congresso, de que os royalties fiquem em grande parte com os estados não produtores, pode perder ímpeto. E aí quem sabe o tema da divisão dos impostos sobre o petróleo pode ganhar mais racionalidade.
Falta a responsabilidade administrativa - FRANCIS BOGOSSIAN
O GLOBO - 24/05
A qualidade das obras públicas no Rio de Janeiro vem sendo posta em xeque na imprensa. Todos se perguntam como tantos desastres podem acontecer quando a engenharia brasileira é reconhecida internacionalmente pelo alto padrão técnico. Lógico que podem ocorrer erros de concepção, projeto, planejamento ou gestão, mas a principal razão para os recorrentes eventos que temos presenciado é a falta de manutenção das construções.
Obras de engenharia precisam de manutenção permanente não apenas para aumentar e garantir a vida útil da construção, mas, principalmente, por motivos de segurança. O gasto com manutenção de uma estrutura de concreto, por exemplo, é 25 vezes menor do que o custo de renovar a estrutura deteriorada, isto sem contar os possíveis riscos de acidentes.
Esta é uma verdade incontestável, mas dificilmente obedecida, principalmente no setor público! Não há no Brasil uma consciência da importância dos gastos com manutenção, que deveriam ser permanentes e não esporádicos.
A boa prática construtiva não elimina a necessidade da conservação permanente das construções.
Os administradores públicos estão sempre muito mais preocupados em realizar do que em manter o que foi construído por seus antecessores.
É natural que queiram mostrar que executaram mais dos que os outros. Por isto mesmo, sem exigência legal e sem que se estabeleçam responsabilidades, a manutenção e conservação de obras de engenharia estarão sempre relegadas ao esquecimento.
Só após grandes acidentes é que se estabelecem regras para que fatos semelhantes não se repitam.
Vários desastres provocados pelo rompimento de barragens levaram à criação da Lei Federal nº 12.334/2010, que estabelece uma política nacional de segurança de barragens, com exigência de inspeções periódicas, atualização dos dados técnicos e estabelecendo responsabilidades dos autores envolvidos.
O desabamento em 2012 do Edifício Liberdade, na Avenida Treze de Maio, no Centro do Rio de Janeiro, levou o governador a sancionar a Lei 6.400, de 5 de março de 2013, que determina a autovistoria em prédios públicos e privados. No âmbito do Município do Rio, o prefeito Eduardo Paes aprovou a Lei Complementar 126, de 26 de março de 2013, estabelecendo obrigatoriedade de vistoria técnica periódica para as edificações com mais de cinco anos e a exigência de laudo técnico dos imóveis.
No segmento de pontes rodoviárias, todos os procedimentos relacionados no manual de inspeção constam da Norma Dnit 010/2004-PRO, mas não há nenhuma obrigatoriedade do administrador público de executar estes serviços com regularidade.
A prevenção de deslizamentos em encostas é outro assunto que não deslancha. Há uma grande comoção quando os desastres acontecem, mas o assunto cai no esquecimento. Não há trabalho preventivo. Prefeitos fecham os olhos para crimes ambientais, como ocupação irregular das encostas e das margens de rios, e ainda para o despejo irregular dos resíduos sólidos.
O Brasil precisa de uma lei de Responsabilidade Administrativa, com regras claras, para nos anteciparmos aos desastres previsíveis.
A qualidade das obras públicas no Rio de Janeiro vem sendo posta em xeque na imprensa. Todos se perguntam como tantos desastres podem acontecer quando a engenharia brasileira é reconhecida internacionalmente pelo alto padrão técnico. Lógico que podem ocorrer erros de concepção, projeto, planejamento ou gestão, mas a principal razão para os recorrentes eventos que temos presenciado é a falta de manutenção das construções.
Obras de engenharia precisam de manutenção permanente não apenas para aumentar e garantir a vida útil da construção, mas, principalmente, por motivos de segurança. O gasto com manutenção de uma estrutura de concreto, por exemplo, é 25 vezes menor do que o custo de renovar a estrutura deteriorada, isto sem contar os possíveis riscos de acidentes.
Esta é uma verdade incontestável, mas dificilmente obedecida, principalmente no setor público! Não há no Brasil uma consciência da importância dos gastos com manutenção, que deveriam ser permanentes e não esporádicos.
A boa prática construtiva não elimina a necessidade da conservação permanente das construções.
Os administradores públicos estão sempre muito mais preocupados em realizar do que em manter o que foi construído por seus antecessores.
É natural que queiram mostrar que executaram mais dos que os outros. Por isto mesmo, sem exigência legal e sem que se estabeleçam responsabilidades, a manutenção e conservação de obras de engenharia estarão sempre relegadas ao esquecimento.
Só após grandes acidentes é que se estabelecem regras para que fatos semelhantes não se repitam.
Vários desastres provocados pelo rompimento de barragens levaram à criação da Lei Federal nº 12.334/2010, que estabelece uma política nacional de segurança de barragens, com exigência de inspeções periódicas, atualização dos dados técnicos e estabelecendo responsabilidades dos autores envolvidos.
O desabamento em 2012 do Edifício Liberdade, na Avenida Treze de Maio, no Centro do Rio de Janeiro, levou o governador a sancionar a Lei 6.400, de 5 de março de 2013, que determina a autovistoria em prédios públicos e privados. No âmbito do Município do Rio, o prefeito Eduardo Paes aprovou a Lei Complementar 126, de 26 de março de 2013, estabelecendo obrigatoriedade de vistoria técnica periódica para as edificações com mais de cinco anos e a exigência de laudo técnico dos imóveis.
No segmento de pontes rodoviárias, todos os procedimentos relacionados no manual de inspeção constam da Norma Dnit 010/2004-PRO, mas não há nenhuma obrigatoriedade do administrador público de executar estes serviços com regularidade.
A prevenção de deslizamentos em encostas é outro assunto que não deslancha. Há uma grande comoção quando os desastres acontecem, mas o assunto cai no esquecimento. Não há trabalho preventivo. Prefeitos fecham os olhos para crimes ambientais, como ocupação irregular das encostas e das margens de rios, e ainda para o despejo irregular dos resíduos sólidos.
O Brasil precisa de uma lei de Responsabilidade Administrativa, com regras claras, para nos anteciparmos aos desastres previsíveis.
Brasil, país do passado? - MÁRCIO GARCIA
VALOR ECONÔMICO - 24/05
O Brasil tem ocupado, nos últimos anos, posição de destaque internacional inédita em nossa história. Houve até quem ficasse tentado a acreditar que o vaticínio de Stefan Zweig - Brasil, país do futuro - teria finalmente se concretizado. Mas o decepcionante desempenho recente, sobretudo o pífio crescimento dos últimos dois anos, suscita a dúvida de que, ainda longe de alcançarmos as economias desenvolvidas e mesmo algumas economias emergentes mais dinâmicas, estejamos já perdendo terreno. A ameaça é que, nas próximas décadas, em vez de vislumbrarmos um futuro cada vez melhor, possamos ter saudades dos anos recentes.
Na economia, o diagnóstico parece bem claro. O efeito das diversas reformas empreendidas, dos anos 90 até meados da década passada, parece ter esgotado seu potencial de elevar a produtividade. Junto com uma mudança demográfica que reduziu a expansão da força de trabalho, o crescimento econômico emperrou. A sensação ainda é boa, mercê do aquecimento do mercado de trabalho e dos programas de distribuição de renda, mas as perspectivas estão longe de ser brilhantes.
As atividades produtivas intensivas na produção de commodities, sobretudo na agricultura e na mineração, vão bem. O próprio setor de serviços, o maior de todos, vai relativamente bem. Mas a indústria vai mal: nem sequer voltou a atingir o nível de produção anterior à crise de 2008.
Entre 2003 e 2010, o crescimento do PIB, superior a 4% ao ano, beneficiou-se do uso mais intenso do fator trabalho. Enquanto o desemprego despencava de 12,3% para 6,7%, a PEA (força de trabalho) expandia-se a 1,6% ao ano. O pleno emprego atingido desde então vem causando sérios problemas para a indústria e para a inflação. O mecanismo é simples. O mercado de trabalho aquecido eleva os salários. O setor de serviços, protegido da concorrência externa, repassa o custo salarial mais elevado aos preços, o que eleva a inflação. Dado que, ressalvadas suas especificidades, os diversos setores produtivos competem pelo mesmo conjunto de trabalhadores, os salários mais altos pressionam os custos da indústria. Não podendo repassar o aumento de custos aos preços devido à concorrência externa, a indústria enfrenta queda de competitividade e reduz investimentos.
