ZERO HORA - 17/04
Houve uma época em que negros, dentro de um ônibus, eram obrigados a ficar em pé, mesmo que houvesse assentos livres. Um dia, uma mulher negra, Rosa Parks, sentou-se e se recusou a levantar para dar lugar a um branco, e começou ali uma mudança de costumes gradual que custou muitas vidas, mas que, por fim, resultou nos dias de hoje, em que negros possuem os mesmos direitos que os brancos, ainda que o racismo não esteja combatido totalmente.
Houve um tempo em que mulher não votava, era discriminada caso se separasse do marido, e pegava muito mal se saía para jantar com as amigas sem que um homem as acompanhasse.
Hoje, os direitos civis são mais amplos, mas sempre haverá questões a evoluir, e elas nunca serão fáceis e rápidas, pois nada demora mais do que mudar uma mentalidade enraizada. É muito difícil deixar uma zona de conforto, um pensamento já fundamentado. Sentimo-nos desprotegidos diante de ideias novas e não raro julgamos que o mundo irá entrar em colapso caso as regras do jogo se alternem. Porém, já está provado que as regras mudam e o universo não colapsa – se adapta.
É no que penso quando vejo essa gritaria em torno do pastor e deputado Marco Feliciano. Ele próprio já sabe que é carta fora do baralho, porém está se agarrando como pode ao seu cargo e ao seu discurso, que será ultrapassado logo ali, na próxima curva. É uma questão de tempo, e esse tempo é necessário para a maturação de um novo mundo – a humanidade é feita de sucessivos “novos mundos”, que são inaugurados um após o outro, a despeito das forças contrárias.
Correndo em paralelo, a discussão em torno do casamento gay se dá no mesmo ritmo. Legalizado na Argentina, depois no Uruguai, é questão de tempo sua legalização aqui no Brasil, e chegará um dia em que nossos bisnetos olharão para trás e considerarão inacreditável que houvesse pessoas que não aceitassem que dois homens ou duas mulheres tivessem uma união estável reconhecida.
Ninguém precisa aderir, nem gostar, mas não se pode ignorar ou impedir: pessoas se sentem atraídas umas pelas outras, amam umas as outras, independentemente do gênero, e isso é mais forte do que qualquer preconceito. Assim como existiu quem achasse natural que um negro cedesse seu lugar a um branco no ônibus e que uma mulher não tivesse direito a votar nos políticos que a representariam, ainda há quem considere natural que um gay seja considerado menos cidadão do que um hétero.
Seja por razões étnicas, religiosas ou sociais, temos a tendência em querer manter as coisas como estão, pois ficamos aterrorizados diante do que não conhecemos. Porém, é só observar o curso da História para comprovar que a resistência, ainda que legítima, é ineficaz: nada se mantém o mesmo por muito tempo, nem a sociedade, nem cada um de nós, em nossas vidas particulares. Por mais tensas e aflitivas que sejam as adaptações, quando justas elas são feitas, e no final das contas, nem o mundo termina, nem o diabo dá as caras.
quarta-feira, abril 17, 2013
Estado de graça - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 17/04
Devido ao torpor gestacional, uma inédita mudança ocorreu em minha amada: ela deu para me achar engraçado
Não sei se são os hormônios, a emoção ou as toxinas liberadas pelo bebê, mas é fato que durante a gravidez as mulheres padecem de um, digamos assim, "handicap" cognitivo. As queixas variam de gestante para gestante: há quem fique esquecida, quem funcione mais devagar; uma amiga relatou sérias dificuldades para acompanhar a trama de "Rei Leão", enquanto outra foi encontrar as chaves do carro "guardadas" no congelador --a forma de gelo, ela procura até hoje.
Para a glória e felicidade deste que vos escreve, minha mulher vem enfrentando, há sete meses e uma semana, semelhantes situações. Digo glória e felicidade não apenas pela paternidade que se aproxima, resgatando-me desta vil existência mortal e cadastrando-me na eternidade, mas porque, devido ao supracitado torpor gestacional, uma inédita mudança ocorreu no córtex cerebral de minha amada: ela deu para me achar engraçado.
Por seis anos, usei de todos os artifícios para fazê-la rir --embalde. Não que ela seja triste ou lhe falte humor, longe disso, é que se trata de uma pessoa mais refinada do que eu --ou, pelo menos, do que minhas piadas. Gosta de ir a balés, a exposições, adora filmes de países remotos, em que há mais diálogos do balido das cabras com o silvo do vento do que entre seres humanos. Não estou sendo irônico: admiro muito seu gosto e toda vez que, procurando algo em nosso iPod, tropeço num Tchaikovsky ou esbarro num Chopin, percebo o quanto ela me fez crescer, evoluir. Não fosse ela, eu ainda estaria por aí --de moletom, provavelmente-- dizendo coisas como: "É pavê ou pacomê?!".
Ter em casa tão implacável crítica fez de mim, modéstia à parte, um Stalone em "Rocky IV" treinando na neve, um Daniel San em "Karatê Kid" pintando muros: ensinou-me a ver na adversidade os halteres do espírito. Espírito que, hoje, fortalecido, evita, por exemplo, mesmo que sob fortíssima tentação, terminar o presente parágrafo com "Win Wenders e aprendendo".
Ou melhor, evitava, pois veio a gravidez e, num de seus muitos passes de mágica, mudou tudo. Se antes, em meus melhores momentos seinfeldianos, merecia no máximo um sorriso, hoje arranco aplausos com qualquer tirada de "Zorra Total". Os halteres enferrujam na área de serviço de minh'alma. Tô pior que tio bêbado em festa de família; é do pavê pra baixo --e só sucesso.
Que sábia a natureza: durante anos, todo mês, manda a TPM para a mulher, aguçando seu senso crítico, como se lhe sussurrasse: "Tem certeza de que é esse aí o cara ideal para propagar os seus genes?". Após a fecundação, contudo, sabendo da necessidade de um companheiro para trazer javalis abatidos, fraldas descartáveis e apoio moral, os hormônios baixam radicalmente os critérios, como se sugerissem à moça, em relação ao marido: "Se só tem tu, vai tu mesmo!". Ainda que "tu" seja esse cara aí no chuveiro, cantando "Mama Áustria", um velho clássico do "Casseta & Planeta", e, veja só, lucrando uma bela gargalhada.
Filhota, prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ser um bom pai. Uma coisa, contudo, garanto: serei um pai engraçado. Pergunte à sua mãe --de preferência, quando ela estiver grávida do próximo.
Devido ao torpor gestacional, uma inédita mudança ocorreu em minha amada: ela deu para me achar engraçado
Não sei se são os hormônios, a emoção ou as toxinas liberadas pelo bebê, mas é fato que durante a gravidez as mulheres padecem de um, digamos assim, "handicap" cognitivo. As queixas variam de gestante para gestante: há quem fique esquecida, quem funcione mais devagar; uma amiga relatou sérias dificuldades para acompanhar a trama de "Rei Leão", enquanto outra foi encontrar as chaves do carro "guardadas" no congelador --a forma de gelo, ela procura até hoje.
Para a glória e felicidade deste que vos escreve, minha mulher vem enfrentando, há sete meses e uma semana, semelhantes situações. Digo glória e felicidade não apenas pela paternidade que se aproxima, resgatando-me desta vil existência mortal e cadastrando-me na eternidade, mas porque, devido ao supracitado torpor gestacional, uma inédita mudança ocorreu no córtex cerebral de minha amada: ela deu para me achar engraçado.
Por seis anos, usei de todos os artifícios para fazê-la rir --embalde. Não que ela seja triste ou lhe falte humor, longe disso, é que se trata de uma pessoa mais refinada do que eu --ou, pelo menos, do que minhas piadas. Gosta de ir a balés, a exposições, adora filmes de países remotos, em que há mais diálogos do balido das cabras com o silvo do vento do que entre seres humanos. Não estou sendo irônico: admiro muito seu gosto e toda vez que, procurando algo em nosso iPod, tropeço num Tchaikovsky ou esbarro num Chopin, percebo o quanto ela me fez crescer, evoluir. Não fosse ela, eu ainda estaria por aí --de moletom, provavelmente-- dizendo coisas como: "É pavê ou pacomê?!".
Ter em casa tão implacável crítica fez de mim, modéstia à parte, um Stalone em "Rocky IV" treinando na neve, um Daniel San em "Karatê Kid" pintando muros: ensinou-me a ver na adversidade os halteres do espírito. Espírito que, hoje, fortalecido, evita, por exemplo, mesmo que sob fortíssima tentação, terminar o presente parágrafo com "Win Wenders e aprendendo".
Ou melhor, evitava, pois veio a gravidez e, num de seus muitos passes de mágica, mudou tudo. Se antes, em meus melhores momentos seinfeldianos, merecia no máximo um sorriso, hoje arranco aplausos com qualquer tirada de "Zorra Total". Os halteres enferrujam na área de serviço de minh'alma. Tô pior que tio bêbado em festa de família; é do pavê pra baixo --e só sucesso.
Que sábia a natureza: durante anos, todo mês, manda a TPM para a mulher, aguçando seu senso crítico, como se lhe sussurrasse: "Tem certeza de que é esse aí o cara ideal para propagar os seus genes?". Após a fecundação, contudo, sabendo da necessidade de um companheiro para trazer javalis abatidos, fraldas descartáveis e apoio moral, os hormônios baixam radicalmente os critérios, como se sugerissem à moça, em relação ao marido: "Se só tem tu, vai tu mesmo!". Ainda que "tu" seja esse cara aí no chuveiro, cantando "Mama Áustria", um velho clássico do "Casseta & Planeta", e, veja só, lucrando uma bela gargalhada.
Filhota, prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ser um bom pai. Uma coisa, contudo, garanto: serei um pai engraçado. Pergunte à sua mãe --de preferência, quando ela estiver grávida do próximo.
O Rio que se discute - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 17/04
É provável que nenhuma das 80/90 pessoas ali reunidas quisesse trocar o Rio por qualquer outro lugar do mundo para morar. Mas isso não impediu que sobrassem críticas à cidade no encontro de segunda-feira da série Mitos Cariocas, dentro do projeto OsteRio, que discute o nosso futuro como metrópole. O tema da noite era "Malandro ou criativo? O jeito carioca e sua influência". Junto com o publicitário Lula Vieira e o jornalista Gilberto Scofield, participei da mesa, coordenada pelo economista David Zilbersztajn. Como naquela plateia especial havia cabeças que sabem muito bem como pensar e/ou agir para melhorar o Rio, coube a nós a modesta tarefa de levantar questões e suscitar temas para discussão.
É difícil resumir o que foi tratado num debate descontraído, bem-humorado e não convencional. Além desse formato original, o que houve de mais interessante a meu ver foi a pluralidade das opiniões, em que a única unanimidade era a paixão pelo Rio. A uma crítica, surgia sempre uma defesa. O carioca adora falar mal do Rio, mas não suporta ouvir o outro falando. Só eu posso criticar.
Quando, por exemplo, Scofield usou sua experiência como correspondente em capitais como Washington e Pequim para concluir que os serviços daqui são os piores do mundo - "Não quero ser amigo de garçons simpáticos que dão tapinhas nas costas; quero que eles me atendam com eficiência" - alguém contra-argumentou fazendo graça: "Isso é porque você não conhece os serviços de Paris."
Entre as nossas mazelas e problemas urbanos a serem lamentados, foram citados a falta de educação e de higiene, o desrespeito ao outro, a violência no trânsito, enfim, a maneira pouco civilizada com que o carioca trata a sua cidade, sem falar na complacência com o ilegal confundido com o informal, na tolerância com o desvio que vira norma e na promiscuidade da polícia com o crime.
Nem tudo o que de bom é atribuído à velha malandragem é de se jogar fora, como um certo fair-play, um jeito otimista de enfrentar o infortúnio e driblar a adversidade (não por acaso, o nosso padroeiro é um santo zen, São Sebastião, que mesmo flechado mantém a serenidade). Mas o malandro típico, de terno branco e navalha, não existe mais; ou virou traficante ou foi parar no samba de Chico Buarque: "Malandro candidato a malandro federal/Malandro com retrato na coluna social;/Malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal."
Esse é encontrado aqui também, mas age mais em Brasília.
É difícil resumir o que foi tratado num debate descontraído, bem-humorado e não convencional. Além desse formato original, o que houve de mais interessante a meu ver foi a pluralidade das opiniões, em que a única unanimidade era a paixão pelo Rio. A uma crítica, surgia sempre uma defesa. O carioca adora falar mal do Rio, mas não suporta ouvir o outro falando. Só eu posso criticar.
Quando, por exemplo, Scofield usou sua experiência como correspondente em capitais como Washington e Pequim para concluir que os serviços daqui são os piores do mundo - "Não quero ser amigo de garçons simpáticos que dão tapinhas nas costas; quero que eles me atendam com eficiência" - alguém contra-argumentou fazendo graça: "Isso é porque você não conhece os serviços de Paris."
Entre as nossas mazelas e problemas urbanos a serem lamentados, foram citados a falta de educação e de higiene, o desrespeito ao outro, a violência no trânsito, enfim, a maneira pouco civilizada com que o carioca trata a sua cidade, sem falar na complacência com o ilegal confundido com o informal, na tolerância com o desvio que vira norma e na promiscuidade da polícia com o crime.
Nem tudo o que de bom é atribuído à velha malandragem é de se jogar fora, como um certo fair-play, um jeito otimista de enfrentar o infortúnio e driblar a adversidade (não por acaso, o nosso padroeiro é um santo zen, São Sebastião, que mesmo flechado mantém a serenidade). Mas o malandro típico, de terno branco e navalha, não existe mais; ou virou traficante ou foi parar no samba de Chico Buarque: "Malandro candidato a malandro federal/Malandro com retrato na coluna social;/Malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal."
Esse é encontrado aqui também, mas age mais em Brasília.
Os cozinheiros atores - NINA HORTA
FOLHA DE SP - 17/04
Vemos Jamie Oliver matar os perus do seu quintal, perus que ele nomeou e criou com suas crianças
Na semana passada, contei que fui entrevistada por uma repórter que trazia, além de lápis e papel, olhos azuis ou verdes, cabelos louros, nada chamuscados pelas lides da cozinha. É que ela atua em todos os setores, entrevista sobre o que lhe interessa, e a cozinha a estava deixando intrigada.
Quase todas as pautas eram sobre o assunto. Onde andariam outros heróis que não chefs, desde quando a malha colada do Super-Homem fora substituída pela calça xadrezinha do chef? Não pude responder a tudo e aqui vai o restante.
E os realities shows de chefs? Um mistério, porque neles não se aprende a cozinhar, mas concordo que se aprende a dizer "sim, chef", para não se tomar uma frigideira no ouvido. Então, ali, o programa não é de comida, é de competição.
E tenho uma hipótese sobre os programas que se repetem exatamente do mesmo jeito, como o do Gordon Ramsay, aquele que conserta restaurantes falidos.
O roteiro é exatamente o mesmo, o mesmo timing, ele chega à cidade, entra no restaurante, vê que num lugar onde há um mar gigantesco na porta o dono do restaurante só serve cabrito congelado e muda o menu para ostras e vermelhos e outro peixinho vadio que nade por ali.
O dono quase se mata com as modificações, o cozinheiro bate a porta e vai embora. Mas, quando dentro de três meses Ramsay volta, pode-se escutar hummm, hummm de gostosura na boca dos clientes. E o cofrinho do caixa está barrigudo, se arrebentando de euros.
E assistimos. Os cozinheiros atores são surpreendentemente bons, o Ramsay atua melhor do que cozinha, e o resto é a satisfação de nossa parte infantil, sabe quando a mãe pula uma linha do "Chapeuzinho Vermelho" e a criança quase dormindo sobressalta, chorando? Nós, os do sofá, somos assim também.
Imagine se um dia nos puséssemos a ver o programa e, quando os garçons trouxessem a comida da casa para o chef provar, ele achasse tudo uma delícia, comentando que não teria nada a fazer lá, que o problema deveria estar em outro lugar? Começaríamos a chorar como os bebês, com certeza.
No mais, assistimos a coisas que nos interessam. Quem não gosta de comer? Quem gosta de matar um peru e assar para o jantar? Então vemos o Jamie Oliver matar os perus do seu quintal, perus que ele nomeou e criou com suas crianças, e ficamos felizes por ter que ser ele a executar os bichos e não nós que compramos o peito enrolado em plástico no mercado.
E o momento é de muita reflexão sobre a cozinha e sobre todo o resto. A cozinha sofreu um bocado com sua medicalização e confundiu os assuntos. E ainda tem a nutrição com maiúscula.
Sugeri que a Luara lesse "Culture in a Liquid Modern World" (Zigmunt Baum), um livro pequenino e fácil. Vai achar que todos no mundo, não só os cozinheiros, estão nesse impasse de não ter "receitas", livres como pássaros na gaiola.
A ideia dele é que todas as normas que antes cultivávamos passaram por um poderoso liquidificador e tornaram-se massinha de jardim de infância em nossas mãos. Ainda estamos brincando com elas. Até aprender tudo de novo.
Vemos Jamie Oliver matar os perus do seu quintal, perus que ele nomeou e criou com suas crianças
Na semana passada, contei que fui entrevistada por uma repórter que trazia, além de lápis e papel, olhos azuis ou verdes, cabelos louros, nada chamuscados pelas lides da cozinha. É que ela atua em todos os setores, entrevista sobre o que lhe interessa, e a cozinha a estava deixando intrigada.
Quase todas as pautas eram sobre o assunto. Onde andariam outros heróis que não chefs, desde quando a malha colada do Super-Homem fora substituída pela calça xadrezinha do chef? Não pude responder a tudo e aqui vai o restante.
E os realities shows de chefs? Um mistério, porque neles não se aprende a cozinhar, mas concordo que se aprende a dizer "sim, chef", para não se tomar uma frigideira no ouvido. Então, ali, o programa não é de comida, é de competição.
