ZERO HORA 09/01
Semanas atrás, Zero Hora publicou uma matéria sobre um recém-lançado dicionário de palavras mortas, a exemplo de “boco-moco” e “sirigaita”. Em 1997, escrevi uma crônica intitulada Grande África que tratava desse mesmo assunto divertido. Adoro vocabulário vintage, e eu incluiria a expressão “ideia de jerico” entre as que sobreviveram, mesmo cheirando a naftalina. Pelo menos foi ela que me veio à cabeça quando soube que tem alguém tentando promover um projeto de lei popular que decretaria visibilidade zero para cigarros e bebidas, em qualquer mídia, em qualquer lugar – restrição absoluta, tanto visual quanto auditiva. Seria como se bebida e cigarro tivessem deixado de existir.
Ideia de jerico.
Se for uma proposta xiita como parece, revistas de viagens teriam que ter algumas fotos vetadas: não poderiam, por exemplo, mostrar imagens da La Bodeguita del Medio, em Havana, com suas garrafas de rum nas prateleiras. Aliás, os livros de Hemingway, Bukowski e outros beberrões teriam que deixar de ser reeditados ou sofrer censura, pois poderiam ser cúmplices da tal “visibilidade” – a simples menção de uma palavra como uísque poderia estimular o vício do leitor.
Quadros representando a Santa Ceia teriam que ser retirados das igrejas e dos sacrossantos lares, pois é sabido que Jesus não tomava Coca-Cola. Aliás, a missa também teria que se adaptar ao projeto de lei. Repartir o pão, tudo bem, mas vinho, sem chance.
Na hipótese de recebermos uma mostra de quadros impressionistas, o Absinto, de Degas, ficaria proibido de ser exposto. A imagem de Rita Hayworth como Gilda só circularia no mercado negro. O filme Sobre Café e Cigarros, de Jim Jarmusch, e Obrigada por Fumar, de Jason Reitman, seriam retirados das locadoras. A série Mad Man sofreria sanções inimagináveis.
Capas de livros. Camisetas. Cartazes de filmes. Fotos de moda. Textos de teatro. Biografias. Tudo o que fizesse menção ao tabagismo ou ao álcool, fogueira neles. Inquisição, o Retorno.
Sem falar na música popular brasileira. Cálice, de Chico Buarque, Chuva, Suor e Cerveja, de Caetano Veloso, e Brasil, de Cazuza, nunca mais tocariam nas rádios, assim como uma série de canções de Nana Caymmi, Zeca Baleiro, Luiz Gonzaga, Maria Bethânia, Ney Matogrosso – até Roberto Carlos já falou em cigarro em uma de suas letras, acredite. E todas as duplas sertanejas seriam banidas da face da terra. O que, pensando bem... deixa pra lá.
O politicamente correto tem um pé na boa intenção e outro pé na repressão à liberdade. Costumo ser defensora acirrada da ética, mas não contem comigo para dar trela aos excessivamente bonzinhos, que pretendem higienizar o universo com medidas estapafúrdias que, espero, nunca serão levadas a sério. Se começarem a restringir a arte e a livre expressão, zzzzzzzzz, o tédio dominará o mundo e colocará todos para dormir mais cedo.
quarta-feira, janeiro 09, 2013
Troca no ar - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 09/01
Simpatia tucana
Noca da Portela, dez vezes campeão na disputa de samba do Simpatia É Quase Amor, decidiu não compor mais para o bloco de Ipanema. A motivação, entre outros, tem fundo político.
— Quero que sejam felizes, mas estou saindo. Eles têm preconceito contra comunistas. Eu sou comunista. E eles, tucanos.
Homens de ferro
Este Mark Cutifani, que foi anunciado como novo presidente mundial da Anglo American, é amigo de Murilo Ferreira, presidente da Vale.
Os dois trabalharam juntos em 2006 e 2007, quando o brasileiro presidiu a Vale Níquel, no Canadá, e o australiano foi diretor de operações.
Elio na Intrínseca
Os quatro livros do coleguinha Elio Gaspari sobre a ditadura militar deixaram a Companhia das Letras. Serão relançados, em edição revisada e ampliada, pela editora Intrínseca, em 2014. Além de “A ditadura envergonhada”, “A ditadura escancarada”, “A ditadura encurralada” e “A ditadura derrotada”, será publicado um quinto volume para completar a série.
Mulher em Moscou
Regina Maria Cordeiro Dunlop deve assumir a representação brasileira em Moscou.
ALÔ, EDUARDO PAES!
É impressão minha ou a prefeitura anda relapsa com a fiscalização de obras particulares no Rio? Veja o absurdo que aconteceu, ontem à tarde, na Rua Dias Ferreira 50, no Leblon, na obra do novo restaurante Garcia & Rodrigues. Ao passar em frente ao endereço, uma coleguinha, grávida de seis meses, foi, acredite, atingida por uma pedra, e ficou com um galo na cabeça. O “disparo” acidental foi feito por um dos operários da reforma. O alvo era a caçamba estacionada na rua. Francamente. Para completar, o local do “crime” está cheio de falhas: não há alerta aos pedestres e faltam placa com informações da obra e tela de proteção. E os operários, repare só, trabalham sem equipamentos de segurança.
Dumont é santo?
Ana Maria Machado, a querida escritora, reparou que, no voo 1249 da Gol (Vitória-Rio), domingo, a aeromoça anunciou a viagem para o “Aeroporto dos Santos Dumont”, como se fosse São Cosme, São Damião ou outro santo. Um passageiro chamou o comissário, que, gentilmente, explicou que o texto lido é do manual. Foi homologado e aprovado pela Anac, e... deve ser seguido.
Ah, bom!
Questão do gás
A Petrobras garante não ter problema quanto à disponibilidade de gás para o mercado. Diz que a termelétrica Barbosa Lima Sobrinho (ex- Eletrobolt) usa diesel, e não gás, porque o óleo está mais barato.
Não foi bem
O musical “Chaplin” deixou domingo os palcos da Broadway, nos EUA, sem muito sucesso de bilheteria. Aqui, quem comprou os direitos foi Sandro Chaim (de “Xanadu” e “Cabaret”).
Sol e pesca
Lula esticou suas férias em uma semana. Volta segunda. Tem usado o tempo livre para tomar sol e pescar.
Deserto do Saara
Neste calorão de fim do mundo, o Jardim Zoológico do Rio resolveu oferecer aos bichos sorvetes, picolés, sucos e frutas congeladas, para aliviar o calor. Aliás, hoje, o cardápio do Zoo inclui sorvete de carne, que vem a ser... não sei.
Clube e condomínio
A Rádio Cimento dá conta de que o Grajaú Tênis Clube, no Rio, para saldar as dívidas, estuda transformar sua sede num condomínio residencial. O clube não acaba, mas a área de lazer seria comum a sócios e moradores.
Leite quente
A Vigor disse a Cabral que vai instalar um novo centro de distribuição na Região Metropolitana do Rio. Coisa de uns R$ 30 milhões. E o lugar, no futuro, deve abrigar uma fábrica. Aliás, desde 2007, o Rio já atraiu R$ 375 milhões, investidos por empresas deste setor, como Nestlé, Brasil Foods, Bom Gosto/Parmalat e Marília.
Diário de Justiça
O STJ proibiu o restaurante Caçarola de Barro, em Copacabana, de usar este nome. A decisão favorece o restaurante português Caçarola, no Centro. A ação tramitou por 11 anos. Causa ganha pelo escritório Fróes Advogados.
Pensão gorda
Uma liminar do desembargador Pedro Saraiva de Andrade Lemos, da 10ª Câmara Cível do Rio, devolveu à dentista Márcia Maria Machado Brandão Couto, 52 anos, uma das duas pensões que recebia do pai, um magistrado falecido. Coisa de uns R$ 23 mil. Em maio, ela teve os benefícios suspensos, porque teria omitido que era casada e tinha emprego. O advogado Gabriel Mascarenhas Monteiro, que trabalha para cassar as pensões, vai recorrer da decisão.
Faxina de Ano-Novo - NINA HORTA
FOLHA DE SP - 09/01
Nada mais é necessário além de uma panela, uma cuia, uma colher de pau; o resto é gula
Parece que é a faxina que vai construir o ano que se segue. Simplesmente saber onde estão as coisas já é um bom começo.
Começamos pelo aparador. Uns três molhos de pimenta que não emplacaram ou acabaram. Um moedor de sal grosso que não funciona, uns funghi, umas chufas, um caril. Tudo que estava pela metade e velho, fora. E lé com lé, cré com cré. Juntar o que tem parentesco. Temperos brasileiros, temperos indianos, surpresas, vontade de cozinhar.
Acabamos cozinhando, pegamos costelinhas na geladeira e fizemos na crock pot. Crock pot é aquela panela que cozinha sozinha, elétrica, calor mínimo. Você põe tudo lá, sai para trabalhar e quando volta está pronto, sem perigo de queimar. O resultado é o de sempre. Gosto de sopa. A panela vende o sonho da comida que se faz sozinha. Vou desencanar e guardar embaixo da escada.
Dezenas de gavetas e coisas que vão se acumulando o ano inteiro. Tudo imaginável, para quem gosta de tralhas. Muitas facas, abridores, moedor de pimenta, moedor de noz moscada, medidores sem fim, colheres de pau. E colherinhas de café faltando e outras sobrando e porta-guardanapos de prata e de conchas e porta-talheres mexicanos, lindos, de pedras coloridas.
Algumas coisas que não jogamos fora vão sumindo sozinhas, como as panelas e garfos de fondue. Brilhavam novos e úteis, hoje se escondem. Alguém se lembra de uns baldinhos de gelo de cristal que não serviam para nada e tinham duas orelhas? Sumiram também. Outras coisas continuam, que ninguém pode viver sem elas, como um triturador de sementes de papoula, uma maquininha de fazer späetzle e um minidefumador -kkkkkkk, como diriam no Facebook. Restos de Natal, velas pela metade, pinhas, dourados. Pense nos apagões, deixe aí.
Em uma das gavetas apareceu uma coleção de santos antigos de papel, de primeira comunhão, de tudo. Jogar fora nem morta, minha filha diz que vai fazer um quadrinho de vidro. Acho que vai ser um quadro de quilômetros.
A batedeira Sunbeam antiga que me conhecia tão bem, éramos uma só coisa, um dia morreu. Foi substituída por aquela moderna, quase profissional, que toma um espaço enorme na cozinha pequena. Minha vida é temer que os acessórios se percam, e uso a batedeira manual da Viking, forte e poderosa. Mas a Sunbeam está lá esperando o dia da ressurreição dos mortos.
O que faz um ser humano desejar ter manteigueiras de vidro, louça da Clarice Cliff, restos de jogos de jantar, coisas sem fim da feira escandinava? Panelas, panelas de todos os jeitos, facas mil, livros à mancheia... Um nó na capacidade prática de fazer o cálculo de quantos objetos são necessários vida afora.
Muitas vezes, quando demorava um tempo para ir a Paraty, quando chegava na casinha, só uma cama, nada de mesa de cabeceira, nem de lâmpada, nada de TV, ficava desacorçoada, assim não dá, que vida louca! No dia seguinte, a manhã esplendorosa, o cheiro de mato e de mar e adeus reclamações. A realização chegava plena, nada mais é necessário além de uma panela, uma cuia, uma colher de pau, um colchão e um mosquiteiro, o resto é gula.
Nada mais é necessário além de uma panela, uma cuia, uma colher de pau; o resto é gula
Parece que é a faxina que vai construir o ano que se segue. Simplesmente saber onde estão as coisas já é um bom começo.
Começamos pelo aparador. Uns três molhos de pimenta que não emplacaram ou acabaram. Um moedor de sal grosso que não funciona, uns funghi, umas chufas, um caril. Tudo que estava pela metade e velho, fora. E lé com lé, cré com cré. Juntar o que tem parentesco. Temperos brasileiros, temperos indianos, surpresas, vontade de cozinhar.
Acabamos cozinhando, pegamos costelinhas na geladeira e fizemos na crock pot. Crock pot é aquela panela que cozinha sozinha, elétrica, calor mínimo. Você põe tudo lá, sai para trabalhar e quando volta está pronto, sem perigo de queimar. O resultado é o de sempre. Gosto de sopa. A panela vende o sonho da comida que se faz sozinha. Vou desencanar e guardar embaixo da escada.
Dezenas de gavetas e coisas que vão se acumulando o ano inteiro. Tudo imaginável, para quem gosta de tralhas. Muitas facas, abridores, moedor de pimenta, moedor de noz moscada, medidores sem fim, colheres de pau. E colherinhas de café faltando e outras sobrando e porta-guardanapos de prata e de conchas e porta-talheres mexicanos, lindos, de pedras coloridas.
Algumas coisas que não jogamos fora vão sumindo sozinhas, como as panelas e garfos de fondue. Brilhavam novos e úteis, hoje se escondem. Alguém se lembra de uns baldinhos de gelo de cristal que não serviam para nada e tinham duas orelhas? Sumiram também. Outras coisas continuam, que ninguém pode viver sem elas, como um triturador de sementes de papoula, uma maquininha de fazer späetzle e um minidefumador -kkkkkkk, como diriam no Facebook. Restos de Natal, velas pela metade, pinhas, dourados. Pense nos apagões, deixe aí.
Em uma das gavetas apareceu uma coleção de santos antigos de papel, de primeira comunhão, de tudo. Jogar fora nem morta, minha filha diz que vai fazer um quadrinho de vidro. Acho que vai ser um quadro de quilômetros.
A batedeira Sunbeam antiga que me conhecia tão bem, éramos uma só coisa, um dia morreu. Foi substituída por aquela moderna, quase profissional, que toma um espaço enorme na cozinha pequena. Minha vida é temer que os acessórios se percam, e uso a batedeira manual da Viking, forte e poderosa. Mas a Sunbeam está lá esperando o dia da ressurreição dos mortos.
