sábado, novembro 09, 2013

Sem favoritos - ANDRÉ GUSTAVO STUMPF

CORREIO BRAZILIENSE - 09/11

A presidente Dilma Rousseff aparece bem situada nas pesquisas de opinião. Bom sinal para ela. Mas, feliz ou infelizmente, tudo muda, tudo passa. O que é certo hoje é errado amanhã. As manifestações de junho passado pegaram o governo de surpresa e derrubaram várias reputações. Algumas delas não mais se recuperaram. A chefe do governo brasileiro ganharia a eleição contra Marina Silva com alguma dificuldade, contra Aécio Neves com mais facilidade e contra Eduardo Campos por larga margem.

Isso é o que indica a pesquisa realizada pela CNT, por meio do instituto MDA. Foram entrevistadas 2.005 pessoas, em 135 municípios de 21 unidades da Federação, das cinco regiões, entre 31 de outubro e 4 de novembro. A margem de erro da pesquisa é de 2,2%. A pesquisa indica também que a inflação é o item mais perturbador. O eleitor teme a escalada de preços. E os mais velhos ainda se lembram da hiperinflação da época do governo Sarney, quando o produto aumentava de preço no trajeto entre a prateleira e o caixa do supermercado.

O cenário é esse mesmo e a pesquisa agrega como fato novo a informação de que a candidatura de Marina Silva distribui votos pelos três lados dessa equação política. Seus eleitores não migram automaticamente para Eduardo Campos. Eles se dispersam pelo cenário eleitoral. A questão econômica, no entanto, preocupa mais o governo do que a maioria da população. Existem preços que estão artificialmente congelados, como é o caso da gasolina. Situação que está estrangulando a Petrobras no momento em que ela precisa investir. O pessoal da área econômica sabe o que está escondendo. O eleitor ainda não percebeu.

Liberar os preços de gasolina e óleo diesel significará um salto na inflação que já está alta, roçando os 6% ao ano. As contas nacionais estão fora do prumo. O governo gastou demais, arrecadou de menos e a dívida interna aumentou. O Fundo Monetário Internacional já emitiu sinais de que as coisas não estão bem nessa área. A indústria brasileira está em ritmo de feriadão. Não cresce. Estacionou. As exportações brasileiras caíram significativamente. As importações explodiram. O deficit de balanço comercial, conversa dos anos 1980, voltou ao cardápio da discussão nacional.

Além da inflação, 59,6% dos entrevistados declararam estar muito preocupados com a possível perda de emprego; 63,4%, com dívidas pessoais; e 73,4%, com o custo de vida. Transporte urbano é motivo de muita preocupação para 54%. O Programa Mais Médicos faz sucesso: tem 84,3% de aprovação. Já 53,8% dos ouvidos acham que é necessário fazer uma reforma política e 83% estão preocupados com a corrupção. O setor que mais precisa de melhorias, na opinião de 87,4% dos entrevistados, é a saúde, e 91,5% estão preocupados com a violência.

A soma de tantos medos vai resultar numa disputa eleitoral mais difícil do que sugerem as primeiras pesquisas. A presidente Dilma Rousseff trabalha com marketing muito afiado. Está todos os dias nas primeiras páginas dos jornais. Importou mais de 6 mil médicos estrangeiros - a maioria de cubanos - e os encaminhou, mesmo sem revalidar o diploma, para as comunidades mais carentes. E viaja sem parar. Inaugura o que vê pela frente. Dá entrevista para emissoras de rádio, porque sabe que a vida é um assunto local. A entrevista dela à rádio da cidade repercute durante toda a semana. É tema até na missa.

Aécio Neves ainda não se acertou com José Serra. O paulista não admite a possibilidade de ficar fora da disputa presidencial. Ele se acha o mais qualificado para exercer o cargo. Mas perdeu duas vezes. E o mineiro, que foi deputado, governador e agora é senador, sabe que seu momento é agora. Ele pode perder a eleição e continuar no Senado, onde ainda dispõe de mais quatro anos de mandato. É o momento de se colocar diante de todo o Brasil e explorar as falhas da administração petista. Além disso, o julgamento do mensalão estará nos capítulos finais no primeiro semestre de 2014.

Os dois candidatos de oposição dispõem de uma avenida de oportunidades para explorar as fragilidades da administração. Eduardo Campos terá que se acertar com Marina Silva. Quem, afinal, será o candidato? Aécio precisa de um bom vice. Vencer bem em Minas e avançar bastante em São Paulo. Todos os candidatos têm chance neste momento. Quem trabalhar melhor as alianças e tiver um discurso nítido, baseado nas deficiências nacionais, terá êxito. Sob esse aspecto, agora, não há favoritos.

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