E tenho uma hipótese sobre os programas que se repetem exatamente do mesmo jeito, como o do Gordon Ramsay, aquele que conserta restaurantes falidos.
O roteiro é exatamente o mesmo, o mesmo timing, ele chega à cidade, entra no restaurante, vê que num lugar onde há um mar gigantesco na porta o dono do restaurante só serve cabrito congelado e muda o menu para ostras e vermelhos e outro peixinho vadio que nade por ali.
O dono quase se mata com as modificações, o cozinheiro bate a porta e vai embora. Mas, quando dentro de três meses Ramsay volta, pode-se escutar hummm, hummm de gostosura na boca dos clientes. E o cofrinho do caixa está barrigudo, se arrebentando de euros.
E assistimos. Os cozinheiros atores são surpreendentemente bons, o Ramsay atua melhor do que cozinha, e o resto é a satisfação de nossa parte infantil, sabe quando a mãe pula uma linha do "Chapeuzinho Vermelho" e a criança quase dormindo sobressalta, chorando? Nós, os do sofá, somos assim também.
Imagine se um dia nos puséssemos a ver o programa e, quando os garçons trouxessem a comida da casa para o chef provar, ele achasse tudo uma delícia, comentando que não teria nada a fazer lá, que o problema deveria estar em outro lugar? Começaríamos a chorar como os bebês, com certeza.
No mais, assistimos a coisas que nos interessam. Quem não gosta de comer? Quem gosta de matar um peru e assar para o jantar? Então vemos o Jamie Oliver matar os perus do seu quintal, perus que ele nomeou e criou com suas crianças, e ficamos felizes por ter que ser ele a executar os bichos e não nós que compramos o peito enrolado em plástico no mercado.
E o momento é de muita reflexão sobre a cozinha e sobre todo o resto. A cozinha sofreu um bocado com sua medicalização e confundiu os assuntos. E ainda tem a nutrição com maiúscula.
Sugeri que a Luara lesse "Culture in a Liquid Modern World" (Zigmunt Baum), um livro pequenino e fácil. Vai achar que todos no mundo, não só os cozinheiros, estão nesse impasse de não ter "receitas", livres como pássaros na gaiola.
A ideia dele é que todas as normas que antes cultivávamos passaram por um poderoso liquidificador e tornaram-se massinha de jardim de infância em nossas mãos. Ainda estamos brincando com elas. Até aprender tudo de novo.
Show de raça - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 17/04
Há tempos, no Brasil, na média das partidas, existe mais show de raça do que show de futebol
Quem assistiu, na íntegra, à vitória sobre o Libertad ficou impressionado com o ritmo alucinante do Palmeiras e com a relação apaixonada entre os 37 mil torcedores e os jogadores.
Por minha psicologia de botequim, houve uma catarse, uma explosão de sentimentos contidos, adormecidos no fundo da alma. Assim como ocorre nas tragédias, quando as pessoas ficam extremamente comovidas e solidárias com as vítimas, atletas e torcedores do Palmeiras querem levantar o time, abraçá-lo intensamente e colocá-lo em seu lugar. Isso já ocorreu com vários outros times, que passaram pela mesma situação.
O show de raça, como disse um repórter, é uma situação de emergência, adequada para o modesto time do Palmeiras. Pode funcionar em um jogo, dois e até durante todo um torneio curto, como na Copa do Brasil, na Libertadores e na Copa do Mundo. Não dá é para fazer disso uma rotina, pois, além de não ser possível tecnicamente, foge à normalidade e torna o futebol mais uma guerra do que um jogo de técnica e de talento.
Há anos, ocorre algo parecido no futebol brasileiro, sem a intensidade do que acontece hoje com o Palmeiras. Existe uma grande valorização da garra, do confronto físico, em detrimento do jogo bem jogado. Sempre que um time perde, dizem que faltou raça. Adoram expressões como "time guerreiro", "sangue na veia", "sangue nos olhos". Essa excessiva agressividade, próxima da violência, é um dos motivos da queda do futebol brasileiro. Há mais show de raça do que de futebol.
Jogar com vontade é tão essencial que nem deveria ser discutido. Nelson Rodrigues disse que quem ganha é a alma. Parafraseando Fernando Pessoa, penso que quem ganha é o talento, desde que a alma não seja pequena.
Hoje é dia de Libertadores. Espero que sejam jogos vibrantes e de boa qualidade. O São Paulo bobeou contra o Arsenal e, agora, está em uma situação difícil. Enfrenta o Atlético-MG, o melhor time da competição. Não bobeou porque faltou raça. Bobeou porque não tem mais Lucas, os laterais e os zagueiros são apenas razoáveis, Luis Fabiano vive suspenso, e o técnico não define se escala Jadson e Ganso ou se repete o esquema anterior. Hoje, não terá Jadson e Luis Fabiano, os melhores do time.
Grêmio e Fluminense correm riscos. O Grêmio, por tantos bons jogadores contratados, deveria estar melhor. O Fluminense não tem a mesma eficiência do ano passado.
O Corinthians, já classificado, descansa. Como muitos veteranos retornaram ao Brasil para ser destaques em suas equipes, esperava- -se que o jovem Pato, uma celebridade mundial, se tornasse o astro do time. O tempo passa, e Pato continua na reserva. Quando entra, joga bem, porém no nível dos outros. A expectativa era muito maior.
Há tempos, no Brasil, na média das partidas, existe mais show de raça do que show de futebol
Quem assistiu, na íntegra, à vitória sobre o Libertad ficou impressionado com o ritmo alucinante do Palmeiras e com a relação apaixonada entre os 37 mil torcedores e os jogadores.
Por minha psicologia de botequim, houve uma catarse, uma explosão de sentimentos contidos, adormecidos no fundo da alma. Assim como ocorre nas tragédias, quando as pessoas ficam extremamente comovidas e solidárias com as vítimas, atletas e torcedores do Palmeiras querem levantar o time, abraçá-lo intensamente e colocá-lo em seu lugar. Isso já ocorreu com vários outros times, que passaram pela mesma situação.
O show de raça, como disse um repórter, é uma situação de emergência, adequada para o modesto time do Palmeiras. Pode funcionar em um jogo, dois e até durante todo um torneio curto, como na Copa do Brasil, na Libertadores e na Copa do Mundo. Não dá é para fazer disso uma rotina, pois, além de não ser possível tecnicamente, foge à normalidade e torna o futebol mais uma guerra do que um jogo de técnica e de talento.
Há anos, ocorre algo parecido no futebol brasileiro, sem a intensidade do que acontece hoje com o Palmeiras. Existe uma grande valorização da garra, do confronto físico, em detrimento do jogo bem jogado. Sempre que um time perde, dizem que faltou raça. Adoram expressões como "time guerreiro", "sangue na veia", "sangue nos olhos". Essa excessiva agressividade, próxima da violência, é um dos motivos da queda do futebol brasileiro. Há mais show de raça do que de futebol.
Jogar com vontade é tão essencial que nem deveria ser discutido. Nelson Rodrigues disse que quem ganha é a alma. Parafraseando Fernando Pessoa, penso que quem ganha é o talento, desde que a alma não seja pequena.
Hoje é dia de Libertadores. Espero que sejam jogos vibrantes e de boa qualidade. O São Paulo bobeou contra o Arsenal e, agora, está em uma situação difícil. Enfrenta o Atlético-MG, o melhor time da competição. Não bobeou porque faltou raça. Bobeou porque não tem mais Lucas, os laterais e os zagueiros são apenas razoáveis, Luis Fabiano vive suspenso, e o técnico não define se escala Jadson e Ganso ou se repete o esquema anterior. Hoje, não terá Jadson e Luis Fabiano, os melhores do time.
Grêmio e Fluminense correm riscos. O Grêmio, por tantos bons jogadores contratados, deveria estar melhor. O Fluminense não tem a mesma eficiência do ano passado.
O Corinthians, já classificado, descansa. Como muitos veteranos retornaram ao Brasil para ser destaques em suas equipes, esperava- -se que o jovem Pato, uma celebridade mundial, se tornasse o astro do time. O tempo passa, e Pato continua na reserva. Quando entra, joga bem, porém no nível dos outros. A expectativa era muito maior.
Em defesa de Justin Bieber… - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 17/04
Dá até para entender o desgosto de alguém que amava os Beatles e os Rolling Stones ao descobrir no diário da filha a paixão pelo ídolo teen canadense, mas podia ser pior: já pensou se ela andasse pela casa cantando “É nóis fazer parapapá” ou ‘‘Ah, lelek lek lek lek’.Tá certo que, ao final da visita que fez em Amsterdã à casa onde Anne Frank viveu escondida do nazismo, Justin Bieber não precisava escrever no livro do museu que a menina judia poderia ter sido uma “belieber” – como o cantor chama suas fãs –, mas isso também não é motivo para que pais de adolescentes de hoje em dia tranquem suas meninas no sótão tentando evitar contatos com o artista.
O que tem de porcaria surfando nas ondas do rádio, francamente, não é justo que só peguem no pé do pequeno príncipe da música pop. Até a Miss Canadá o chamou dia desses de “idiota” nas redes sociais.
Curiosamente, depois que ele comparou Anne Frank a uma “belieber” em potencial, só a direção do museu holandês saiu em sua defesa, exaltando a visita de um jovem de 19 anos, “que poderia ter feito outras coisas em Amsterdã”.
Pense nisso, antes de implicar com o ídolo de sua filha!
Companhias
“Resolvi surtar um pouco e fazer o que me dá prazer!”O cantor Fiuk não é mais aquele filhinho de papai depois que passou a andar com MC Sapão e Rappin Hood, parceiros de seu novo disco.Fábio Jr. tá sabendo de tudo!
Banguela aérea
A Gol pagará bônus salarial aos pilotos que reduzirem o consumo de combustível durante os voos da companhia, mas isso não quer dizer que vai ter avião descendo para o pouso em ponto morto para economizar querosene
Nos conformes
O pessoal do próprio STF fez uma vaquinha para encomendar o bolo e o aniversariante pede aos convidados que, em vez de presentes, levem alimentos não perecíveis para doação a um orfanato.A festa pelos 60 anos do ministro Luiz Fux foi remarcada para o final do mês num quiosque da Lagoa, no Rio.
Mal comparando
Pareciam colegas de classe!Quem foi ao Lincoln Center assistir ‘Bibi (Ferreira) in Concert’ teve a exata noção de como a diva brasileira está bem aos 90 anos quando Liza Minelli, 67 anos, subiu ao palco para cantarem juntas um trechinho de ‘New York, New York’!
Gente doida
Pode?Enquanto todo mundo normal vivia na segunda-feira a aflição com as bombas de Boston, os operadores das bolsas de Nova York não escondiam o nervosismo com as perdas no mercado de commodities.
Ceni expiatório
Com o goleiro em campo, o técnico terá alguma chance de não ser o único culpado em caso de eliminação do São Paulo na Libertadores.Nei Franco tem bons motivos para escalar Rogério Ceni – afastado desde a patada que tomou do Pato – na partida desta quarta-feira contra o Atlético Mineiro, no Morumbi.
Dá até para entender o desgosto de alguém que amava os Beatles e os Rolling Stones ao descobrir no diário da filha a paixão pelo ídolo teen canadense, mas podia ser pior: já pensou se ela andasse pela casa cantando “É nóis fazer parapapá” ou ‘‘Ah, lelek lek lek lek’.Tá certo que, ao final da visita que fez em Amsterdã à casa onde Anne Frank viveu escondida do nazismo, Justin Bieber não precisava escrever no livro do museu que a menina judia poderia ter sido uma “belieber” – como o cantor chama suas fãs –, mas isso também não é motivo para que pais de adolescentes de hoje em dia tranquem suas meninas no sótão tentando evitar contatos com o artista.
O que tem de porcaria surfando nas ondas do rádio, francamente, não é justo que só peguem no pé do pequeno príncipe da música pop. Até a Miss Canadá o chamou dia desses de “idiota” nas redes sociais.
Curiosamente, depois que ele comparou Anne Frank a uma “belieber” em potencial, só a direção do museu holandês saiu em sua defesa, exaltando a visita de um jovem de 19 anos, “que poderia ter feito outras coisas em Amsterdã”.
Pense nisso, antes de implicar com o ídolo de sua filha!
Companhias
“Resolvi surtar um pouco e fazer o que me dá prazer!”O cantor Fiuk não é mais aquele filhinho de papai depois que passou a andar com MC Sapão e Rappin Hood, parceiros de seu novo disco.Fábio Jr. tá sabendo de tudo!
Banguela aérea
A Gol pagará bônus salarial aos pilotos que reduzirem o consumo de combustível durante os voos da companhia, mas isso não quer dizer que vai ter avião descendo para o pouso em ponto morto para economizar querosene
Nos conformes
O pessoal do próprio STF fez uma vaquinha para encomendar o bolo e o aniversariante pede aos convidados que, em vez de presentes, levem alimentos não perecíveis para doação a um orfanato.A festa pelos 60 anos do ministro Luiz Fux foi remarcada para o final do mês num quiosque da Lagoa, no Rio.
Mal comparando
Pareciam colegas de classe!Quem foi ao Lincoln Center assistir ‘Bibi (Ferreira) in Concert’ teve a exata noção de como a diva brasileira está bem aos 90 anos quando Liza Minelli, 67 anos, subiu ao palco para cantarem juntas um trechinho de ‘New York, New York’!
Gente doida
Pode?Enquanto todo mundo normal vivia na segunda-feira a aflição com as bombas de Boston, os operadores das bolsas de Nova York não escondiam o nervosismo com as perdas no mercado de commodities.
Ceni expiatório
Com o goleiro em campo, o técnico terá alguma chance de não ser o único culpado em caso de eliminação do São Paulo na Libertadores.Nei Franco tem bons motivos para escalar Rogério Ceni – afastado desde a patada que tomou do Pato – na partida desta quarta-feira contra o Atlético Mineiro, no Morumbi.
No país das masmorras - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 17/04
Debate sobre maioridade penal esconde outros desejos, como o de fuzilamento
"Ora, francamente", escreveu Marcos Augusto Gonçalves, nesta segunda-feira, sobre o tema da maioridade penal.
Ele tem razão: passamos todos os dias por crianças miseráveis e adolescentes drogados nas ruas de São Paulo, e quando um deles se torna assassino, surge a proposta de mudar a idade mínima para a responsabilização criminal.
Marcos Augusto pede desculpas pelo clichê: a saída está na educação. Novamente concordo, e concordo também com a impaciência do articulista quanto ao problema da idade penal em si.
Dezesseis ou 18 anos? Leio diversos artigos a respeito, e há argumentos que simplesmente não fazem sentido para mim. Comento um pouco. Diz-se, por exemplo, que o assunto não pode ser debatido num clima emocional.
Discordo disso. É natural que, quando um problema chama a atenção, discutam-se as soluções possíveis. Todo país tem dezenas, centenas de problemas. Depois de um incêndio, discutem-se as falhas de fiscalização da prefeitura. Seria melhor que o incêndio não ocorresse. Mas teríamos de esperar um clima de menor comoção para tratar do assunto?
Quem reclama da discussão "emocional" sabe que, nesses momentos, o problema é outro. A saber, o de que está em vantagem a tese do adversário.
Mas muitas teses simpáticas e liberais também entram em discussão em momentos de choque. Depois de acidentes em usinas nucleares, cresce o movimento pela energia alternativa. A tese do desarmamento, nos Estados Unidos, aproveita o mais recente massacre escolar.
O que haveria de errado nisso? De resto, todo mundo sabe que até determinada proposta se tornar lei, passa um tempo considerável. Confia pouco no "debate racional", de todo modo, quem acha que só pode travá-lo num estado de indiferença generalizada.
De resto, pelo que li, o debate tem sido rico e detalhado. Há argumentos e mais argumentos contra a diminuição do limite penal, e eu mesmo já mudei de ideia umas três vezes.
Passo a outro raciocínio, entretanto, que não me convence, e é dos mais repetidos. Vai nesta linha: "Vocês querem diminuir para 16? E quando aparecer um assassino de 15 anos e meio? Diminui para 14? Para 12?".
Obviamente esses limites são arbitrários. Mas eles se tornam mais realistas, ou mais absurdos, conforme uma realidade estatística. Se aumenta muito o número de criminosos com 16 anos, há argumentos para que essa idade passe a ser considerada para fins penais.
Não é o único argumento, claro. Pode-se dizer que aos 16 anos a personalidade de alguém não está plenamente constituída, e que seus atos não provêm de uma vontade tão autônoma, tão "responsável", quanto a de quem tem 18 ou mais.
Tenho minhas dúvidas sobre isso, mas não importa. Passo a outro argumento. Prender o adolescente, ainda que em dependências especiais, seria submetê-lo a uma autêntica "escola do crime" --pois sabemos que as instituições existentes servem para tudo, menos para recuperar o criminoso.
Escolas do crime, sim. Mas e a rua? E a favela? E a escola pública? O crime organizado ensina os seus candidatos em toda parte. O raciocínio se encadeia a outro.
Na verdade, dizem os criminalistas, pelas leis atuais o menor infrator pode terminar mais tempo preso (ou "apreendido", como estranhamente se diz) do que o marmanjo. De modo que diminuir o limite para 16 anos terminaria, em alguns casos, beneficiando o criminoso!
Ah, é? Mas quem defende a maioridade aos 16 anos também quer penas mais pesadas para os presos atuais. Não adianta dizer que o atual sistema é "bom", pelo fato de que depois de poucos anos o assassino com mais de 18 está fora da cadeia.
Chegamos ao núcleo da questão. No estado atual das prisões brasileiras, é tão bárbaro prender quem tem 16 anos quanto quem tem 18 ou mais. Todos sabemos disso. O país não tem moral para exigir respeito à lei quando não tem moral para dizer: isto é uma prisão, você perderá a liberdade e aprenderá um ofício; trate de se recuperar.