O que faz um ser humano desejar ter manteigueiras de vidro, louça da Clarice Cliff, restos de jogos de jantar, coisas sem fim da feira escandinava? Panelas, panelas de todos os jeitos, facas mil, livros à mancheia... Um nó na capacidade prática de fazer o cálculo de quantos objetos são necessários vida afora.
Muitas vezes, quando demorava um tempo para ir a Paraty, quando chegava na casinha, só uma cama, nada de mesa de cabeceira, nem de lâmpada, nada de TV, ficava desacorçoada, assim não dá, que vida louca! No dia seguinte, a manhã esplendorosa, o cheiro de mato e de mar e adeus reclamações. A realização chegava plena, nada mais é necessário além de uma panela, uma cuia, uma colher de pau, um colchão e um mosquiteiro, o resto é gula.
Vestindo (a carapuça) - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 09/01
Sei que o problema é meu, que a pontualidade, entre os povos ensolarados, é um desvio de caráter
"ESTE LIVRO foi escrito durante todos os momentos em que esperava minha mulher se vestir" -diz Groucho Marx, em sua autobiografia. "Se ela nunca tivesse se vestido, este livro jamais teria sido escrito." Eu, menos talentoso e mais ansioso do que o velho Marx, não sou capaz de digitar sequer um SMS enquanto aguardo minha mulher se arrumar; resigno-me a andar em círculos pelo quarto, chacoalhando o molho de chaves, repetindo de minuto em minuto o horário estampado no celular, como um rádio-relógio -ou como um papagaio que tivesse sido criado ao lado de um rádio-relógio-, expediente esse que, se tem logrado algum sucesso no que tange à pontualidade, ainda pode levar à ruína do meu casamento.
Não pense, cara leitora, que estou sendo machista, opondo a autoproclamada diligência masculina à suposta confusão feminina. Muito pelo contrário: sei, pelo menos desde o último domingo, que o problema é meu, que a pontualidade, entre os latinos e outros povos ensolarados, é um desvio de caráter, uma neurose, algo que devo tratar na análise ou, no mínimo, refletir bastante a respeito, nas infinitas horas em que fico sentado a esperar que os outros apareçam.
Pois vamos ao domingo. Tínhamos um casamento, 11 da manhã. De todos os possíveis compromissos aos quais se pode (ou melhor, não se pode) chegar atrasado, o que mais me angustia é o casamento. Sinto que perder a cerimônia e aparecer só para a festa é como, ao correr uma maratona, pegar um táxi para a linha de chegada. De certa forma, ouvir o discurso do padre, dos padrinhos, dos noivos, suar sob o terno, com a boca seca e o estômago vazio, enquanto se participa do ritual meio budista, meio celta ou meio bororo que o casal preparou, são passos imprescindíveis para se merecer o espumante, a vitela, o YMCA e os 17 bem-casados que serão levados para casa, no bolso. E na meia. E na cueca.
Foi mais ou menos isso que tentei explicar à minha mulher, sábado à noite, durante um jantar que eu mesmo preparei e servi, à luz de velas -em vão. Se, das outras vezes, ela tinha sido compreensiva e tratado minha obsessão com benevolência, no sábado bateu o pé. Disse que ninguém chegaria às 11 no casório, que ficaríamos só nós dois esperando num bufê deserto, que não se submeteria novamente à minha loucura. Se eu quisesse, que fosse antes, sozinho: ela iria depois, meio-dia, meio-dia e meia, como todas as "pessoas normais". "Ótimo! É isso mesmo que eu vou fazer!" "Perfeito! Vai lá! Abre o bufê! Você vai ser o primeiro a chegar!" "Não vou!" "Ah, mas vai!" "Ah, mas não vou!" "Quer apostar?"
É com imensa alegria, cara leitora, caro leitor, que lhes informo não ter sido o primeiro. O padre já estava lá. Padre Rubens, um homem pontual e comunicativo, cuja biografia eu seria capaz de escrever depois de uma hora escutando-o no bufê vazio; uma infinita hora em que esperamos minha mulher, todas as outras mulheres, seus maridos, os noivos e as famílias dos noivos se vestirem.
O que posso dizer depois dessa lição? Nada. Somente, quem sabe, que se eles nunca tivessem se vestido esta crônica jamais teria sido escrita. Não chega a ser um consolo, mas, pelo menos, espero, serve como piada.
Sei que o problema é meu, que a pontualidade, entre os povos ensolarados, é um desvio de caráter
"ESTE LIVRO foi escrito durante todos os momentos em que esperava minha mulher se vestir" -diz Groucho Marx, em sua autobiografia. "Se ela nunca tivesse se vestido, este livro jamais teria sido escrito." Eu, menos talentoso e mais ansioso do que o velho Marx, não sou capaz de digitar sequer um SMS enquanto aguardo minha mulher se arrumar; resigno-me a andar em círculos pelo quarto, chacoalhando o molho de chaves, repetindo de minuto em minuto o horário estampado no celular, como um rádio-relógio -ou como um papagaio que tivesse sido criado ao lado de um rádio-relógio-, expediente esse que, se tem logrado algum sucesso no que tange à pontualidade, ainda pode levar à ruína do meu casamento.
Não pense, cara leitora, que estou sendo machista, opondo a autoproclamada diligência masculina à suposta confusão feminina. Muito pelo contrário: sei, pelo menos desde o último domingo, que o problema é meu, que a pontualidade, entre os latinos e outros povos ensolarados, é um desvio de caráter, uma neurose, algo que devo tratar na análise ou, no mínimo, refletir bastante a respeito, nas infinitas horas em que fico sentado a esperar que os outros apareçam.
Pois vamos ao domingo. Tínhamos um casamento, 11 da manhã. De todos os possíveis compromissos aos quais se pode (ou melhor, não se pode) chegar atrasado, o que mais me angustia é o casamento. Sinto que perder a cerimônia e aparecer só para a festa é como, ao correr uma maratona, pegar um táxi para a linha de chegada. De certa forma, ouvir o discurso do padre, dos padrinhos, dos noivos, suar sob o terno, com a boca seca e o estômago vazio, enquanto se participa do ritual meio budista, meio celta ou meio bororo que o casal preparou, são passos imprescindíveis para se merecer o espumante, a vitela, o YMCA e os 17 bem-casados que serão levados para casa, no bolso. E na meia. E na cueca.
Foi mais ou menos isso que tentei explicar à minha mulher, sábado à noite, durante um jantar que eu mesmo preparei e servi, à luz de velas -em vão. Se, das outras vezes, ela tinha sido compreensiva e tratado minha obsessão com benevolência, no sábado bateu o pé. Disse que ninguém chegaria às 11 no casório, que ficaríamos só nós dois esperando num bufê deserto, que não se submeteria novamente à minha loucura. Se eu quisesse, que fosse antes, sozinho: ela iria depois, meio-dia, meio-dia e meia, como todas as "pessoas normais". "Ótimo! É isso mesmo que eu vou fazer!" "Perfeito! Vai lá! Abre o bufê! Você vai ser o primeiro a chegar!" "Não vou!" "Ah, mas vai!" "Ah, mas não vou!" "Quer apostar?"
É com imensa alegria, cara leitora, caro leitor, que lhes informo não ter sido o primeiro. O padre já estava lá. Padre Rubens, um homem pontual e comunicativo, cuja biografia eu seria capaz de escrever depois de uma hora escutando-o no bufê vazio; uma infinita hora em que esperamos minha mulher, todas as outras mulheres, seus maridos, os noivos e as famílias dos noivos se vestirem.
O que posso dizer depois dessa lição? Nada. Somente, quem sabe, que se eles nunca tivessem se vestido esta crônica jamais teria sido escrita. Não chega a ser um consolo, mas, pelo menos, espero, serve como piada.
Mulheres e desigualdades - ELIANA CARDOSO
O ESTADÃO - 09/01
Acabei de arrumar as malas para uma conferência em Oxford sobre as desigualdades entre homens e mulheres no contexto dos países em desenvolvimento. Sobre esse assunto, a mesma camisa não veste dois emergentes. Basta comparar o Brasil e o Egito. Tendo visto de perto como vivem as mulheres naquele país - pois me casei com um egípcio em 1999 e morei no Cairo até 2002 -, poderia contar histórias para ilustrar as estatísticas do Banco Mundial (The World Bank Gender Statistics) e as do relatório The Global Gender Gap Report (publicado pelo World Economic Forum). Mas na comparação entre os dois países, a força dos números me basta.
Aqui a inserção da mulher no mercado de trabalho contribui para o crescimento econômico e a melhoria dos indicadores de bem-estar. Mas a mortalidade feminina antes dos 5 anos de idade (que é de 4,5 em mil meninas nos países ricos, na média) continua alta no Brasil: 14 em mil (e no Egito, 20 em mil).
As brasileiras desconhecem os sofrimentos da mutilação genital imposta a 91% das egípcias entre 15 e 49 anos de idade. E enquanto a lei brasileira dá às mulheres iguais direitos à guarda dos filhos durante o casamento e após o divórcio, esses direitos no Egito pertencem ao homem. Lá, 39% das mulheres acreditam que o marido tenha o direito de bater nas mulheres em determinadas circunstâncias. Não tenho ideia desse número aqui, na nossa terra, mas suspeito que, se ainda existem brasileiras favoráveis a tapas e chicotes, elas o sejam não por imposição religiosa, mas por desvio de comportamento, raro até mesmo entre as leitoras de Cinquenta Tons de Cinza.
A educação faz toda a diferença: 90% das brasileiras adultas sabem ler, mas apenas 58% das egípcias. As mulheres representam 42% da nossa força de trabalho (comparável à média de 44% nos países mais ricos) e apenas 24% no Egito. A razão entre mulheres e homens que ocupam altos cargos entre oficiais, advogados e gerentes (48% em média nos países mais ricos) é de 56% no Brasil e 12% no Egito.
Aonde quero chegar? Ao fato de que a situação da mulher no Brasil se parece mais com a que existe nos países ricos do que com a de outros emergentes. Aqui, como nos países ricos, a disparidade salarial persiste. E aqui, como lá, as mulheres se queixam da dupla jornada. Os grupos mais abastados contam com a ajuda de empregadas. Entre os pobres, entretanto, elas carregam sozinhas a responsabilidade das funções domésticas.
Mas hoje o foco de nossas preocupações é o Egito. As revoluções que derrubaram velhas ditaduras também promoveram os partidos islâmicos. A Irmandade Muçulmana e os salafistas conquistaram mais de 70% dos assentos no Parlamento. Alguns líderes bloqueiam abertamente a participação da mulher na vida pública e muitas candidatas, nos materiais de campanha, substituíram a foto do próprio rosto por imagens de flores.
O presidente Mohamed Morsi, em meio a protestos contra o governo e deserções de seu próprio Gabinete, orquestrou o voto de aprovação da nova Constituição - que adiciona à Constituição de 1971 artigos que atribuem a uma instituição religiosa a responsabilidade formal pela interpretação da Sharia (principal fonte de legislação). As questões modernizadoras referentes aos direitos das mulheres ficaram de lado.
Apesar dos desafios, há razões para acreditar que as mulheres acabarão vencendo. Quando? Ainda vai demorar, mas considere: apesar de somente uma em cada três mulheres participar da economia formal no mundo árabe, sua participação na força de trabalho está aumentando e muitas famílias agora contam com duas fontes de renda. O Egito depende das receitas do turismo - 11% do produto interno bruto (PIB) em 2011 - e peleja por um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos. Atrair investimentos diretos e turistas é chave para o crescimento econômico. Questionar os direitos das mulheres afugenta o apoio internacional.
Por outro lado, a nova Constituição mostra maior preocupação em estabelecer as bases para um califado islâmico do que em promover os interesses do Egito. A ascendência política de grupos radicais pode restringir ainda mais a liberdade feminina, como aconteceu no Irã com o triunfo da teocracia islâmica. Seria péssimo. Os direitos da mulher fazem parte de demandas mais amplas para a mudança social e política. Servem de termômetro para o futuro da região. Assinalam o destino do conjunto mais amplo dos direitos das minorias e das liberdades de religião e expressão. O que está em jogo é nada mais, nada menos que a possibilidade de a democracia se tornar realidade no mundo árabe.
Razão para otimismo é que os movimentos recentes têm mobilizado as mulheres como nunca se via no mundo árabe. A nova geração exige assento à mesa do poder, invadindo as ruas e as redes sociais. Milhares de blogs de organizações femininas pedem mudanças. Tais pedidos nada garantem. Entretanto - seja na política ou na mídia, na educação ou na força de trabalho -, pouco a pouco, mas a passos cada vez mais rápidos, a realidade da vida diverge das normas que os fundamentalistas gostariam de impor à sociedade.
Hoje, as forças que dividiam secularismo e islamismo ocorrem dentro do próprio Islã. Os árabes moderados insistem em que o Islã é compatível com os direitos das mulheres e aceitam o papel público delas na sociedade. Embora ideias extremistas nunca desapareçam, é possível que a posição moderada se torne dominante nesta caminhada difícil para uma sociedade mais livre.
Mesmo nos países ricos se avança vagarosamente. Só em outubro de 2012 a Inglaterra mudou o sistema de progenitura, que permitia aos irmãos mais jovens herdar o trono antes de suas irmãs mais velhas. Mas... devagar vamos longe. Conheço bem a diferença entre as ideias e atitudes da minha época de menina em Minas Gerais e as deste século 21 em Sampa.