Frente a tal realidade, o governo vem reagindo de afogadilho. Os créditos subsidiados do BNDES, o aumento de proteção contra a competição externa e as desonerações tributárias, distribuídos de forma discricionária e pouco transparente, geram distorções nocivas ao crescimento. Falta estratégia coerente de longo prazo. E a incerteza gerada vem refreando os "animal spirits" que o governo quer incentivar.
Os gargalos da nossa precária infraestrutura perduram por anos a fio. Aparentemente paralisado por preconceitos ideológicos, o governo demorou anos para voltar a incentivar a participação privada. As medidas recentemente tomadas, ainda que representem avanço em relação à estagnação anterior, mostram-se aquém do que se precisa e se poderia obter.
Mas é na seara fiscal que reside a principal ameaça de longo prazo. É importante, sempre, recordar que conseguimos debelar a hiperinflação há menos de 20 anos. E, para isso, foi necessário empreender um enorme e demorado esforço de contenção fiscal. Sem as renegociações das dívidas estaduais e o fechamento do ralo fiscal representado pelos bancos estaduais, o Plano Real não teria sido bem sucedido.
O que vemos hoje é um contínuo abandono das boas práticas fiscais. Apesar da substancial queda da taxa Selic, os gastos com juros não foram significativamente reduzidos, devido ao grande aumento da dívida pública bruta. Os gastos de custeio continuam a se elevar bem acima do crescimento do PIB e as desonerações prejudicam a receita. Tal quadro já estancou a queda da dívida líquida, que ameaça voltar a crescer, mesmo com todas as manobras de contabilidade criativa que estão dilapidando a credibilidade das estatísticas fiscais. E ainda falta ter em conta problemas de longo-prazo, como o déficit da previdência, que, se o crescimento continuar medíocre, aumentará inexoravelmente na ausência de reformas.
No front externo, continuamos recebendo vultosos fluxos de capitais estrangeiros. Mas o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos já ultrapassa os 3% do PIB. Isto deveria acender o alerta amarelo, sobretudo levando-se em conta a baixa taxa de investimento do país. Ou seja, tanto a inflação quanto o déficit em conta-corrente evidenciam que não há falta de demanda na economia. Não obstante, o governo persiste no diagnóstico que deve fazer política anticíclica, como se mais gastos públicos fossem resolver os problemas que claramente se situam do lado da oferta. Sem que voltemos a enfrentar os graves problemas que restringem o aumento de produtividade da economia brasileira, os remendos colocados pelas políticas atuais não lograrão reconduzir a economia ao tão almejado crescimento sustentado.
Em resumo, a fotografia da economia brasileira ainda é bonita. Mas, assistindo-se ao filme, conclui-se que, sem significativas mudanças no roteiro e na direção, ele se encaminha para um desfecho melancólico.
O Brasil tem ocupado, nos últimos anos, posição de destaque internacional inédita em nossa história. Houve até quem ficasse tentado a acreditar que o vaticínio de Stefan Zweig - Brasil, país do futuro - teria finalmente se concretizado. Mas o decepcionante desempenho recente, sobretudo o pífio crescimento dos últimos dois anos, suscita a dúvida de que, ainda longe de alcançarmos as economias desenvolvidas e mesmo algumas economias emergentes mais dinâmicas, estejamos já perdendo terreno. A ameaça é que, nas próximas décadas, em vez de vislumbrarmos um futuro cada vez melhor, possamos ter saudades dos anos recentes.
Na economia, o diagnóstico parece bem claro. O efeito das diversas reformas empreendidas, dos anos 90 até meados da década passada, parece ter esgotado seu potencial de elevar a produtividade. Junto com uma mudança demográfica que reduziu a expansão da força de trabalho, o crescimento econômico emperrou. A sensação ainda é boa, mercê do aquecimento do mercado de trabalho e dos programas de distribuição de renda, mas as perspectivas estão longe de ser brilhantes.
As atividades produtivas intensivas na produção de commodities, sobretudo na agricultura e na mineração, vão bem. O próprio setor de serviços, o maior de todos, vai relativamente bem. Mas a indústria vai mal: nem sequer voltou a atingir o nível de produção anterior à crise de 2008.
Entre 2003 e 2010, o crescimento do PIB, superior a 4% ao ano, beneficiou-se do uso mais intenso do fator trabalho. Enquanto o desemprego despencava de 12,3% para 6,7%, a PEA (força de trabalho) expandia-se a 1,6% ao ano. O pleno emprego atingido desde então vem causando sérios problemas para a indústria e para a inflação. O mecanismo é simples. O mercado de trabalho aquecido eleva os salários. O setor de serviços, protegido da concorrência externa, repassa o custo salarial mais elevado aos preços, o que eleva a inflação. Dado que, ressalvadas suas especificidades, os diversos setores produtivos competem pelo mesmo conjunto de trabalhadores, os salários mais altos pressionam os custos da indústria. Não podendo repassar o aumento de custos aos preços devido à concorrência externa, a indústria enfrenta queda de competitividade e reduz investimentos.
Frente a tal realidade, o governo vem reagindo de afogadilho. Os créditos subsidiados do BNDES, o aumento de proteção contra a competição externa e as desonerações tributárias, distribuídos de forma discricionária e pouco transparente, geram distorções nocivas ao crescimento. Falta estratégia coerente de longo prazo. E a incerteza gerada vem refreando os "animal spirits" que o governo quer incentivar.
Os gargalos da nossa precária infraestrutura perduram por anos a fio. Aparentemente paralisado por preconceitos ideológicos, o governo demorou anos para voltar a incentivar a participação privada. As medidas recentemente tomadas, ainda que representem avanço em relação à estagnação anterior, mostram-se aquém do que se precisa e se poderia obter.
Mas é na seara fiscal que reside a principal ameaça de longo prazo. É importante, sempre, recordar que conseguimos debelar a hiperinflação há menos de 20 anos. E, para isso, foi necessário empreender um enorme e demorado esforço de contenção fiscal. Sem as renegociações das dívidas estaduais e o fechamento do ralo fiscal representado pelos bancos estaduais, o Plano Real não teria sido bem sucedido.
O que vemos hoje é um contínuo abandono das boas práticas fiscais. Apesar da substancial queda da taxa Selic, os gastos com juros não foram significativamente reduzidos, devido ao grande aumento da dívida pública bruta. Os gastos de custeio continuam a se elevar bem acima do crescimento do PIB e as desonerações prejudicam a receita. Tal quadro já estancou a queda da dívida líquida, que ameaça voltar a crescer, mesmo com todas as manobras de contabilidade criativa que estão dilapidando a credibilidade das estatísticas fiscais. E ainda falta ter em conta problemas de longo-prazo, como o déficit da previdência, que, se o crescimento continuar medíocre, aumentará inexoravelmente na ausência de reformas.
No front externo, continuamos recebendo vultosos fluxos de capitais estrangeiros. Mas o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos já ultrapassa os 3% do PIB. Isto deveria acender o alerta amarelo, sobretudo levando-se em conta a baixa taxa de investimento do país. Ou seja, tanto a inflação quanto o déficit em conta-corrente evidenciam que não há falta de demanda na economia. Não obstante, o governo persiste no diagnóstico que deve fazer política anticíclica, como se mais gastos públicos fossem resolver os problemas que claramente se situam do lado da oferta. Sem que voltemos a enfrentar os graves problemas que restringem o aumento de produtividade da economia brasileira, os remendos colocados pelas políticas atuais não lograrão reconduzir a economia ao tão almejado crescimento sustentado.
Em resumo, a fotografia da economia brasileira ainda é bonita. Mas, assistindo-se ao filme, conclui-se que, sem significativas mudanças no roteiro e na direção, ele se encaminha para um desfecho melancólico.
Premiados - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 24/05
Funcionários públicos que cumprem suas obrigações merecem, como acontece normalmente com quem trabalha na iniciativa privada, o pagamento regular e justo de seus salários. E, pelo menos em princípio, nada mais do que isso. É curioso, portanto, que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tenha sentido a necessidade de criar um bônus para policiais que consigam reduzir a criminalidade em suas áreas de trabalho.
Quem está na arquibancada imaginaria que, como em qualquer outra profissão, o salário já corresponde ao comprimento eficiente dos deveres da profissão do cidadão.
Alckmin está prometendo uma gratificação semestral para a redução dos índices de homicídio, latrocínio e roubo de veículos no estado.
Ainda não decidiu quanto será necessário para estimular os policiais a combater com eficiência a criminalidade: parece que vai ser algo entre R$ 4 mil e R$ 10 mil. Segundo o secretário de Segurança Pública do estado, Fernando Grella, o governo está preparado para impedir possíveis fraudes nas estatísticas. Ou seja, os policiais paulistas serão devidamente policiados.
Grella, pelo visto, parece saber com quem está lidando.