Quem pede leis mais rigorosas simplesmente usa um eufemismo: queria que todo criminoso fosse fuzilado. Quem é contra leis mais rigorosas sabe que, na verdade, as que existem são outro eufemismo. Falam em "instituição correcional", em "presídio", quando deveriam dizer "campo de concentração", "pocilga", ou "masmorra".
Antes, dizia-se "Carandiru".
Debate sobre maioridade penal esconde outros desejos, como o de fuzilamento
"Ora, francamente", escreveu Marcos Augusto Gonçalves, nesta segunda-feira, sobre o tema da maioridade penal.
Ele tem razão: passamos todos os dias por crianças miseráveis e adolescentes drogados nas ruas de São Paulo, e quando um deles se torna assassino, surge a proposta de mudar a idade mínima para a responsabilização criminal.
Marcos Augusto pede desculpas pelo clichê: a saída está na educação. Novamente concordo, e concordo também com a impaciência do articulista quanto ao problema da idade penal em si.
Dezesseis ou 18 anos? Leio diversos artigos a respeito, e há argumentos que simplesmente não fazem sentido para mim. Comento um pouco. Diz-se, por exemplo, que o assunto não pode ser debatido num clima emocional.
Discordo disso. É natural que, quando um problema chama a atenção, discutam-se as soluções possíveis. Todo país tem dezenas, centenas de problemas. Depois de um incêndio, discutem-se as falhas de fiscalização da prefeitura. Seria melhor que o incêndio não ocorresse. Mas teríamos de esperar um clima de menor comoção para tratar do assunto?
Quem reclama da discussão "emocional" sabe que, nesses momentos, o problema é outro. A saber, o de que está em vantagem a tese do adversário.
Mas muitas teses simpáticas e liberais também entram em discussão em momentos de choque. Depois de acidentes em usinas nucleares, cresce o movimento pela energia alternativa. A tese do desarmamento, nos Estados Unidos, aproveita o mais recente massacre escolar.
O que haveria de errado nisso? De resto, todo mundo sabe que até determinada proposta se tornar lei, passa um tempo considerável. Confia pouco no "debate racional", de todo modo, quem acha que só pode travá-lo num estado de indiferença generalizada.
De resto, pelo que li, o debate tem sido rico e detalhado. Há argumentos e mais argumentos contra a diminuição do limite penal, e eu mesmo já mudei de ideia umas três vezes.
Passo a outro raciocínio, entretanto, que não me convence, e é dos mais repetidos. Vai nesta linha: "Vocês querem diminuir para 16? E quando aparecer um assassino de 15 anos e meio? Diminui para 14? Para 12?".
Obviamente esses limites são arbitrários. Mas eles se tornam mais realistas, ou mais absurdos, conforme uma realidade estatística. Se aumenta muito o número de criminosos com 16 anos, há argumentos para que essa idade passe a ser considerada para fins penais.
Não é o único argumento, claro. Pode-se dizer que aos 16 anos a personalidade de alguém não está plenamente constituída, e que seus atos não provêm de uma vontade tão autônoma, tão "responsável", quanto a de quem tem 18 ou mais.
Tenho minhas dúvidas sobre isso, mas não importa. Passo a outro argumento. Prender o adolescente, ainda que em dependências especiais, seria submetê-lo a uma autêntica "escola do crime" --pois sabemos que as instituições existentes servem para tudo, menos para recuperar o criminoso.
Escolas do crime, sim. Mas e a rua? E a favela? E a escola pública? O crime organizado ensina os seus candidatos em toda parte. O raciocínio se encadeia a outro.
Na verdade, dizem os criminalistas, pelas leis atuais o menor infrator pode terminar mais tempo preso (ou "apreendido", como estranhamente se diz) do que o marmanjo. De modo que diminuir o limite para 16 anos terminaria, em alguns casos, beneficiando o criminoso!
Ah, é? Mas quem defende a maioridade aos 16 anos também quer penas mais pesadas para os presos atuais. Não adianta dizer que o atual sistema é "bom", pelo fato de que depois de poucos anos o assassino com mais de 18 está fora da cadeia.
Chegamos ao núcleo da questão. No estado atual das prisões brasileiras, é tão bárbaro prender quem tem 16 anos quanto quem tem 18 ou mais. Todos sabemos disso. O país não tem moral para exigir respeito à lei quando não tem moral para dizer: isto é uma prisão, você perderá a liberdade e aprenderá um ofício; trate de se recuperar.
Quem pede leis mais rigorosas simplesmente usa um eufemismo: queria que todo criminoso fosse fuzilado. Quem é contra leis mais rigorosas sabe que, na verdade, as que existem são outro eufemismo. Falam em "instituição correcional", em "presídio", quando deveriam dizer "campo de concentração", "pocilga", ou "masmorra".
Antes, dizia-se "Carandiru".
Reservatórios meio cheios e meio vazios - PAULO PEDROSA
O ESTADÃO - 17/04
Se não há dúvidas de que o setor elétrico do País vive um de seus momentos mais intensos, há total divergência nas análises sobre seu presente e futuro. Algumas, muito negativas, focam mais nos efeitos colaterais das recentes mudanças no setor, agravados pela situação dos reservatórios das hidrelétricas, do que em seus resultados permanentes. Outras análises, natural e inevitavelmente, têm a marca de pressões políticas e econômicas.
Nesse contexto, é importante olhar para a metade meio cheia do copo - ou, por analogia, dos reservatórios - e reconhecer o avanço histórico que tivemos em questões estruturais e conceituais. E, com isso, aperfeiçoar o que for necessário e perseverar na direção positiva apontada, como a desoneração da energia do custo de políticas públicas, o aperfeiçoamento de seu sinal de preço e o tratamento das concessões em favor dos consumidores.
Um caso particular que exemplifica o momento é a discussão sobre a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que é um pilar de sustentação da confiança de investidores, agentes e consumidores. Também aqui há os saudosistas de um passado que não viveram e os que, focados no copo meio vazio, não percebem um processo que tem, no somatório de seus passos, fortalecido a agência. Confirmando essa tendência estão as revisões tarifárias das distribuidoras de energia, que vêm promovendo ganhos estruturais e permanentes para os consumidores. Mas, ao mesmo tempo, esses processos reconhecem as condições de cada empresa e situações em que é preciso preservar o interesse das concessionárias - afastando teses de que poderia haver uma agenda oculta de redução das tarifas como um fim em si mesma.
Outro ponto especialmente emblemático foi uma recente decisão sobre alterar ou não a sazonalização de garantias físicas (direito de venda de cada gerador associado à capacidade de produção de energia), tema que passou quase despercebido da sociedade em geral em razão de sua monumental complexidade. Nesse caso, a Aneel decidiu pelo reconhecimento dos prazos impostos pela Lei n.º 12.783, de 2013. Ou seja, manteve a aplicação das regras e reafirmou sua independência, mesmo quando os resultados, olhados, talvez, de forma pontual, possam desgostar a alguns. Com isso, a agência se provou justamente naquilo que é a essência de sua atuação: promover a estabilidade das regras e proteger o setor da tentação de intervenções continuadas a partir de julgamentos subjetivos e raciocínios fáceis, mas sem respaldo regulatório.
Nos passos que levaram à decisão final, ficou evidente a importância dos processos decisórios da Aneel: públicos, com manifestações dos interessados, posicionamentos técnicos da procuradoria e superintendências do regulador e debate transparente de ideias com respeito às visões diferentes, em reuniões tão abertas que são transmitidas ao vivo pela internet.
Reconhecer os avanços da Aneel e perseverar no seu fortalecimento é um raro ponto de convergência de um setor marcado por destrutiva dispersão e desarticulação de interesses. E é prioridade, particularmente quando toda a sua diretoria pode ser integralmente substituída em pouco mais de um ano. É preciso preservar um quadro de diretores que reúna a diversidade de vivências, visões e conhecimentos necessários e assegurar-lhes que possam atuar com independência e condições atrativas de trabalho, inclusive remuneratórias.
O setor precisa reconhecer que a energia passou a ter como foco a competitividade do País, e não os problemas de sua cadeia produtiva. A convergência em torno do fortalecimento da agência deve ser a base da discussão dos aperfeiçoamentos necessários. Sob o ponto de vista da grande indústria, essa agenda precisa produzir resultados mais fortes que reflitam uma política de promoção da competitividade, o que inclui a continuidade do processo de desoneração e o acesso - hoje negado - dos grandes consumidores à energia das concessões que vencem e à expansão competitiva do parque gerador brasileiro.
Se não há dúvidas de que o setor elétrico do País vive um de seus momentos mais intensos, há total divergência nas análises sobre seu presente e futuro. Algumas, muito negativas, focam mais nos efeitos colaterais das recentes mudanças no setor, agravados pela situação dos reservatórios das hidrelétricas, do que em seus resultados permanentes. Outras análises, natural e inevitavelmente, têm a marca de pressões políticas e econômicas.
Nesse contexto, é importante olhar para a metade meio cheia do copo - ou, por analogia, dos reservatórios - e reconhecer o avanço histórico que tivemos em questões estruturais e conceituais. E, com isso, aperfeiçoar o que for necessário e perseverar na direção positiva apontada, como a desoneração da energia do custo de políticas públicas, o aperfeiçoamento de seu sinal de preço e o tratamento das concessões em favor dos consumidores.
Um caso particular que exemplifica o momento é a discussão sobre a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que é um pilar de sustentação da confiança de investidores, agentes e consumidores. Também aqui há os saudosistas de um passado que não viveram e os que, focados no copo meio vazio, não percebem um processo que tem, no somatório de seus passos, fortalecido a agência. Confirmando essa tendência estão as revisões tarifárias das distribuidoras de energia, que vêm promovendo ganhos estruturais e permanentes para os consumidores. Mas, ao mesmo tempo, esses processos reconhecem as condições de cada empresa e situações em que é preciso preservar o interesse das concessionárias - afastando teses de que poderia haver uma agenda oculta de redução das tarifas como um fim em si mesma.
Outro ponto especialmente emblemático foi uma recente decisão sobre alterar ou não a sazonalização de garantias físicas (direito de venda de cada gerador associado à capacidade de produção de energia), tema que passou quase despercebido da sociedade em geral em razão de sua monumental complexidade. Nesse caso, a Aneel decidiu pelo reconhecimento dos prazos impostos pela Lei n.º 12.783, de 2013. Ou seja, manteve a aplicação das regras e reafirmou sua independência, mesmo quando os resultados, olhados, talvez, de forma pontual, possam desgostar a alguns. Com isso, a agência se provou justamente naquilo que é a essência de sua atuação: promover a estabilidade das regras e proteger o setor da tentação de intervenções continuadas a partir de julgamentos subjetivos e raciocínios fáceis, mas sem respaldo regulatório.
Nos passos que levaram à decisão final, ficou evidente a importância dos processos decisórios da Aneel: públicos, com manifestações dos interessados, posicionamentos técnicos da procuradoria e superintendências do regulador e debate transparente de ideias com respeito às visões diferentes, em reuniões tão abertas que são transmitidas ao vivo pela internet.
Reconhecer os avanços da Aneel e perseverar no seu fortalecimento é um raro ponto de convergência de um setor marcado por destrutiva dispersão e desarticulação de interesses. E é prioridade, particularmente quando toda a sua diretoria pode ser integralmente substituída em pouco mais de um ano. É preciso preservar um quadro de diretores que reúna a diversidade de vivências, visões e conhecimentos necessários e assegurar-lhes que possam atuar com independência e condições atrativas de trabalho, inclusive remuneratórias.
O setor precisa reconhecer que a energia passou a ter como foco a competitividade do País, e não os problemas de sua cadeia produtiva. A convergência em torno do fortalecimento da agência deve ser a base da discussão dos aperfeiçoamentos necessários. Sob o ponto de vista da grande indústria, essa agenda precisa produzir resultados mais fortes que reflitam uma política de promoção da competitividade, o que inclui a continuidade do processo de desoneração e o acesso - hoje negado - dos grandes consumidores à energia das concessões que vencem e à expansão competitiva do parque gerador brasileiro.
Por que o país não cresce? - PEDRO FERREIRA E RENATO FRAGELLI
Valor Econômico - 17/04
Grande parte da inspiração para as políticas econômicas atuais vêm de um livro publicado por Keynes, durante a grande depressão iniciada em 1929, intitulado "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda". Diante da grande capacidade ociosa da economia, para aumentar o produto, Keynes preconizava estímulos à demanda via promoção do consumo e ou investimento. Com o setor privado relutante em elevar seus gastos, cabia ao governo fazê-lo. Um dos aspectos inovadores daquela teoria era a possibilidade de um aumento do investimento - privado ou público - gerar a própria poupança para financiá-lo. Afinal, a capacidade produtiva necessária para atender à maior demanda por investimento já existia, mas não estava mobilizada.
Esse fenômeno, entretanto, desaparece quando não há capacidade ociosa na economia, pois não se consegue aumentar a produção doméstica no curto prazo. Numa economia que ocupa plenamente sua capacidade produtiva, o aumento de demanda só poderá ser atendido por maiores importações - ou menores exportações - e, se não for possível atender no exterior o excesso de demanda doméstico, a inflação aumentará.
Neste momento, os sinais de que a economia brasileira atingiu seu limite de produção são nítidos: taxa de desemprego historicamente baixa, deterioração do saldo comercial e em transações correntes, pressão inflacionária com alta difusão e vendas no varejo 42% acima dos níveis de cinco anos atrás. Este último número é duas vezes e meia maior que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período.
Não há insuficiência de demanda, mas sim de oferta. No que tange ao fator capital, são frequentes os congestionamentos nos portos, aeroportos, estradas e metrôs. A ameaça de falta de energia paira no horizonte. Quanto ao fator trabalho, à crônica escassez de mão de obra qualificada, começa a somar-se uma novidade: a escassez de mão de obra desqualificada, decorrente de mudanças demográficas que diminuíram sua oferta.
Apesar dos claros sintomas de que a resistência do PIB em avançar se deve à insuficiência de oferta, o governo insiste no diagnóstico keynesiano ativando demanda com juros baixos, gastos elevados e cortes de impostos sobre consumo. Diagnóstico errado leva a remédios errados. E o agravante aqui é que esses remédios acabam por prejudicar a eficiência da economia, comprometendo a recuperação do produto que visavam promover. Por exemplo, a fim de impedir que a demanda resvale para maiores importações, estas são restringidas, mas hoje há ampla evidência que esse tipo de política afeta negativamente a produtividade da indústria. A pressão inflacionária é combatida com controle de preço de combustível - que debilita a Petrobras - e redução de preços da energia - que compromete a capacidade de expansão do sistema gerador - e outras medidas ad hoc que afetam o índice de preços, mas não as pressões inflacionárias propriamente.
Ademais, o sistema de metas para a inflação foi debilitado. Em vez de convencer os formadores de preços de que a inflação se situará em torno de 4,5%, o Banco Central se limita a manter a inflação abaixo de 6,5%, contando com os cortes de impostos e controles de preços citados acima.
Nada disso é sustentável no longo prazo, o que deteriora as expectativas de potenciais investidores. A expansão da oferta exigiria mais investimentos que permanecem estagnados devido ao ambiente de negócios adverso. Quando o Estado não tem dinheiro nem capacidade gerencial para implantar os necessários investimentos em infraestrutura, deve transferir a tarefa para o setor privado. Mas tratando-se de empreendimentos com longos prazos de maturação e vida útil, a atração de investidores privados requer ambiente de negócios favorável, sem riscos regulatórios.
Desde a liberalização comercial dos anos 1990, o país vinha passando por reformas estruturais e institucionais que melhoraram muito o ambiente de negócios e os incentivos para se investir no país. O governo petista, durante a gestão do ministro Palocci, promoveu importantes reformas - como a nova lei de falências e a alienação fiduciária para o crédito imobiliário - que, juntamente com um marco regulatório favorável implantado na era FHC, criaram um ambiente propício aos investimentos privados. Ajudado por uma conjuntura externa favorável, colheu-se um período de crescimento vigoroso, com inflação controlada e equilíbrio no balanço em transações correntes.
Mas, a partir da crise do subprime em 2008, a avaliação equivocada de que o capitalismo havia desmoronado levou à ressurreição de antigas ideias intervencionistas, revertendo várias das reformas anteriores, cujo clímax foi a mudança do marco regulatório do petróleo, um setor que vinha funcionando muito bem. Desde então, à secular burocracia, somou-se enorme incerteza no marco regulatório em vários setores, com mudanças nos setores de energia elétrica, extração mineral, portos, para citar apenas alguns.
Tem-se, por um lado, uma aposta continuamente aumentada em políticas de expansão de demanda, o que não é mais o problema atual. Por outro, uma volta a políticas do passado que, não só não deram certo - vide a estagnação da economia dos anos 1980 -, como distorcem a economia e aumentam a incerteza. Não é surpresa que o investimento não se recupere, que o apoio público através de financiamentos subsidiados tenha se tornado quase uma condição necessária para projetos de longo prazo, e que as perspectivas de crescimento, mesmo nas previsões mais otimistas, sejam medíocres.
Grande parte da inspiração para as políticas econômicas atuais vêm de um livro publicado por Keynes, durante a grande depressão iniciada em 1929, intitulado "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda". Diante da grande capacidade ociosa da economia, para aumentar o produto, Keynes preconizava estímulos à demanda via promoção do consumo e ou investimento. Com o setor privado relutante em elevar seus gastos, cabia ao governo fazê-lo. Um dos aspectos inovadores daquela teoria era a possibilidade de um aumento do investimento - privado ou público - gerar a própria poupança para financiá-lo. Afinal, a capacidade produtiva necessária para atender à maior demanda por investimento já existia, mas não estava mobilizada.
