FOLHA DE SP - 06/12
A ideia de doenças mentais dependerem só de interação entre predisposição genética e ambiente já era?
Coisa mais fascinante essas pesquisas de DNA que os caras fazem hoje, e o sequenciamento de genoma que é desvendado a partir de fragmentos de ossos encontrados em sítios arqueológicos que eu nunca entendo como são identificados ou escolhidos.
Por que ir procurar um esqueleto de dinossauro justamente naquela dobrinha de cotovelo do morrote do Piauí? Ou, como revelaram nesta semana, no caso do grupo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionista de Munique, na Alemanha, que se mandou para um lugarzinho ermo na Espanha, agora conhecido por Sima de Los Huesos, escavou e escavou e desenterrou um hominídeo de 400 mil anos, um tal de Homo heidelbergensis, mais velho ainda do que o Homem de Neandertal, nosso amantíssimo homo sapiens. Como sabia que o fóssil estaria ali e não soterrado sob o McDonalds da Times Square?
Por acaso, Nossa Senhora de Fátima faz aparições com hora marcada para arqueólogos e diz: "Vá até Neuquén, na Argentina, e cavoque um buraco até que encontre um Argentinosaurus huinculensis, o maior dinossauro herbívoro que já caminhou sobre a terra"? Ou "Acorde amanhã, tome um avião até a Sibéria, procure uma geleira assim e assado e mande ver com uma furadeira Black & Decker até topar com a tromba congelada de um mamute de 40 mil anos"? Imagino que o anúncio feito nesta semana, de que uma equipe de pesquisadores está destrinchando o DNA de um hominídeo com traços "pré-neandertais" deve causar "frisson" em muito evolucionista --sai, Malachias! Afinal, isso indica que estamos cada dia mais próximos de dar de cara com Elo Perdido em alguma planície do Kansas ou montanha da Floresta Negra ou quebrada do rio Yang-Tse, yes?
A mim, porém, impactou muito mais outra notícia vinda do Instituto Max Planck nestes dias do que essa sobre os homnídeos de Sima de Los Huesos. A pesquisadora do instituto, Elisabeth Biunder examinou o DNA de dois mil afro-americanos que haviam sido repetida e severamente traumatizados na infância por adultos. E constatou que o gene FKBP5 de um terço deles fora danificado, e que elas apresentavam alta probabilidade de desenvolver desordem pós-traumática. O FKBP5 vem a ser o gene que regula o sistema de estresse do corpo.
"O sangue que corre nas minhas veias é o mesmo que corria nas veias dos meus antepassados há 2.000 anos". Não lembro se li isso em uma folhinha de Seicho-no-iê que ganhei na feira ou se o ensinamento me foi passado por um mestre do budismo. Dá na mesma.
Se aceitarmos como verdadeiras as conclusões da dra. Elisabeth, podemos usar de criatividade para dizer que, sim, o mal encarnado de fato dá as caras. Que a maldade quando praticada em esfera terrena e, ainda por cima, repetidas vezes em crianças, pode trazer consequências mensuráveis em laboratório. E que o resultado palpável da violência, da ignorância, da corrupção, do desamparo e da irresponsabilidade não só fará estragos diretos, como a extensão do dano recairá sobre futuras gerações.
As células nervosas de crianças atingidas por violência e traumas sofrem mutações genéticas. Ou seja, a idéia de que doenças mentais dependem apenas da interação entre predisposição genética e ambiente fica ultrapassada. Os traumas sofridos entram na equação.
É Darwin revirando para um lado do túmulo e minha professora de catequismo para o outro.
Em contrapartida, devemos acreditar que o bem praticado também deixe sequelas. Puxa, como serão afetados os filhos dos filhos de crianças tratadas a beijos, afagos, muitos mimos, passeios ao museu, à Fnac, ao zoológico, à livraria Cultura, muita risadas e o maldito desgraçado do "Fifa 14"?
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