Mas, curiosamente, os beneficiados não gostaram da ideia: o presidente da Associação dos Investigadores de São Paulo, João Batista Rebouças, disse preferir um aumento nos salários dos policiais. Seja como for, a iniciativa não é novidade: aqui no Rio de Janeiro o sistema dos bônus vai de R$ 4.500 a R$ 13.500, e a Secretaria de Segurança tem certeza de que foi uma boa iniciativa. Segundo o subsecretário de Planejamento, Roberto Sá, a gratificação proporcionou "o diálogo e a integração das polícias". Em Pernambuco e Minas, também há prêmios para policiais.
Para quem está na arquibancada, mesmo que não se discuta a eficiência do bônus, ele certamente tem perigos. Por exemplo, a já citada fraude nos números de bandidos presos. Ou mesmo prisões não justificadas. Também, nada impede que outros servidores do Estado reclamem tratamento igual. Apenas por hipótese, existiria, quem sabe, a possibilidade de que médicos reclamassem gratificação por cirurgias bem-sucedidas.
Ou que professores pedissem um prêmio pelas boas notas de seus alunos.
Seja como for, é verdade óbvia que São Paulo tem problemas sérios na área da segurança pública.
No primeiro trimestre deste ano, as estatísticas revelaram aumento da criminalidade em quase todos os tipos de crime em relação ao mesmo período do ano passado. Houve apenas uma exceção: o número de homicídios diminuiu consideravelmente nos últimos anos: caiu de 13 mil para 4.800. Ninguém até hoje, descobriu uma explicação para essa boa notícia. Será importante verificar se os bônus produzirão melhores resultados nos outros tipos de crimes.
E por que isso acontecerá.
O que, lamentavelmente, também será uma triste constatação sobre a motivação dos policiais paulistas
Funcionários públicos que cumprem suas obrigações merecem, como acontece normalmente com quem trabalha na iniciativa privada, o pagamento regular e justo de seus salários. E, pelo menos em princípio, nada mais do que isso. É curioso, portanto, que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tenha sentido a necessidade de criar um bônus para policiais que consigam reduzir a criminalidade em suas áreas de trabalho.
Quem está na arquibancada imaginaria que, como em qualquer outra profissão, o salário já corresponde ao comprimento eficiente dos deveres da profissão do cidadão.
Alckmin está prometendo uma gratificação semestral para a redução dos índices de homicídio, latrocínio e roubo de veículos no estado.
Ainda não decidiu quanto será necessário para estimular os policiais a combater com eficiência a criminalidade: parece que vai ser algo entre R$ 4 mil e R$ 10 mil. Segundo o secretário de Segurança Pública do estado, Fernando Grella, o governo está preparado para impedir possíveis fraudes nas estatísticas. Ou seja, os policiais paulistas serão devidamente policiados.
Grella, pelo visto, parece saber com quem está lidando.
Mas, curiosamente, os beneficiados não gostaram da ideia: o presidente da Associação dos Investigadores de São Paulo, João Batista Rebouças, disse preferir um aumento nos salários dos policiais. Seja como for, a iniciativa não é novidade: aqui no Rio de Janeiro o sistema dos bônus vai de R$ 4.500 a R$ 13.500, e a Secretaria de Segurança tem certeza de que foi uma boa iniciativa. Segundo o subsecretário de Planejamento, Roberto Sá, a gratificação proporcionou "o diálogo e a integração das polícias". Em Pernambuco e Minas, também há prêmios para policiais.
Para quem está na arquibancada, mesmo que não se discuta a eficiência do bônus, ele certamente tem perigos. Por exemplo, a já citada fraude nos números de bandidos presos. Ou mesmo prisões não justificadas. Também, nada impede que outros servidores do Estado reclamem tratamento igual. Apenas por hipótese, existiria, quem sabe, a possibilidade de que médicos reclamassem gratificação por cirurgias bem-sucedidas.
Ou que professores pedissem um prêmio pelas boas notas de seus alunos.
Seja como for, é verdade óbvia que São Paulo tem problemas sérios na área da segurança pública.
No primeiro trimestre deste ano, as estatísticas revelaram aumento da criminalidade em quase todos os tipos de crime em relação ao mesmo período do ano passado. Houve apenas uma exceção: o número de homicídios diminuiu consideravelmente nos últimos anos: caiu de 13 mil para 4.800. Ninguém até hoje, descobriu uma explicação para essa boa notícia. Será importante verificar se os bônus produzirão melhores resultados nos outros tipos de crimes.
E por que isso acontecerá.
O que, lamentavelmente, também será uma triste constatação sobre a motivação dos policiais paulistas
Procura-se Zuckerberg brasileiro - MOISÉS NAÍM
FOLHA DE SP - 24/05
O criador do Facebook quer atrair estrangeiros qualificados; o Brasil precisa fazer o mesmo
O Brasil precisa urgentemente de alguém como o fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg. Não para transformar modelos de negócios de modo radical, mas para mudar radicalmente a política imigratória do país, como Zuckerberg está fazendo nos Estados Unidos.
Ele fundou uma organização chamada FWD.US, cujo objetivo é fazer lobby por uma reforma abrangente da imigração. Esse esforço não é desinteressado: uma das metas principais do grupo é facilitar a contratação de estrangeiros nos EUA pelas empresas que o apoiam.
Zuckerberg não é o único a se envolver nessa campanha --ele recrutou uma relação de apoiadores que mais parece uma lista de chamada da realeza do Vale do Silício. Bill Gates e Steve Ballmer, da Microsoft; Eric Schmidt, do Google; e Marissa Mayer, do Yahoo, fazem parte do rol, que também inclui os fundadores e executivos-chefes de LinkedIn, Dropbox, Netflix, YouTube, PayPal, Groupon, Instagram, Zynga e muitas outras empresas de tecnologia.
É provável que eles tenham êxito na empreitada. Dentro em breve será mais fácil para profissionais estrangeiros altamente qualificados trabalharem nos EUA. O Brasil também precisa de uma reforma abrangente da imigração, e com urgência.
Uma pesquisa revelou que 92% dos presidentes de grandes empresas no Brasil citam a falta de profissionais qualificados como obstáculo importante à sua expansão. Conversei com alguns deles e todos apontaram para essa limitação, que pode obrigá-los a reduzir suas metas de crescimento e investimento.
De acordo com a Folha (http://folha.com/no1280061), conseguir visto de trabalho no Brasil é demorado, opaco e incerto e requer o preenchimento de 19 documentos (México e Canadá exigem oito).
Ironicamente, ao mesmo tempo em que o Brasil sofre de uma escassez de profissionais que dificulta seu crescimento, outros países possuem excedente de engenheiros, cientistas e gerentes ansiosos por emigrar.
Portugal (cujos profissionais já falam o português), Espanha e Itália têm altos níveis de desemprego. O mesmo acontece com a Venezuela e a Argentina. Por que não permitir que os melhores desses profissionais trabalhem no Brasil?
O governo já anunciou sua intenção de rever a política imigratória. Mas a boa intenção pode levar tempo para sair do papel. O primeiro passo anunciado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi a criação de uma comissão para fazer recomendações. Como poderia explicar Zuckerberg, mudanças transformadoras nunca nascem de comissões criadas pelo governo.
O criador do Facebook quer atrair estrangeiros qualificados; o Brasil precisa fazer o mesmo
O Brasil precisa urgentemente de alguém como o fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg. Não para transformar modelos de negócios de modo radical, mas para mudar radicalmente a política imigratória do país, como Zuckerberg está fazendo nos Estados Unidos.
Ele fundou uma organização chamada FWD.US, cujo objetivo é fazer lobby por uma reforma abrangente da imigração. Esse esforço não é desinteressado: uma das metas principais do grupo é facilitar a contratação de estrangeiros nos EUA pelas empresas que o apoiam.
Zuckerberg não é o único a se envolver nessa campanha --ele recrutou uma relação de apoiadores que mais parece uma lista de chamada da realeza do Vale do Silício. Bill Gates e Steve Ballmer, da Microsoft; Eric Schmidt, do Google; e Marissa Mayer, do Yahoo, fazem parte do rol, que também inclui os fundadores e executivos-chefes de LinkedIn, Dropbox, Netflix, YouTube, PayPal, Groupon, Instagram, Zynga e muitas outras empresas de tecnologia.
É provável que eles tenham êxito na empreitada. Dentro em breve será mais fácil para profissionais estrangeiros altamente qualificados trabalharem nos EUA. O Brasil também precisa de uma reforma abrangente da imigração, e com urgência.
Uma pesquisa revelou que 92% dos presidentes de grandes empresas no Brasil citam a falta de profissionais qualificados como obstáculo importante à sua expansão. Conversei com alguns deles e todos apontaram para essa limitação, que pode obrigá-los a reduzir suas metas de crescimento e investimento.