Esse fenômeno, entretanto, desaparece quando não há capacidade ociosa na economia, pois não se consegue aumentar a produção doméstica no curto prazo. Numa economia que ocupa plenamente sua capacidade produtiva, o aumento de demanda só poderá ser atendido por maiores importações - ou menores exportações - e, se não for possível atender no exterior o excesso de demanda doméstico, a inflação aumentará.
Neste momento, os sinais de que a economia brasileira atingiu seu limite de produção são nítidos: taxa de desemprego historicamente baixa, deterioração do saldo comercial e em transações correntes, pressão inflacionária com alta difusão e vendas no varejo 42% acima dos níveis de cinco anos atrás. Este último número é duas vezes e meia maior que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no mesmo período.
Não há insuficiência de demanda, mas sim de oferta. No que tange ao fator capital, são frequentes os congestionamentos nos portos, aeroportos, estradas e metrôs. A ameaça de falta de energia paira no horizonte. Quanto ao fator trabalho, à crônica escassez de mão de obra qualificada, começa a somar-se uma novidade: a escassez de mão de obra desqualificada, decorrente de mudanças demográficas que diminuíram sua oferta.
Apesar dos claros sintomas de que a resistência do PIB em avançar se deve à insuficiência de oferta, o governo insiste no diagnóstico keynesiano ativando demanda com juros baixos, gastos elevados e cortes de impostos sobre consumo. Diagnóstico errado leva a remédios errados. E o agravante aqui é que esses remédios acabam por prejudicar a eficiência da economia, comprometendo a recuperação do produto que visavam promover. Por exemplo, a fim de impedir que a demanda resvale para maiores importações, estas são restringidas, mas hoje há ampla evidência que esse tipo de política afeta negativamente a produtividade da indústria. A pressão inflacionária é combatida com controle de preço de combustível - que debilita a Petrobras - e redução de preços da energia - que compromete a capacidade de expansão do sistema gerador - e outras medidas ad hoc que afetam o índice de preços, mas não as pressões inflacionárias propriamente.
Ademais, o sistema de metas para a inflação foi debilitado. Em vez de convencer os formadores de preços de que a inflação se situará em torno de 4,5%, o Banco Central se limita a manter a inflação abaixo de 6,5%, contando com os cortes de impostos e controles de preços citados acima.
Nada disso é sustentável no longo prazo, o que deteriora as expectativas de potenciais investidores. A expansão da oferta exigiria mais investimentos que permanecem estagnados devido ao ambiente de negócios adverso. Quando o Estado não tem dinheiro nem capacidade gerencial para implantar os necessários investimentos em infraestrutura, deve transferir a tarefa para o setor privado. Mas tratando-se de empreendimentos com longos prazos de maturação e vida útil, a atração de investidores privados requer ambiente de negócios favorável, sem riscos regulatórios.
Desde a liberalização comercial dos anos 1990, o país vinha passando por reformas estruturais e institucionais que melhoraram muito o ambiente de negócios e os incentivos para se investir no país. O governo petista, durante a gestão do ministro Palocci, promoveu importantes reformas - como a nova lei de falências e a alienação fiduciária para o crédito imobiliário - que, juntamente com um marco regulatório favorável implantado na era FHC, criaram um ambiente propício aos investimentos privados. Ajudado por uma conjuntura externa favorável, colheu-se um período de crescimento vigoroso, com inflação controlada e equilíbrio no balanço em transações correntes.
Mas, a partir da crise do subprime em 2008, a avaliação equivocada de que o capitalismo havia desmoronado levou à ressurreição de antigas ideias intervencionistas, revertendo várias das reformas anteriores, cujo clímax foi a mudança do marco regulatório do petróleo, um setor que vinha funcionando muito bem. Desde então, à secular burocracia, somou-se enorme incerteza no marco regulatório em vários setores, com mudanças nos setores de energia elétrica, extração mineral, portos, para citar apenas alguns.
Tem-se, por um lado, uma aposta continuamente aumentada em políticas de expansão de demanda, o que não é mais o problema atual. Por outro, uma volta a políticas do passado que, não só não deram certo - vide a estagnação da economia dos anos 1980 -, como distorcem a economia e aumentam a incerteza. Não é surpresa que o investimento não se recupere, que o apoio público através de financiamentos subsidiados tenha se tornado quase uma condição necessária para projetos de longo prazo, e que as perspectivas de crescimento, mesmo nas previsões mais otimistas, sejam medíocres.
Riscos na desoneração da folha - CRISTIANO ROMERO
Valor Econômico - 17/04
A desoneração da folha de pessoal promovida pelo governo para reduzir custos de contratação de mão de obra pode produzir efeitos colaterais indesejados. A medida barateia um bem escasso na economia - o trabalho -, quebra a lógica do financiamento previdenciário e pode provocar distorções que limitem o investimento e o aumento da produtividade, justamente os dois objetivos centrais da política oficial.
A troca da contribuição sobre folha por um tributo sobre faturamento das empresas não é uma invenção do PT. Na verdade, vinha sendo debatida há bastante tempo, sempre enfrentou resistência do movimento sindical e acabou sendo adotada seletivamente pela gestão Dilma Rousseff, que desonerou 42 setores e incluirá mais 14 no próximo ano.
O economista Edward Amadeo, ex-ministro do Trabalho e hoje sócio da Gávea Investimentos, tem sérias restrições à medida. Suas advertências, de tão graves, deveriam ser debatidas, especialmente no Congresso, a quem cabe dar a última palavra sobre desonerações.
O fim da contribuição sobre folha rompe com a lógica clássica do financiamento de aposentadorias. Por esse princípio, a contribuição para a seguridade social deve incidir sobre folha porque cabe aos trabalhadores financiar suas aposentadorias.
"O principal vínculo entre a renda do trabalho e as aposentadorias advém do fato de essas serem calculadas com base nos salários ao longo da vida e na expectativa de vida. A população brasileira envelhecerá e a expectativa de vida aumentará. O lógico é que o financiamento desses gastos adicionais tenha como parâmetros a alíquota da contribuição sobre o salário, a idade de aposentadoria e a relação entre aposentadoria e salário", argumenta Amadeo.
Ocorre que, ao transferir o financiamento da seguridade para o faturamento das empresas, ficou mais difícil justificar, por exemplo, o aumento da idade mínima para aposentadoria ou da alíquota de contribuição. Sendo a previdência apenas mais um item do orçamento da União, suas demandas entrarão em conflito com outras rubricas, como educação e saúde. "É muito mais fácil, técnica e politicamente, proteger os demais gastos se houver um claro vínculo entre folha salarial e gastos da previdência", sustenta o economista.
"Devido à desoneração, dá-se um retrocesso nas instituições fiscais ao se tornar menos nítida a separação entre seguridade social e orçamento da União", acrescenta Amadeo.
O governo argumenta que o objetivo da desoneração de folha é reduzir custo de produção para aumentar a competitividade das empresas. O que realmente eleva a competitividade é a renúncia fiscal, isto é, a diminuição da carga tributária. Isso independe da base de incidência dos impostos. "Não precisava desonerar a folha. Bastava reduzir a alíquota de contribuição", diz o ex-ministro.
Para Amadeo, o governo confunde desoneração com subsídio. O efeito do subsídio é a redução do custo tributário. Já o efeito da mudança da base de incidência - de folha para faturamento - é a alteração dos incentivos das empresas para investir em diferentes tecnologias e setores.
"O efeito sobre o emprego, sim, depende da base de incidência da contribuição. Isso porque agora não só a renda do trabalho, mas os demais serviços empregados pela empresa passam a arcar com o imposto. Essa mudança equivale a tornar a contratação de trabalhadores mais barata que outros serviços, como aqueles de um equipamento. Evidentemente, ao reduzir a razão entre equipamentos e trabalhadores, a medida diminui a produtividade do trabalho", adverte ele.
O Brasil vive período de pleno emprego. Isso tem pressionado os salários e, portanto, os custos do trabalho. O governo, na visão de Amadeo, adotou medida que é o inverso do recomendado agora. "As restrições ao crescimento da renda são a falta de investimentos e a baixa produtividade do trabalho."
Amadeo também acredita que a desoneração distorce os incentivos das empresas quanto ao uso de tecnologias, "com impacto negativo sobre a adoção das mais modernas, usualmente embutidas nos novos equipamentos". Isso ocorre porque a tendência é que a companhia que empregue mais mão de obra seja mais lucrativa que aquela que invista em tecnologia (equipamentos e software).
A escolha de setores provoca distorções. Por exemplo: o transporte rodoviário foi desonerado, mas o de serviços hospitalares, não. É evidente que o governo fez isso para tentar conter aumentos de tarifa de ônibus nas principais capitais, um item relevante da inflação. A questão é: dadas as carências da população brasileira, é melhor que haja mais investimento em saúde ou em transporte?
Outro exemplo: segundo informou o Valor (08/04/2013), o setor metroferroviário terá redução de 78% na contribuição para a previdência, enquanto o ferroviário de carga, apenas 8,8%. Conclui-se que o primeiro ficou bem mais atraente que o segundo. Era essa a ideia? Ademais, a discricionariedade das autoridades fez com que o espaço para lobby dos insatisfeitos em Brasília crescesse de forma exponencial.
A desoneração distorce igualmente os incentivos das companhias em relação aos setores onde investir. Isso diminui a importância de outras políticas públicas, as vantagens acumuladas pelas empresas ao longo do tempo e as preferências individuais e sociais.
Amadeo chama a atenção, ainda, para o risco de o governo ter criado mais uma fonte de déficits fiscais, uma vez que os subsídios passam a ser percebidos como permanentes. Além disso, do ponto de vista técnico, não há justificativa que explique a contemplação de um setor em detrimento de outro. "É impossível ver alguma vantagem nesse programa de desoneração da folha", afirma o economista.
A desoneração da folha de pessoal promovida pelo governo para reduzir custos de contratação de mão de obra pode produzir efeitos colaterais indesejados. A medida barateia um bem escasso na economia - o trabalho -, quebra a lógica do financiamento previdenciário e pode provocar distorções que limitem o investimento e o aumento da produtividade, justamente os dois objetivos centrais da política oficial.
A troca da contribuição sobre folha por um tributo sobre faturamento das empresas não é uma invenção do PT. Na verdade, vinha sendo debatida há bastante tempo, sempre enfrentou resistência do movimento sindical e acabou sendo adotada seletivamente pela gestão Dilma Rousseff, que desonerou 42 setores e incluirá mais 14 no próximo ano.
O economista Edward Amadeo, ex-ministro do Trabalho e hoje sócio da Gávea Investimentos, tem sérias restrições à medida. Suas advertências, de tão graves, deveriam ser debatidas, especialmente no Congresso, a quem cabe dar a última palavra sobre desonerações.
O fim da contribuição sobre folha rompe com a lógica clássica do financiamento de aposentadorias. Por esse princípio, a contribuição para a seguridade social deve incidir sobre folha porque cabe aos trabalhadores financiar suas aposentadorias.
"O principal vínculo entre a renda do trabalho e as aposentadorias advém do fato de essas serem calculadas com base nos salários ao longo da vida e na expectativa de vida. A população brasileira envelhecerá e a expectativa de vida aumentará. O lógico é que o financiamento desses gastos adicionais tenha como parâmetros a alíquota da contribuição sobre o salário, a idade de aposentadoria e a relação entre aposentadoria e salário", argumenta Amadeo.
Ocorre que, ao transferir o financiamento da seguridade para o faturamento das empresas, ficou mais difícil justificar, por exemplo, o aumento da idade mínima para aposentadoria ou da alíquota de contribuição. Sendo a previdência apenas mais um item do orçamento da União, suas demandas entrarão em conflito com outras rubricas, como educação e saúde. "É muito mais fácil, técnica e politicamente, proteger os demais gastos se houver um claro vínculo entre folha salarial e gastos da previdência", sustenta o economista.
"Devido à desoneração, dá-se um retrocesso nas instituições fiscais ao se tornar menos nítida a separação entre seguridade social e orçamento da União", acrescenta Amadeo.
O governo argumenta que o objetivo da desoneração de folha é reduzir custo de produção para aumentar a competitividade das empresas. O que realmente eleva a competitividade é a renúncia fiscal, isto é, a diminuição da carga tributária. Isso independe da base de incidência dos impostos. "Não precisava desonerar a folha. Bastava reduzir a alíquota de contribuição", diz o ex-ministro.
Para Amadeo, o governo confunde desoneração com subsídio. O efeito do subsídio é a redução do custo tributário. Já o efeito da mudança da base de incidência - de folha para faturamento - é a alteração dos incentivos das empresas para investir em diferentes tecnologias e setores.
"O efeito sobre o emprego, sim, depende da base de incidência da contribuição. Isso porque agora não só a renda do trabalho, mas os demais serviços empregados pela empresa passam a arcar com o imposto. Essa mudança equivale a tornar a contratação de trabalhadores mais barata que outros serviços, como aqueles de um equipamento. Evidentemente, ao reduzir a razão entre equipamentos e trabalhadores, a medida diminui a produtividade do trabalho", adverte ele.
O Brasil vive período de pleno emprego. Isso tem pressionado os salários e, portanto, os custos do trabalho. O governo, na visão de Amadeo, adotou medida que é o inverso do recomendado agora. "As restrições ao crescimento da renda são a falta de investimentos e a baixa produtividade do trabalho."
Amadeo também acredita que a desoneração distorce os incentivos das empresas quanto ao uso de tecnologias, "com impacto negativo sobre a adoção das mais modernas, usualmente embutidas nos novos equipamentos". Isso ocorre porque a tendência é que a companhia que empregue mais mão de obra seja mais lucrativa que aquela que invista em tecnologia (equipamentos e software).
A escolha de setores provoca distorções. Por exemplo: o transporte rodoviário foi desonerado, mas o de serviços hospitalares, não. É evidente que o governo fez isso para tentar conter aumentos de tarifa de ônibus nas principais capitais, um item relevante da inflação. A questão é: dadas as carências da população brasileira, é melhor que haja mais investimento em saúde ou em transporte?
Outro exemplo: segundo informou o Valor (08/04/2013), o setor metroferroviário terá redução de 78% na contribuição para a previdência, enquanto o ferroviário de carga, apenas 8,8%. Conclui-se que o primeiro ficou bem mais atraente que o segundo. Era essa a ideia? Ademais, a discricionariedade das autoridades fez com que o espaço para lobby dos insatisfeitos em Brasília crescesse de forma exponencial.
A desoneração distorce igualmente os incentivos das companhias em relação aos setores onde investir. Isso diminui a importância de outras políticas públicas, as vantagens acumuladas pelas empresas ao longo do tempo e as preferências individuais e sociais.
Amadeo chama a atenção, ainda, para o risco de o governo ter criado mais uma fonte de déficits fiscais, uma vez que os subsídios passam a ser percebidos como permanentes. Além disso, do ponto de vista técnico, não há justificativa que explique a contemplação de um setor em detrimento de outro. "É impossível ver alguma vantagem nesse programa de desoneração da folha", afirma o economista.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 17/04
Empresa desonerada pode ter dupla cobrança
Além de desagradar a alguns segmentos da economia, a desoneração da folha de pagamentos estabelecida pelo governo federal gera reclamação também pelo risco trabalhista que pode causar.
Para parte dos 56 setores que entraram na lista, a nova regra, que é compulsória, onerou muitas empresas com pouca mão de obra, em vez de beneficiá-las.
O objetivo era ter uma economia fiscal com a troca da contribuição previdenciária por uma alíquota de um percentual sobre o faturamento, que varia conforme o setor.
O governo não pensou que em caso de processos trabalhistas poderá ocorrer a duplicidade de cobrança, de acordo com advogados.
Pela regra anterior, um processo que concedesse verbas, como bônus ou horas extras, a um ex-empregado, gerava a obrigação da empresa de recolher ao INSS a contribuição previdenciária patronal de 20%.
Com o novo modelo, haverá casos em que o empresário já terá recolhido as contribuições sobre o faturamento da empresa, e não deverá arcar com os 20% sobre o valor da condenação judicial.
"Cobrar esse percentual, que o empresário já recolheu sobre o faturamento, representa cobrança em duplicidade", afirma Eduardo Soto, sócio do Veirano Advogados.
"O mais ágil seria a Receita Federal editar uma regra que possa resolver a questão", diz Luiz Roberto Peroba, sócio do Pinheiro Neto. "Por jurisprudência, será um caminho mais longo e caro."
PONTUALIDADE NÁUTICA
"Falta uma outra boa localização, mas pensamos em ir para o Rio de Janeiro também", diz Angelo Bonati, o CEO da Panerai, do grupo Richmond.
A grife italiana de alta relojoaria que produz na Suíça, abriu sua primeira loja própria em junho passado em São Paulo e já busca um bom ponto carioca.
Quanto à disputa no Brasil pelos mesmos (e poucos) consumidores de alto luxo, Bonati, que não informa números por estar em período de silêncio, afirma encará-la com tranquilidade. "É assim no mundo todo", diz.
"Aqui temos preços apenas cerca de 15% superiores aos dos Estados Unidos e da Europa."
A grife vende relógios a partir de R$ 15 mil.
Fundação
No ano de 1860, em Florença
Até 1992
a Panerai era fornecedora de instrumentos de precisão para a Marinha da Itália
Em 1993
a empresa passou a vender relógios para consumidores
Na Suíça
são feitas as peças e o design é italiano
MAQUIAGEM NO 'ASTRO DO ROCK'
A Mary Kay, uma das maiores empresas de vendas diretas de cosméticos do mundo, planeja ter uma fábrica no Brasil em cerca de dois anos.
O plano se justifica pelo crescimento de 60% da companhia no país em 2012.
Fora dos Estados Unidos, o Brasil já é o quarto maior mercado em vendas, atrás de Rússia, México e China.