Acabei de arrumar as malas para uma conferência em Oxford sobre as desigualdades entre homens e mulheres no contexto dos países em desenvolvimento. Sobre esse assunto, a mesma camisa não veste dois emergentes. Basta comparar o Brasil e o Egito. Tendo visto de perto como vivem as mulheres naquele país - pois me casei com um egípcio em 1999 e morei no Cairo até 2002 -, poderia contar histórias para ilustrar as estatísticas do Banco Mundial (The World Bank Gender Statistics) e as do relatório The Global Gender Gap Report (publicado pelo World Economic Forum). Mas na comparação entre os dois países, a força dos números me basta.
Aqui a inserção da mulher no mercado de trabalho contribui para o crescimento econômico e a melhoria dos indicadores de bem-estar. Mas a mortalidade feminina antes dos 5 anos de idade (que é de 4,5 em mil meninas nos países ricos, na média) continua alta no Brasil: 14 em mil (e no Egito, 20 em mil).
As brasileiras desconhecem os sofrimentos da mutilação genital imposta a 91% das egípcias entre 15 e 49 anos de idade. E enquanto a lei brasileira dá às mulheres iguais direitos à guarda dos filhos durante o casamento e após o divórcio, esses direitos no Egito pertencem ao homem. Lá, 39% das mulheres acreditam que o marido tenha o direito de bater nas mulheres em determinadas circunstâncias. Não tenho ideia desse número aqui, na nossa terra, mas suspeito que, se ainda existem brasileiras favoráveis a tapas e chicotes, elas o sejam não por imposição religiosa, mas por desvio de comportamento, raro até mesmo entre as leitoras de Cinquenta Tons de Cinza.
A educação faz toda a diferença: 90% das brasileiras adultas sabem ler, mas apenas 58% das egípcias. As mulheres representam 42% da nossa força de trabalho (comparável à média de 44% nos países mais ricos) e apenas 24% no Egito. A razão entre mulheres e homens que ocupam altos cargos entre oficiais, advogados e gerentes (48% em média nos países mais ricos) é de 56% no Brasil e 12% no Egito.
Aonde quero chegar? Ao fato de que a situação da mulher no Brasil se parece mais com a que existe nos países ricos do que com a de outros emergentes. Aqui, como nos países ricos, a disparidade salarial persiste. E aqui, como lá, as mulheres se queixam da dupla jornada. Os grupos mais abastados contam com a ajuda de empregadas. Entre os pobres, entretanto, elas carregam sozinhas a responsabilidade das funções domésticas.
Mas hoje o foco de nossas preocupações é o Egito. As revoluções que derrubaram velhas ditaduras também promoveram os partidos islâmicos. A Irmandade Muçulmana e os salafistas conquistaram mais de 70% dos assentos no Parlamento. Alguns líderes bloqueiam abertamente a participação da mulher na vida pública e muitas candidatas, nos materiais de campanha, substituíram a foto do próprio rosto por imagens de flores.
O presidente Mohamed Morsi, em meio a protestos contra o governo e deserções de seu próprio Gabinete, orquestrou o voto de aprovação da nova Constituição - que adiciona à Constituição de 1971 artigos que atribuem a uma instituição religiosa a responsabilidade formal pela interpretação da Sharia (principal fonte de legislação). As questões modernizadoras referentes aos direitos das mulheres ficaram de lado.
Apesar dos desafios, há razões para acreditar que as mulheres acabarão vencendo. Quando? Ainda vai demorar, mas considere: apesar de somente uma em cada três mulheres participar da economia formal no mundo árabe, sua participação na força de trabalho está aumentando e muitas famílias agora contam com duas fontes de renda. O Egito depende das receitas do turismo - 11% do produto interno bruto (PIB) em 2011 - e peleja por um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos. Atrair investimentos diretos e turistas é chave para o crescimento econômico. Questionar os direitos das mulheres afugenta o apoio internacional.
Por outro lado, a nova Constituição mostra maior preocupação em estabelecer as bases para um califado islâmico do que em promover os interesses do Egito. A ascendência política de grupos radicais pode restringir ainda mais a liberdade feminina, como aconteceu no Irã com o triunfo da teocracia islâmica. Seria péssimo. Os direitos da mulher fazem parte de demandas mais amplas para a mudança social e política. Servem de termômetro para o futuro da região. Assinalam o destino do conjunto mais amplo dos direitos das minorias e das liberdades de religião e expressão. O que está em jogo é nada mais, nada menos que a possibilidade de a democracia se tornar realidade no mundo árabe.
Razão para otimismo é que os movimentos recentes têm mobilizado as mulheres como nunca se via no mundo árabe. A nova geração exige assento à mesa do poder, invadindo as ruas e as redes sociais. Milhares de blogs de organizações femininas pedem mudanças. Tais pedidos nada garantem. Entretanto - seja na política ou na mídia, na educação ou na força de trabalho -, pouco a pouco, mas a passos cada vez mais rápidos, a realidade da vida diverge das normas que os fundamentalistas gostariam de impor à sociedade.
Hoje, as forças que dividiam secularismo e islamismo ocorrem dentro do próprio Islã. Os árabes moderados insistem em que o Islã é compatível com os direitos das mulheres e aceitam o papel público delas na sociedade. Embora ideias extremistas nunca desapareçam, é possível que a posição moderada se torne dominante nesta caminhada difícil para uma sociedade mais livre.
Mesmo nos países ricos se avança vagarosamente. Só em outubro de 2012 a Inglaterra mudou o sistema de progenitura, que permitia aos irmãos mais jovens herdar o trono antes de suas irmãs mais velhas. Mas... devagar vamos longe. Conheço bem a diferença entre as ideias e atitudes da minha época de menina em Minas Gerais e as deste século 21 em Sampa.
A Copa… - SONIA RACY
O ESTADÃO - 09/01
É que uma comitiva da Fifa visitará as obras do Itaquerão.
…é nossa!
Aliás, Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, estará em Brasília dia 28 – quando o Brasil lança o cartaz do Mundial de 2014. A data marca a contagem regressiva de 500 dias para a abertura do evento.
Deu galho
Cláudio Lembo, que acaba de deixar posto na administração municipal, terá de pagar R$ 10 mil à Prefeitura. Motivo? Poda “drástica” de figueira em frente à sua casa, na Bela Vista. “A árvore estava destruindo a fiação elétrica e o esgoto”, justificou à coluna.
O ex-governador tem 5 dias para efetuar o pagamento. Mas já avisou: recorrerá à Justiça.
Tá na mesa
Gustavo Dedivitis, presidente da Abcon, vai enviar ofício à Secretaria de Comércio Exterior. Pedindo revisão no processo que aumentou em 300% o imposto sobre talheres importados da China.
Considera a decisão protecionista. “Prejudica o consumidor e fere acordos do Brasil na OMC”, disse à coluna.
Franco-brasileiro
Fernando Pires assinará as coleções de sapatos da Superball Duplo T – empresa criada por Renaud Dutreil (ex-LVMH), Laurent Grosgogeat (ex-Chanel e Cartier) e Nouredine Elhaoussine, além de Kelly Christina– filha de Pelé.
Os primeiros 22 modelos serão lançados em maio, em Paris.
Blockbuster
Após fraco desempenho em 2012, a federação das empresas exibidoras cinematográficas aposta no longa De Pernas pro Ar 2. Em 2011, apenas Até que a Sorte nos Separe figurou na lista dos 10 filmes mais vistos, com 3,5 milhões de espectadores.
Axé
Romero Britto assinará o visual do camarote Expresso 2222, no carnaval de Salvador.
Como convidado, trará um filho de Muhammad Ali.
Direto de Zurique
Depois de perder o prêmio de gol mais bonito do ano para o eslovaco Miroslav Stoch– anteontem, durante a entrega da Bola de Ouro, em Zurique –, Neymar deixou a cerimônia da Fifa sem passar pela zona mista.
Para driblar a imprensa.
Zurique 2
Quem também chamou a atenção foi… Gérard Depardieu.
Convidado de honra de Joseph Blatter, presidente da Fifa, o ator francês não escapou das perguntas sobre ter aceitado a cidadania russa – depois de criticar os altos impostos na França.
Zurique 3
E Beckenbauer não fez coro a Sandro Rosell. O presidente do Barcelona disse que Messi era melhor até do que Pelé.
A amigos da Uefa, o eterno kaiser (também premiado no evento) comentou, divertido: “Rosell não deve ter visto Pelé jogar…”.
Medinho à moda antiga - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 09/01
O horror se vê superado pelo grotesco, o que não deixa de ser uma vacina psicológica
Acho que a primeira cena realmente horrível (açougue, sangreira) que vi no cinema foi em 1982. O filme até que era bom: "A Marca da Pantera", de Paul Schrader, com Nastassja Kinski -um remake do clássico em preto e branco de Jacques Tourneur, sobre o qual falarei depois.
Um sujeito se aproxima da jaula da tal pantera, e, zás! Volta com um toco em vez do braço. Vemos o sangue, os tendões e um osso aparecendo, depois do ataque traiçoeiro do felino.
Lembro-me de ter pensado, há 30 anos, no destino que me esperava como espectador de cinema. Era, de fato, só o começo.
Por maior que tenha sido a evolução dos costumes nas últimas décadas, cenas de sexo só são tão explícitas assim no cinema pornográfico. Já a explicitude da violência está em toda parte.
Está em "O Hobbit", por exemplo. Tenho tido bastante tolerância, por razões familiares, com filmes infantojuvenis. De "Alvin e os Esquilos" a "Piratas do Caribe", assisti a muita coisa nos últimos anos, sem desgostar em princípio de quase nada.
"O Hobbit" talvez tenha marcado meu ponto de saturação. É longo demais, violento demais, chato demais, com todas aquelas referências a um suposto universo mítico de orcs, greeks, crocs, blips e não sei mais que tipo de entidades, tão artificialmente (pelo que vi no filme) produzidos pelo autor da saga, J. R. R. Tolkien.
Tudo já é feito para consumo dos fãs, e quem não está familiarizado com "O Senhor dos Anéis" e suas sequelas se vê arremessado a um mundo em que temas "arquetípicos", do tipo a busca, o herói, o dragão, o tesouro, parecem produzidos em laboratório.
Seja como for, antigamente os monstros e maldades desse tipo de filme tendiam a provocar algum medo nas crianças. As cenas mais extremas de "O Hobbit" apontam, entretanto, para outra reação.
Não se trata de imagens ameaçadoras, das que fariam parte dos piores pesadelos infantis. O medo é contrabalançado pelo que os monstros têm de repulsivo; sua feiura chega a ser cômica.
Certo gnomo, dominando hostes infernais, surge com uma papada tão flácida que ficamos em dúvida se não é uma barba feita de pele pardacenta. Um bicharoco velhaco, meio lesma, meio lêmure, com vozinha de bruxa, suscita doses iguais de horror e de desprezo.
A destruição de tais inimigos se torna menos uma questão de justiça que de higiene. Também na série dos "Piratas do Caribe", a tripulação de um navio fantasma era tão nojenta, com moreias saindo pelo nariz e cracas no pescoço, que seu potencial aterrorizante diminuía um bocado.
O horror se vê superado pelo grotesco, o que não deixa de ser uma vacina psicológica. O medo de verdade, o medo real, fica assim reservado para outro tipo de cinema, e para outra faixa etária.
Saíram em DVD alguns filmes do diretor Jacques Tourneur, entre eles "Sangue de Pantera" ("Cat People"), o clássico de 1942 que Paul Schrader iria refazer quarenta anos depois.
Nessa história, assim como em "O Homem Leopardo", do ano seguinte, o que interessa é criar no espectador um outro tipo de medo. Ninguém fica muito impressionado com as estranhas maldições que ameaçam os personagens, e pouquíssimos momentos chegam perto da hipótese de um arrepio.
Cria-se um medo, digamos, agradável, ou melhor, poético, nas cenas mais ameaçadoras de "Sangue de Pantera". Poucos diretores sabem interromper a música de fundo como Jacques Tourneur. À noite, ao longo de um muro branco, é o silêncio o que mais inquieta.
A mocinha sente que está sendo seguida. Será por alguma pessoa, por bicho, ou por algo que não é deste mundo? Outro filme, a mesma situação. Ela está agora presa num cemitério; nada se passa, nada se vê. Apenas o galho de uma árvore se verga lentamente...
Piscina. Noite. A luz se entretece na água em preto e branco. Você ouviu alguma coisa?
Mulheres vitimadas ou possuídas por algum instinto predatório e sobrenatural esgueiram-se nesses filmes. Mesmo "Quando a Neve Voltar a Cair", drama antinazista bastante convencional que faz parte do pacote de DVDs, beldades delicadas (Tamara Toumanova, Maria Palmer) são vistas de longe, numa espécie de tocaia.
Sexo e violência, como sempre. Mas na dosagem e nos filtros de uma coisa e outra está o segredo de todo o charme, humano ou felino, que Tourneur sabe transformar em cinema.
O horror se vê superado pelo grotesco, o que não deixa de ser uma vacina psicológica
Acho que a primeira cena realmente horrível (açougue, sangreira) que vi no cinema foi em 1982. O filme até que era bom: "A Marca da Pantera", de Paul Schrader, com Nastassja Kinski -um remake do clássico em preto e branco de Jacques Tourneur, sobre o qual falarei depois.
Um sujeito se aproxima da jaula da tal pantera, e, zás! Volta com um toco em vez do braço. Vemos o sangue, os tendões e um osso aparecendo, depois do ataque traiçoeiro do felino.
Lembro-me de ter pensado, há 30 anos, no destino que me esperava como espectador de cinema. Era, de fato, só o começo.
Por maior que tenha sido a evolução dos costumes nas últimas décadas, cenas de sexo só são tão explícitas assim no cinema pornográfico. Já a explicitude da violência está em toda parte.
Está em "O Hobbit", por exemplo. Tenho tido bastante tolerância, por razões familiares, com filmes infantojuvenis. De "Alvin e os Esquilos" a "Piratas do Caribe", assisti a muita coisa nos últimos anos, sem desgostar em princípio de quase nada.