De acordo com a Folha (http://folha.com/no1280061), conseguir visto de trabalho no Brasil é demorado, opaco e incerto e requer o preenchimento de 19 documentos (México e Canadá exigem oito).
Ironicamente, ao mesmo tempo em que o Brasil sofre de uma escassez de profissionais que dificulta seu crescimento, outros países possuem excedente de engenheiros, cientistas e gerentes ansiosos por emigrar.
Portugal (cujos profissionais já falam o português), Espanha e Itália têm altos níveis de desemprego. O mesmo acontece com a Venezuela e a Argentina. Por que não permitir que os melhores desses profissionais trabalhem no Brasil?
O governo já anunciou sua intenção de rever a política imigratória. Mas a boa intenção pode levar tempo para sair do papel. O primeiro passo anunciado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi a criação de uma comissão para fazer recomendações. Como poderia explicar Zuckerberg, mudanças transformadoras nunca nascem de comissões criadas pelo governo.
Saneamento - será que desta vez vai? - WASHINGTON NOVAES
ESTADÃO - 24/05
Segundo este jornal (15/5), o governo federal está anunciando que no mês que vem, como parte de um "pacote de investimentos para impulsionar a economia", começa a implantar o Plano Nacional de Saneamento Básico, em discussão desde 2007 e que prevê R$ 508,5 bilhões a serem aplicados até 2033, "para universalizar o acesso de todas as residências a água de boa qualidade, assim como o tratamento dos esgotos coletados". Mais 20 anos. E para "impulsionar a economia"...
Mas será que desta vez os planos conseguem sair do campo das intenções? Garante o Ministério das Cidades que já no segundo semestre R$ 50 bilhões devem sair dos cofres públicos para as obras ainda em 2013 e 2014. E que também haverá uma complementação de R$ 2 bilhões por ano, com a isenção do pagamento do PIS e da Cofins para as empresas do setor. Com esses e outros recursos se pretende investir em saneamento R$ 298,1 bilhões "nos próximos 20 anos". Os restantes R$ 210,4 bilhões deverão vir "dos Estados, municípios e empresas privadas".
Sempre ficam dúvidas. Ainda falta assinar contratos com grande parte das empresas que operarão com os R$ 40 bilhões projetados para ocorrerem imediatamente. Hoje só estão sendo investidos pelo governo federal R$ 500 milhões, ou a centésima parte do projetado - e ainda assim, segundo o ministério, é "mais do que era investido em todo o setor há seis anos". Porque, segundo o próprio ministro, "a área do saneamento básico não tinha projeto e nem política; faltava formulação de política". Nesse caso, onde ficam os dois mandatos do governo anterior e os primeiros anos deste, seu sucessor?
O fato é que ainda temos 10% das residências sem receber água de boa qualidade e, de acordo com a Pnad (2011), 37,4% sem ligação com redes de esgotos (23 milhões de casas, 70 milhões de pessoas). Para completar, diz o IBGE (maio de 2012) que 11% dos domicílios estão em áreas com esgotos a céu aberto.
Não são as únicas dúvidas. Do orçamento total de R$ 16,1 bilhões para essa área em 2012, apenas R$ 3,5 bilhões foram aplicados. Não espanta, assim, que até em algumas capitais de Estados os esgotos coletados não cheguem a 10%. Ou que apenas 36,3% dos esgotos das cem maiores cidades sejam canalizados. E que 5,4 bilhões de litros de esgotos não tratados sejam despejados a cada dia em cursos d'água e no mar - onde são a principal causa de poluição (O Globo, 25/9/2012). Por essas e outras causas, cidades como Ribeirão Preto (SP), com mais de 500 mil habitantes, só podem consumir água subterrânea. Também só pode ser de perplexidade a reação ante a notícia de que as redes de água no Brasil continuem a perder 37,5% da que sai das estações de tratamento. A grande exceção é Brasília, onde a perda está próxima de zero. No Estado de São Paulo, é de 32,5%; na capital, 25,6%, com a redução nos últimos anos permitindo uma economia de R$ 275,8 milhões anuais.
O ceticismo quanto à possibilidade de avanços ainda encontra argumentos no fato de que a partir de janeiro de 2014 deixarão de receber recursos da União para o saneamento municípios que não formularam projetos para os serviços de coleta e tratamento de esgotos, além do abastecimento de água - mas só 11% deles os apresentaram no prazo, tal como ocorreu com os projetos para a área dos resíduos sólidos.
Levantamento do Instituto Trata Brasil mostra (21/5) que mesmo as maiores cidades, acima de 500 mil habitantes, não têm usado recursos no setor; 65% das 138 obras monitoradas em dezembro de 2012, apesar do valor de R$ 6,1 bilhões, estavam paralisadas atrasadas ou não iniciadas. Só 20 obras estavam concluídas no final de 2012. De um ano para o outro, as obras paralisadas passaram de 23% para 34%.
É lamentável que seja assim, num momento em que estão sendo encontradas soluções em várias partes, no Brasil e fora. Brasília mesmo chegou a praticamente 100% no abastecimento de água e na coleta de esgotos. Nesta última, como já se comentou neste espaço, foi vital a adoção, há mais de 20 anos, do sistema de coleta por ramais condominiais, que reduz entre 30% e 50% os custos, sem prejuízo da qualidade (apenas enfrentando a resistência das grandes empreiteiras). Criado pelo engenheiro pernambucano José Carlos Mello, esse sistema já atende hoje a mais de 15 milhões de pessoas em diversos locais do País, embora viva "escondido". Portugal também avançou extraordinariamente no setor, com outros métodos: trata 90% de seus esgotos e abastece com água 97,1% da população, graças, inclusive, a consórcios intermunicipais.
Esse tipo de consórcio também deveria ter sido adotado há muito tempo no Brasil, principalmente na área dos resíduos, na qual cerca de 50% do que é coletado vai parar em lixões a céu aberto (que terão de ser eliminados, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos). Aterros adequados, instalados em locais equidistantes dos municípios que se associassem, economizariam recursos e permitiriam soluções mais rápidas. Da mesma forma, é preciso que os municípios se convençam da necessidade de reciclar, por meio de compostagem, os resíduos orgânicos, que significam pelo menos 50% do lixo coletado. O processo de compostagem permite em pouco tempo transformar em fertilizante (para jardins e canteiros públicos, contenção de encostas e outros usos que não a alimentação humana - de modo a evitar riscos com metais pesados) a parcela maior do lixo domiciliar e comercial, que contribui decisivamente para em poucos anos esgotar um aterro sanitário.
Retornando ao início, não estamos condenados, como os moradores de Londres (EcoD, 14/5), a utilizar nas casas água de esgotos tratada e reciclada, como comentou o jornal The Guardian, porque em 25 anos a capital britânica aumentará em 80% seu consumo. Temos condições privilegiadas por aqui. Mas continuamos achando que temos todo o tempo para enfrentar os dramas. Não é assim.
Segundo este jornal (15/5), o governo federal está anunciando que no mês que vem, como parte de um "pacote de investimentos para impulsionar a economia", começa a implantar o Plano Nacional de Saneamento Básico, em discussão desde 2007 e que prevê R$ 508,5 bilhões a serem aplicados até 2033, "para universalizar o acesso de todas as residências a água de boa qualidade, assim como o tratamento dos esgotos coletados". Mais 20 anos. E para "impulsionar a economia"...
Mas será que desta vez os planos conseguem sair do campo das intenções? Garante o Ministério das Cidades que já no segundo semestre R$ 50 bilhões devem sair dos cofres públicos para as obras ainda em 2013 e 2014. E que também haverá uma complementação de R$ 2 bilhões por ano, com a isenção do pagamento do PIS e da Cofins para as empresas do setor. Com esses e outros recursos se pretende investir em saneamento R$ 298,1 bilhões "nos próximos 20 anos". Os restantes R$ 210,4 bilhões deverão vir "dos Estados, municípios e empresas privadas".
Sempre ficam dúvidas. Ainda falta assinar contratos com grande parte das empresas que operarão com os R$ 40 bilhões projetados para ocorrerem imediatamente. Hoje só estão sendo investidos pelo governo federal R$ 500 milhões, ou a centésima parte do projetado - e ainda assim, segundo o ministério, é "mais do que era investido em todo o setor há seis anos". Porque, segundo o próprio ministro, "a área do saneamento básico não tinha projeto e nem política; faltava formulação de política". Nesse caso, onde ficam os dois mandatos do governo anterior e os primeiros anos deste, seu sucessor?