"O Brasil é o nosso grande astro do rock'", brinca Sheryl Adkins-Green, diretora global de marketing da empresa. "Esperamos crescer outros 50% ou 60% também neste ano", acrescenta.
Uma parcela dos produtos vendidos no país é feita por parceiros locais, mas a maior parte vem de Dallas, nos Estados Unidos.
A expansão no mercado brasileiro não estimula a empresa a mudar a sua fórmula de negócios e abrir lojas, segundo Adkins-Green.
A executiva veio ao Brasil para o lançamento de uma linha de produtos para a pele da marca, que completa 50 anos de atuação no mundo e 15 no país.
Com uma estrutura de consultoras mais complexa do que a de concorrentes nacionais, em que ao crescer na carreira a vendedora pode virar uma "líder" de outras recrutadas, o aumento das vendas ainda se dá mais pelo "boca a boca".
"A maior parte das nossas vendas continua a ocorrer em encontros entre as consultoras e suas amigas, familiares e conhecidas. Em festinhas e aulas de maquiagem, elas unem o social aos cuidados pessoais", diz Adkins-Green.
US$ 3 bilhões
foi o faturamento em 2011
2,4 milhões
de consultoras no mundo
35
são os países onde atua
Bancos gastam mais de R$ 20 bi em serviços eletrônicos
Os investimentos tecnológicos do setor bancário no Brasil já estão próximos dos de países desenvolvidos como a França e a Alemanha, segundo um levantamento feito pela Febraban, que será divulgado hoje.
Em 2012, os desembolsos em tecnologia para melhorar os serviços eletrônicos ultrapassaram os R$ 20 bilhões.
"A quantidade de transações feitas através da internet e do celular foi maior que as realizadas em agências e pelo telefone no ano passado", diz Luis Antônio Rodrigues, diretor da comissão de tecnologia bancária da Febraban.
O internet banking já representa 39% das transações, conforme a pesquisa. Pelo celular, as movimentações significam 2,3% do total.
"As instituições financeiras aplicam cerca de 20% a mais, anualmente, em novos softwares que melhorem os serviços e garantam maior segurança aos clientes", afirma Rodrigues.
Escola... A Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) já formou 50 mil empresários desde 2003. Os cursos abordam "webmarketing", pagamento seguro e como montar uma loja virtual.
...de comércio Neste ano, já são 1.657 empreendedores formados nas cidades de São Paulo, Campinas (SP), Campo Grande (MS) e Poços de Caldas (MG).
Na gôndola A Apas 2013 (feira do setor de supermercados) terá 70 empresários internacionais trazidos ao Brasil por entidades setoriais. Eles vão negociar com 21 empresas, além de 550 expositores.
Analgésico De cada R$ 1 investido contra a gripe, uma empresa tem retorno de R$ 3,50, segundo dados da Brasken. A companhia já imunizou 4.400 funcionários.
Empresa desonerada pode ter dupla cobrança
Além de desagradar a alguns segmentos da economia, a desoneração da folha de pagamentos estabelecida pelo governo federal gera reclamação também pelo risco trabalhista que pode causar.
Para parte dos 56 setores que entraram na lista, a nova regra, que é compulsória, onerou muitas empresas com pouca mão de obra, em vez de beneficiá-las.
O objetivo era ter uma economia fiscal com a troca da contribuição previdenciária por uma alíquota de um percentual sobre o faturamento, que varia conforme o setor.
O governo não pensou que em caso de processos trabalhistas poderá ocorrer a duplicidade de cobrança, de acordo com advogados.
Pela regra anterior, um processo que concedesse verbas, como bônus ou horas extras, a um ex-empregado, gerava a obrigação da empresa de recolher ao INSS a contribuição previdenciária patronal de 20%.
Com o novo modelo, haverá casos em que o empresário já terá recolhido as contribuições sobre o faturamento da empresa, e não deverá arcar com os 20% sobre o valor da condenação judicial.
"Cobrar esse percentual, que o empresário já recolheu sobre o faturamento, representa cobrança em duplicidade", afirma Eduardo Soto, sócio do Veirano Advogados.
"O mais ágil seria a Receita Federal editar uma regra que possa resolver a questão", diz Luiz Roberto Peroba, sócio do Pinheiro Neto. "Por jurisprudência, será um caminho mais longo e caro."
PONTUALIDADE NÁUTICA
"Falta uma outra boa localização, mas pensamos em ir para o Rio de Janeiro também", diz Angelo Bonati, o CEO da Panerai, do grupo Richmond.
A grife italiana de alta relojoaria que produz na Suíça, abriu sua primeira loja própria em junho passado em São Paulo e já busca um bom ponto carioca.
Quanto à disputa no Brasil pelos mesmos (e poucos) consumidores de alto luxo, Bonati, que não informa números por estar em período de silêncio, afirma encará-la com tranquilidade. "É assim no mundo todo", diz.
"Aqui temos preços apenas cerca de 15% superiores aos dos Estados Unidos e da Europa."
A grife vende relógios a partir de R$ 15 mil.
Fundação
No ano de 1860, em Florença
Até 1992
a Panerai era fornecedora de instrumentos de precisão para a Marinha da Itália
Em 1993
a empresa passou a vender relógios para consumidores
Na Suíça
são feitas as peças e o design é italiano
MAQUIAGEM NO 'ASTRO DO ROCK'
A Mary Kay, uma das maiores empresas de vendas diretas de cosméticos do mundo, planeja ter uma fábrica no Brasil em cerca de dois anos.
O plano se justifica pelo crescimento de 60% da companhia no país em 2012.
Fora dos Estados Unidos, o Brasil já é o quarto maior mercado em vendas, atrás de Rússia, México e China.
"O Brasil é o nosso grande astro do rock'", brinca Sheryl Adkins-Green, diretora global de marketing da empresa. "Esperamos crescer outros 50% ou 60% também neste ano", acrescenta.
Uma parcela dos produtos vendidos no país é feita por parceiros locais, mas a maior parte vem de Dallas, nos Estados Unidos.
A expansão no mercado brasileiro não estimula a empresa a mudar a sua fórmula de negócios e abrir lojas, segundo Adkins-Green.
A executiva veio ao Brasil para o lançamento de uma linha de produtos para a pele da marca, que completa 50 anos de atuação no mundo e 15 no país.
Com uma estrutura de consultoras mais complexa do que a de concorrentes nacionais, em que ao crescer na carreira a vendedora pode virar uma "líder" de outras recrutadas, o aumento das vendas ainda se dá mais pelo "boca a boca".
"A maior parte das nossas vendas continua a ocorrer em encontros entre as consultoras e suas amigas, familiares e conhecidas. Em festinhas e aulas de maquiagem, elas unem o social aos cuidados pessoais", diz Adkins-Green.
US$ 3 bilhões
foi o faturamento em 2011
2,4 milhões
de consultoras no mundo
35
são os países onde atua
Bancos gastam mais de R$ 20 bi em serviços eletrônicos
Os investimentos tecnológicos do setor bancário no Brasil já estão próximos dos de países desenvolvidos como a França e a Alemanha, segundo um levantamento feito pela Febraban, que será divulgado hoje.
Em 2012, os desembolsos em tecnologia para melhorar os serviços eletrônicos ultrapassaram os R$ 20 bilhões.
"A quantidade de transações feitas através da internet e do celular foi maior que as realizadas em agências e pelo telefone no ano passado", diz Luis Antônio Rodrigues, diretor da comissão de tecnologia bancária da Febraban.
O internet banking já representa 39% das transações, conforme a pesquisa. Pelo celular, as movimentações significam 2,3% do total.
"As instituições financeiras aplicam cerca de 20% a mais, anualmente, em novos softwares que melhorem os serviços e garantam maior segurança aos clientes", afirma Rodrigues.
Escola... A Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) já formou 50 mil empresários desde 2003. Os cursos abordam "webmarketing", pagamento seguro e como montar uma loja virtual.
...de comércio Neste ano, já são 1.657 empreendedores formados nas cidades de São Paulo, Campinas (SP), Campo Grande (MS) e Poços de Caldas (MG).
Na gôndola A Apas 2013 (feira do setor de supermercados) terá 70 empresários internacionais trazidos ao Brasil por entidades setoriais. Eles vão negociar com 21 empresas, além de 550 expositores.
Analgésico De cada R$ 1 investido contra a gripe, uma empresa tem retorno de R$ 3,50, segundo dados da Brasken. A companhia já imunizou 4.400 funcionários.
FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA
O GLOBO - 17/04
PROMINP VAI ESTIMULAR ARRANJOS PRODUTIVOS
Programa para fornecedores de óleo e gás vai privilegiar entorno de projetos da Petrobras em 5 estados, Rio entre eles
Petrobras e Ministério do Desenvolvimento (Mdic) preparam uma nova etapa para o Prominp, programa federal de ampliação da cadeia de fornecedores do setor de petróleo e gás. A ideia, agora, é desenvolver arranjos produtivos locais no entorno dos grandes projetos da estatal. De cara, cinco estados brasileiros foram selecionados: Pernambuco, por causa do complexo de Suape (porto, refinaria e estaleiro); Bahia, com o Estaleiro Enseada do Paraguaçu; Minas Gerais, com o polo metalomecânico de Ipatinga; Rio de Janeiro, com o Comperj; e Rio Grande do Sul, com o estaleiro Ecovix. A meta é ter, até o fim de 2014, pelo menos seis fornecedores-âncoras em cada região. "Uma base de fornecedores no entorno dos conglomerados industriais da Petrobras vai atrair outras empresas e serviços. Alimentação e hotelaria, por exemplo", explica Paulo Afonso dos Santos, coordenador-executivo do Prominp e assessor da presidência da Petrobras para conteúdo local. Os técnicos do programa já fizeram reuniões com empresas e autoridades de três estados. Faltam Rio e Minas. O planejamento está pronto, diz Paulo Afonso. "A fase atual é de elaboração do orçamento", avisa.
Nota alta
A Standard & Poor’s, agência de risco, deu nota “brAA” à Cedae. É o 1º ratingda companhia de água e esgoto do Estado do Rio, conta o presidente Wagner Victer.
A empresa foi classificada como grau de investimento. Ou seja, tem alta capacidade de honrar suas dívidas.
Profissional
Joaquim Barbosa, presidente do STF, quer buscar no mercado os gestores do Funpresp-Jud. O ministro lançou a ideia ontem, em reunião com presidentes de tribunais superiores. O conselho do fundo dos servidores do Judiciário será orientado a contratar uma agência de head hunter.
A caminho
Terá 323 integrantes a delegação brasileira do Departamento de Comércio dos EUA à OTC 2013, feira de óleo e gás, mês que vem, no Texas. O número é recorde, diz o Consulado do Rio. Ano passado, 230 embarcaram.
Inflação
O custo da construção civil no Rio disparou em março. Houve alta de 5,67%, diz o Sinduscon Rio. Foi efeito do acordo coletivo, que corrigiu os salários do setor em 9%. E dos 25 insumos pesquisados, 16 subiram de preço.
Carnaval
A Abrinq vai apoiar a União da Ilha no carnaval 2014. Faz o anúncio semana que vem, no encontro da indústria de brinquedos, tema da escola.
DE CARA NOVA
Monica Rosenzweig, designer de acessórios, lança amanhã a campanha da coleção de inverno. Será veiculada na web. A modelo Tays Casanova posou para a fotógrafa Gilza Velloso. Em maio, a marca vai repaginar o ateliê em Ipanema. E assinará linha de luxo da grife Melon. Vai investir R$ 250 mil. Prevê duplicar as vendas.
Cabo Frio
As redes Leader, Riachuelo, Checklist e Bagaggio chegarão a Cabo Frio com a abertura do Park Lagos, em fase final de construção. O shopping também terá unidade da C&C, com 4.500 m2. A Shopinvest já negociou 90% da área locável, de 27 mil m2. É investimento de R$ 180 milhões.
Distribuição
A alemã Merck, indústria química e farmacêutica, abre centro de distribuição em Jacarepaguá, amanhã. Investiu R$ 21 milhões no galpão de 5.762 m2. Vai aumentar em 60% a capacidade de armazenagem. A fábrica brasileira passará a exportar para América Latina.
SEGUNDA VIAGEM
A Leader estreia hoje a campanha de Dia das Mães na TV. Grávida do segundo filho, a atriz Juliana Paes estrela o comercial, que a Artplan criou, e a Conspiração Filmes produziu. A rede espera alta de 29% nas vendas na temporada. Só no domingo, 12 de maio, a previsão é faturar 36% a mais.
JOIA DE MAE
A joalheria Lisht lança, amanhã, a campanha para o Dia das Mães. Uma das novidades é a linha Fingerprints, inspirada em
impressões digitais, com pulseira e anéis em ouro e brilhantes. As vendas para a data representam 13% do faturamento anual da marca. A expectativa é vender 15% a mais do que em 2012. Com fotos de Marcos Vianna, a campanha estará em impressos e outdoors.
20 mil FORNECEDORES
Em dez anos, a cadeia de fornecedores nos cadastros locais de unidades da Petrobras saiu de 12 mil para 20 mil. Uma das metas do Prominp foi descentralizar base de suprimentos do país.
CORRIDA MALUCA
A Peugeot põe na rua hoje a campanha de lançamento do Peugeot 208. Personagens do desenho animado “Corrida malucá estarão no filme para TV e internet; e nos anúncios para revistas ejornais. A Y&R assina. O carro é produzido na fábrica de Porto Real, no Estado do Rio.
Perfume
A Jequiti Cosméticos vai vender, com exclusividade, no Brasil a linha de perfumes Playboy Vip. Investiu R$ 10 milhões. As colônias chegam ao mercado em 12 de junho.
De pé
A Schutz, de calçados e acessórios, chega a Niterói (RJ) em maio. Investimento de R$ 1 milhão, será a 51ª unidade da rede no país.
A filial, em Icaraí, seguirá o novo padrão visual da marca. Terá parede com nove telas de 40” para exibir vídeos e campanhas.
Desconto
O site Discount 102 fechou parceria com a Mastercard. Vai ofertar cartões de débito com carga mínima de
U$ 9,99. Quer emitir mil plásticos em três meses.
Identidade musical
O Grupo Rádio Ibiza faturou R$ 1,2 milhão no 1º tri deste ano, alta de 43% sobre 2012. A rádio ganhou 48 clientes; o braço de filmes, 15.
Livre Mercado
A vinícola Dal Pizzol lança, em maio, o Gamay Beaujolais. É o primeiro vinho da safra 2013. Prevê vender as seis mil garrafas até o fim do ano.
Chega às lojas no sábado a edição limitada do vinho Qu4tro 2009, da Perini. Serão quatro mil garrafas à venda. Prevê faturar R$ 400 mil.
A Apae-SP realiza, dia 21, o 6° Leilão de Vinhos. Prevê bater arrecadação de 2012, de R$1,244 milhão.
O azeite Andorinha elevou em 65% as vendas no Rio no 1° trimestre de 2013 sobre um ano antes.
A grife Limits abre hoje no Ilha Plaza Shopping. É aporte de R$ 400 mil. Deve vender R$100 mil por mês.
A Lunetterie será revendedora exclusiva dos óculos da americana Tumi no Rio. Comprou 150 peças. Espera faturar 8% mais.
Philippe Bhering, advogado, fala 2ª na Câmara Brasil-Alemanha (SP) sobre marketing de emboscada e os grandes eventos esportivos.
PROMINP VAI ESTIMULAR ARRANJOS PRODUTIVOS
Programa para fornecedores de óleo e gás vai privilegiar entorno de projetos da Petrobras em 5 estados, Rio entre eles
Petrobras e Ministério do Desenvolvimento (Mdic) preparam uma nova etapa para o Prominp, programa federal de ampliação da cadeia de fornecedores do setor de petróleo e gás. A ideia, agora, é desenvolver arranjos produtivos locais no entorno dos grandes projetos da estatal. De cara, cinco estados brasileiros foram selecionados: Pernambuco, por causa do complexo de Suape (porto, refinaria e estaleiro); Bahia, com o Estaleiro Enseada do Paraguaçu; Minas Gerais, com o polo metalomecânico de Ipatinga; Rio de Janeiro, com o Comperj; e Rio Grande do Sul, com o estaleiro Ecovix. A meta é ter, até o fim de 2014, pelo menos seis fornecedores-âncoras em cada região. "Uma base de fornecedores no entorno dos conglomerados industriais da Petrobras vai atrair outras empresas e serviços. Alimentação e hotelaria, por exemplo", explica Paulo Afonso dos Santos, coordenador-executivo do Prominp e assessor da presidência da Petrobras para conteúdo local. Os técnicos do programa já fizeram reuniões com empresas e autoridades de três estados. Faltam Rio e Minas. O planejamento está pronto, diz Paulo Afonso. "A fase atual é de elaboração do orçamento", avisa.
Nota alta
A Standard & Poor’s, agência de risco, deu nota “brAA” à Cedae. É o 1º ratingda companhia de água e esgoto do Estado do Rio, conta o presidente Wagner Victer.
A empresa foi classificada como grau de investimento. Ou seja, tem alta capacidade de honrar suas dívidas.
Profissional
Joaquim Barbosa, presidente do STF, quer buscar no mercado os gestores do Funpresp-Jud. O ministro lançou a ideia ontem, em reunião com presidentes de tribunais superiores. O conselho do fundo dos servidores do Judiciário será orientado a contratar uma agência de head hunter.
A caminho
Terá 323 integrantes a delegação brasileira do Departamento de Comércio dos EUA à OTC 2013, feira de óleo e gás, mês que vem, no Texas. O número é recorde, diz o Consulado do Rio. Ano passado, 230 embarcaram.
Inflação
O custo da construção civil no Rio disparou em março. Houve alta de 5,67%, diz o Sinduscon Rio. Foi efeito do acordo coletivo, que corrigiu os salários do setor em 9%. E dos 25 insumos pesquisados, 16 subiram de preço.