"O Hobbit" talvez tenha marcado meu ponto de saturação. É longo demais, violento demais, chato demais, com todas aquelas referências a um suposto universo mítico de orcs, greeks, crocs, blips e não sei mais que tipo de entidades, tão artificialmente (pelo que vi no filme) produzidos pelo autor da saga, J. R. R. Tolkien.
Tudo já é feito para consumo dos fãs, e quem não está familiarizado com "O Senhor dos Anéis" e suas sequelas se vê arremessado a um mundo em que temas "arquetípicos", do tipo a busca, o herói, o dragão, o tesouro, parecem produzidos em laboratório.
Seja como for, antigamente os monstros e maldades desse tipo de filme tendiam a provocar algum medo nas crianças. As cenas mais extremas de "O Hobbit" apontam, entretanto, para outra reação.
Não se trata de imagens ameaçadoras, das que fariam parte dos piores pesadelos infantis. O medo é contrabalançado pelo que os monstros têm de repulsivo; sua feiura chega a ser cômica.
Certo gnomo, dominando hostes infernais, surge com uma papada tão flácida que ficamos em dúvida se não é uma barba feita de pele pardacenta. Um bicharoco velhaco, meio lesma, meio lêmure, com vozinha de bruxa, suscita doses iguais de horror e de desprezo.
A destruição de tais inimigos se torna menos uma questão de justiça que de higiene. Também na série dos "Piratas do Caribe", a tripulação de um navio fantasma era tão nojenta, com moreias saindo pelo nariz e cracas no pescoço, que seu potencial aterrorizante diminuía um bocado.
O horror se vê superado pelo grotesco, o que não deixa de ser uma vacina psicológica. O medo de verdade, o medo real, fica assim reservado para outro tipo de cinema, e para outra faixa etária.
Saíram em DVD alguns filmes do diretor Jacques Tourneur, entre eles "Sangue de Pantera" ("Cat People"), o clássico de 1942 que Paul Schrader iria refazer quarenta anos depois.
Nessa história, assim como em "O Homem Leopardo", do ano seguinte, o que interessa é criar no espectador um outro tipo de medo. Ninguém fica muito impressionado com as estranhas maldições que ameaçam os personagens, e pouquíssimos momentos chegam perto da hipótese de um arrepio.
Cria-se um medo, digamos, agradável, ou melhor, poético, nas cenas mais ameaçadoras de "Sangue de Pantera". Poucos diretores sabem interromper a música de fundo como Jacques Tourneur. À noite, ao longo de um muro branco, é o silêncio o que mais inquieta.
A mocinha sente que está sendo seguida. Será por alguma pessoa, por bicho, ou por algo que não é deste mundo? Outro filme, a mesma situação. Ela está agora presa num cemitério; nada se passa, nada se vê. Apenas o galho de uma árvore se verga lentamente...
Piscina. Noite. A luz se entretece na água em preto e branco. Você ouviu alguma coisa?
Mulheres vitimadas ou possuídas por algum instinto predatório e sobrenatural esgueiram-se nesses filmes. Mesmo "Quando a Neve Voltar a Cair", drama antinazista bastante convencional que faz parte do pacote de DVDs, beldades delicadas (Tamara Toumanova, Maria Palmer) são vistas de longe, numa espécie de tocaia.
Sexo e violência, como sempre. Mas na dosagem e nos filtros de uma coisa e outra está o segredo de todo o charme, humano ou felino, que Tourneur sabe transformar em cinema.
O dever de coerência dos países do Mercosul - RICARDO GALUPPO
BRASIL ECONÔMICO - 09/01
O Brasil, até onde se tem notícia, mantém um embaixador acreditado junto a Havana. As relações com a Venezuela também estão normais. A pergunta, portanto, é: qual a explicação para a presença em Cuba do assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia - que, segundo o próprio, viajou no dia 31 de dezembro, por ordem da presidente Dilma Rousseff, para buscar informações precisas sobre a saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chávez?
Para concluir, conforme informou Garcia, "que o estado de saúde é grave e qualquer previsão é impossível de ser feita", não precisava emissário especial.
Bastava pedir que um dos embaixadores levantasse a informação que, por sinal, é a mesma que se encontra no noticiário.
Internado em Havana, onde foi operado de um câncer, Chávez deveria assumir amanhã o seu terceiro mandato à frente do governo da Venezuela.
Se ele não comparecer à solenidade, novas eleições devem ser convocadas em 30 dias.
Mesmo diante da gravidade do quadro, os partidários de Chávez e os políticos que o apoiam na América Latina querem dar a ele mais tempo para se recuperar ou, se isso não for possível, encontrar uma maneira de empossar o vice, Nicolás Maduro, sem a necessidade de uma nova disputa eleitoral.
E tentam justificar o golpe com um argumento para lá de singelo: como Chávez já tomou posse antes, não precisa cumprir todo o ritual agora.
Trata-se, para dizer o mínimo, de uma interpretação absolutamente heterodoxa das leis e do princípio da alternância de poder. Mesmo assim, Garcia diz que o Brasil apoia a ideia de dar ao chefe venezuelano mais 180 dias para melhorar.
É uma posição lamentável - dessas que envergonham o país que a defende. A solução que a Venezuela dará à sucessão presidencial, caso Chávez não resista à gravidade da doença, é um problema da própria Venezuela.
O Brasil e os demais integrantes do Mercosul não têm motivos para se meter nas questões internas do país vizinho.
Ocorre, porém, que o dever de coerência os obriga a se posicionar contra a manobra e a cobrar respeito a uma Constituição que, como se sabe, foi escrita para atender à conveniência do próprio Chávez.
Se as eleições não forem convocadas, eles se verão, no mínimo, obrigados a suspender a Venezuela como membro pleno do Mercosul.
Foi exatamente o que fizeram quando o Congresso do Paraguai votou o impeachment do então presidente Fernando Lugo.
Os simpatizantes de Chávez poderão dizer que uma situação nada tem a ver com a outra, e não tem mesmo.
O impeachment de Lugo obedeceu a um rito que, por estranho que seja, está previsto na Constituição local - enquanto a prorrogação do prazo para a posse de um presidente que se encontra no exterior representa, em qualquer lugar do mundo, vacância do poder.
E vacância do poder, como se sabe, se resolve com a convocação de novas eleições.
O Brasil, até onde se tem notícia, mantém um embaixador acreditado junto a Havana. As relações com a Venezuela também estão normais. A pergunta, portanto, é: qual a explicação para a presença em Cuba do assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia - que, segundo o próprio, viajou no dia 31 de dezembro, por ordem da presidente Dilma Rousseff, para buscar informações precisas sobre a saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chávez?
Para concluir, conforme informou Garcia, "que o estado de saúde é grave e qualquer previsão é impossível de ser feita", não precisava emissário especial.
Bastava pedir que um dos embaixadores levantasse a informação que, por sinal, é a mesma que se encontra no noticiário.
Internado em Havana, onde foi operado de um câncer, Chávez deveria assumir amanhã o seu terceiro mandato à frente do governo da Venezuela.
Se ele não comparecer à solenidade, novas eleições devem ser convocadas em 30 dias.
Mesmo diante da gravidade do quadro, os partidários de Chávez e os políticos que o apoiam na América Latina querem dar a ele mais tempo para se recuperar ou, se isso não for possível, encontrar uma maneira de empossar o vice, Nicolás Maduro, sem a necessidade de uma nova disputa eleitoral.
E tentam justificar o golpe com um argumento para lá de singelo: como Chávez já tomou posse antes, não precisa cumprir todo o ritual agora.
Trata-se, para dizer o mínimo, de uma interpretação absolutamente heterodoxa das leis e do princípio da alternância de poder. Mesmo assim, Garcia diz que o Brasil apoia a ideia de dar ao chefe venezuelano mais 180 dias para melhorar.
É uma posição lamentável - dessas que envergonham o país que a defende. A solução que a Venezuela dará à sucessão presidencial, caso Chávez não resista à gravidade da doença, é um problema da própria Venezuela.
O Brasil e os demais integrantes do Mercosul não têm motivos para se meter nas questões internas do país vizinho.
Ocorre, porém, que o dever de coerência os obriga a se posicionar contra a manobra e a cobrar respeito a uma Constituição que, como se sabe, foi escrita para atender à conveniência do próprio Chávez.
Se as eleições não forem convocadas, eles se verão, no mínimo, obrigados a suspender a Venezuela como membro pleno do Mercosul.
Foi exatamente o que fizeram quando o Congresso do Paraguai votou o impeachment do então presidente Fernando Lugo.
Os simpatizantes de Chávez poderão dizer que uma situação nada tem a ver com a outra, e não tem mesmo.
O impeachment de Lugo obedeceu a um rito que, por estranho que seja, está previsto na Constituição local - enquanto a prorrogação do prazo para a posse de um presidente que se encontra no exterior representa, em qualquer lugar do mundo, vacância do poder.
E vacância do poder, como se sabe, se resolve com a convocação de novas eleições.
Redes sociais: muita mudança pela frente - ROBERTA ROSSETTO
BRASIL ECONÔMICO - 09/01
Costumamos olhar para as redes sociais como um espaço “de internet” onde tudo é gratuito. Assistimos vídeos no Youtube de graça. Postamos fotos da família e conversamos com amigos distantes pelo Facebook, de graça.
No LinkedIn, disponibilizamos nossos currículos para quem quer que seja, em qualquer parte do mundo. Sim, sem custo. Mas essas plataformas são empresas, precisam ser sustentáveis e gerar lucro. E é o que estão tentando fazer, desesperadamente.
Digo desesperadamente porque, quem acompanha as redes sabe que há informes constantes de alterações sendo feitas nas plataformas - todas com o intuito final de fazer dinheiro. Algumas vezes, o informe é "desinformado", porque aquelas mudanças não eram nem víaveis, pra começo de conversa.
O Instagram, plataforma para compartilhar fotos comprada pelo Facebook, passou por isso. Veio a público para dizer que as fotos ali compartilhadas pelos usuários poderiam ser comercializadas, sem pagamento a seus autores e sem mesmo avisar que as mesmas seriam usadas. Ah, claro, como se não houvesse direito autoral e direito de imagem.
Como se as regras do jogo pudessem ser mudadas, no meio da partida, sem que os jogadores reclamassem. Obviamente houve reclamação, a nível mundial, e os executivos do Instagram voltaram atrás.
Constantes também são as mudanças no Facebook. Até pouco tempo atrás, os anúncios apareciam apenas na tela do computador, do lado direto. Eles agora aparecem como posts pagos, na forma de conteúdo, em meio às postagens de amigos e familiares.
Os anúncios também começam a migrar para os smartphones e demais dispositivos móveis - não ter publicidade nesses aparelhos era o maior dos problemas apontados pelos especialistas para justificar a baixa receita do Facebook.
Algumas mudanças parecem coisa tola, como os botões "permito" e "não permito" (acesso a informações sobre o usuário) do Facebook, que deixaram de existir em alguns jogos.
Agora, a pessoa nem sabe que, ao jogar, está permitindo que a empresa que desenvolveu o jogo tenha acesso a suas informações pessoais. Isso é algo que o Facebook já tem acesso, claro.
O Facebook tem acesso a todo tipo de informação sobre seus usuários: o que eles "curtem", os interesses, os produtos mais procurados, as palavras mais usadas em comentários e mensagens. Especula-se que o Face está caminhando para se tornar uma empresa de venda de informações, uma empresa de Social CRM.
Hoje, ainda baseada na venda de anúncios, é certo que a ela consegue traçar um perfil fiel de seus usuários - parte disso já disponível aos anunciantes quando vão segmentar o público a quem se dirige seus anúncios.
Recentemente, o Face anunciou um serviço de vagas e currículos, tentando roubar mercado da rede social LinkedIn, que vive desse tipo de receita. No próprio LinkedIn, que no BR ultrapassa 10 milhões de usuários, há também mudanças. Os usuários, por exemplo, foram surpreendidos com blogs de executivos e políticos famosos - blogs já existentes que o Linked-in trouxe pra dentro de casa.
A ideia é aumentar a audiência da rede, atraindo para ali gente que quer um conteúdo profissional capaz de ajudar no desenvolvimento de suas carreiras. 2013 está ainda começando. Mas uma coisa é certa: em relação às redes sociais, haverá muitas surpresas pela frente.
Costumamos olhar para as redes sociais como um espaço “de internet” onde tudo é gratuito. Assistimos vídeos no Youtube de graça. Postamos fotos da família e conversamos com amigos distantes pelo Facebook, de graça.
No LinkedIn, disponibilizamos nossos currículos para quem quer que seja, em qualquer parte do mundo. Sim, sem custo. Mas essas plataformas são empresas, precisam ser sustentáveis e gerar lucro. E é o que estão tentando fazer, desesperadamente.
Digo desesperadamente porque, quem acompanha as redes sabe que há informes constantes de alterações sendo feitas nas plataformas - todas com o intuito final de fazer dinheiro. Algumas vezes, o informe é "desinformado", porque aquelas mudanças não eram nem víaveis, pra começo de conversa.
O Instagram, plataforma para compartilhar fotos comprada pelo Facebook, passou por isso. Veio a público para dizer que as fotos ali compartilhadas pelos usuários poderiam ser comercializadas, sem pagamento a seus autores e sem mesmo avisar que as mesmas seriam usadas. Ah, claro, como se não houvesse direito autoral e direito de imagem.
Como se as regras do jogo pudessem ser mudadas, no meio da partida, sem que os jogadores reclamassem. Obviamente houve reclamação, a nível mundial, e os executivos do Instagram voltaram atrás.
Constantes também são as mudanças no Facebook. Até pouco tempo atrás, os anúncios apareciam apenas na tela do computador, do lado direto. Eles agora aparecem como posts pagos, na forma de conteúdo, em meio às postagens de amigos e familiares.
