sexta-feira, dezembro 20, 2013

O frango nosso de cada dia - JOÃO GUILHERME SABINO OMETTO

O GLOBO - 20/12

Embora se mantenha como o maior exportador e terceiro produtor mundial de carne de frango, o Brasil precisa evitar a repetição da crise do setor em 2012, a mais grave de sua história, que custou dez mil empregos. Porém, os dados da União Brasileira de Avicultura (Ubabef) mostram que persistem as dificuldades: oscilações nos preços dos insumos; câmbio desfavorável à exportação; deficiências na infraestrutura; e dificuldade de crédito para pequenos produtores.

Tais problemas podem culminar com a queda de produção no último trimestre de 2013. Em 2012, já houve recuo, no acumulado do ano, de 3,17% ante 2011. São necessárias ações do poder público para evitar a desestruturação da atividade. Não se deve ignorar, ainda, o apoio aos segmentos exportadores neste momento negativo da balança comercial.

A avicultura é organizada, mantendo-se dinâmica em meio aos obstáculos. O Brasil, com 12,6 milhões de toneladas (2012), responde por 15% da produção global de carne de frango, atrás somente de Estados Unidos e China. O forte sistema cooperativista e os 3,5 milhões de empregos mantidos pelo setor mostram sua importância social. O valor bruto da produção foi de R$ 42 bilhões em 2012, com potencial de crescimento.

Maior exportador, com 35% do total mundial, o país colocou 3,9 milhões de toneladas no mercado externo em 2012. Isso posiciona o produto como o terceiro da pauta de nosso agronegócio no comércio exterior. Tal desempenho deve-se à qualidade, que se reflete na redução de barreiras sanitárias, e ao baixo custo da produção. Neste aspecto, cabe um alerta: em 2002, produzíamos com vantagem de 30 centavos de dólar por quilo do animal vivo em relação aos Estados Unidos. A diferença caiu para 0,05 centavos e nossa competitividade está praticamente nivelada à da Tailândia.

É necessário reverter a tendência de redução do crescimento das exportações: de 2001 a 2004, elas evoluíram 24,5%; de 2005 a 2008, 10,6%; de 2009 a 2012, só 2,6%. Essa queda fez com que o setor deixasse de gerar 94 mil empregos e receita adicional de US$ 1,65 bilhão. Poderemos deixar de criar 103 mil postos de trabalho até 2020, se não mitigarmos os custos da produção, com redução da carga tributária, barateamento dos fretes e operações portuárias, aporte tecnológico e maior produtividade da mão de obra.

O frango é importante para os brasileiros, que consumiram 9,1milhões de toneladas em 2012 (45 quilos per capita/ano, contra 13 quilos na média global). O mercado interno é visto como o grande vetor do incremento da produção. Carne apreciada pelo paladar nacional, saudável e de alto valor nutritivo, sua oferta responde à expansão da demanda gerada pelo aumento da renda e crescimento populacional. O Brasil ainda não pode “cantar de galo” pela sua inserção no mercado internacional. É preciso ser realista e reconhecer que lhe falta inovação, possibilitar melhor logística para escoar a produção e crescer ainda mais em qualidade.

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