terça-feira, dezembro 03, 2013

Nem quente nem frio - JOSÉ PAULO KUPFER

O Estado de S.Paulo - 03/12

A menos de um mês do fim do ano, não seria o caso de esperar surpresas em relação ao que já está projetado para a evolução da economia em 2013. Não há indicação mais óbvia dessa afirmativa do que a ancoragem, nas últimas seis semanas, da previsão de um crescimento de 2,5% para o PIB deste ano, segundo os analistas consultados pelo boletim Focus.

Mesmo com a revisão do resultado de 2012, que deve ser divulgado hoje pelo IBGE, juntamente com os números do terceiro trimestre deste ano, as incertezas dizem respeito mais ao passado do que ao futuro próximo. Mais uma vez, a afirmação atribuída ao ex-ministro Pedro Malan, segundo a qual na economia brasileira até o passado é incerto, dá o ar da graça e confirma sua validade.

A partir do terceiro trimestre, o cálculo das contas nacionais levará em conta os resultados da nova Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), série inaugurada em meados deste ano. Até então, o movimento dos serviços - o setor, pelo lado da oferta, de maior peso na formação do PIB - derivava de uma série de indicadores aproximativos.

Se não houve vazamento de informações, ninguém saberá antes da manhã de hoje, exceto técnicos do IBGE envolvidos no assunto, a abrangência e profundidade dessa revisão. Entre analistas de conjuntura, as especulações sobre o acréscimo na variação do PIB revisado de 2012 ocupam um intervalo entre 0,5 ponto porcentual e 1 ponto. Do atual 0,9% de 2012, a expansão pode chegar a 1,9%. Não custa lembrar que a presidente Dilma Rousseff antecipou há alguns dias a marca revisada de 1,5%.

É de se prever que a divulgação dos números revisados do PIB produzirá um debate sobre a oportunidade do momento e a adequação das metodologias aplicadas pelo IBGE para ajustar as séries históricas à PMS. A inevitável argumentação de que se trata de manipulação estatística, com fins político-eleitorais, estará, sem dúvida, entre as mais pobres delas. Além de não encontrar respaldo na tradição de seriedade do IBGE, se sustentará na ideia atrasada de que, podendo aprimorar os instrumentos de medição da temperatura econômica, é melhor ficar com os antigos e mais imprecisos.

As consequências da revisão podem ser mais pronunciadas em 2014 do que em 2013. É que, enquanto os efeitos sobre as contas do ano em curso têm a ver com o aumento da base de comparação, podendo até resultar em corte de pontos porcentuais do PIB de 2013, a elevação de 2012 poderá afetar, em princípio positivamente, os números de 2014 porque a revisão provocará um reajuste maior do salário mínimo, conforme a regra em vigor - que combina a inflação, calculada pelo INPC do ano anterior, com a variação do PIB dois anos antes. Vale observar que o eventual ganho na demanda pode ser atropelado pelo eventual ganho na inflação. José Francisco de Lima Gonçalves, o experiente economista-chefe do Banco Fator, por exemplo, "tem a impressão", como faz questão de ressalvar, que os efeitos serão quase nulos em 2013.

Não se deve, de fato, esperar nada muito emocionante, nos resultados do terceiro e do quarto trimestres deste ano. A economia já deu o que tinha de dar em 2013 e, na comparação com os trimestres anteriores, não deve trazer nada além de uma pequena expansão ou um pequeno encolhimento. Sem revisão nos cálculos, o PIB está em torno de 2,5% acima do ano passado.

Com ou sem mudanças metodológicas no cálculo do PIB, de todo modo, pode-se fixar um padrão para o comportamento da economia, no governo Dilma, que não fugirá à regra em 2013 e tem tudo para se manter no último ano de seu mandato: não é tão quente quanto gostariam - e não se cansam de prometer representantes e aliados do governo - nem tão frio quanto desejariam - e se esforçam para demonstrar - seus críticos e adversários políticos.

Diante das necessidades de crescimento da economia brasileira, é um padrão que fica devendo.

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