Os anúncios também começam a migrar para os smartphones e demais dispositivos móveis - não ter publicidade nesses aparelhos era o maior dos problemas apontados pelos especialistas para justificar a baixa receita do Facebook.
Algumas mudanças parecem coisa tola, como os botões "permito" e "não permito" (acesso a informações sobre o usuário) do Facebook, que deixaram de existir em alguns jogos.
Agora, a pessoa nem sabe que, ao jogar, está permitindo que a empresa que desenvolveu o jogo tenha acesso a suas informações pessoais. Isso é algo que o Facebook já tem acesso, claro.
O Facebook tem acesso a todo tipo de informação sobre seus usuários: o que eles "curtem", os interesses, os produtos mais procurados, as palavras mais usadas em comentários e mensagens. Especula-se que o Face está caminhando para se tornar uma empresa de venda de informações, uma empresa de Social CRM.
Hoje, ainda baseada na venda de anúncios, é certo que a ela consegue traçar um perfil fiel de seus usuários - parte disso já disponível aos anunciantes quando vão segmentar o público a quem se dirige seus anúncios.
Recentemente, o Face anunciou um serviço de vagas e currículos, tentando roubar mercado da rede social LinkedIn, que vive desse tipo de receita. No próprio LinkedIn, que no BR ultrapassa 10 milhões de usuários, há também mudanças. Os usuários, por exemplo, foram surpreendidos com blogs de executivos e políticos famosos - blogs já existentes que o Linked-in trouxe pra dentro de casa.
A ideia é aumentar a audiência da rede, atraindo para ali gente que quer um conteúdo profissional capaz de ajudar no desenvolvimento de suas carreiras. 2013 está ainda começando. Mas uma coisa é certa: em relação às redes sociais, haverá muitas surpresas pela frente.
O que mostra o filme? - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 09/01
Dizem que quando morremos vemos um filme de nossas vidas. Um resumo preciso e inexorável de tudo o que fizemos de bom e de lastimoso surge numa tela, revelando as coisas inconfessáveis que escondemos dos outros e de nós mesmos.
Imaginar que o rito de passagem para o outro mundo, que a última peça do nosso "trânsito em julgado" consiste em assistir à nossa vida como uma "fita de cinema" é, no mínimo, deslumbrante. Se tudo é concluído com um filme, estamos todos sujeitos, também no além, a interpretações. Se a vida é um filme, nenhuma vida pode se reduzir a uma verdade única, pois todas são dotadas de abundantes pontos de vista. A hipótese é interessante porque o cinema se abre a muitas verdades e eu estou seguro de que a nossa maior tarefa nesta vida é a responsabilidade de interpretar o que - nesta fantasia - continua depois da morte. A vida, como a fita, asseguram e reiteram que somos seres em busca de interpretações responsáveis.
Na cosmologia Católica Romana, mas não na luterana e na calvinista, podemos seguir para três e não dois, e apenas dois, lugares: céu ou inferno. O purgatório, que relaciona mortos e vivos, figura como um ponto intermediário, ao lado do limbo - esse não lugar inventado séculos antes da antropologia de Marc Augé. Uma paragem cujos oradores não têm filme!
De qualquer modo, a peça final desse "trânsito em julgado" é um grandioso ato interpretativo no qual os nossos advogados de defesa e intérpretes (chamados trivialmente de anjos da guarda e santos da nossa devoção) estarão a postos para arguir a nosso favor junto ao filme revelado.
Num inquérito antigo, a maioria estava convencida de que ia para o purgatório. O culto das almas do purgatório tem muitos devotos. Há quem se esqueça que você está queimando; mas há quem se lembre de você e, interpretando sua vida positivamente, reza por sua alma, poupando-lhe alguns milhares ou milhões de anos de fogueira.
No nosso catolicismo ibérico e relacional, o purgatório é a terra das interpretações, o paraíso da crítica, o lugar privilegiado dos tribunais e um grandioso festival de cinema. Por isso eu digo que o mais importante nesta vida não é acumular dinheiro e poder, mas atuar em histórias que possam render um Oscar.
Todo filme revela coisas insuspeitas. Você pensava que o pecado era leve, mas o filme revela detalhes de uma má-fé surpreendente. O gesto, a voz e as mãos mostram, na fita, a sua maldade esquecida. Exprimem e denunciam intenções que fazem parte do inconsciente do inconsciente. Sim, porque neste plano, o querer faz parte de um desejo e o desejo faz parte de uma intenção e a intenção - que é parte de sua circunstância de vida - revela-se truncada pela mendacidade. Essa mendacidade que recusa o bom senso sem o qual não se vive debaixo da lei.
No filme final vemos tudo. Na vida terrena, esse mundo que inventa o cronista e a arte em geral, cada qual enxerga um pedaço. Sem a liberdade de todas as vozes, não se chega aos fatos, contados sempre de um só lado e por isso tidos como ficção. O problema, porém, é que os santos, os poetas e os filósofos descobrem contradições nos mandamentos. A igualdade pode ser incompatível com a liberdade do mesmo modo que o egoísmo, sem o qual não há autoestima, pode ser o fim do altruísmo e da caridade. Há casos de suicídio por amor e de santificação por meio do adultério. Que falem alguns livros do grande Graham Green.
As múltiplas interpretações inventam críticos, hermeneutas, juízes e tribunais que, não obstante, podem também errar, mas a quem atribuímos, como os árbitros de futebol, uma decisão - sem trocadilho - relativamente arbitrária. Pois quem merece mesmo ir para o inferno, exceto uns poucos f.d.p? E o que é o destino senão um conjunto de erros com pessoas certas e de acertos com gente errada? Se o homem se faz a si mesmo como ainda supomos - e se a neurociência deixar -, alguma instituição tem que cortar o nó. E essa instituição não pode ser um ator interessado em escamotear papéis. Caso isso ocorra, o palco desaba!
Termino com uma nota simples, clara e feliz. Quero externar minha alegria por ter de volta o Luis Fernando Verissimo, que quase viu esse filme.
ZÉ PRETINHO CHEGOU - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 09/01
BATTISTI PAULISTANO
Cesare Battisti está morando em São Paulo há um mês. O italiano alugou um apartamento de 90 m² nos Jardins. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) serviu de "fiador moral" para o ex-ativista e conversou com a corretora de imóveis que queria referências sobre o inquilino. "Eu disse que o Cesare é correto e que saiu um livro agora, 'Os Cenários Ocultos do Caso Battisti', do Carlos Lungarzo, que mostra que ele é inocente nos assassinatos", afirma o senador.
BATTISTI PAULISTANO 2
Segundo Suplicy, Battisti está se instalando na capital paulista porque, em breve, deve assumir "algum compromisso profissional" na CUT (Central Única dos Trabalhadores). A assessoria da entidade diz desconhecer a informação.
VIDA NOVA
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália pelo assassinato de quatro pessoas em 1970. Foragido, ele acabou preso no Rio em 2007 e cumpriu quatro anos de pena em regime fechado no Brasil. Em 2010, teve o pedido de extradição negado como último ato do presidente Lula no cargo. Desde que o STF, em 2011, validou a decisão de não extraditá-lo, viveu como refugiado político em Cananeia (SP) e no Rio.
ONDE ESTÁ?
Uma das especulações que tem incomodado o secretário estadual de Saúde, Giovanni Guido Cerri, é a de que ele quer ser reitor da USP. O médico está satisfeito com o cargo que hoje ocupa e tem dito a interlocutores que não está fazendo nenhuma articulação relativa à universidade.
DEIXA EU FALAR
Soninha Francine (PPS-SP) quer dar palestras sobre o funcionamento da Câmara dos Vereadores, para a qual se elegeu em 2004, quando era do PT (hoje desafeto). Cobraria para falar a "empresas e sindicatos". Pretende "bater na porta de possíveis patrocinadores e ficar de olho em editais de fomento". Na segunda, ela falará "de graça" a assessores do vereador Ricardo Young (PPS-SP).
CRIANÇADA
Ideia que surgiu no Ano-Novo de Soninha: escrever livros infantis sobre política. "Não é legal?" Enquanto os planos não andam, ela é "internauta e dona de casa".
PROVA DOS NOVE
O atestado de presença fornecido pela Fuvest tem causado desconfiança nas empresas que dispensam funcionários para as provas da segunda fase do vestibular. Os vestibulandos recebem um documento sem timbre. Na segunda-feira, um grupo de alunos se queixava na Uninove da Barra Funda. Ouviam como resposta que quem quisesse documento "mais timbrado" deveria ir até a sede, ao lado da Cidade Universitária.
PRA GRINGO
Bibi Ferreira se apresenta em 14 de abril no Lincoln Center. Leva a Nova York o espetáculo "Bibi in Concert", previsto para chegar aos Estados Unidos no ano passado. No show, ela canta sucessos da Broadway, ao lado de canções de Edith Piaf, Amália Rodrigues e Tom Jobim.
EX-ÁRVORE AZUL
O hotel Blue Tree Premium da região da av. Engenheiro Luis Carlos Berrini mudará de nome e de bandeira. A partir de 21 de fevereiro, será administrado pela GJP, empresa de Guilherme Paulus, fundador da CVC.
DESCEU DO CAVALO
A casa Outlaws, de que Luan Santana é sócio, deixará de ser somente sertaneja. Em 2013, passa a dedicar as noites de quinta e de domingo para shows de música pop.
PEDRAS ROLARAM
Joonior Joe, vocalista da banda Viva a Noite, foi à festa On the Rocks, do clube D-Edge. Estavam na pista, embalada a rock'n'roll, o chef Ortiz Maldonado e as empresárias Daniele Pinesi e Claudia Quezada. A hostess Lekka Glam recebeu convidados da balada de anteontem, como o artista plástico Theo Castilho.
CURTO-CIRCUITO
A festa Tô que Tô, de música brasileira, estreia no dia 24 no Centro Cultural Rio Verde. Terá como DJs Zé Pedro, Marcus Preto e Cris Naumovs. A VJ será Dandara Ferreira. 18 anos.
Vai até sábado a Mostra Internacional de Cinema Digital, no Centro Cultural São Paulo.
A Huis Clos faz liquidação até fevereiro.
A peça "Amor de Mãe - Parte 13", com Lulu Pavarin e Rodrigo Audi, começa temporada amanhã, no Sesc Consolação. 14 anos.
Gilberto Lanzelotti comemora 50 anos no show do The Platters, amanhã, no Biroska.
A casa noturna Disco reabre na sexta, com os DJs Marcelo Sá, Cris Proença e Ale Rauen, entre outros.
Ueba! PMDB vai pra Venezuela! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 09/01
E o Messi? Ganhou a quarta bola de ouro da Fifa. O Messi, além de ser o Messi, tem quatro bolas. De ouro!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto da Chavezuela. Manchete do Eramos6: "PMDB negocia para tomar posse no lugar de Chávez". Essa posse do Chávez tá parecendo Gabriel García Márquez! Surrealismo mágico!
E eu tenho uma ideia melhor pra posse do Chávez: manda o Quico no lugar dele. Ou então o Seu Madruga, que tem mais experiência: já foi sapateiro e marceneiro.
E um leitor me perguntou: "Se o Chávez morrer, o Sarney assume?". Não, o Sarney tá de olho na presidência do Senado venezuelano com o slogan: Renovação! Rarará!
E ontem foi aniversário do Elvis Presley! Elvis Presley faria 78 anos, se estivesse morto. Rarará!
E o Messi? Ganhou a quarta bola de ouro da Fifa. O Messi, além de ser o Messi, tem quatro bolas. De ouro!
Mas o grande babado da noite foi o smoking do Messi! Preto de bolinhas brancas. Parecia uma galinha-d'angola. Tão dizendo que a estilista era a filha do Dunga! Parecia o terno da galinha pintadinha. Outros acharam que ele parecia o Zé Bonitinho, o Mazzaropi ou o bandido da gravatinha do filme "O Pestinha"!
E qual foi o discurso do Messi? "Chupa, Cristiano Ronaldo!". Mas o site Futirinhas disse que cada bolinha do terno representa um gol que ele fez no Fernando Torres! Rarará!
E eu tenho um amigo que viaja tanto que o cartão de crédito dele tá parecendo o currículo do Messi: Gol, Gol, Gol! E como diz aquela bichinha de língua plesa fã do Messi: "Messeu com o Messi, messeu comigo". Rarará!
E tirando os 38 erros de português, a entrevista do Andres Sanchez no "Arena SporTV" foi uma porcaria! Aliás, porcaria se ele fosse palmeirense, foi uma merda mesmo. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! Placa num bar no interior do Paraná: "Atenção! Na perca da comanda será cobrado multa de R$ 450 mais o lembrado". Adorei o "mais o lembrado".
Como bebum não tem memória, quem lembra é o garçom: "Eu me lembro de que o senhor bebeu três garrafas de uísque mais dois engradados de cerveja". Rarará!
E se eu tiver algum transtorno mental por causa do "BBB13", vou me consultar com esta psicóloga de Uberaba: Janete Tranquila! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E o Messi? Ganhou a quarta bola de ouro da Fifa. O Messi, além de ser o Messi, tem quatro bolas. De ouro!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto da Chavezuela. Manchete do Eramos6: "PMDB negocia para tomar posse no lugar de Chávez". Essa posse do Chávez tá parecendo Gabriel García Márquez! Surrealismo mágico!
E eu tenho uma ideia melhor pra posse do Chávez: manda o Quico no lugar dele. Ou então o Seu Madruga, que tem mais experiência: já foi sapateiro e marceneiro.
E um leitor me perguntou: "Se o Chávez morrer, o Sarney assume?". Não, o Sarney tá de olho na presidência do Senado venezuelano com o slogan: Renovação! Rarará!