O fato é que ainda temos 10% das residências sem receber água de boa qualidade e, de acordo com a Pnad (2011), 37,4% sem ligação com redes de esgotos (23 milhões de casas, 70 milhões de pessoas). Para completar, diz o IBGE (maio de 2012) que 11% dos domicílios estão em áreas com esgotos a céu aberto.
Não são as únicas dúvidas. Do orçamento total de R$ 16,1 bilhões para essa área em 2012, apenas R$ 3,5 bilhões foram aplicados. Não espanta, assim, que até em algumas capitais de Estados os esgotos coletados não cheguem a 10%. Ou que apenas 36,3% dos esgotos das cem maiores cidades sejam canalizados. E que 5,4 bilhões de litros de esgotos não tratados sejam despejados a cada dia em cursos d'água e no mar - onde são a principal causa de poluição (O Globo, 25/9/2012). Por essas e outras causas, cidades como Ribeirão Preto (SP), com mais de 500 mil habitantes, só podem consumir água subterrânea. Também só pode ser de perplexidade a reação ante a notícia de que as redes de água no Brasil continuem a perder 37,5% da que sai das estações de tratamento. A grande exceção é Brasília, onde a perda está próxima de zero. No Estado de São Paulo, é de 32,5%; na capital, 25,6%, com a redução nos últimos anos permitindo uma economia de R$ 275,8 milhões anuais.
O ceticismo quanto à possibilidade de avanços ainda encontra argumentos no fato de que a partir de janeiro de 2014 deixarão de receber recursos da União para o saneamento municípios que não formularam projetos para os serviços de coleta e tratamento de esgotos, além do abastecimento de água - mas só 11% deles os apresentaram no prazo, tal como ocorreu com os projetos para a área dos resíduos sólidos.
Levantamento do Instituto Trata Brasil mostra (21/5) que mesmo as maiores cidades, acima de 500 mil habitantes, não têm usado recursos no setor; 65% das 138 obras monitoradas em dezembro de 2012, apesar do valor de R$ 6,1 bilhões, estavam paralisadas atrasadas ou não iniciadas. Só 20 obras estavam concluídas no final de 2012. De um ano para o outro, as obras paralisadas passaram de 23% para 34%.
É lamentável que seja assim, num momento em que estão sendo encontradas soluções em várias partes, no Brasil e fora. Brasília mesmo chegou a praticamente 100% no abastecimento de água e na coleta de esgotos. Nesta última, como já se comentou neste espaço, foi vital a adoção, há mais de 20 anos, do sistema de coleta por ramais condominiais, que reduz entre 30% e 50% os custos, sem prejuízo da qualidade (apenas enfrentando a resistência das grandes empreiteiras). Criado pelo engenheiro pernambucano José Carlos Mello, esse sistema já atende hoje a mais de 15 milhões de pessoas em diversos locais do País, embora viva "escondido". Portugal também avançou extraordinariamente no setor, com outros métodos: trata 90% de seus esgotos e abastece com água 97,1% da população, graças, inclusive, a consórcios intermunicipais.
Esse tipo de consórcio também deveria ter sido adotado há muito tempo no Brasil, principalmente na área dos resíduos, na qual cerca de 50% do que é coletado vai parar em lixões a céu aberto (que terão de ser eliminados, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos). Aterros adequados, instalados em locais equidistantes dos municípios que se associassem, economizariam recursos e permitiriam soluções mais rápidas. Da mesma forma, é preciso que os municípios se convençam da necessidade de reciclar, por meio de compostagem, os resíduos orgânicos, que significam pelo menos 50% do lixo coletado. O processo de compostagem permite em pouco tempo transformar em fertilizante (para jardins e canteiros públicos, contenção de encostas e outros usos que não a alimentação humana - de modo a evitar riscos com metais pesados) a parcela maior do lixo domiciliar e comercial, que contribui decisivamente para em poucos anos esgotar um aterro sanitário.
Retornando ao início, não estamos condenados, como os moradores de Londres (EcoD, 14/5), a utilizar nas casas água de esgotos tratada e reciclada, como comentou o jornal The Guardian, porque em 25 anos a capital britânica aumentará em 80% seu consumo. Temos condições privilegiadas por aqui. Mas continuamos achando que temos todo o tempo para enfrentar os dramas. Não é assim.
Ai, que saudades do ex-prefeito Kassab! - BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 24/05
A continuar neste andor, a prefeitura de Fernando Haddad será para sempre ligada à palavra 'inércia'
Continuo aqui falando para as paredes e o pessoal segue sem dar a mínima. E a cada semana que passa a polarização aumenta.
A presidente Dilma manda seu boneco de ventríloquo, Celso Amorim (tão pequenino que dá para sentá-lo no colo e manipular sua cabecinha, uma graça, não?) garantir que ninguém irá tripudiar sobre a decisão derradeira do STF, de 2010, que decidiu manter a Lei da Anistia intocada. Mas alguém duvida que a presidente não esteja doidinha pra ver a Comissão da Verdade bagunçar tudo?
É justo e necessário, do ponto de vista histórico e emocional, para as famílias das vítimas e para nossa memória, que se reconstituam os fatos. Mas daí a rever o que já foi sacramentado e funciona dentro do limite do possível já são outros 450.
Há mais benefícios ou perdas a serem computados naquilo que propõe a Comissão da Verdade, neste momento em que o país passa por um delicado confronto ideológico, que só pode acabar servindo a uma oposição humilhada por uma derrota atrás da outra que, no afã de eleger José Serra a qualquer custo, entregou-se aos braços do que há de mais atrasado no que diz respeito ao conservadorismo da elite tapuia?
Será que o embate só terá fim quando a cabeça de Lula, Zé Dirceu, Aécio ou Eduardo Campos for apresentada em banquete sobre uma bandeja carregada por uma rebolante Salomé?
E que contribuição para equilibrar e elevar a conversa tem prestado Fernando Haddad, que deveria ser um expoente de seu partido, mas, até agora, se revelou um zero a esquerda (o trocadilho cai de letra)? Pois é, parece que o prefeito de São Paulo se contentou em trocar o papel de gestor por aquele de líder de torcida em dia de Fla-Flu. Sinal de sua colossal falta de sensibilidade foi um dos primeiros gestos simbólicos, o de endossar com entusiasmo a lei que muda o nome de vias públicas que tenham sido batizadas com nomes de militares aqueles que violaram direitos humanos durante o regime militar.
Ora, ora. Se tem uma coisa que paulistano odeia é vereador que dá nome a rua. Trata-se do símbolo máximo do descaso da Câmara com a cidade, de perder tempo com aquilo que não é prioridade.
Iluminação, limpeza, pavimentação, dedetização de mosquito, poda em praça, melhora na coleta de lixo, nem aos menos nas ações mais prosaicas o paulistano viu qualquer melhora nestes primeiros meses de Haddad na prefeitura.
Agora vem esse aumento da tarifa de ônibus inferior ao esperado e o prefeito anuncia como vitória e forma de "ajudar no desenvolvimento do país" por ser medida que serve para conter a inflação.
Alô, Fernando Haddad! O paulistano não é mané. Sua medida é um modo de maquiar índices da inflação e iludir. A Petrobras vende gasolina mais barata do que custa para produzir. Esse nabo sempre sobra para a gente. E sua gracinha com a tarifa significa subsidiar empresas de transporte em R$ 1,25 bilhão em vez dos R$ 660 milhões previstos, comprometendo Orçamento e renegociação da dívida da prefeitura.
Prefeitura, diga-se, cujo secretariado é composto por um saco de gatos que vai desde os apadrinhados daquele que contraiu boa parte desse ônus monumental, ou seja, Maluf, até a turma do PC do B. Como essa gente interage?
É cedo para previsões, mas se tivesse de apostar um picolé de limão sobre um termo para definir a prefeitura de Haddad, eu diria que ele será... "inércia".
A continuar neste andor, a prefeitura de Fernando Haddad será para sempre ligada à palavra 'inércia'
Continuo aqui falando para as paredes e o pessoal segue sem dar a mínima. E a cada semana que passa a polarização aumenta.
A presidente Dilma manda seu boneco de ventríloquo, Celso Amorim (tão pequenino que dá para sentá-lo no colo e manipular sua cabecinha, uma graça, não?) garantir que ninguém irá tripudiar sobre a decisão derradeira do STF, de 2010, que decidiu manter a Lei da Anistia intocada. Mas alguém duvida que a presidente não esteja doidinha pra ver a Comissão da Verdade bagunçar tudo?
É justo e necessário, do ponto de vista histórico e emocional, para as famílias das vítimas e para nossa memória, que se reconstituam os fatos. Mas daí a rever o que já foi sacramentado e funciona dentro do limite do possível já são outros 450.
