domingo, dezembro 29, 2013

Olhando para trás e para a frente - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 29/12

A chave para a recuperação da economia do país em ritmo maior é a retomada do setor de serviços


Esta é a última coluna do ano. Bom momento para olhar o que se passou em 2013 e divisar 2014.

O ano de 2013 foi marcado pela recuperação da economia do baixíssimo crescimento de 1% em 2012. A nossa previsão para 2013 na última coluna do ano passado, que apresentou o mesmo título desta, foi que cresceríamos 3%, com inflação na faixa de 5,5% a 6% e in- vestimento crescendo aproximadamente 6%.

A inflação em 2013 fechará em cerca de 5,8% e a alta do investimento será em torno de 6,5%. Ou seja, as projeções do cenário Ibre de dezembro de 2012 para o ano de 2013 foram relativamente bem-sucedidas para a inflação e a para recuperação do investimento. Sabíamos à época que a melhora da economia estava fortemente condicionada à recuperação do investimento, que havia recuado 4% em 2012.

No entanto, o crescimento em 2013 deve ser de 2,4%, pouco mais de meio ponto percentual abaixo do que prevíamos em dezembro de 2012. O que ocorreu de diferente em relação ao projetado?

Não imaginávamos que a demanda externa seria tão ruim. As exportações crescerão somente 2%, para uma expansão das importações de 8%. Parte da recuperação do investimento transformou-se em demanda por importações de máquinas, e não por produção da indústria nacional de bens de capital.

Também contribui para o resultado ruim do PIB o desempenho fraco da indústria extrativa mineral, principalmente devido a problemas da Petrobras. Até outubro, a extrativa havia recuado 2% em comparação com dezembro de 2012.

A surpresa positiva foi a forte recuperação da agricultura, que cresceu 8%, após ter recuado 2,3% no ano passado.

O setor de serviços, que representa mais de 60% da atividade econômica, novamente surpreendeu negativamente: depois de crescer no período Lula ao ritmo de 4% ao ano, reduziu o passo para 2% desde 2011. Em 2013 não foi diferente. Os serviços devem fechar o ano com expansão de 2%.

Evidentemente, a chave para a recuperação do crescimento da economia brasileira em ritmo mais forte está no retorno do setor de serviços a uma expansão mais robusta. Precisamos entender os motivos que explicam a perda de desempenho dos serviços no período mais recente, em comparação aos oito anos do governo Lula.

Para 2014, o cenário Ibre é de crescimento de 1,8%, com inflação na casa de 6% e investimento em alta de 2,5%. Esse cenário foi construído com Selic (taxa básica de juros, fixada pelo Banco Central) em 10,5%, câmbio médio ao lon- go de 2014 de R$ 2,4 e superavit fiscal primário (que exclui receitas e despesas financeiras) de 0,5% do PIB, excluindo também as recei- tas extraordinárias e as deduções permitidas em lei para o cumprimento da meta.

Penso que o risco de o cenário não se materializar é um desempenho muito melhor do que o esperado da indústria extrativa mineral, com forte recuperação da produção da Petrobras já em 2014. Nesse caso, em vez do deficit externo de 3,4% do PIB que prevemos para 2014, poderemos observar valores mais próximos de 3%.

De qualquer forma, seja um pouco melhor ou pior, parece-me que o cenário para 2014 está dado. Continuará o processo de ajuste do câmbio. Acho que o dólar fechará o ano em torno de R$ 2,5, devido à normalização da política monetária norte-americana.

O destaque da agenda para 2014, além da Copa do Mundo, é a eleição presidencial. O maior risco para a reeleição de Dilma Rousseff será dado pela evolução da inflação. Como afirmei acima, prevemos que a inflação fechará 2014 em 6%, não muito pior do que os 5,8% de 2013.

O risco para a presidente é haver uma aceleração do processo de normalização dos juros internacionais. Com isso, o câmbio poderia se desvalorizar bem mais rapidamente, criando pressões inflacionárias mais intensas. Por enquanto, esse cenário é apenas um risco, e não uma forte probabilidade. Mas é um risco real.

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