E ontem foi aniversário do Elvis Presley! Elvis Presley faria 78 anos, se estivesse morto. Rarará!
E o Messi? Ganhou a quarta bola de ouro da Fifa. O Messi, além de ser o Messi, tem quatro bolas. De ouro!
Mas o grande babado da noite foi o smoking do Messi! Preto de bolinhas brancas. Parecia uma galinha-d'angola. Tão dizendo que a estilista era a filha do Dunga! Parecia o terno da galinha pintadinha. Outros acharam que ele parecia o Zé Bonitinho, o Mazzaropi ou o bandido da gravatinha do filme "O Pestinha"!
E qual foi o discurso do Messi? "Chupa, Cristiano Ronaldo!". Mas o site Futirinhas disse que cada bolinha do terno representa um gol que ele fez no Fernando Torres! Rarará!
E eu tenho um amigo que viaja tanto que o cartão de crédito dele tá parecendo o currículo do Messi: Gol, Gol, Gol! E como diz aquela bichinha de língua plesa fã do Messi: "Messeu com o Messi, messeu comigo". Rarará!
E tirando os 38 erros de português, a entrevista do Andres Sanchez no "Arena SporTV" foi uma porcaria! Aliás, porcaria se ele fosse palmeirense, foi uma merda mesmo. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! Placa num bar no interior do Paraná: "Atenção! Na perca da comanda será cobrado multa de R$ 450 mais o lembrado". Adorei o "mais o lembrado".
Como bebum não tem memória, quem lembra é o garçom: "Eu me lembro de que o senhor bebeu três garrafas de uísque mais dois engradados de cerveja". Rarará!
E se eu tiver algum transtorno mental por causa do "BBB13", vou me consultar com esta psicóloga de Uberaba: Janete Tranquila! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O vale-tudo no português - ROSÂNGELA BITTAR
Valor Econômico - 09/01
Os vestibulares tiveram que mudar às pressas seus editais de exigências para se adaptar. Os concursos públicos reviraram-se do avesso, em cima da hora, para dar uma ajeitada nos exames, de forma que eles não ficassem nem "certos" na regra antiga nem "errados" na regra nova e, assim, não deem margem a contestações na Justiça. Livros didáticos, já prontos para distribuição no início do ano letivo, não podem assegurar que estão ensinando corretamente a língua portuguesa, já impressos na nova forma, que, não se sabe, pode entrar em nova fase de alterações. Absolutamente tudo o que diz respeito à implantação do acordo ortográfico, firmado pelos países lusófonos em 1999, representa um grande transtorno.
Desde a gênese, lá se vão 24 anos, o acordo enfrentou barreiras intransponíveis. Portugal foi mais transparente e logo deixou claro que o país esticaria a transição ao máximo, numa reverência à rejeição de sua intelectualidade às alterações na escrita do português. No Brasil, sempre que vai chegando perto o limite, o prazo fatal, a data marcada para vigorar definitivamente o acordo, o governo dá um piparote e providencia um adiamento sob qualquer pretexto.
Dia 27 de dezembro último, faltando três dias para vigorar plenamente a nova ortografia, a presidente Dilma Rousseff adiou mais uma vez a sua implementação. De imediato, os vestibulandos poderão errar à vontade, pois na correção de suas provas não será exigida a nova forma, mas e daí? Aprenderam o idioma segundo quais regras? Como saberão se acertaram ou erraram, bê-á-bá de qualquer exame?
Portugal foi mais transparente, até na hostilidade
O decreto 7875 adiou para 1º de janeiro de 2016 a obrigatoriedade do uso da nova ortografia. A transição, iniciada em 2009, recebeu agora essa esticada ampla, geral e irrestrita.
Os transtornos de alterações em editais e concursos são pequenos diante da confusão que vem se estabelecendo no processo de aprendizagem da língua.
Foi um mau acordo para a imensa maioria dos falantes desse idioma. Portugal o rejeitou e expôs suas razões, e todos compreenderam a angústia de professores e especialistas em geral, além de políticos e instituições que deveriam referendá-lo. Afinal, a língua como praticada em Portugal teria sido a mais afetada, com maior número de alterações para aproximar-se dos outros países.
Mas no Brasil as mudanças, embora poucas, foram profundas e, por carecerem de racionalidade, ficou logo patente o alto grau de dificuldade para seu aprendizado. Até hoje são muitos os que não absorveram a supressão do trema ou a falta de regras para o hífen, sinal regido agora por tantas exceções que só a decoreba o vence.
O acordo foi firmado em 1990 por Brasil, Portugal, São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique. Desde o início os países ficaram livres para estabelecer seu tempo de maturação. Alguns, Portugal à frente, demoraram a referendá-lo, outros foram adiando sucessivamente sua execução.
Se fosse apenas a perda dos acentos em hiatos e ditongos, como os simplistas querem fazer crer, está claro que o aprendizado teria ocorrido sem necessidade de maiores protelações. Mas são mudanças sem regras e o acordo vai sendo descumprido pela população e maltratado pelo governo.
Porém, o acordo foi assinado, pressionou-se os demais países a seguir adiante com a tramitação das mudanças nas instituições legais e educacionais. É uma incoerência o Brasil mostrar-se tão titubeante, e tão tardiamente. Se é um acordo que veio só para confundir, promover unificações periféricas e movimentar o mercado editorial, não deveria ter sido assinado, e poderiam as autoridades ter pensado mais antes de consumar o fato. Uma vez em vigor, a oscilação só piora a situação.
O decreto assinado pela presidente horas antes de iniciar-se o prazo de validade definitiva do acordo, em 1º de janeiro de 2013, prorroga por três anos a nova transitoriedade da regra - um sinal claro de que não houve absorção das normas. Tem razão o professor Ernani Pimentel, o mais combativo crítico da nova ortografia, quando diz que o acordo exige decoreba, não compreensão. Por isso, o manuseio do dicionário é obrigatório, em qualquer texto, mesmo para especialistas.
Existe, no Senado Federal, projeto de decreto legislativo jogando para 2020 o início de implantação obrigatória das regras do acordo. Enquanto o Brasil vacila, valem as duas línguas e reacende-se a discussão que já se imaginava superada e, claro, evidencia-se a oportunidade para outras mudanças e recuos, perenizando o vale-tudo no português.
Terminou o prazo para o governo encerrar a sindicância realizada na Casa Civil da Presidência sobre o envolvimento de órgãos do governo nas irregularidades detectadas na operação Porto Seguro, mas as conclusões não foram divulgadas. A propósito de análise aqui publicada sobre o descompasso entre a ação da Polícia Federal na Operação Porto Seguro e a ação do ministro da Justiça nas informações à presidente, a assessoria de José Eduardo Cardozo esclarece o que define como a cronologia real dos fatos.
Informa que na tarde de quinta-feira, dia 22 de novembro, o ministro Cardozo foi avisado genericamente pelo diretor-geral da PF, Leandro Daiello, sobre a deflagração, no dia seguinte, de uma operação em órgãos federais, em Brasília e São Paulo.
O ministro Cardozo foi à Presidência da República e informou a presidente Dilma Rousseff que no dia seguinte haveria uma operação, sem os detalhes, como deve ser feito por razões legais.
Na sequência, Cardozo seguiu para Fortaleza, para participar de reunião de ministros da Justiça do Mercosul. Esteve rapidamente com eles, explicou que teria de retornar a Brasília e assim o fez, saindo de Fortaleza por volta das 2h (na cidade não há horário de verão), chegando a Brasília por volta das 5h30, quando soube dos detalhes da Operação Porto Seguro pelo delegado-geral Leandro Daiello.
Imediatamente, às 6h, o ministro Cardozo avisou Giles, o chefe de gabinete de Dilma, e combinou que ficaria acompanhando a operação, e assim que a presidente quisesse, estaria à disposição para falar com ela, tendo sido chamado ao Palácio às 9h.
Custo de energia: uma oportunidade perdida - CRISTIANO ROMERO
Valor Econômico - 09/01
São, sem dúvida, louváveis os esforços do governo da presidente Dilma Rousseff para reduzir custos de produção e, assim, estimular investimentos e o aumento da competitividade da economia brasileira. O problema é que o calendário político, agora apertado, levou o governo a adotar medidas marcadas pela pressa, pela necessidade de gerar ganhos e produzir resultados imediatos.
O polêmico pacote do setor elétrico é, talvez, o melhor exemplo. O problema não está na acusação de que o governo rompera contratos, mas justamente no caminho escolhido para reduzir preços e renovar prazos de concessão de usinas hidrelétricas. O modelo adotado por Brasília sacrificou a competição no setor privado.
Não houve quebra de contrato, uma vez que a adesão à renovação das concessões foi oferecida em bases voluntárias. Como lembra o economista Luiz Guilherme Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, algumas empresas, como a Cesp e a Cemig, não aceitaram as bases oferecidas pelo governo. Optaram por continuar na situação atual, estabelecida em contrato, até que vençam os prazos de suas concessões.
No setor elétrico, governo sacrificou a concorrência
A queda dos preços das ações de empresas do setor elétrico não decorreu da ruptura dos contratos, mas da frustração da expectativa, por parte dos investidores, de que a renovação das concessões seria feita em bases mais vantajosas que aquelas oferecidas pelo governo. É natural que tenha sido assim. O preço das ações passou a refletir a nova realidade regulatória.
Especialista em regulação, tendo presidido a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em parte dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, Schymura diz que não faz mesmo sentido o Brasil ter uma energia tão cara, sendo que sua matriz energética é baseada em recursos hídricos. Trata-se, claramente, de um gargalo que afeta negativamente a competitividade das empresas locais.
Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revelou que a tarifa média de energia elétrica paga pela indústria brasileira é 50% superior à média de um conjunto de 27 países. A diferença chega a 134% quando a comparação é feita com os outros Brics (Rússia, Índia e China). A comparação com os sul-americanos é igualmente desvantajosa - o custo de energia no Brasil é, em média, 67,5% superior.
Reduzir o preço da energia no país é, portanto, uma necessidade imperiosa. A questão é saber se a presidente Dilma adotou a melhor estratégia para atingir esse objetivo. O governo optou por arbitrar a gordura a ser retirada dos preços da eletricidade. Cortou alguns encargos, transferindo parte da conta ao Tesouro Nacional, e reduziu a taxa de remuneração das empresas que desejarem renovar as concessões por mais 30 anos. Isso permitirá queda de 16% a 28%, a partir de fevereiro, nas contas de energia de residências, do comércio e da indústria.
A vantagem dessa opção é que o preço da energia cairá imediatamente, beneficiando igualmente empresas e população, com impacto benéfico na inflação já no curto prazo. "É compreensível o sentimento de urgência do governo, quando se considera o péssimo desempenho do investimento e os fracos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos trimestres", diz Schymura. Ele acha, entretanto, que a pressa está levando o país a sacrificar uma oportunidade histórica de diminuir o custo da energia via mercado.
O governo poderia deixar os prazos das concessões expirarem e, em seguida, licitar novos contratos. Nesse modelo, o mercado definiria os preços em bases até mais vantajosas que as arbitradas por Brasília. Consumidores residenciais e empresariais sairiam ganhando.
"A competição é uma mentalidade, uma forma de abordar os problemas econômicos. Sempre que o governo passa por cima do mecanismo da concorrência para arbitrar preços, ele enfraquece esses princípios", sustenta Schymura, que trata do tema na próxima Carta do Ibre, a ser divulgada nesta quarta-feira. "Uma das grandes vantagens da concorrência é revelar quanta gordura existe de fato nos atuais preços. É possível, inclusive, que novas licitações das concessões do setor elétrico levassem a quedas do custo de energia ainda maiores, embora não fossem ocorrer de forma imediata."
Schymura informa que os formatos de leilões públicos têm sido objeto de um dos ramos mais sofisticados da pesquisa microeconômica. Cada modelagem é uma chance de se evoluir e testar as formas que gerem mais vantagens para o Estado e a sociedade. "É pena que uma oportunidade significativa como a da expiração das concessões do setor elétrico seja desperdiçada, com o governo optando por colher de forma rápida e não competitiva a almejada redução de custo", observa ele.
Há o risco adicional de outros setores de infraestrutura, escaldados pela experiência do setor elétrico, acharem que o governo arbitrará preços também em suas áreas. Isso pode levar grandes grupos empresariais (principalmente, as empreiteiras) a atuar na órbita do governo, fazendo lobby para obter vantagens preferenciais, uma vez que não prevalecerá a concorrência. Um incentivo à corrupção e à ineficiência.
"Em setores de infraestrutura em que há monopólios naturais, nos quais é um contrassenso estabelecer uma competição no mercado, como no caso de estradas, da transmissão e da distribuição de energia elétrica, é importante que se crie a chamada "competição pelo mercado". Isto significa fazer leilões que tenderão a estabelecer preços e condições de exploração competitivos do serviço de infraestrutura", aposta Schymura.
As medidas que a presidente Dilma tem adotado em vários setores da infraestrutura para reduzir gargalos partem do reconhecimento de que o modelo de crescimento econômico, baseado apenas em crédito e consumo, pode ter se esgotado. Este é o lado pragmático da presidente, que não hesita em admitir que o país não conseguirá ser justo socialmente se não tiver uma economia competitiva. Há o lado, porém, intervencionista, da mão pesada na condução da macro e da microeconomia, que cria insegurança e afugenta investidores.
Sem reservatórios suficientes, país fica em risco na energia
O GLOBO - 09/01
A questão é mais complexa do que o governo deixou transparecer quando tomou a decisão política de baixar em 20% as tarifas de eletricidade este ano
A base da matriz elétrica brasileira é hidráulica e deverá continuar a ser assim ainda por muito tempo. A hidroeletricidade é uma das fontes mais limpas de energia e tem seu custo relativamente baixo quando comparado às demais.