Há mais benefícios ou perdas a serem computados naquilo que propõe a Comissão da Verdade, neste momento em que o país passa por um delicado confronto ideológico, que só pode acabar servindo a uma oposição humilhada por uma derrota atrás da outra que, no afã de eleger José Serra a qualquer custo, entregou-se aos braços do que há de mais atrasado no que diz respeito ao conservadorismo da elite tapuia?
Será que o embate só terá fim quando a cabeça de Lula, Zé Dirceu, Aécio ou Eduardo Campos for apresentada em banquete sobre uma bandeja carregada por uma rebolante Salomé?
E que contribuição para equilibrar e elevar a conversa tem prestado Fernando Haddad, que deveria ser um expoente de seu partido, mas, até agora, se revelou um zero a esquerda (o trocadilho cai de letra)? Pois é, parece que o prefeito de São Paulo se contentou em trocar o papel de gestor por aquele de líder de torcida em dia de Fla-Flu. Sinal de sua colossal falta de sensibilidade foi um dos primeiros gestos simbólicos, o de endossar com entusiasmo a lei que muda o nome de vias públicas que tenham sido batizadas com nomes de militares aqueles que violaram direitos humanos durante o regime militar.
Ora, ora. Se tem uma coisa que paulistano odeia é vereador que dá nome a rua. Trata-se do símbolo máximo do descaso da Câmara com a cidade, de perder tempo com aquilo que não é prioridade.
Iluminação, limpeza, pavimentação, dedetização de mosquito, poda em praça, melhora na coleta de lixo, nem aos menos nas ações mais prosaicas o paulistano viu qualquer melhora nestes primeiros meses de Haddad na prefeitura.
Agora vem esse aumento da tarifa de ônibus inferior ao esperado e o prefeito anuncia como vitória e forma de "ajudar no desenvolvimento do país" por ser medida que serve para conter a inflação.
Alô, Fernando Haddad! O paulistano não é mané. Sua medida é um modo de maquiar índices da inflação e iludir. A Petrobras vende gasolina mais barata do que custa para produzir. Esse nabo sempre sobra para a gente. E sua gracinha com a tarifa significa subsidiar empresas de transporte em R$ 1,25 bilhão em vez dos R$ 660 milhões previstos, comprometendo Orçamento e renegociação da dívida da prefeitura.
Prefeitura, diga-se, cujo secretariado é composto por um saco de gatos que vai desde os apadrinhados daquele que contraiu boa parte desse ônus monumental, ou seja, Maluf, até a turma do PC do B. Como essa gente interage?
É cedo para previsões, mas se tivesse de apostar um picolé de limão sobre um termo para definir a prefeitura de Haddad, eu diria que ele será... "inércia".
A herança podre de Maduro - NELSON MOTTA
O GLOBO - 24/05
Não há herança mais maldita do que governar o país mais violento da América do Sul. Para enfrentar a criminalidade que mata por ano 75 pessoas por grupo de 100 mil (no Brasil selvagem morrem 26 e no Chile, três), o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chamou os donos das três redes de televisão e denunciou a origem do mal: "Por que as novelas têm de divulgar a deslealdade, a traição, o narcotráfico, a violência, a cultura das armas, a vingança?" Os roteiristas venezuelanos estão em pânico.
Como fazer uma novela sem traição, vingança, deslealdade, assassinatos, cobiça, ódio, inveja, e todas as coisas que Maduro diz que levam ao crime e à violência? Chávez já havia proibido videogames violentos há cinco anos, quando o país era bem menos violento.
Maduro assegura que a pobreza não é a única causa da delinquência, "porque a Venezuela tem os índices mais altos do mundo em superação da pobreza" (para matar Lula de inveja).
Mas as mortes cresceram 15% de um ano para cá.
"Às vezes o que a escola faz em seis horas, um programa televisivo destrói em uma. Não vamos permitir programas que divulguem a prostituição, as drogas, a violência." E bradou retumbante: "Vamos interromper o festim da morte." Algum passarinho precisa avisá-lo de que há muito mais consumo de programas com esses venenosos "antivalores do capitalismo" em países como o Japão e a Inglaterra do que na Venezuela, mas nenhum festim da morte: as vítimas de homicídios são de 0,4 (menos de meio japa) e 1,7 inglês por grupo de 100 mil. Como o marido traído, Maduro quer tirar a televisão da sala.
Como Chávez, o mexicano, o arguto lider chavista disse que como já sabe que quase 90% dos crimes ocorrem em 80 municípios, basta deslocar 3 mil soldados do Exército para as regiões violentas.
E pronto. O secretario Beltrame poderia informá-lo que quando uma UPP toma uma comunidade a bandidagem não vai vender artesanato, se muda para áreas menos policiadas.
Ver o ex-motorista de metrô Nicolás Maduro dirigindo a Venezuela é como imaginar o Brasil com Carlos Lupi na Presidência da Republica.
Só que Lupi é mais esperto.
Não há herança mais maldita do que governar o país mais violento da América do Sul. Para enfrentar a criminalidade que mata por ano 75 pessoas por grupo de 100 mil (no Brasil selvagem morrem 26 e no Chile, três), o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chamou os donos das três redes de televisão e denunciou a origem do mal: "Por que as novelas têm de divulgar a deslealdade, a traição, o narcotráfico, a violência, a cultura das armas, a vingança?" Os roteiristas venezuelanos estão em pânico.
Como fazer uma novela sem traição, vingança, deslealdade, assassinatos, cobiça, ódio, inveja, e todas as coisas que Maduro diz que levam ao crime e à violência? Chávez já havia proibido videogames violentos há cinco anos, quando o país era bem menos violento.
Maduro assegura que a pobreza não é a única causa da delinquência, "porque a Venezuela tem os índices mais altos do mundo em superação da pobreza" (para matar Lula de inveja).
Mas as mortes cresceram 15% de um ano para cá.
"Às vezes o que a escola faz em seis horas, um programa televisivo destrói em uma. Não vamos permitir programas que divulguem a prostituição, as drogas, a violência." E bradou retumbante: "Vamos interromper o festim da morte." Algum passarinho precisa avisá-lo de que há muito mais consumo de programas com esses venenosos "antivalores do capitalismo" em países como o Japão e a Inglaterra do que na Venezuela, mas nenhum festim da morte: as vítimas de homicídios são de 0,4 (menos de meio japa) e 1,7 inglês por grupo de 100 mil. Como o marido traído, Maduro quer tirar a televisão da sala.
Como Chávez, o mexicano, o arguto lider chavista disse que como já sabe que quase 90% dos crimes ocorrem em 80 municípios, basta deslocar 3 mil soldados do Exército para as regiões violentas.
E pronto. O secretario Beltrame poderia informá-lo que quando uma UPP toma uma comunidade a bandidagem não vai vender artesanato, se muda para áreas menos policiadas.
Ver o ex-motorista de metrô Nicolás Maduro dirigindo a Venezuela é como imaginar o Brasil com Carlos Lupi na Presidência da Republica.
Só que Lupi é mais esperto.
Gratificação na polícia - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 24/05
SÃO PAULO - Sou simpático à ideia de usar bônus salariais para estimular a produtividade no serviço público, como o governo de São Paulo pretende fazer com a polícia. Nós, humanos, somos, afinal, um bando de primatas hipersociais e moderadamente hierárquicos. Ligamos para a posição que ocupamos na sociedade e ela é em alguma medida definida pelos números impressos em nossos contracheques.
O problema com essa estratégia é que o dinheiro é eficiente demais. Ele faz com que busquemos as metas estipuladas com determinação --o que é bom--, mas também modifica de forma radical a lógica do trabalho a ser executado --o que pode gerar efeitos adversos.
O mais óbvio deles é que policiais falseiem as estatísticas para assegurar o prêmio sem a necessidade de combater o crime de verdade. Outro perigo é que, como uma parte da gratificação estaria restrita à parcela mais bem avaliada, se instaurasse a rivalidade entre os agentes. Mas, mesmo que fossem todos santos, colaborassem sempre uns com os outros e não manipulassem números, ainda assim o bônus produziria distorções. A tendência é que a meia dúzia de parâmetros que entra no cálculo da meta --itens como redução de homicídios, roubos, furtos etc.-- recebesse a atenção total da corporação, relegando ao esquecimento aspectos menos salientes, mas igualmente importantes da atividade policial, como zelar pela paz pública e tratar com respeito os cidadãos.
Uma possível solução parcial para essa dificuldade seria deixar que um programa de computador sorteasse diferentes combinações de parâmetros para compor a meta de cada unidade a cada semestre. Sem ter muita certeza de quais itens estão sendo avaliados, a melhor estratégia para conseguir o bônus seria agir o tempo todo como um bom policial. Na era do "big data" em que estamos entrando, tal nível de sofisticação já não é algo inalcançável.
