sexta-feira, dezembro 27, 2013

Potencial eólico - JOAQUIM FRANCISCO DE CARVALHO E ILDO SAUER

O GLOBO - 27/12

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética, o potencial hidrelétrico brasileiro é de 267 GW e, pelas estimativas mais recentes, o potencial eólico é superior a 200 GW. Graças a isto — e à possibilidade, ainda existente, de se implantarem grandes reservatórios hidrelétricos de acumulação — o Brasil poderá instalar um sistema hidroeólico inteiramente sustentável, com capacidade para cobrir indefinidamente a demanda por energia elétrica. Mas determinados segmentos da sociedade colocam-se numa posição fundamentalista, contrária à geração hidrelétrica, preferindo expor o país ao risco de ser obrigado a copiar países que, não dispondo de vantagens como as brasileiras, têm que apelar para as poluentes usinas termelétricas convencionais ou para as controvertidas e onerosas usinas nucleares.

Na verdade, os reservatórios hidrelétricos podem ser aproveitados para múltiplas finalidades, tais como regularização da vazão dos rios e transporte fluvial, irrigação de grandes plantações, pesca interior, turismo ecológico etc. Todos esses usos requerem preservação de nascentes e matas ciliares, sendo portanto ambientalmente benéficos.

Admitindo-se que — por motivos de caráter social e ambiental — limite-se em 80% o potencial hidrelétrico a aproveitar na Amazônia, e que as mudanças climáticas acarretem uma queda de 15% na afluência das demais bacias hidrográficas, ainda assim restaria um potencial hidrelétrico de 210 GW.

Embora atualmente o sistema elétrico brasileiro seja de base hídrica, é evidente que o ideal seria um sistema hidroeólico interligado. Se tal sistema for projetado e implantado no prazo necessário, o Brasil terá energia elétrica por custos dos mais baixos do mundo, o que, entre outros benefícios, daria um grande poder de competitividade à nossa indústria, compensando, em parte, o chamado Custo Brasil.

Para isto, será necessário realizar grandes investimentos na modernização dos sistemas de transmissão e distribuição, inclusive mediante o emprego de tecnologias avançadas, como as redes inteligentes (smart grids), para que o despacho da energia dos parques eólicos seja continuamente associado ao despacho das hidrelétricas, elevando assim o fator de capacidade do sistema interligado.

Igualmente necessário é que o planejamento energético seja mais abrangente e siga diretrizes estratégicas bem definidas para o longo prazo, diferentemente dos planos feitos nos dias de hoje, que são influenciados pela conjuntura política e até por interesses mercantis de curto prazo. E será indispensável a instituição de um mecanismo que obrigue a Empresa de Pesquisa Energética e o Operador Nacional do Sistema a compatibilizarem o planejamento com a operação do sistema, especialmente no curto prazo.

Além disso, o sistema hidroeólico poderá operar em sinergia com as usinas termelétricas a biomassa, o que proporcionaria um aporte adicional de 15 GW firmes ao sistema interligado. As usinas térmicas a gás natural já existentes seriam acionadas apenas em períodos hidroeólicos críticos, otimizando a operação do sistema e servindo como seguro para reduzir riscos de racionamento, o que não poderia ser feito com usinas nucleares, pois estas não têm flexibilidade para operar apenas nas horas de ponta.

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