No entanto, o risco da matriz com base hidráulica está no clima. Se chove pouco, todo o sistema perde capacidade de geração. A eletricidade nesse tipo de matriz só se estoca sob a forma de água acumulada em reservatórios. Porém, a grande maioria das hidrelétricas construídas a partir dos anos 90 não tem mais reservatório. Ou seja, a água que se acumula junto a barragem é para uso corrente. A quantidade que chega à barragem é a mesma que sai pelas turbinas . Por isso, no chamado “período úmido”, com chuvas abundantes, essas hidrelétricas são mais utilizadas porque os rios que as alimentam estão volumosos. E como não acumulam água além do necessário para uso imediato, nos anos de chuvas abundantes o “excedente” é vertido, sem passar pelas turbinas instaladas nas casas de força. Trata-se de uma energia inexplorada. Isso acontece eventualmente em Itaipu, por exemplo, e é o que ocorrerá em Santo Antonio, Jirau ou Belo Monte, diferentemente de Tucuruí, Serra da Mesa, Três Marias, Furnas, Sobradinho, usinas com reservatórios.
Não se constrói mais hidrelétricas com reservatórios no Brasil por restrições ambientais. Os lagos capazes de formar reservatórios geralmente inundam áreas extensas que podem obrigar o reassentamento de núcleos urbanos ou o abandono de produção agropecuária, além de afetar o habitat de diversas espécies animais e vegetais.
Sem novos reservatórios para estocar energia, para não ficar inteiramente à mercê do bom humor de São Pedro o setor precisa de alternativas térmicas e de fontes não convencionais, ainda incipientes para o tamanho da demanda do país. Essa base térmica custa mais caro e precisa ser remunerada mesmo quando não está em uso. E quando esse tipo de energia é mais usado para poupar água acumulada nos reservatórios remanescentes, a conta de eletricidade sobe para todos, e ainda mais para aqueles grandes consumidores que costumam recorrer ao mercado livre para se suprir. A questão então é mais complexa do que o governo deixa transparecer, por ter tomado a decisão política de baixar este ano as tarifas de energia em 20% sem se apoiar em critérios estritamente técnicos.
No quadro atual, a curto prazo, só resta aos brasileiros rezar para que chova o esperado nos próximos meses. Se isso não ocorrer, as empresas consumidoras serão obrigadas a reduzir sua demanda em função do inevitável aumento do custo da anergia. E para o futuro fica a lição: mesmo reduzindo ao máximo os impactos ambientais, o Brasil não pode abrir mão de hidrelétricas com reservatórios. O país tem ainda muitos investimentos a realizar no setor, que não pode ser descapitalizado por iniciativas de ordem meramente política.
A questão é mais complexa do que o governo deixou transparecer quando tomou a decisão política de baixar em 20% as tarifas de eletricidade este ano
A base da matriz elétrica brasileira é hidráulica e deverá continuar a ser assim ainda por muito tempo. A hidroeletricidade é uma das fontes mais limpas de energia e tem seu custo relativamente baixo quando comparado às demais.
No entanto, o risco da matriz com base hidráulica está no clima. Se chove pouco, todo o sistema perde capacidade de geração. A eletricidade nesse tipo de matriz só se estoca sob a forma de água acumulada em reservatórios. Porém, a grande maioria das hidrelétricas construídas a partir dos anos 90 não tem mais reservatório. Ou seja, a água que se acumula junto a barragem é para uso corrente. A quantidade que chega à barragem é a mesma que sai pelas turbinas . Por isso, no chamado “período úmido”, com chuvas abundantes, essas hidrelétricas são mais utilizadas porque os rios que as alimentam estão volumosos. E como não acumulam água além do necessário para uso imediato, nos anos de chuvas abundantes o “excedente” é vertido, sem passar pelas turbinas instaladas nas casas de força. Trata-se de uma energia inexplorada. Isso acontece eventualmente em Itaipu, por exemplo, e é o que ocorrerá em Santo Antonio, Jirau ou Belo Monte, diferentemente de Tucuruí, Serra da Mesa, Três Marias, Furnas, Sobradinho, usinas com reservatórios.
Não se constrói mais hidrelétricas com reservatórios no Brasil por restrições ambientais. Os lagos capazes de formar reservatórios geralmente inundam áreas extensas que podem obrigar o reassentamento de núcleos urbanos ou o abandono de produção agropecuária, além de afetar o habitat de diversas espécies animais e vegetais.
Sem novos reservatórios para estocar energia, para não ficar inteiramente à mercê do bom humor de São Pedro o setor precisa de alternativas térmicas e de fontes não convencionais, ainda incipientes para o tamanho da demanda do país. Essa base térmica custa mais caro e precisa ser remunerada mesmo quando não está em uso. E quando esse tipo de energia é mais usado para poupar água acumulada nos reservatórios remanescentes, a conta de eletricidade sobe para todos, e ainda mais para aqueles grandes consumidores que costumam recorrer ao mercado livre para se suprir. A questão então é mais complexa do que o governo deixa transparecer, por ter tomado a decisão política de baixar este ano as tarifas de energia em 20% sem se apoiar em critérios estritamente técnicos.
No quadro atual, a curto prazo, só resta aos brasileiros rezar para que chova o esperado nos próximos meses. Se isso não ocorrer, as empresas consumidoras serão obrigadas a reduzir sua demanda em função do inevitável aumento do custo da anergia. E para o futuro fica a lição: mesmo reduzindo ao máximo os impactos ambientais, o Brasil não pode abrir mão de hidrelétricas com reservatórios. O país tem ainda muitos investimentos a realizar no setor, que não pode ser descapitalizado por iniciativas de ordem meramente política.
Uma normalidade exótica - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 09/01
A economia brasileira seria muito mais dinâmica e os serviços públicos, muito mais eficientes, se o governo federal aplicasse à administração o mesmo esforço empenhado em maquiar suas contas, em disfarçar suas mazelas e em demolir os pilares da responsabilidade fiscal.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e seus principais auxiliares apressaram-se a responder às críticas e a defender a contabilidade criativa usada para simular o cumprimento da meta fiscal de 2012. "É uma operação absolutamente normal, previsível, usual", disse o secretário do Tesouro, Arno Augustin, numa entrevista ao Estado. "Tudo que foi feito é legítimo e está dentro das normas legais", garantiu o ministro Mantega ao jornal Valor. A solução encontrada pelo governo incluiu o uso de recursos do Fundo Soberano, operações com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o recebimento antecipado de dividendos de estatais, além do desconto do valor investido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Tudo isso pode ser legal, assim como a declaração de guerra, em certas condições. Mas esse arranjo contábil dificilmente seria descrito como "absolutamente normal, previsível e usual" num país com padrões menos exóticos de administração pública. É uma indisfarçável maquiagem, e a palavra normalidade, nesse caso, só serve para descrever, de modo nada elogioso, usos e costumes do atual governo federal.
Não há como negar: toda aquela complicada operação teria sido desnecessária, mesmo para um governo inclinado à simulação, se a meta fiscal tivesse de fato sido alcançada. Não foi, e isso se explica por uma combinação de fatores. Foram concedidos cerca de R$ 45 bilhões de incentivos fiscais, o baixo crescimento reduziu a arrecadação, os gastos federais continuaram em crescimento e a contribuição de Estados e municípios foi inferior à necessária.
Mas todos esses problemas haviam sido notados bem antes do fim do ano. Se o governo quisesse, teria tempo para tratar o assunto com clareza e propor uma revisão da meta. O governo preferiu, no entanto, insistir no "cumprimento" da meta, porque isso, segundo Augustin, seria o melhor: tornaria "mais claros os fundamentos do Brasil". É uma explicação no mínimo incomum. Se houve alguma clareza, nesse caso, foi apenas a da própria simulação. Quanto ao arranjo contábil, foi uma enfática negação de qualquer compromisso com a transparência.
A mesma negação ocorre quando o governo deixa acumular, ano após ano, um enorme volume de restos a pagar, criando uma espécie de orçamento paralelo. O total deixado para 2013 pode ser de uns R$ 200 bilhões, de acordo com a organização Contas Abertas, especializada em finanças públicas. Segundo o ministro, o valor pode ser menor, mas ele se absteve de apresentar outro número. O crescimento do valor deixado de um ano para outro é normal, disse ele, porque os investimentos aumentam. Em outro país, o argumento poderia ser razoável. No Brasil a história é diferente.
Não se pode realisticamente vincular o empenho de verba num exercício com o início efetivo de um investimento. O valor desembolsado para investimento fica sempre muito abaixo do autorizado e, mesmo assim, a maior parte dos gastos é realizada com restos a pagar.
A acumulação ocorre porque falta competência para a elaboração e a execução de projetos e porque o governo tenta, em cada fim de exercício, preservar recursos para gastar em algum momento. O valor empenhado cresce, mas a competência gerencial se mantém abaixo de medíocre.
Mas falta pelo menos um importante fator para uma avaliação mais ampla do desempenho fiscal de 2012. O governo concedeu cerca de R$ 45 bilhões de incentivos fiscais e, apesar disso, a economia deve ter crescido em torno de 1%. A conclusão é fácil: os benefícios foram dirigidos principalmente ao consumo e ajudaram alguns setores a elevar suas vendas. A ação fracassou, no entanto, como tentativa de reativar a economia. O governo insistiu numa estratégia errada e os R$ 45 bilhões foram mal usados. Nenhuma maquiagem disfarça esse fiasco.
FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA
O GLOBO - 09/01
CAI PREVISAO DE NIVEL DE RESERVATORIOS NO FIM DO MES
ONS reviu estimativas do armazenamento de água nas hidrelétricas. Números pioraram em todas as regiões do país
Por causa da falta de chuvas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)reviu para baixo as projeções de nível dos reservatórios das hidrelétricas brasileiras no fim deste mês. O cenário é nefasto. Houve redução nas estimativas nos quatro subsistemas (Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte). Nas usinas do Nordeste, por exemplo, a previsão é de 25,4% de armazenamento , praticamente um terço do último dia de janeiro do ano passado. Os números estão no acompanhamento diário da operação hidroenergética, o relatório Ophen. A primeira revisão das estimativas foi feita quinta-feira passada. Anteontem, as hidrelétricas respondiam por 78,78% do consumo de energia no país; as térmicas, por 20,57%. Há um ano, as proporções eram de 90,97% e 8,13%.
Alta tensão 1
Julio Bueno, secretário de Energia do Rio, convocou Light e Ampla para reunião nesta 6ª. Quer explicações para os múltiplos cortes de luz no estado no fim do ano.
Alta tensão 2
A crise da energia preocupa o governo do Rio, num ano de Copa das Confederações e Jornada da Juventude. O estado tem 8.700 MW de capacidade de geração, mas consome menos da metade, 4.100 MW. Como o sistema é interligado, a energia não fica aqui. “Não estamos garantidos”, diz Bueno.
Tem grama
A Greenleaf, líder nacional em gramados esportivos, fez parceria com a espanhola Royalverd, responsável pela cobertura do Camp Nou, estádio do Barcelona. Terão know-how da empresa os gramados das seis arenas da Copa das Confederações. Doze espanhóis já estão trabalhando no Brasil.
Esfriou
Deve crescer 10% este ano o mercado de contratação de executivos. É quase um terço do salto de 27% de 2012. A previsão é de 14 empresas de recrutamento consultadas pela revista “Você S/A”, que chega amanhã às bancas.
Em dia
Cresceu 8,5% em dezembro o volume de quitação de dívidas com o varejo carioca. A pesquisa é do CDL-Rio. A inadimplência subiu 1,5% no mês do Natal; e 2,1% no ano.
‘High tech’
O Hospital Samaritano investiu R$ 10 milhões em sala de cirurgia robótica. É o primeiro da rede privada de saúde do Rio a ter o espaço.
Exame
O Contraprova, laboratório de toxicologia, investiu R$ 500 mil em novo aparelho que detecta entorpecentes em concentrações baixas. Fará até três mil exames por mês.
É carnaval
A Dimona produzirá pelo 5º ano seguido as camisetas do Cordão da Bola Preta. Espera vender, em 2013, 20 mil unidades, com o reforço do site, que entra no ar hoje.
OLHO NOS JOVENS
A Koni Store, de comidajaponesa, investiu R$ 30 mil em novo site. Estreia hoje. O layout da página será adaptável ao monitor do usuário. Terá ainda integração com mídias sociais. A intenção é falar com franqueados e clientes usando linguagem mais jovem.
A Agência Kindle assina. Ela também foi responsável por outros dois portais do Grupo Trigo: Domino´s e Spoleto.
RECEITA NOVA
O Canal Brasil estreia na 6ª campanha que anuncia sua entrada no pacote básico das TVs pagas. O ator Paulo Tiefenthaler, do “Larica Total”, estrela o filme, que será veiculado em televisão e na web. É criação da Globosat.
A base de assinantes do canal passará de 3,5 milhões para 12 milhões.
MAIS QUE REAIS
A carioca RJCP Equity s/a, de investimentos em capital de risco, fará campanha para festejar o segundo aniversário. “Em dois anos, nossos projetos se tornaram reais. E também dólares e libras”, diz a peça. Criação da 11:21, sai domingo em mídia impressa e TV. Avaliada em R$ 20 milhões, a companhia tem participação em cinco empresas. Atua no Brasil e nos EUA. No fim de janeiro, abre escritório em Londres.
CAMINHO REFORÇADO
A Geo-Rio entrega este mês a obra de reforço do acesso ao Corcovado, no Parque da Tijuca. Durou três meses. Só agora o estrago das chuvas de abril de 2010 foi consertado. Parte do aporte integra a verba de R$10 milhões para melhorias na área. Serão cem intervenções.
Casa própria
A Cury Construtora fechou com a Caixa a construção de 2.500 unidades do Minha Casa Minha Vida 2 em Queimados e Duque de Caxias. São dois contratos de R$ 186 milhões. A paulista quer elevar sua participação no Estado do Rio em 20%.