Carnaval
A Abrinq vai apoiar a União da Ilha no carnaval 2014. Faz o anúncio semana que vem, no encontro da indústria de brinquedos, tema da escola.
DE CARA NOVA
Monica Rosenzweig, designer de acessórios, lança amanhã a campanha da coleção de inverno. Será veiculada na web. A modelo Tays Casanova posou para a fotógrafa Gilza Velloso. Em maio, a marca vai repaginar o ateliê em Ipanema. E assinará linha de luxo da grife Melon. Vai investir R$ 250 mil. Prevê duplicar as vendas.
Cabo Frio
As redes Leader, Riachuelo, Checklist e Bagaggio chegarão a Cabo Frio com a abertura do Park Lagos, em fase final de construção. O shopping também terá unidade da C&C, com 4.500 m2. A Shopinvest já negociou 90% da área locável, de 27 mil m2. É investimento de R$ 180 milhões.
Distribuição
A alemã Merck, indústria química e farmacêutica, abre centro de distribuição em Jacarepaguá, amanhã. Investiu R$ 21 milhões no galpão de 5.762 m2. Vai aumentar em 60% a capacidade de armazenagem. A fábrica brasileira passará a exportar para América Latina.
SEGUNDA VIAGEM
A Leader estreia hoje a campanha de Dia das Mães na TV. Grávida do segundo filho, a atriz Juliana Paes estrela o comercial, que a Artplan criou, e a Conspiração Filmes produziu. A rede espera alta de 29% nas vendas na temporada. Só no domingo, 12 de maio, a previsão é faturar 36% a mais.
JOIA DE MAE
A joalheria Lisht lança, amanhã, a campanha para o Dia das Mães. Uma das novidades é a linha Fingerprints, inspirada em
impressões digitais, com pulseira e anéis em ouro e brilhantes. As vendas para a data representam 13% do faturamento anual da marca. A expectativa é vender 15% a mais do que em 2012. Com fotos de Marcos Vianna, a campanha estará em impressos e outdoors.
20 mil FORNECEDORES
Em dez anos, a cadeia de fornecedores nos cadastros locais de unidades da Petrobras saiu de 12 mil para 20 mil. Uma das metas do Prominp foi descentralizar base de suprimentos do país.
CORRIDA MALUCA
A Peugeot põe na rua hoje a campanha de lançamento do Peugeot 208. Personagens do desenho animado “Corrida malucá estarão no filme para TV e internet; e nos anúncios para revistas ejornais. A Y&R assina. O carro é produzido na fábrica de Porto Real, no Estado do Rio.
Perfume
A Jequiti Cosméticos vai vender, com exclusividade, no Brasil a linha de perfumes Playboy Vip. Investiu R$ 10 milhões. As colônias chegam ao mercado em 12 de junho.
De pé
A Schutz, de calçados e acessórios, chega a Niterói (RJ) em maio. Investimento de R$ 1 milhão, será a 51ª unidade da rede no país.
A filial, em Icaraí, seguirá o novo padrão visual da marca. Terá parede com nove telas de 40” para exibir vídeos e campanhas.
Desconto
O site Discount 102 fechou parceria com a Mastercard. Vai ofertar cartões de débito com carga mínima de
U$ 9,99. Quer emitir mil plásticos em três meses.
Identidade musical
O Grupo Rádio Ibiza faturou R$ 1,2 milhão no 1º tri deste ano, alta de 43% sobre 2012. A rádio ganhou 48 clientes; o braço de filmes, 15.
Livre Mercado
A vinícola Dal Pizzol lança, em maio, o Gamay Beaujolais. É o primeiro vinho da safra 2013. Prevê vender as seis mil garrafas até o fim do ano.
Chega às lojas no sábado a edição limitada do vinho Qu4tro 2009, da Perini. Serão quatro mil garrafas à venda. Prevê faturar R$ 400 mil.
A Apae-SP realiza, dia 21, o 6° Leilão de Vinhos. Prevê bater arrecadação de 2012, de R$1,244 milhão.
O azeite Andorinha elevou em 65% as vendas no Rio no 1° trimestre de 2013 sobre um ano antes.
A grife Limits abre hoje no Ilha Plaza Shopping. É aporte de R$ 400 mil. Deve vender R$100 mil por mês.
A Lunetterie será revendedora exclusiva dos óculos da americana Tumi no Rio. Comprou 150 peças. Espera faturar 8% mais.
Philippe Bhering, advogado, fala 2ª na Câmara Brasil-Alemanha (SP) sobre marketing de emboscada e os grandes eventos esportivos.
Bandidos, não me abandonem - ROSÂNGELA BITTAR
Valor Econômico - 17/04
Sumo da expressão "não faça o que eu faço", partidos políticos fortes e fracos, de aluguel a terceiros ou a grupos, orgânicos ou desestruturados, por diferentes razões e objetivos, a maioria camuflada em boas intenções reformistas, se mobilizam para impedir que seja criado o novo partido resultante da fusão entre o PPS e o PMN, o novo partido da rede de Marina Silva, o partido da solidariedade dos sindicalistas, o partido que o ex-governador e ex-prefeito José Serra pode ou não criar ou ao que ele pode aderir, seja lá qual agremiação for necessária para atender ao projeto eleitoral de uma pessoa ou um grupo insatisfeito com a falta de espaço de poder atual.
Mas o status quo não quer mudança. Já conseguiu seu quinhão e prefere evitar que outros consigam o seu, embora não havendo uma reforma política que permita a existência de partidos de verdade, é de se supor que cada um tenha o mesmo direito, o de criar uma legenda pela qual possa fazer suas escolhas, pleitear candidatura e evitar a ditadura partidária dos dirigentes, os donos do negócio. Defende-se a moralidade para esconder o passado imoral. Para alguns, passado muito recente.
Por que Serra tem que se submeter aos desígnios de Aécio Neves ou de José Aníbal, este que desde muitos anos atrás tem as cotoveladas mais esperadas de qualquer ensaio pré-eleitoral do PSDB? Serra pode até se conformar que Aécio já é o candidato tucano da vez, ou que em São Paulo não há mais espaço para si no PSDB mas negar-lhe o direito de ter um partido que acolha a sua vontade, e em nome de quê fazer isso, ainda está para ser um voluntarismo político aceitável. Por que Roberto Freire não pode se armar como quiser para entrar mais forte nas disputas eleitorais? Por que Marina Silva não pode disputar eleições por um partido só seu e de seus fanáticos seguidores uma vez que não se adaptou a nenhum dos existentes pelos quais conquistou mandatos e fez política até agora? Por que Paulo Pereira, de métodos tão pouco ortodoxos, não pode criar seus próprios instrumentos de ação em lugar de se impor aos comandos de outrem?
Para cada uma dessas questões as respostas são múltiplas. Por exemplo, uma que serve a muitas: porque o PT não quer outros concorrentes na reeleição da presidente Dilma Rousseff; ou porque os partidos criados também por um ajuntamento de interesses não querem perder seus adesistas, e portanto parte do tempo de propaganda na televisão e parte do fundo partidário dos que acabam seguindo para outra legenda à procura de espaço eleitoral; ainda, porque há grupos já prevendo um deslocamento do atual poder político e não quer perder o bonde.
Partido que acabou de ser criado e enfrentou disputa na Justiça até para ficar com a sigla, o PSD, cujo dono, Gilberto Kassab, e o chefe da tropa de choque, ex-deputado Saulo Queiroz, estão dando demonstrações diárias e públicas de como a política não é um espetáculo com entrada permitida a menores. Transformaram-se em mascates da venda do produto contrário ao que compraram na bacia das almas. Querem ajudar o PT e o PMDB a manter o tempo de TV e evitar o rachuncho do fundo partidário, impedindo defecções de suas fileiras dos que desejarem seguir outro partido e outras perspectivas de poder. É como se apelassem aos que conseguiram cooptar a não abandoná-los.
Foi no Supremo que Kassab ganhou seu tesouro, agora quer a mudança da lei para que o Supremo feche o cofre. O curioso é que um partido formado por insatisfeitos já tenha autocrítica para constatar que já formou, em tão pouco tempo, um pelotão de insatisfeitos que podem fugir das decisões autocráticas.
Se não há partidos no Brasil, mas candidatos e nomes de destaque na sociedade e na política, que precisam do partido como uma instância burocrática, e a lei assim o prevê, que não haja para todos. Democratizar o casuísmo até que venha uma reforma política e eleitoral e não um outro casuísmo, é preciso.
A quantidade de partidos no Brasil é vergonhosa, mas qual a diferença entre 30 e 50 partidos? A representatividade de ambos os totais é zero.
Até no definido como orgânico PT há políticos também querendo fugir das soluções personalistas, que servem a um senhor, mas não a todos. Lindbergh Farias ameaça sair do PT, como Marina Silva já o fez, porque acredita na sua candidatura e acha que o grupo do Rio já cedeu sua cota à ditadura dos donos da agremiação em outros carnavais.
Ou os partidos existem, ou não existem para todos. Roberto Freire, no comando da fusão PPS com o PMN, o novo partido em formação no momento, não tem ilusões quanto à aprovação do garrote do PT à criação de novas agremiações para impedir que surjam concorrentes à sua candidatura presidencial. Será aprovado o projeto conduzido por Edinho Araújo, proibindo a "portabilidade" do tempo de propaganda na TV e do fundo partidário a quem trocar de legenda. Mas o novo partido, se for criado hoje, está ainda dentro da antigo casuísmo, não do novo.
Tranquiliza os parlamentares quanto ao que não está escrito, a ameaça de perda do mandato com que os proprietários dos partidos existentes querem conter a migração para os novos: "Ninguém vai perder mandato, quem diz isso é que está completamente perdido, o projeto do governo garante o mandato".
Quanto ao mistério adicional que cerca o partido novo, se será ou não o destino de José Serra, é uma obra que permanecerá em cartaz por mais tempo. Como não tem mandato, Serra não tem a premência do prazo para decidir o que fazer de sua filiação partidária.
O ex-ministro Antonio Palocci é figura chave nas reuniões de coordenação da candidatura Dilma Rousseff à reeleição. Reassumiu suas antigas tarefas de ator do núcleo duro do projeto de poder do PT, entre elas explicar a empresários, industriais e banqueiros a política econômica. Fontes do partido informam que ele não tem missão arrecadadora.
O comando da campanha de reeleição encontrou estratégias para a negociação com todos os partidos, com exceção do PTB, sob o comando do denunciante do mensalão, Roberto Jefferson. Dizem que não dá para saber o que ele quer.
Sumo da expressão "não faça o que eu faço", partidos políticos fortes e fracos, de aluguel a terceiros ou a grupos, orgânicos ou desestruturados, por diferentes razões e objetivos, a maioria camuflada em boas intenções reformistas, se mobilizam para impedir que seja criado o novo partido resultante da fusão entre o PPS e o PMN, o novo partido da rede de Marina Silva, o partido da solidariedade dos sindicalistas, o partido que o ex-governador e ex-prefeito José Serra pode ou não criar ou ao que ele pode aderir, seja lá qual agremiação for necessária para atender ao projeto eleitoral de uma pessoa ou um grupo insatisfeito com a falta de espaço de poder atual.
Mas o status quo não quer mudança. Já conseguiu seu quinhão e prefere evitar que outros consigam o seu, embora não havendo uma reforma política que permita a existência de partidos de verdade, é de se supor que cada um tenha o mesmo direito, o de criar uma legenda pela qual possa fazer suas escolhas, pleitear candidatura e evitar a ditadura partidária dos dirigentes, os donos do negócio. Defende-se a moralidade para esconder o passado imoral. Para alguns, passado muito recente.
Por que Serra tem que se submeter aos desígnios de Aécio Neves ou de José Aníbal, este que desde muitos anos atrás tem as cotoveladas mais esperadas de qualquer ensaio pré-eleitoral do PSDB? Serra pode até se conformar que Aécio já é o candidato tucano da vez, ou que em São Paulo não há mais espaço para si no PSDB mas negar-lhe o direito de ter um partido que acolha a sua vontade, e em nome de quê fazer isso, ainda está para ser um voluntarismo político aceitável. Por que Roberto Freire não pode se armar como quiser para entrar mais forte nas disputas eleitorais? Por que Marina Silva não pode disputar eleições por um partido só seu e de seus fanáticos seguidores uma vez que não se adaptou a nenhum dos existentes pelos quais conquistou mandatos e fez política até agora? Por que Paulo Pereira, de métodos tão pouco ortodoxos, não pode criar seus próprios instrumentos de ação em lugar de se impor aos comandos de outrem?
Para cada uma dessas questões as respostas são múltiplas. Por exemplo, uma que serve a muitas: porque o PT não quer outros concorrentes na reeleição da presidente Dilma Rousseff; ou porque os partidos criados também por um ajuntamento de interesses não querem perder seus adesistas, e portanto parte do tempo de propaganda na televisão e parte do fundo partidário dos que acabam seguindo para outra legenda à procura de espaço eleitoral; ainda, porque há grupos já prevendo um deslocamento do atual poder político e não quer perder o bonde.
Partido que acabou de ser criado e enfrentou disputa na Justiça até para ficar com a sigla, o PSD, cujo dono, Gilberto Kassab, e o chefe da tropa de choque, ex-deputado Saulo Queiroz, estão dando demonstrações diárias e públicas de como a política não é um espetáculo com entrada permitida a menores. Transformaram-se em mascates da venda do produto contrário ao que compraram na bacia das almas. Querem ajudar o PT e o PMDB a manter o tempo de TV e evitar o rachuncho do fundo partidário, impedindo defecções de suas fileiras dos que desejarem seguir outro partido e outras perspectivas de poder. É como se apelassem aos que conseguiram cooptar a não abandoná-los.
Foi no Supremo que Kassab ganhou seu tesouro, agora quer a mudança da lei para que o Supremo feche o cofre. O curioso é que um partido formado por insatisfeitos já tenha autocrítica para constatar que já formou, em tão pouco tempo, um pelotão de insatisfeitos que podem fugir das decisões autocráticas.
Se não há partidos no Brasil, mas candidatos e nomes de destaque na sociedade e na política, que precisam do partido como uma instância burocrática, e a lei assim o prevê, que não haja para todos. Democratizar o casuísmo até que venha uma reforma política e eleitoral e não um outro casuísmo, é preciso.
A quantidade de partidos no Brasil é vergonhosa, mas qual a diferença entre 30 e 50 partidos? A representatividade de ambos os totais é zero.
Até no definido como orgânico PT há políticos também querendo fugir das soluções personalistas, que servem a um senhor, mas não a todos. Lindbergh Farias ameaça sair do PT, como Marina Silva já o fez, porque acredita na sua candidatura e acha que o grupo do Rio já cedeu sua cota à ditadura dos donos da agremiação em outros carnavais.
Ou os partidos existem, ou não existem para todos. Roberto Freire, no comando da fusão PPS com o PMN, o novo partido em formação no momento, não tem ilusões quanto à aprovação do garrote do PT à criação de novas agremiações para impedir que surjam concorrentes à sua candidatura presidencial. Será aprovado o projeto conduzido por Edinho Araújo, proibindo a "portabilidade" do tempo de propaganda na TV e do fundo partidário a quem trocar de legenda. Mas o novo partido, se for criado hoje, está ainda dentro da antigo casuísmo, não do novo.
Tranquiliza os parlamentares quanto ao que não está escrito, a ameaça de perda do mandato com que os proprietários dos partidos existentes querem conter a migração para os novos: "Ninguém vai perder mandato, quem diz isso é que está completamente perdido, o projeto do governo garante o mandato".
Quanto ao mistério adicional que cerca o partido novo, se será ou não o destino de José Serra, é uma obra que permanecerá em cartaz por mais tempo. Como não tem mandato, Serra não tem a premência do prazo para decidir o que fazer de sua filiação partidária.
O ex-ministro Antonio Palocci é figura chave nas reuniões de coordenação da candidatura Dilma Rousseff à reeleição. Reassumiu suas antigas tarefas de ator do núcleo duro do projeto de poder do PT, entre elas explicar a empresários, industriais e banqueiros a política econômica. Fontes do partido informam que ele não tem missão arrecadadora.
O comando da campanha de reeleição encontrou estratégias para a negociação com todos os partidos, com exceção do PTB, sob o comando do denunciante do mensalão, Roberto Jefferson. Dizem que não dá para saber o que ele quer.
Cadeado nas portas - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 17/04
O PSD, de Gilberto Kassab, dispõe de parecer jurídico segundo o qual deputados que se filiarem ao partido resultante da fusão entre PPS e PMN têm de perder os mandatos. Por essa interpretação, a resolução 22.610 do Tribunal Superior Eleitoral diz que a fusão é causa justa para um filiado deixar uma legenda sem sofrer punição, mas não pode ser janela para inflar partidos. Caso seus liderados paguem para ver, Kassab reivindicará os mandatos de imediato e recorrerá ao STF.
Contramão Enquanto o PSD trabalha para segurar filiados, o PSB de Eduardo Campos, interessado na migração partidária, recorrerá ao STF contra a lei que restringe acesso de novas siglas a tempo de TV e fundo partidário, caso ela seja aprovada.
Jurisprudência A Ação Direta de Inconstitucionalidade está pronta e é lastreada na decisão do próprio Supremo que derrubou a cláusula de barreira, em 2006.
Obstrução Paulinho da Força (PDT-SP), que monta seu Solidariedade, tentou adiar a votação do projeto restritivo em três meses, sem sucesso. Nas consultas jurídicas, ouviu até o ex-ministro do Supremo Nelson Jobim.
Voz Um deputado ironizava ontem a coincidência da presença de Marina Silva na Câmara, para defender a Rede, e a invasão do plenário por índios: "Ela evocou as forças vivas da sociedade''.
