sexta-feira, dezembro 06, 2013

Risco na formação de elite - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 06/12
"O menino é o pai do homem", escreveu o poeta inglês William Wordsworth no fim do século 18. Cem anos depois, Machado popularizou o verso em Memórias póstumas de Brás Cubas. As notícias sobre o desempenho internacional da educação brasileira trazem à lembrança a frase que sintetiza a íntima relação da base com o topo.
Nesta semana, dois resultados mostraram que o Brasil ocupa vergonhoso lugar - entre ricos e pobres - no ranking da aprendizagem. Ficamos na rabeira do Pisa, exame que avalia o desempenho dos jovens de 15 anos em 65 países. A escola não lhes desenvolveu habilidades básicas, indispensáveis para o avanço na vida acadêmica - leitura, matemática e ciências.

Levantamento da consultoria britânica Times Higher Education (THE) revelou a coerência da evolução do ensino superior. Mesmo entre os emergentes, o país segue a toada da lanterna. Só quatro universidades exibem as cores verde-amarelas no grupo das 100 melhores. Na 11ª colocação, está a Universidade de São Paulo (USP). Na 24ª, a Universidade de Campinas (Unicamp). Na 60ª, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Finalmente, na 87ª, a Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A metodologia da pesquisa se baseou em cinco áreas: ensino (30%), pesquisa (30%), citações (30%), presença na indústria (2,5%) e perspectiva internacional (7,5%). As universidades mais bem colocadas estão na Ásia. China, Taiwan e Índia se destacaram. Não por caso. São países que, além de investir maciçamente na qualidade do ensino básico, não se descuidam da internacionalização das instituições e dos estudantes. O intercâmbio com o mundo é antigo e crescente.

Só agora, com o programa Ciência sem Fronteiras, o Brasil parece despertar para a importância de tirar os olhos do próprio umbigo. Ora, considerando que a universidade não planta cérebros, mas os desenvolve, a qualidade da safra dos que chegam aos câmpus é o insumo mais importante de que dispõe. Os frutos, como mostram as avaliações, não receberam o adubo necessário. Deixaram, por isso, de desenvolver as naturais potencialidades.

Pisa e THE só surpreenderam os ingênuos. A universidade, na imagem de William Wordsworth, é o homem cuja infância deixou as marcas do descaso com o cidadão e o futuro do país. É preocupante. O ensino superior forma a elite que comanda o destino nacional. No mundo globalizado, a disputa ultrapassa as fronteiras. Competimos com os cinco continentes. É a educação - vista como estratégia para o desenvolvimento, não como política social - que estimula a inovação, amplia a competitividade e prepara o futuro.

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