Quádruplo
A Conasa espera bater R$ 640 milhões em vendas este ano. É mais de quatro vezes os R$ 150 milhões de 2012. O total de unidades deve saltar de mil para 2.200.
Comercial
A Zoneng Engenharia lança empreendimento comercial em Itaboraí em maio. Terá 40 salas, três lojas e valor geral de vendas de R$ 22 milhões.
Aquecido
A imobiliária Fernandez Mera venderá residencial em Muriqui (RJ) da SRC, este mês; e comercial na Taquara do Grupo CPS, em fevereiro. Somam 135 unidades e R$ 25 milhões em vendas.
Livre Mercado
O Custo Básico da Construção no Rio subiu 7,91% em 2012. Foi quase a mesma alta do IGP-M (7,82%). Em dezembro, variou 0,19%, informa o Sinduscon-Rio.
O Daniel Advogados vai traduzir para o mandarim seu boletim trimestral sobre propriedade intelectual no Brasil. Atende pedido de um escritório chinês. Prevê alta de até 20% no total de destinatários. Hoje tem 14.442, dos quais 86% estrangeiros.
Subiu 30% o total de crianças em áreas de lazer do Kid’s Place de novembro para dezembro. Foram 11 mil visitas. O grupo tem seis espaços. Fechará 2013 com dez.
O Hortifruti vai vender barraca de praia e bolsa térmica, a partir da 2ª quinzena. É ação de verão.
A IMX fechou com o Rio Eu Amo Eu Cuido. Divulgará o movimento em seus eventos. Começa dia 12, na Copa de Motocross Freestyle.
MegaMatte e Yes! Idiomas vão à convenção Retail’s BigShow, que começa domingo, em Nova York. Integrarão comitiva do Sebrae.
CAI PREVISAO DE NIVEL DE RESERVATORIOS NO FIM DO MES
ONS reviu estimativas do armazenamento de água nas hidrelétricas. Números pioraram em todas as regiões do país
Por causa da falta de chuvas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)reviu para baixo as projeções de nível dos reservatórios das hidrelétricas brasileiras no fim deste mês. O cenário é nefasto. Houve redução nas estimativas nos quatro subsistemas (Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte). Nas usinas do Nordeste, por exemplo, a previsão é de 25,4% de armazenamento , praticamente um terço do último dia de janeiro do ano passado. Os números estão no acompanhamento diário da operação hidroenergética, o relatório Ophen. A primeira revisão das estimativas foi feita quinta-feira passada. Anteontem, as hidrelétricas respondiam por 78,78% do consumo de energia no país; as térmicas, por 20,57%. Há um ano, as proporções eram de 90,97% e 8,13%.
Alta tensão 1
Julio Bueno, secretário de Energia do Rio, convocou Light e Ampla para reunião nesta 6ª. Quer explicações para os múltiplos cortes de luz no estado no fim do ano.
Alta tensão 2
A crise da energia preocupa o governo do Rio, num ano de Copa das Confederações e Jornada da Juventude. O estado tem 8.700 MW de capacidade de geração, mas consome menos da metade, 4.100 MW. Como o sistema é interligado, a energia não fica aqui. “Não estamos garantidos”, diz Bueno.
Tem grama
A Greenleaf, líder nacional em gramados esportivos, fez parceria com a espanhola Royalverd, responsável pela cobertura do Camp Nou, estádio do Barcelona. Terão know-how da empresa os gramados das seis arenas da Copa das Confederações. Doze espanhóis já estão trabalhando no Brasil.
Esfriou
Deve crescer 10% este ano o mercado de contratação de executivos. É quase um terço do salto de 27% de 2012. A previsão é de 14 empresas de recrutamento consultadas pela revista “Você S/A”, que chega amanhã às bancas.
Em dia
Cresceu 8,5% em dezembro o volume de quitação de dívidas com o varejo carioca. A pesquisa é do CDL-Rio. A inadimplência subiu 1,5% no mês do Natal; e 2,1% no ano.
‘High tech’
O Hospital Samaritano investiu R$ 10 milhões em sala de cirurgia robótica. É o primeiro da rede privada de saúde do Rio a ter o espaço.
Exame
O Contraprova, laboratório de toxicologia, investiu R$ 500 mil em novo aparelho que detecta entorpecentes em concentrações baixas. Fará até três mil exames por mês.
É carnaval
A Dimona produzirá pelo 5º ano seguido as camisetas do Cordão da Bola Preta. Espera vender, em 2013, 20 mil unidades, com o reforço do site, que entra no ar hoje.
OLHO NOS JOVENS
A Koni Store, de comidajaponesa, investiu R$ 30 mil em novo site. Estreia hoje. O layout da página será adaptável ao monitor do usuário. Terá ainda integração com mídias sociais. A intenção é falar com franqueados e clientes usando linguagem mais jovem.
A Agência Kindle assina. Ela também foi responsável por outros dois portais do Grupo Trigo: Domino´s e Spoleto.
RECEITA NOVA
O Canal Brasil estreia na 6ª campanha que anuncia sua entrada no pacote básico das TVs pagas. O ator Paulo Tiefenthaler, do “Larica Total”, estrela o filme, que será veiculado em televisão e na web. É criação da Globosat.
A base de assinantes do canal passará de 3,5 milhões para 12 milhões.
MAIS QUE REAIS
A carioca RJCP Equity s/a, de investimentos em capital de risco, fará campanha para festejar o segundo aniversário. “Em dois anos, nossos projetos se tornaram reais. E também dólares e libras”, diz a peça. Criação da 11:21, sai domingo em mídia impressa e TV. Avaliada em R$ 20 milhões, a companhia tem participação em cinco empresas. Atua no Brasil e nos EUA. No fim de janeiro, abre escritório em Londres.
CAMINHO REFORÇADO
A Geo-Rio entrega este mês a obra de reforço do acesso ao Corcovado, no Parque da Tijuca. Durou três meses. Só agora o estrago das chuvas de abril de 2010 foi consertado. Parte do aporte integra a verba de R$10 milhões para melhorias na área. Serão cem intervenções.
Casa própria
A Cury Construtora fechou com a Caixa a construção de 2.500 unidades do Minha Casa Minha Vida 2 em Queimados e Duque de Caxias. São dois contratos de R$ 186 milhões. A paulista quer elevar sua participação no Estado do Rio em 20%.
Quádruplo
A Conasa espera bater R$ 640 milhões em vendas este ano. É mais de quatro vezes os R$ 150 milhões de 2012. O total de unidades deve saltar de mil para 2.200.
Comercial
A Zoneng Engenharia lança empreendimento comercial em Itaboraí em maio. Terá 40 salas, três lojas e valor geral de vendas de R$ 22 milhões.
Aquecido
A imobiliária Fernandez Mera venderá residencial em Muriqui (RJ) da SRC, este mês; e comercial na Taquara do Grupo CPS, em fevereiro. Somam 135 unidades e R$ 25 milhões em vendas.
Livre Mercado
O Custo Básico da Construção no Rio subiu 7,91% em 2012. Foi quase a mesma alta do IGP-M (7,82%). Em dezembro, variou 0,19%, informa o Sinduscon-Rio.
O Daniel Advogados vai traduzir para o mandarim seu boletim trimestral sobre propriedade intelectual no Brasil. Atende pedido de um escritório chinês. Prevê alta de até 20% no total de destinatários. Hoje tem 14.442, dos quais 86% estrangeiros.
Subiu 30% o total de crianças em áreas de lazer do Kid’s Place de novembro para dezembro. Foram 11 mil visitas. O grupo tem seis espaços. Fechará 2013 com dez.
O Hortifruti vai vender barraca de praia e bolsa térmica, a partir da 2ª quinzena. É ação de verão.
A IMX fechou com o Rio Eu Amo Eu Cuido. Divulgará o movimento em seus eventos. Começa dia 12, na Copa de Motocross Freestyle.
MegaMatte e Yes! Idiomas vão à convenção Retail’s BigShow, que começa domingo, em Nova York. Integrarão comitiva do Sebrae.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 09/01
Criação de postos de trabalho em 2013 voltará ao nível de 2011, diz consultoria
A geração de empregos neste ano deverá se recuperar e ficar no mesmo patamar de 2011, de acordo com projeção da consultoria LCA.
A expectativa é que sejam criadas 1,5 milhão de vagas -o que representará uma alta de 51% nas contratações. Em 2012, houve retração de 36%, ante o ano anterior.
A queda no número de novos postos de trabalho no ano passado é consequência do resultado pífio do PIB, segundo o economista responsável pelo relatório, Douglas Uemura.
"A previsão agora é de um retorno da atividade econômica. O governo apertou todos os botões disponíveis : diminuiu os juros, desonerou a folha de pagamento, ampliou o crédito... Essas medidas devem aumentar o número de empregos", diz Uemura.
O crescimento, porém, vai ser limitado porque, anteriormente, não houve demissões, afirma o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges.
"A retomada modesta das atividades no fim de 2012 não alavancou a criação de emprego porque a indústria não demitiu em 2011, quando o ritmo da economia se desacelerou", diz.
Os trabalhadores não foram dispensados, segundo Borges, devido à atual dificuldade para encontrar profissional qualificado, aos custos de demissão e à crença em uma recuperação econômica.
A queda na produtividade em 2012 -consequência do número elevado de funcionários em relação ao PIB- deve ser revertida neste ano.
"A produção industrial crescerá até 4%, enquanto os rendimentos aumentarão pouco por causa do reajuste real modesto do salário mínimo -de 2,7%. Em 2012, havia sido de 7,5%", diz Borges.
Rede abre escola em aeroporto para ensinar mão de obra para a Copa-2014
Para atender o aumento da procura por cursos de idiomas de qualificação de mão de obra às vésperas de Copa e Olimpíada, ampliam planos de expansão em torno das cidades-sede e até abrem unidades em aeroportos.
O grupo Multi, dono da Wizard, vai abrir unidades no formato "express", que poderão ser fechadas logo após os eventos esportivos.
O público-alvo são trabalhadores do setor turístico que atuam perto de aeroportos, como taxistas e profissionais de hotelaria.
Além de 60 unidades convencionais, estão programadas 80 de tamanho compacto e prazo determinado para shoppings e aeroportos.
"Estamos avançados em dez aeroportos, mas chegar a 20 será a meta vitoriosa", diz Carlos Martins, dono do Grupo Multi, que detém a marca.
Escolhida pela Fifa como a escola de inglês oficial da Copa, a Wise Up vai abrir 300 nos próximos dois anos e tem negociações para treinar pessoal de outros patrocinadores.
O presidente da CNA, Décio Pecin, atribui o crescimento da rede à economia.
"Os eventos são o pano de fundo. Acredito que seja mais a classe média chegando a um novo patamar, de buscar estudos para manter o padrão conquistado", afirma.
Na Fisk, que fechou parcerias com empresas privadas de setores que demandam qualificação, a meta é abrir 50 unidades neste ano. A PBF terá mais 20, segundo o diretor Christian Ambros.
A rede Yes! vai abrir 20% a mais neste ano e começará a atuar em Recife, onde ainda não tinha presença.
Despesas de municípios do Brasil sobem mais de 7%
A despesa do conjunto dos municípios brasileiros cresceu 7,3% entre 2010 e 2011 e atingiu R$ 352,4 bilhões.
A diferença entre a receita, de R$ 357,7 bilhões, e a despesa foi de R$ 5,3 bilhões. O volume de gastos chegou a 98,5% da receita.
Os dados são do anuário Multi Cidades - Finanças dos Municípios do Brasil, da Frente Nacional de Prefeitos e da Aequus Consultoria, com base na Secretaria do Tesouro Nacional no IBGE.
Os investimentos foram os quem mais se desaceleram em 2011 ante o ano anterior: foram de R$ 41,1 bilhões (queda de 31,2% para 6,1%).
No Rio de Janeiro, porém, bateram recorde pelo segundo ano consecutivo e quase dobraram de valor em 2011.
A despesa com pessoal nas cidades, por sua vez, totalizou R$ 156,2 bilhões (alta de 7,8% no período).
Mesmo assim, evoluíram em ritmo menor que as receitas correntes. Em 2011, essa relação foi de 45,5%. Em 2009, de 46,7% -o maior nível em 11 anos.
O custeio representou 41,6% da despesa total.
Soy loco... O Itaú Unibanco atingiu a marca de 1,5 milhão de cartões de crédito na América Latina, excluindo o Brasil. Desse total, 45% dos plásticos estão no Uruguai e 26%, na Argentina.
...por ti, América O Paraguai, com 18% dos cartões emitidos pelo banco, o Chile, com 9%, e o México, com 2%, fecham a lista. A Argentina foi a líder em emissões recentes, com 35% dos novos cartões.
Laboratório A Blanver, empresa fabricante de matéria-prima para a indústria farmacêutica, adquiriu equipamentos para automatizar sua produção. O investimento foi de R$ 10 milhões.
LUA DE MEL
Os novos CEOs tem um período de cem dias de "lua de mel" após tomarem posse de seus cargos, segundo estudo publicado pelo The Boston Consulting Group (BCG).
Identificar os desafios, determinar os objetivos e elaborar um cronograma de trabalho foram apontadas como as principais questões a serem abordadas pelos executivos.
Um dos mitos apontados pela consultoria é a necessidade de realizar ações ousadas imediatamente ao assumir o cargo. A recomendação aos profissionais é analisar todo o contexto durante o período de cem dias antes de tomar qualquer decisão.
O tempo médio em que os executivos ocupam o cargo é de seis anos, conforme análise da consultoria.
A pesquisa destacou que os CEOs mais bem sucedidos no cargo unem experiência, liderança e capacidade de ter uma equipe equilibrada.