domingo, dezembro 01, 2013

Garotos marotos - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 01/12

Não servem rigorosamente para nada que tenha prazo de validade de longa duração as tratativas formais entre PT e PMDB, com vista à eleição de 2014. Os dois partidos querem manter a aliança nacional, mas cada qual faz seu jogo individual nem sempre revelando ao outro as respectivas intenções. Ao mesmo tempo, ambos sabem qual o interesse que os une: o vice-presidente Michel Temer pretende repetir a chapa com Dilma Rousseff que, do partido dele, quer mesmo é o tempo de televisão.

Daí que não tem muita importância o resultado – qualquer que tenha sido – da reunião deste sábado em Brasília para que PT e PMDB se acertassem em relação às alianças estaduais. Entre outros motivos porque não é hora de decisões definitivas.

Profissionais, petistas e pemedebistas no momento ganham tempo e vão se levando mutuamente na conversa até o cenário político-partidário-eleitoral ficar mais nítido. Um exemplo? O pedido que o ex-presidente Lula da Silva fez ao PT do Rio de Janeiro para que adiasse o desembarque do governo Sérgio Cabral Filho, marcado para o sábado. Lula achou que não ficava bem esse gesto de ruptura no mesmo dia do encontro para dirimir conflitos regionais com o PMDB.

Para todos os efeitos (formais), seria um sinal ao parceiro de que ainda haveria possibilidade de o PT abrir mão da candidatura própria ao governo do Rio em prol do nome apoiado pelo governador, o vice Luiz Fernando Pezão. Na prática não há essa hipótese. É o que se conclui do telefonema do ex-presidente ao candidato fluminense, senador Lindbergh Farias. Pediu o adiamento como uma “simbologia” e na mesma ligação informou a Lindbergh que a candidatura dele estava “consolidada”.

O que interpretar? Só há um jeito: Lula espera que o problema se resolva por si. Como Cabral está desgastado e Pezão aparece com 4% nas pesquisas, a ideia é que o PMDB abandone a ideia de condicionar o apoio à reeleição de Dilma à retirada do PT da disputa no Rio, por insuficiência de capital eleitoral para bancar a jogada.

O problema aí nem é Sérgio Cabral, o valor de seu apoio a Dilma ou a amizade que o une ao ex-presidente. A preocupação do PT é não deixar escapar o tempo de televisão do PMDB. Como é grande o número de delegados do estado na convenção que decidirá sobre a renovação ou não da aliança nacional, os votos deles precisam ser preservados. O espaço no horário eleitoral só passa de um partido para outro quando há coligação formal.

O PMDB, por sua vez, não tem como prometer nada ao PT numa reunião de cúpula. O resultado da convenção estará ligado às conveniências regionais, à realidade de cada seção; essas é que decidirão a parada de acordo com as circunstâncias mais adiante, lá por volta de abril ou maio.

E ainda que se renove a aliança, desde já os pemedebistas deixam bem claro que nada será como foi em 2010, quando o partido ficou unido por Dilma com o aval de Lula. À vista no horizonte das disputas estaduais está a terra de murici. Nela, cada um trata de si.

Para ambos, a formalidade interessa mesmo é no âmbito nacional. Com uma diferença: no caso do PMDB, se Dilma e a economia estiverem firmes e fortes.

Caso pensado. Assim como surgiram na carona das manifestações de junho, os arruaceiros desapareceram quando ficou evidente a rejeição da sociedade expressa nas pesquisas e o poder público deu sinais de que não ficaria mais assistindo a barbárie inerte. Tanto a entrada quanto a saída de cena – de forma digamos, organizada – demonstram que aquelas ações tinham muita orquestração e nenhuma espontaneidade. Se os governos quiserem evitar a repetição daquelas cenas, basta chegar aos maestros. Que eles existem, não resta dúvida, e o sumiço ensaiado da turba diante da reação negativa deixa isso patente.


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