quinta-feira, dezembro 19, 2013

Campanha eleitoral sobe de patamar - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 19/10

O recuo de Serra para Aécio ser ungido o candidato tucano ao Planalto e a divulgação de linhas programáticas do PSDB começam a definir o cenário da disputa



Antecipada pelo PT, a campanha eleitoral de 2014 acaba de avançar de estágio, com o gesto do tucano José Serra de afinal abrir espaço para a formalização pelo PSDB da candidatura de Aécio Neves ao Planalto. O ex-governador de São Paulo recua nas aspirações a mais uma disputa presidencial, e de uma forma a dar aos tucanos esperança de que podem disputar estas eleições unidos.

Foi um passo na definição dos adversários de Dilma Rousseff, candidata petista à reeleição. O campo da disputa começa a se definir com, além de Dilma, a dupla do PSB-Rede, Eduardo Campos e Marina Silva, e Aécio, os nomes que têm aparecido nos primeiros lugares nas pesquisas, sempre lideradas pela presidente da República. Tudo é ainda muito prematuro, mas o cenário vai aos poucos se desanuviando. Linhas programáticas também começam a ser divulgadas. Esta semana, Aécio Neves e tucanos lançaram o documento “Para mudar de verdade o Brasil”, uma agenda voltada à campanha, com diretrizes sobre as quais deve sair um programa de governo. Em julho, havia sido a vez do PSB. Começa-se a esboçar o confronto entre dois projetos de país: o atual, do PT, em que o Estado — mesmo que comece a se abrir, por força da realidade, ao setor privado — tem papel central na sociedade; e outro, segundo a visão crítica tucana e, em certa medida, do PSB, um modelo com um Estado mais eficiente. Na perspectiva do PSDB, menos invasivo e intervencionista. O PT, como tem sido desde 2006, na reeleição de Lula, trombeteará o Bolsa Família e outras “conquistas sociais”. Ninguém será contra. Muito pelo contrário, para não ser acusado de “inimigo” dos pobres, tática conhecida e, até agora, eficaz.

Há muitos fatores que podem fazer o eleitorado pender para um lado e outro. O principal deles, o comportamento da economia, ponto negativo para Dilma. Mas ela continua favorita e pode mostrar os primeiros resultados da guinada que visa a abrir espaços à iniciativa privada nos investimentos em infraestrutura.

Deve preocupar o PT que, pela primeira vez, participe da disputa uma dissidência do seu bloco de poder, a dupla Campos/Marina. Os tucanos, por seu lado, terão de praticar o esboçado nestes primeiros momentos do pré-candidato Aécio: assumir a herança da Era FH, defender seu legado, sem medo de enaltecer os benefícios das privatizações realizadas — o que não ocorreu nas campanhas anteriores.

No quesito da ética, os telhados de vidro de petistas e tucanos podem se equivaler, a depender da evolução do escândalo do cartel dos fornecedores dos trens do metrô de SP. O PT torce para que se configure o uso dos contratos para abastecer um caixa dois político-eleitoral. Enquanto os tucanos devem retrucar com o argumento de que o mensalão teria sido bem mais grave, por bombear dinheiro público para a compra literal de bancadas no Congresso. Tanto que já há companheiros e aliados atrás das grades.

O fogo de barragem promete ser pesado.

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