SÃO PAULO - Sou simpático à ideia de usar bônus salariais para estimular a produtividade no serviço público, como o governo de São Paulo pretende fazer com a polícia. Nós, humanos, somos, afinal, um bando de primatas hipersociais e moderadamente hierárquicos. Ligamos para a posição que ocupamos na sociedade e ela é em alguma medida definida pelos números impressos em nossos contracheques.
O problema com essa estratégia é que o dinheiro é eficiente demais. Ele faz com que busquemos as metas estipuladas com determinação --o que é bom--, mas também modifica de forma radical a lógica do trabalho a ser executado --o que pode gerar efeitos adversos.
O mais óbvio deles é que policiais falseiem as estatísticas para assegurar o prêmio sem a necessidade de combater o crime de verdade. Outro perigo é que, como uma parte da gratificação estaria restrita à parcela mais bem avaliada, se instaurasse a rivalidade entre os agentes. Mas, mesmo que fossem todos santos, colaborassem sempre uns com os outros e não manipulassem números, ainda assim o bônus produziria distorções. A tendência é que a meia dúzia de parâmetros que entra no cálculo da meta --itens como redução de homicídios, roubos, furtos etc.-- recebesse a atenção total da corporação, relegando ao esquecimento aspectos menos salientes, mas igualmente importantes da atividade policial, como zelar pela paz pública e tratar com respeito os cidadãos.
Uma possível solução parcial para essa dificuldade seria deixar que um programa de computador sorteasse diferentes combinações de parâmetros para compor a meta de cada unidade a cada semestre. Sem ter muita certeza de quais itens estão sendo avaliados, a melhor estratégia para conseguir o bônus seria agir o tempo todo como um bom policial. Na era do "big data" em que estamos entrando, tal nível de sofisticação já não é algo inalcançável.
Que porto é esse, senhora dos navegantes? - FERNANDO GABEIRA
ESTADÃO - 24/05
Desembarco mareado nesta nova estação do progresso. Sou pela abertura dos portos e não vejo argumento mais forte do que centenas de caminhões engarrafados esperando o momento de exportar sua carga.
Chego mareado não pelo balanço das ondas, mas pelo espetáculo agitado em terra firme. Um longo psicodrama que não pude acompanhar em todos os detalhes por causa das tarefas cotidianas. Mas já o pressentia. Para articular seu governo na nave do Congresso, a senhora escolheu Ideli Salvatti. Com as características da nova ministra, a escolha a transformaria rapidamente de Salvatti em Afundatti: independentemente de suas qualidades, simplesmente não é a pessoa para o cargo. Pode ser amiga, fiel, apaixonada pela causa, mas, que diabo, isto é uma República! Em vez de elevar o nível da política, como se pede a uma presidenta, ela a joga no chão e a pisoteia com o salto alto.
O mais impressionante, à distância, é o reality show no Congresso. Conheço alguns personagens, da política fluminense, e não acreditava no que lia: Eduardo Cunha, guerrilheiro que obriga o governo a recuar. Como assim? Eduardo Cunha fazendo emboscadas, dispersando quando o inimigo se concentra, concentrando-se quando o inimigo se dispersa?
Eduardo Cunha, o líder do retrocesso, diziam algumas outras notas. Será? Cunha não se bate pelo progresso nem pelo retrocesso. Seus parâmetros são outros. Lembro-me de uma sessão que ele presidia. Discutimos e tive a sensação de que não estava me olhando. Disse: "Por favor, olhe para mim". E ele: "Estou olhando". Percebi, subitamente, que olhava sem olhar. Ele falava de dentro de uma caverna.
Garotinho, pensando em Cunha, chamou a emenda dos portos de emenda dos porcos. Foi sua contribuição. Saiu quase ileso no outro dia, quando Ronaldo Caiado afirmou que ele, Garotinho, tinha cheiro de porcos.
Nada como o tempo para serenar os ânimos. Cheirar não é ser. Abre espaço para um acidente, ter passado por um chiqueiro, posado para uma foto com porquinhos no colo.
Imaginem essa confusão numa atmosfera fechada, uma espécie de abrigo antiaéreo onde se entra e sai sem ver a passagem do dia para a noite, o próprio amanhecer. Pizzas, frangos, um batalhão de alimentos entra pelos corredores e deságua na cantina abarrotada. Cochilos, intervalos para o futebol, é verdade isso que a imprensa mostrou. E, naturalmente, os gases: 500 pessoas reais concentradas no mesmo espaço, disputando os mesmos sofás. O que importam esses detalhes para a história da modernização dos portos? Se o preço de distribuir renda é degradar a política, por que não usar o mesmo raciocínio para desatar o nó no comércio exterior?
Pelo rádio ouço uma comentarista lembrar que a emenda dos portos seria aprovada mais rapidamente no Senado, pois os senadores, mais velhos, não aguentariam a maratona. Como apenas seis horas bastaram para rever algo que os deputados levaram dias para concluir, supõe-se que têm uma invejável juventude intelectual. Falsa suposição. Os senadores fazem o que quer o governo. Garantidos suas verbas e seus cargos, nada têm a temer, exceto um colapso do serviço de chá.
O episódio da emenda dos portos mostrou mais uma vez o descompasso entre o crescimento econômico e a qualidade política. Acho esse caminho insustentável. Mas posso estar equivocado, aplicando uma visão dinâmica a algo que tende a sobreviver, se essa for mesmo a escolha nacional, por comodismo ou indiferença.
Confrontado com as expectativas da redemocratização, o processo político brasileiro degradou-se. Se as previsões falharam no passado, de que adianta renová-las? Pensar o futuro, só recorrendo à ficção científica. Que bichos ocuparão as denúncias na tribuna? Antes havia o dinossauro, que se tornou simpático, o veado, que perdeu sua conotação negativa. O porco é o bicho do momento, mas o próximo pode ser a iguana, a barata ou o dromedário? Tudo é possível na enorme fazenda petista, onde os bichos se acalmam só quando sentem o cheiro do dinheiro no ar.
O drama dos portos ocorre num momento de comemoração do partido dominante, que se orgulha publicamente de elevar milhões de pessoas à classe média. Na festa, a filósofa Marilena Chaui disse que odeia a classe média por suas posições fascistas e conservadoras. Então, elevam a vida das pessoas para melhor conseguirem odiá-las?
Se a classe média é reacionária e fascista, resta procurar uma classe social democrata e progressista, salvadora. Seriam os operários os portadores da nova moral? Lula, por exemplo, beijando a mão de Jader Barbalho e dizendo que Newton Cardoso é o Pelé da política?
Com seu talento filosófico, Chaui poderia até nos convencer da tese de Lula de que não existiria poluição se a Terra não fosse redonda. Como a Terra gira e a Lusitana roda, slogan que sempre marcou o negócio das mudanças no Rio, o poluído planeta, pelo menos, está em movimento. Cedo ou tarde essa mistificação que vê o fascismo só nos outros e veste de pureza um partido corrompido até a medula pode ser desmascarada.
O discurso de Chaui, no entanto, é sintomático. Depois de impor a ideia de que a degradação política é essencial para mover o País, está tudo pronto para tratar as pessoas como se tratam os deputados no plenário. O sadomasoquismo nacional entra em nova fase. Os brasileiros da classe média são roubados de dia e insultados à noite nas tertúlias literárias do PT. Se gostam ou não, é problema deles.
Desde o início da democratização me bati pela liberdade de escolha em questões delicadas, incluída essa de gostar de apanhar. Se os eleitores preferem um Parlamento cheio de Cunhas e os empresários adoram tratar suas questões com eles, temos somente de nos resignar e esperar que combatam entre si e sejam devorados pela própria cobiça.
Aos poucos, vamos compondo um novo e inquietante dístico para a Bandeira Nacional: "Barbárie e Progresso". Salve, salve.
Desembarco mareado nesta nova estação do progresso. Sou pela abertura dos portos e não vejo argumento mais forte do que centenas de caminhões engarrafados esperando o momento de exportar sua carga.
Chego mareado não pelo balanço das ondas, mas pelo espetáculo agitado em terra firme. Um longo psicodrama que não pude acompanhar em todos os detalhes por causa das tarefas cotidianas. Mas já o pressentia. Para articular seu governo na nave do Congresso, a senhora escolheu Ideli Salvatti. Com as características da nova ministra, a escolha a transformaria rapidamente de Salvatti em Afundatti: independentemente de suas qualidades, simplesmente não é a pessoa para o cargo. Pode ser amiga, fiel, apaixonada pela causa, mas, que diabo, isto é uma República! Em vez de elevar o nível da política, como se pede a uma presidenta, ela a joga no chão e a pisoteia com o salto alto.
