quinta-feira, dezembro 05, 2013

Violência e impunidade - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 05/12
Uma sequência de pelo menos oito disparos de arma de fogo, em plena Asa Norte, a 300 metros de um supermercado, terminou com um bandido morto e um policial ferido, enquanto pessoas se jogavam ao chão e lojas tinham as portas cerradas em meio ao pânico. Ocorrida na noite de terça-feira, a cena de bangue-bangue no centro da capital da República choca por si. Mas, passado o susto, com o corpo cercado de gente, também impressionou ver testemunhas reconhecerem o criminoso como frequentador assíduo das redondezas, alguém habituado a promover assaltos e outras violências na região.
Detalhe: o policial atingido, um civil, envolveu-se na ação como vítima. Ele entrava no carro com a mulher quando foi surpreendido e reagiu. Provavelmente, estaria ileso se a Segurança Pública fizesse o trabalho dela com a devida competência. Afinal, se houvesse policiamento de fato, o marginal não agiria mais na área, intimidado pela repressão, ainda que estivesse nas ruas por outra falha contumaz do combate à violência no país: a inépcia da Justiça, seja por excessiva liberalidade, seja por irritante letargia. Sem trocadilho, é uma cadeia de elos frágeis que torna o cidadão refém, enquanto celerados vão e vêm com a desenvoltura dos comuns.

No que cabe especificamente ao Distrito Federal, há muito a fazer pela paz. A começar por liderar o processo, em vez de andar a reboque de outras unidades da Federação. O Mapa da Violência 2013 revela, por exemplo, que, entre 2000 e 2010, a taxa de óbitos por arma de fogo caiu de 28,8 para 25,3 por 100 mil no DF. Antes que pipoquem fogos de comemoração, recomenda-se comparar o avanço com o de alguns estados. O quadrilátero que abriga o poder central do país, além de representações estrangeiras, obteve redução desse tipo de crime da ordem de 12% no período. Já São Paulo baixou a estatística 67,5%; Rio de Janeiro, 43,8%; Pernambuco, 35%; Roraima, 55,7%; Mato Grosso do Sul, 37,9%; e Mato Grosso, 33,4%.

A barbárie guarda outras particularidades preocupantes no DF, líder nacional de acesso ao Ligue 180, serviço federal de atendimento a vítimas de violência contra a mulher. São 625 denúncias para cada 100 mil mulheres, bem à frente do Pará, com 515,9, e do Rio de Janeiro, com 456,8, que completam o pódio. Não bastasse, Brasília é a capital com maior número de denúncias de agressões a homossexuais. Em 2012, foram registradas 239, praticamente o dobro do segundo colocado, Mato Grosso. Mais: os jovens foram vítimas de 57,84% dos homicídios registrados em 2010 no DF - 88,41% dos quais eram negros.

Está claro que é imprescindível pensar grande ao falar em violência na capital brasileira. Para além do confronto nas ruas, da ação específica da bandidagem, indicadores sugerem a existência de uma cultura latente a ser combatida. O policiamento ostensivo (para prevenir o crime), o uso da inteligência no cerco aos marginais, a persistência na busca a foragidos, a aplicação inflexível da lei, a correção dos condenados, tudo isso forma uma cadeia una, com a qual não se pode transigir. É a impunidade que alimenta a insânia, seja nas ruas, seja nos lares.

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