Leilão Após almoçar ontem com Irís Rezende e Irís de Araujo, Michel Temer recebe hoje o empresário Júnior Batista. O acionista do grupo J&F deixará o PSB para disputar o governo de Goiás pelo partido do vice-presidente.
Freio Eduardo Cunha (PMDB-RJ) desistiu do relatório paralelo ao do líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), na comissão que discute a MP dos Portos. Se não houver acordo, contudo, haverá chuva de emendas, ameaçam peemedebistas.
Vem comigo 1 Geraldo Alckmin ofereceu ao PR, de Valdemar Costa Neto, a Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano. A pasta abrange ações do governo na região de Mogi das Cruzes, base eleitoral do deputado, condenado no mensalão.
Vem comigo 2 A negociação emperrou porque Costa Neto evitará atrito com o PT enquanto houver chance de reverter, na fase de embargos do julgamento, a pena por corrupção passiva. Se punido só por lavagem de dinheiro, escaparia da prisão.
Efeito... O envolvimento de deputados estaduais na Operação Fratelli, deflagrada pelo Ministério Público, vitaminou na Assembleia paulista o movimento pela aprovação da PEC que limita as investigações de promotores.
... colateral A proposta, de Campos Machado (PTB), delega ao procurador-geral de Justiça apurações de improbidade contra prefeitos e parlamentares. O petebista busca apoio de líderes partidários para pautá-la.
Zaga Hubert Alqueres, ex-secretário de Educação e coordenador da campanha de José Serra em 2012, assumiu a secretaria-geral de administração da Assembleia. Rodrigo Del Nero chefiará a secretaria parlamentar.
Piquete Alegando temer a pressão da "especulação financeira", a CUT aderiu à manifestação que centrais sindicais farão hoje contra possível alta da taxa de juros. O ato começa às 10h na sede paulistana do Banco Central.
Semântica O PT baixou ordem interna: a expressão "regulação da mídia" será substituída por "democratização da mídia". O objetivo é evitar que se relacione a ofensiva petista à censura.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Esses novos partidos são como filhos que nascem pobres e já levam uma herança determinada de quem nunca sequer viram."
DO LÍDER DO PTB NA CÂMARA, JOVAIR ARANTES (GO), apoiando projeto de lei que barra acesso de novas legendas ao tempo de TV e fundo partidário.
contraponto
Seu pedido é uma ordem
Durante reunião em que Fernando Haddad foi eleito presidente do Conselho de Desenvolvimento Metropolitano de SP, ontem, prefeitos reclamavam das cobranças inerentes ao cargo. Luiz Marinho, de São Bernardo, disse:
-O povo cobra do prefeito mesmo quando não é atribuição dele. Há uma cratera na minha rua e sou abordado por vizinhos sempre. Explico que é obra da Sabesp...
Terminada a reunião, o secretário Édson Giriboni (Saneamento) procurou Marinho e avisou:
-A situação na sua rua já está resolvida, fique traquilo. Não dá pra ter buraco no caminho do prefeito...
O PSD, de Gilberto Kassab, dispõe de parecer jurídico segundo o qual deputados que se filiarem ao partido resultante da fusão entre PPS e PMN têm de perder os mandatos. Por essa interpretação, a resolução 22.610 do Tribunal Superior Eleitoral diz que a fusão é causa justa para um filiado deixar uma legenda sem sofrer punição, mas não pode ser janela para inflar partidos. Caso seus liderados paguem para ver, Kassab reivindicará os mandatos de imediato e recorrerá ao STF.
Contramão Enquanto o PSD trabalha para segurar filiados, o PSB de Eduardo Campos, interessado na migração partidária, recorrerá ao STF contra a lei que restringe acesso de novas siglas a tempo de TV e fundo partidário, caso ela seja aprovada.
Jurisprudência A Ação Direta de Inconstitucionalidade está pronta e é lastreada na decisão do próprio Supremo que derrubou a cláusula de barreira, em 2006.
Obstrução Paulinho da Força (PDT-SP), que monta seu Solidariedade, tentou adiar a votação do projeto restritivo em três meses, sem sucesso. Nas consultas jurídicas, ouviu até o ex-ministro do Supremo Nelson Jobim.
Voz Um deputado ironizava ontem a coincidência da presença de Marina Silva na Câmara, para defender a Rede, e a invasão do plenário por índios: "Ela evocou as forças vivas da sociedade''.
Leilão Após almoçar ontem com Irís Rezende e Irís de Araujo, Michel Temer recebe hoje o empresário Júnior Batista. O acionista do grupo J&F deixará o PSB para disputar o governo de Goiás pelo partido do vice-presidente.
Freio Eduardo Cunha (PMDB-RJ) desistiu do relatório paralelo ao do líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), na comissão que discute a MP dos Portos. Se não houver acordo, contudo, haverá chuva de emendas, ameaçam peemedebistas.
Vem comigo 1 Geraldo Alckmin ofereceu ao PR, de Valdemar Costa Neto, a Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano. A pasta abrange ações do governo na região de Mogi das Cruzes, base eleitoral do deputado, condenado no mensalão.
Vem comigo 2 A negociação emperrou porque Costa Neto evitará atrito com o PT enquanto houver chance de reverter, na fase de embargos do julgamento, a pena por corrupção passiva. Se punido só por lavagem de dinheiro, escaparia da prisão.
Efeito... O envolvimento de deputados estaduais na Operação Fratelli, deflagrada pelo Ministério Público, vitaminou na Assembleia paulista o movimento pela aprovação da PEC que limita as investigações de promotores.
... colateral A proposta, de Campos Machado (PTB), delega ao procurador-geral de Justiça apurações de improbidade contra prefeitos e parlamentares. O petebista busca apoio de líderes partidários para pautá-la.
Zaga Hubert Alqueres, ex-secretário de Educação e coordenador da campanha de José Serra em 2012, assumiu a secretaria-geral de administração da Assembleia. Rodrigo Del Nero chefiará a secretaria parlamentar.
Piquete Alegando temer a pressão da "especulação financeira", a CUT aderiu à manifestação que centrais sindicais farão hoje contra possível alta da taxa de juros. O ato começa às 10h na sede paulistana do Banco Central.
Semântica O PT baixou ordem interna: a expressão "regulação da mídia" será substituída por "democratização da mídia". O objetivo é evitar que se relacione a ofensiva petista à censura.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Esses novos partidos são como filhos que nascem pobres e já levam uma herança determinada de quem nunca sequer viram."
DO LÍDER DO PTB NA CÂMARA, JOVAIR ARANTES (GO), apoiando projeto de lei que barra acesso de novas legendas ao tempo de TV e fundo partidário.
contraponto
Seu pedido é uma ordem
Durante reunião em que Fernando Haddad foi eleito presidente do Conselho de Desenvolvimento Metropolitano de SP, ontem, prefeitos reclamavam das cobranças inerentes ao cargo. Luiz Marinho, de São Bernardo, disse:
-O povo cobra do prefeito mesmo quando não é atribuição dele. Há uma cratera na minha rua e sou abordado por vizinhos sempre. Explico que é obra da Sabesp...
Terminada a reunião, o secretário Édson Giriboni (Saneamento) procurou Marinho e avisou:
-A situação na sua rua já está resolvida, fique traquilo. Não dá pra ter buraco no caminho do prefeito...
Mensalão: duas táticas - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 17/04
Um ministro relata que, depois de passar uma temporada defendendo os réus do mensalão, "o Lula anda querendo pouco ruído em relação à Ação Penal 470". A nova tática de Lula está associada à investigação do Ministério Público sobre sua conduta. No caso da presidente Dilma, além da crítica à sua indicação, um líder petista avalia que a agressividade de José Dirceu "tumultua" no momento da escolha de um novo ministro do STF, que ainda terá de ser aprovado no Senado. Quanto ao PT, acreditam seus dirigentes que o acirramento de ânimos não ajuda na conquista do maior objetivo do partido: livrar os réus do crime de formação de quadrilha.Mensalão: duas táticas
Em busca de protagonismo
O governo enviou MP sobre a dívida dos estados à Câmara. O líder do PT, Wellington Dias (PI), fez projeto igual no Senado. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) apresentaram seus relatórios ontem.
Projetos regionais
O governador Cid Gomes (CE) não está só. Candidato ao Senado, o governador Wilson Martins (PI) não fala em público, mas também tem restrições à candidatura presidencial do PSB.
O outro lado da lambança
O PT culpa o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), pela derrota, semana passada, na votação da urgência do projeto que retira dos novos partidos o tempo de TV e o Fundo Partidário. Dizem que ele só deu 30 minutos para votação nominal. O que seria inédito em votações tão importantes. Contam que o fez por ciúme. Pois quem colocou o projeto em pauta para ser votado foi o seu vice, André Vargas (PT-PR).
Henrique Alves rebate a bola
Diante das críticas, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), reage: "Matéria polêmica não poderia entrar sem conhecimento dos líderes. Prova desse erro foi a desarticulação: faltaram 23 deputados do PT e 21 do PMDB."
Zé Dirceu cai em desgraça
A presidente Dilma, o ex-presidente Lula e o PT estão possessos com o ex-ministro José Dirceu. A irritação decorre dos insultos ao ministro Luiz Fux (STF). Os petistas avaliam que eles "criam espírito de corpo" e que "polarizam" no momento em que o partido trabalha pela "distensão", visando superar "o clima de linchamento". Sem falar no fato de que foi a presidente Dilma quem indicou Fux.
Conhecer o eleitor
O candidato do PSB à Presidência, governador Eduardo Campos (PE), recebeu pesquisa qualitativa sistematizada pelo cientista político Antonio Lavareda, que ouviu eleitores de seis estados (SP, MG, RJ, BA, PA e RS). Para fins estratégicos, o PSB queria saber o que os eleitores esperam de um candidato ao Planalto como Eduardo.
Fazer mais. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) anuncia hoje investimento de R$ 388 milhões para construir 278 novas UPAs em 218 cidades.
Em busca de protagonismo
O governo enviou MP sobre a dívida dos estados à Câmara. O líder do PT, Wellington Dias (PI), fez projeto igual no Senado. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) apresentaram seus relatórios ontem.
Projetos regionais
O governador Cid Gomes (CE) não está só. Candidato ao Senado, o governador Wilson Martins (PI) não fala em público, mas também tem restrições à candidatura presidencial do PSB.
O outro lado da lambança
O PT culpa o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), pela derrota, semana passada, na votação da urgência do projeto que retira dos novos partidos o tempo de TV e o Fundo Partidário. Dizem que ele só deu 30 minutos para votação nominal. O que seria inédito em votações tão importantes. Contam que o fez por ciúme. Pois quem colocou o projeto em pauta para ser votado foi o seu vice, André Vargas (PT-PR).
Henrique Alves rebate a bola
Diante das críticas, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), reage: "Matéria polêmica não poderia entrar sem conhecimento dos líderes. Prova desse erro foi a desarticulação: faltaram 23 deputados do PT e 21 do PMDB."
Zé Dirceu cai em desgraça
A presidente Dilma, o ex-presidente Lula e o PT estão possessos com o ex-ministro José Dirceu. A irritação decorre dos insultos ao ministro Luiz Fux (STF). Os petistas avaliam que eles "criam espírito de corpo" e que "polarizam" no momento em que o partido trabalha pela "distensão", visando superar "o clima de linchamento". Sem falar no fato de que foi a presidente Dilma quem indicou Fux.
Conhecer o eleitor
O candidato do PSB à Presidência, governador Eduardo Campos (PE), recebeu pesquisa qualitativa sistematizada pelo cientista político Antonio Lavareda, que ouviu eleitores de seis estados (SP, MG, RJ, BA, PA e RS). Para fins estratégicos, o PSB queria saber o que os eleitores esperam de um candidato ao Planalto como Eduardo.
Fazer mais. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) anuncia hoje investimento de R$ 388 milhões para construir 278 novas UPAs em 218 cidades.
O suicídio - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 17/04
SÃO PAULO - A "Ilustríssima" desta semana trouxe uma interessante entrevista com o psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar um livro sobre a prevenção do suicídio. Não há dúvida de que é preciso tomar medidas para reduzir as mortes autoinfligidas, que, na maioria dos casos, estão associadas a doenças mentais e são uma causa de óbito evitável. Como diz o ditado, "o suicídio é uma solução permanente para um problema temporário".
A crescente medicalização do fenômeno, entretanto, acabou tirando de foco o rico debate filosófico em torno da matéria, que, se não tem lá muita relevância prática, ainda é valioso para a história das ideias.
Na Antiguidade, temos Platão como um ferrenho opositor do suicídio e os estoicos no polo oposto, afirmando que ele sempre é uma opção quando nos vemos impedidos de gozar uma vida pujante.
O cristianismo, mais especificamente santo Agostinho e santo Tomás, porém, faz uma condenação radical da autoquíria, decretando que praticá-la constitui uma ofensa a Deus. Tal posição é majoritária, embora não unânime entre os filósofos mais ou menos até o século 18, quando passa a ser contestada por autores como David Hume e, em seguida, pelos românticos, pelos libertários e por alguns existencialistas.
Mesmo que não se comprem os argumentos pró-suicídio, eles contribuíram para secularizar a questão, diminuindo a carga que pesa contra os que tentam tirar a própria vida, e serviram para revogar medidas legais absurdas que existiam contra eles, como a possibilidade de ser preso e ter os bens confiscados.
É importante seguir com a discussão filosófica, abordando pontos que ainda causam controvérsia, como o direito ao suicídio assistido em caso de doenças incuráveis e até que ponto é legítimo tomar medidas coercitivas para evitar que alguém se mate, mesmo em situações que pareçam menos racionais que a anterior.
SÃO PAULO - A "Ilustríssima" desta semana trouxe uma interessante entrevista com o psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar um livro sobre a prevenção do suicídio. Não há dúvida de que é preciso tomar medidas para reduzir as mortes autoinfligidas, que, na maioria dos casos, estão associadas a doenças mentais e são uma causa de óbito evitável. Como diz o ditado, "o suicídio é uma solução permanente para um problema temporário".
A crescente medicalização do fenômeno, entretanto, acabou tirando de foco o rico debate filosófico em torno da matéria, que, se não tem lá muita relevância prática, ainda é valioso para a história das ideias.
Na Antiguidade, temos Platão como um ferrenho opositor do suicídio e os estoicos no polo oposto, afirmando que ele sempre é uma opção quando nos vemos impedidos de gozar uma vida pujante.
O cristianismo, mais especificamente santo Agostinho e santo Tomás, porém, faz uma condenação radical da autoquíria, decretando que praticá-la constitui uma ofensa a Deus. Tal posição é majoritária, embora não unânime entre os filósofos mais ou menos até o século 18, quando passa a ser contestada por autores como David Hume e, em seguida, pelos românticos, pelos libertários e por alguns existencialistas.
Mesmo que não se comprem os argumentos pró-suicídio, eles contribuíram para secularizar a questão, diminuindo a carga que pesa contra os que tentam tirar a própria vida, e serviram para revogar medidas legais absurdas que existiam contra eles, como a possibilidade de ser preso e ter os bens confiscados.
É importante seguir com a discussão filosófica, abordando pontos que ainda causam controvérsia, como o direito ao suicídio assistido em caso de doenças incuráveis e até que ponto é legítimo tomar medidas coercitivas para evitar que alguém se mate, mesmo em situações que pareçam menos racionais que a anterior.
Como descobri o rádio - ROBERTO DAMATTA
O GLOBO - 17/04
Pertenço ao século do rádio, da revista semanal, do bonde e de uma praia onde o banho de mar era obrigatório. Íamos só de “calção de banho” e não comíamos nada. As “meninas” levavam as “barracas”, que os mais bem apanhados “armavam” vendo de perto o espetáculo gracioso e “casual” de observar como elas despiam as suas “saídas de praia”, revelando corpos impecáveis. A praia parava para ver a chegada de certas moças, como a irmã do Nilton. Ou a mãe do Manuão, especialista — diziam — em freudianamente desvirginar os amigos do filho.
A ponte entre a fantasia do sexo real e a irrealidade do romance ideal que invariavelmente terminava na confissão arrependida era preenchida pelo rádio, no canto de um Tony Bennett quando ele entoava “Stranger in Paradise” (“Estranho no Paraíso”). O paraíso representado pelo corpo desejado, mas ainda desconhecido, de uma mulher — esse outro do qual saímos e ao qual, numa hora encantada, voltamos inventando a nossa masculinidade. Lembro que a belíssima canção era uma versão americanizada das Danças Polovitisianas da ópera “Príncipe Igor”, de Alexandre Bodorin, popularizada num musical da Broadway chamado “Kismet”, que os mais grosseiros chamavam de “quis meter” numa falta de gosto que feria a sensibilidade dos mais cultos e puros de coração.
Tudo era construído pelo rádio e foi pelo rádio lá de casa que testemunhei o poder do drama no choro aberto de mamãe e nas lágrimas contidas de meu pai ao ouvirem religiosamente a novela “O direito de nascer”. Deste mesmo rádio, ouvi o final da Segunda Guerra Mundial, o suicídio de Vargas e aprendi a imaginar campos de futebol e seus jogos maravilhosos pela voz de Oduvaldo Cozzi. Ao lado de suas pilhas chorei quando vencemos a Copa em 1958 e ouvi o programa humorístico “Balança mas não cai”, que os mais velhos censuravam com o eterno “este mundo está perdido”, no que eu, hoje mais velho que eles, reitero que sempre esteve e vai estar.
O rádio era o meio e o mundo brasileiro (falado, ouvido e cantado), a mensagem.
Naquele Brasil de “80% de analfabetos de pai e mãe”, conforme era banal dizer com um certo gosto e, às vezes, superioridade, quem não tinha rádio não estava no mundo.