O mais impressionante, à distância, é o reality show no Congresso. Conheço alguns personagens, da política fluminense, e não acreditava no que lia: Eduardo Cunha, guerrilheiro que obriga o governo a recuar. Como assim? Eduardo Cunha fazendo emboscadas, dispersando quando o inimigo se concentra, concentrando-se quando o inimigo se dispersa?
Eduardo Cunha, o líder do retrocesso, diziam algumas outras notas. Será? Cunha não se bate pelo progresso nem pelo retrocesso. Seus parâmetros são outros. Lembro-me de uma sessão que ele presidia. Discutimos e tive a sensação de que não estava me olhando. Disse: "Por favor, olhe para mim". E ele: "Estou olhando". Percebi, subitamente, que olhava sem olhar. Ele falava de dentro de uma caverna.
Garotinho, pensando em Cunha, chamou a emenda dos portos de emenda dos porcos. Foi sua contribuição. Saiu quase ileso no outro dia, quando Ronaldo Caiado afirmou que ele, Garotinho, tinha cheiro de porcos.
Nada como o tempo para serenar os ânimos. Cheirar não é ser. Abre espaço para um acidente, ter passado por um chiqueiro, posado para uma foto com porquinhos no colo.
Imaginem essa confusão numa atmosfera fechada, uma espécie de abrigo antiaéreo onde se entra e sai sem ver a passagem do dia para a noite, o próprio amanhecer. Pizzas, frangos, um batalhão de alimentos entra pelos corredores e deságua na cantina abarrotada. Cochilos, intervalos para o futebol, é verdade isso que a imprensa mostrou. E, naturalmente, os gases: 500 pessoas reais concentradas no mesmo espaço, disputando os mesmos sofás. O que importam esses detalhes para a história da modernização dos portos? Se o preço de distribuir renda é degradar a política, por que não usar o mesmo raciocínio para desatar o nó no comércio exterior?
Pelo rádio ouço uma comentarista lembrar que a emenda dos portos seria aprovada mais rapidamente no Senado, pois os senadores, mais velhos, não aguentariam a maratona. Como apenas seis horas bastaram para rever algo que os deputados levaram dias para concluir, supõe-se que têm uma invejável juventude intelectual. Falsa suposição. Os senadores fazem o que quer o governo. Garantidos suas verbas e seus cargos, nada têm a temer, exceto um colapso do serviço de chá.
O episódio da emenda dos portos mostrou mais uma vez o descompasso entre o crescimento econômico e a qualidade política. Acho esse caminho insustentável. Mas posso estar equivocado, aplicando uma visão dinâmica a algo que tende a sobreviver, se essa for mesmo a escolha nacional, por comodismo ou indiferença.
Confrontado com as expectativas da redemocratização, o processo político brasileiro degradou-se. Se as previsões falharam no passado, de que adianta renová-las? Pensar o futuro, só recorrendo à ficção científica. Que bichos ocuparão as denúncias na tribuna? Antes havia o dinossauro, que se tornou simpático, o veado, que perdeu sua conotação negativa. O porco é o bicho do momento, mas o próximo pode ser a iguana, a barata ou o dromedário? Tudo é possível na enorme fazenda petista, onde os bichos se acalmam só quando sentem o cheiro do dinheiro no ar.
O drama dos portos ocorre num momento de comemoração do partido dominante, que se orgulha publicamente de elevar milhões de pessoas à classe média. Na festa, a filósofa Marilena Chaui disse que odeia a classe média por suas posições fascistas e conservadoras. Então, elevam a vida das pessoas para melhor conseguirem odiá-las?
Se a classe média é reacionária e fascista, resta procurar uma classe social democrata e progressista, salvadora. Seriam os operários os portadores da nova moral? Lula, por exemplo, beijando a mão de Jader Barbalho e dizendo que Newton Cardoso é o Pelé da política?
Com seu talento filosófico, Chaui poderia até nos convencer da tese de Lula de que não existiria poluição se a Terra não fosse redonda. Como a Terra gira e a Lusitana roda, slogan que sempre marcou o negócio das mudanças no Rio, o poluído planeta, pelo menos, está em movimento. Cedo ou tarde essa mistificação que vê o fascismo só nos outros e veste de pureza um partido corrompido até a medula pode ser desmascarada.
O discurso de Chaui, no entanto, é sintomático. Depois de impor a ideia de que a degradação política é essencial para mover o País, está tudo pronto para tratar as pessoas como se tratam os deputados no plenário. O sadomasoquismo nacional entra em nova fase. Os brasileiros da classe média são roubados de dia e insultados à noite nas tertúlias literárias do PT. Se gostam ou não, é problema deles.
Desde o início da democratização me bati pela liberdade de escolha em questões delicadas, incluída essa de gostar de apanhar. Se os eleitores preferem um Parlamento cheio de Cunhas e os empresários adoram tratar suas questões com eles, temos somente de nos resignar e esperar que combatam entre si e sejam devorados pela própria cobiça.
Aos poucos, vamos compondo um novo e inquietante dístico para a Bandeira Nacional: "Barbárie e Progresso". Salve, salve.
Lufada de modernidade - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 24/05
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff demorou seis meses, mas acertou a mão pela segunda vez na indicação do ministro do Supremo Tribunal Federal. Assim como Teori Zavascki, Luís Roberto Barroso foi saudado dentro e fora da corte.
Se têm origens diferentes --Zavascki vem da magistratura e Barroso é advogado constitucionalista--, ambos reúnem o que mais interessa num cargo tão fundamental e cada vez mais em evidência: o conhecimento técnico.
Diferentemente de alguns anteriores, principalmente indicados por Lula, os dois novatos não vão aprender no STF; eles já chegam sabendo. Barroso tem no currículo atuações muito elogiadas na corte e era considerado o melhor dos nomes ventilados no longo processo de escolha.
Ao tratar um câncer no esôfago no ano passado, mereceu atenção e deferência dos agora colegas e traz com ele o apoio, desde muito tempo, do ex-presidente José Paulo Sepúlveda Pertence, ainda hoje uma forte referência, quase um guru, no Supremo.
Além disso, Barroso, 55, traz uma lufada de contemporaneidade, defensor que é de causas como o casamento homoafetivo e as pesquisas com células-tronco.
E também dificilmente (nunca se pode ter 100% de certeza...) criará constrangimentos para o governo como ocorreu com Luiz Fux, igualmente indicado por Dilma. Segundo o próprio réu José Dirceu, Fux prometeu-lhe votar pela absolvição no julgamento do mensalão e fez o contrário na hora H.
A escolha de Barroso, que passará ainda pela sabatina no Senado, como de praxe, não deve mudar em nada o destino dos 25 réus do mensalão, até porque o Supremo vai analisar os embargos declaratórios, burocráticos, talvez não os infringentes, que visam alterar penas.
Mas nem só de mensalão vive o Supremo, por onde transitam questões que definem qual país o Brasil quer ser agora e no futuro.
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff demorou seis meses, mas acertou a mão pela segunda vez na indicação do ministro do Supremo Tribunal Federal. Assim como Teori Zavascki, Luís Roberto Barroso foi saudado dentro e fora da corte.
Se têm origens diferentes --Zavascki vem da magistratura e Barroso é advogado constitucionalista--, ambos reúnem o que mais interessa num cargo tão fundamental e cada vez mais em evidência: o conhecimento técnico.
Diferentemente de alguns anteriores, principalmente indicados por Lula, os dois novatos não vão aprender no STF; eles já chegam sabendo. Barroso tem no currículo atuações muito elogiadas na corte e era considerado o melhor dos nomes ventilados no longo processo de escolha.
Ao tratar um câncer no esôfago no ano passado, mereceu atenção e deferência dos agora colegas e traz com ele o apoio, desde muito tempo, do ex-presidente José Paulo Sepúlveda Pertence, ainda hoje uma forte referência, quase um guru, no Supremo.
Além disso, Barroso, 55, traz uma lufada de contemporaneidade, defensor que é de causas como o casamento homoafetivo e as pesquisas com células-tronco.
E também dificilmente (nunca se pode ter 100% de certeza...) criará constrangimentos para o governo como ocorreu com Luiz Fux, igualmente indicado por Dilma. Segundo o próprio réu José Dirceu, Fux prometeu-lhe votar pela absolvição no julgamento do mensalão e fez o contrário na hora H.
A escolha de Barroso, que passará ainda pela sabatina no Senado, como de praxe, não deve mudar em nada o destino dos 25 réus do mensalão, até porque o Supremo vai analisar os embargos declaratórios, burocráticos, talvez não os infringentes, que visam alterar penas.
Mas nem só de mensalão vive o Supremo, por onde transitam questões que definem qual país o Brasil quer ser agora e no futuro.