Jaz aqui na minha frente a caixinha retangular de um velho rádio Sharp de duas bandas e dez transistores que comprei em Marabá no dia 3 de outubro de 1961, quando — em meio ao meu trabalho de campo com os índios Gaviões — alienei-me dos acontecimentos políticos nacionais deflagrados pela renúncia de Jânio Quadros. O comerciante sírio-brasileiro que me vendeu o aparelho disse que o “bichinho pegava tudo”. As estruturas eletrônicas do rádio iam me tirar das tais “estruturas sociais” tocadas a Lévi-Strauss que eu perseguia com tanto ardor.
Voltamos para a aldeia com o rádio. Queríamos notícias, mas os nossos constrangidos anfitriões, pois fomos nós que nos intrometemos autoritariamente em suas vidas, queriam música. E música sertaneja, naquela época representada pelo baião.
Uma noite, quando ouvíamos o noticiário político, o nosso mais dedicado instrutor, Aproronenum — conhecido entre os sertanejos pelo nobre apelido de Zarolho — pediu música. Girei o indicador para satisfazê-lo e em torno do rádio formou-se uma alegre plateia.
Logo descobri que a novidade não era bem a música, mas o fato de ouvir e ver uma caixa cheia falante. Quando a música terminou, um índio que eu mal conhecia, um sujeito mal encarado, demandou exprimindo o desejo do grupo:
— Manda ele cantar de novo!
— Não posso — respondi atônito diante do radiozinho falante, mas surdo diante do meu problema.
— Mas como não pode? Se ele fala, ele ouve! — disse o Gavião, que havia chegado na aldeia durante os dias que estive em Marabá.
Recordando muito mal o que sabia de transmissores, tentei explicar o rádio. Esse rádio que havia permeado a minha vida e que eu descobria não saber sobre como ele funcionava. Vi então que sabia pouco do meu próprio mundo. Eu simplesmente, como Weber denunciou faz tempo no seu “A ciência como vocação”, era moderno. Nada sabia das entranhas dessas entidades mágicas que constituíam o meu mundo.
Pertenço ao século do rádio, da revista semanal, do bonde e de uma praia onde o banho de mar era obrigatório. Íamos só de “calção de banho” e não comíamos nada. As “meninas” levavam as “barracas”, que os mais bem apanhados “armavam” vendo de perto o espetáculo gracioso e “casual” de observar como elas despiam as suas “saídas de praia”, revelando corpos impecáveis. A praia parava para ver a chegada de certas moças, como a irmã do Nilton. Ou a mãe do Manuão, especialista — diziam — em freudianamente desvirginar os amigos do filho.
A ponte entre a fantasia do sexo real e a irrealidade do romance ideal que invariavelmente terminava na confissão arrependida era preenchida pelo rádio, no canto de um Tony Bennett quando ele entoava “Stranger in Paradise” (“Estranho no Paraíso”). O paraíso representado pelo corpo desejado, mas ainda desconhecido, de uma mulher — esse outro do qual saímos e ao qual, numa hora encantada, voltamos inventando a nossa masculinidade. Lembro que a belíssima canção era uma versão americanizada das Danças Polovitisianas da ópera “Príncipe Igor”, de Alexandre Bodorin, popularizada num musical da Broadway chamado “Kismet”, que os mais grosseiros chamavam de “quis meter” numa falta de gosto que feria a sensibilidade dos mais cultos e puros de coração.
Tudo era construído pelo rádio e foi pelo rádio lá de casa que testemunhei o poder do drama no choro aberto de mamãe e nas lágrimas contidas de meu pai ao ouvirem religiosamente a novela “O direito de nascer”. Deste mesmo rádio, ouvi o final da Segunda Guerra Mundial, o suicídio de Vargas e aprendi a imaginar campos de futebol e seus jogos maravilhosos pela voz de Oduvaldo Cozzi. Ao lado de suas pilhas chorei quando vencemos a Copa em 1958 e ouvi o programa humorístico “Balança mas não cai”, que os mais velhos censuravam com o eterno “este mundo está perdido”, no que eu, hoje mais velho que eles, reitero que sempre esteve e vai estar.
O rádio era o meio e o mundo brasileiro (falado, ouvido e cantado), a mensagem.
Naquele Brasil de “80% de analfabetos de pai e mãe”, conforme era banal dizer com um certo gosto e, às vezes, superioridade, quem não tinha rádio não estava no mundo.
Jaz aqui na minha frente a caixinha retangular de um velho rádio Sharp de duas bandas e dez transistores que comprei em Marabá no dia 3 de outubro de 1961, quando — em meio ao meu trabalho de campo com os índios Gaviões — alienei-me dos acontecimentos políticos nacionais deflagrados pela renúncia de Jânio Quadros. O comerciante sírio-brasileiro que me vendeu o aparelho disse que o “bichinho pegava tudo”. As estruturas eletrônicas do rádio iam me tirar das tais “estruturas sociais” tocadas a Lévi-Strauss que eu perseguia com tanto ardor.
Voltamos para a aldeia com o rádio. Queríamos notícias, mas os nossos constrangidos anfitriões, pois fomos nós que nos intrometemos autoritariamente em suas vidas, queriam música. E música sertaneja, naquela época representada pelo baião.
Uma noite, quando ouvíamos o noticiário político, o nosso mais dedicado instrutor, Aproronenum — conhecido entre os sertanejos pelo nobre apelido de Zarolho — pediu música. Girei o indicador para satisfazê-lo e em torno do rádio formou-se uma alegre plateia.
Logo descobri que a novidade não era bem a música, mas o fato de ouvir e ver uma caixa cheia falante. Quando a música terminou, um índio que eu mal conhecia, um sujeito mal encarado, demandou exprimindo o desejo do grupo:
— Manda ele cantar de novo!
— Não posso — respondi atônito diante do radiozinho falante, mas surdo diante do meu problema.
— Mas como não pode? Se ele fala, ele ouve! — disse o Gavião, que havia chegado na aldeia durante os dias que estive em Marabá.
Recordando muito mal o que sabia de transmissores, tentei explicar o rádio. Esse rádio que havia permeado a minha vida e que eu descobria não saber sobre como ele funcionava. Vi então que sabia pouco do meu próprio mundo. Eu simplesmente, como Weber denunciou faz tempo no seu “A ciência como vocação”, era moderno. Nada sabia das entranhas dessas entidades mágicas que constituíam o meu mundo.
Autonomia da escola - MARCO LUCCHESI
O GLOBO - 17/04
Em certa escola pública assistimos a imposições de secretarias despreparadas, movidas pelo fetiche das estatísticas, dos índices trazidos por improvisados pedagogos
Levamos séculos para descobrir que a infância não é uma doença que ataca os seres humanos quando nascem, tão dependentes e incompletos se mostram. A criança não passaria de um adulto imperfeito, para o qual se devem ministrar remédios, que consistem em apressar-lhe o crescimento, mediante atribuição de tarefas e compromissos, que dissolvam a profunda poesia em que se move. Um crime de lesa-humanidade que se prolonga, infelizmente, sob diversas modalidades.
Leio o programa de uma escola que oferece, a meninos e meninas de 6 até 11 anos, aulas de economia e administração. E acrescenta uma gloriosa possibilidade de que se tornem milionários, dentro de vinte anos, ou quem sabe antes, através de “sólido projeto de educação financeira”. Não deixa de ser uma forma de considerar as crianças. Como se fossem um bônus do tesouro, um bom investimento a médio e longo prazo.
Existem, obviamente, propostas mais elaboradas com fins sociais e educativos, que merecem análise e discussão. Mas o problema é outro, no risco de uma escola que se transforma em agência de segunda classe, que já elabora seu projeto filosófico, toda de joelhos para o mercado, sem um programa de cooperação e liberdade, dissolvendo o território frágil da infância. Uma escola que, de modo geral, não propõe um livro de literatura, que não conhece atividades artísticas, além das acessórias para substituir uma eventual falta de aula, com alunos em permanente estado de competição, como se vivessem dentro da bolsa de valores, de olho no índice Bovespa, sem uma sombra de cortesia, sem o fóssil de um gesto solidário. Eis uma escola pronta a atender o projeto de meia-humanidade, em que desabam as dimensões lúdicas e afetivas, sem a urgente e necessária defesa dos sonhos.
Em certa escola pública assistimos a imposições de secretarias despreparadas, movidas pelo fetiche das estatísticas, dos índices trazidos por improvisados pedagogos, que empreendem uma guerra santa contra os “verdadeiros inimigos” da escola, que seriam justamente alunos e professores, que não colaboram no alcance das metas, como se a educação dependesse apenas do milagre da multiplicação dos peixes e dos formulários da burocracia, em detrimento da dignidade dos que trabalham nessa mesma escola, superando ásperos desafios, que os tecnocratas não poderão jamais avaliar, por absoluta incompetência.
Trata-se da defesa de uma escola autônoma, com um projeto amadurecido, robusto, sem favores e concessões, diante de vontades que apressem as crianças para fins não generosos, como se fossem bens flutuantes ou cifras eleitorais, que se pode usar sem grandes problemas.
Precisamos de uma escola de valores democráticos fundamentais, de uma escola corajosa, que ande, quando preciso, na contramão e favoreça o território de uma viva subjetividade.
Em certa escola pública assistimos a imposições de secretarias despreparadas, movidas pelo fetiche das estatísticas, dos índices trazidos por improvisados pedagogos
Levamos séculos para descobrir que a infância não é uma doença que ataca os seres humanos quando nascem, tão dependentes e incompletos se mostram. A criança não passaria de um adulto imperfeito, para o qual se devem ministrar remédios, que consistem em apressar-lhe o crescimento, mediante atribuição de tarefas e compromissos, que dissolvam a profunda poesia em que se move. Um crime de lesa-humanidade que se prolonga, infelizmente, sob diversas modalidades.
Leio o programa de uma escola que oferece, a meninos e meninas de 6 até 11 anos, aulas de economia e administração. E acrescenta uma gloriosa possibilidade de que se tornem milionários, dentro de vinte anos, ou quem sabe antes, através de “sólido projeto de educação financeira”. Não deixa de ser uma forma de considerar as crianças. Como se fossem um bônus do tesouro, um bom investimento a médio e longo prazo.
Existem, obviamente, propostas mais elaboradas com fins sociais e educativos, que merecem análise e discussão. Mas o problema é outro, no risco de uma escola que se transforma em agência de segunda classe, que já elabora seu projeto filosófico, toda de joelhos para o mercado, sem um programa de cooperação e liberdade, dissolvendo o território frágil da infância. Uma escola que, de modo geral, não propõe um livro de literatura, que não conhece atividades artísticas, além das acessórias para substituir uma eventual falta de aula, com alunos em permanente estado de competição, como se vivessem dentro da bolsa de valores, de olho no índice Bovespa, sem uma sombra de cortesia, sem o fóssil de um gesto solidário. Eis uma escola pronta a atender o projeto de meia-humanidade, em que desabam as dimensões lúdicas e afetivas, sem a urgente e necessária defesa dos sonhos.
Em certa escola pública assistimos a imposições de secretarias despreparadas, movidas pelo fetiche das estatísticas, dos índices trazidos por improvisados pedagogos, que empreendem uma guerra santa contra os “verdadeiros inimigos” da escola, que seriam justamente alunos e professores, que não colaboram no alcance das metas, como se a educação dependesse apenas do milagre da multiplicação dos peixes e dos formulários da burocracia, em detrimento da dignidade dos que trabalham nessa mesma escola, superando ásperos desafios, que os tecnocratas não poderão jamais avaliar, por absoluta incompetência.
Trata-se da defesa de uma escola autônoma, com um projeto amadurecido, robusto, sem favores e concessões, diante de vontades que apressem as crianças para fins não generosos, como se fossem bens flutuantes ou cifras eleitorais, que se pode usar sem grandes problemas.
Precisamos de uma escola de valores democráticos fundamentais, de uma escola corajosa, que ande, quando preciso, na contramão e favoreça o território de uma viva subjetividade.
Progresso silencioso - MATIAS SPEKTOR
FOLHA DE SP - 17/04
Longe dos holofotes, Brasil e EUA têm encaminhado pendências em comércio, investimento e tributação
O governo norte-americano começa a preparar um possível encontro entre Dilma e Obama.
Na perspectiva de Washington, isso é bom porque o relacionamento bilateral vem avançando positivamente.
Longe dos holofotes e sem alarde, as duas diplomacias têm encaminhado pendências em temas como comércio, investimento e tributação.
Em silêncio, dissiparam o mal-estar característico dos últimos meses do governo Lula e avançaram em novas áreas: a Casa Branca considerou a postura de Dilma diante da sucessão presidencial venezuelana como "excelente" e não apenas entende, como aprecia, o modo brasileiro de lidar com Cuba. Acha que conversar reservadamente com o Brasil sobre África e Oriente Médio é útil, não mera formalidade.
O avanço mais palpável talvez seja na área de cooperação naval. Almirantes dos Estados Unidos são, na capital americana, os defensores mais influentes da ideia de um Brasil em ascensão.
Nada disso significa que a relação esteja atravessando uma lua de mel. Há fricções de baixa intensidade que não vão desaparecer e sérios problemas de percepção mútua.
A diplomacia americana é tão orgulhosa quanto a brasileira e frustra-se cada vez que, em foros multilaterais ou grandes encontros Sul-Sul, Brasília dialoga ou coopera com Washington em privado, mas a esbofeteia em público.
Idem para o argumento da Esplanada segundo o qual a política monetária americana seria causa de todo mal --proposição sem amparo nas análises econômicas mais sérias.
Mas o avanço é inegável, graças ao trabalho de bastidor das duas diplomacias.
O próximo encontro poderá render excelentes frutos. Como Dilma tem a agonia de quem precisa vencer uma corrida eleitoral, enquanto Obama tem a flexibilidade do último mandato, as condições são boas para o Brasil pedir concessões e levar.
Isso importa porque Obama receberá, neste ano, boa parte dos líderes das chamadas Aliança do Pacífico e da Parceria Transatlântica, as duas iniciativas comerciais mais importantes dos últimos tempos. Juntas, elas pretendem destravar o comércio internacional. Representam, no entanto, um duro golpe contra os pilares da estratégia comercial brasileira, Mercosul e Organização Mundial do Comércio.
Em uma conjuntura na qual há muita coisa em jogo, é crucial que o governo brasileiro monte uma visita presidencial possante.
Possante de verdade.
Imagine Dilma no Congresso dos EUA, onde há inédita boa vontade porque senadores e deputados disputam investimentos brasileiros.
Imagine uma campanha de marketing para promover a marca Brasil antes da viagem, método simples e barato que nunca foi testado.
Imagine uma presidente que encontra representantes dos mais de 2,5 milhões de brasileiros que moram nos Estados Unidos, força que todo mundo ignora.
Imagine o anúncio da política de conteúdo local do pré-sal em coletiva para a imprensa internacional antes da reunião no Salão Oval.
O progresso silencioso dos últimos dois anos criou as condições para avançar. Pé no acelerador.
Longe dos holofotes, Brasil e EUA têm encaminhado pendências em comércio, investimento e tributação
O governo norte-americano começa a preparar um possível encontro entre Dilma e Obama.
Na perspectiva de Washington, isso é bom porque o relacionamento bilateral vem avançando positivamente.
Longe dos holofotes e sem alarde, as duas diplomacias têm encaminhado pendências em temas como comércio, investimento e tributação.
Em silêncio, dissiparam o mal-estar característico dos últimos meses do governo Lula e avançaram em novas áreas: a Casa Branca considerou a postura de Dilma diante da sucessão presidencial venezuelana como "excelente" e não apenas entende, como aprecia, o modo brasileiro de lidar com Cuba. Acha que conversar reservadamente com o Brasil sobre África e Oriente Médio é útil, não mera formalidade.
O avanço mais palpável talvez seja na área de cooperação naval. Almirantes dos Estados Unidos são, na capital americana, os defensores mais influentes da ideia de um Brasil em ascensão.
Nada disso significa que a relação esteja atravessando uma lua de mel. Há fricções de baixa intensidade que não vão desaparecer e sérios problemas de percepção mútua.
A diplomacia americana é tão orgulhosa quanto a brasileira e frustra-se cada vez que, em foros multilaterais ou grandes encontros Sul-Sul, Brasília dialoga ou coopera com Washington em privado, mas a esbofeteia em público.
Idem para o argumento da Esplanada segundo o qual a política monetária americana seria causa de todo mal --proposição sem amparo nas análises econômicas mais sérias.
Mas o avanço é inegável, graças ao trabalho de bastidor das duas diplomacias.
O próximo encontro poderá render excelentes frutos. Como Dilma tem a agonia de quem precisa vencer uma corrida eleitoral, enquanto Obama tem a flexibilidade do último mandato, as condições são boas para o Brasil pedir concessões e levar.
Isso importa porque Obama receberá, neste ano, boa parte dos líderes das chamadas Aliança do Pacífico e da Parceria Transatlântica, as duas iniciativas comerciais mais importantes dos últimos tempos. Juntas, elas pretendem destravar o comércio internacional. Representam, no entanto, um duro golpe contra os pilares da estratégia comercial brasileira, Mercosul e Organização Mundial do Comércio.
Em uma conjuntura na qual há muita coisa em jogo, é crucial que o governo brasileiro monte uma visita presidencial possante.
Possante de verdade.
Imagine Dilma no Congresso dos EUA, onde há inédita boa vontade porque senadores e deputados disputam investimentos brasileiros.
Imagine uma campanha de marketing para promover a marca Brasil antes da viagem, método simples e barato que nunca foi testado.
Imagine uma presidente que encontra representantes dos mais de 2,5 milhões de brasileiros que moram nos Estados Unidos, força que todo mundo ignora.
Imagine o anúncio da política de conteúdo local do pré-sal em coletiva para a imprensa internacional antes da reunião no Salão Oval.
O progresso silencioso dos últimos dois anos criou as condições para avançar. Pé no acelerador.