terça-feira, novembro 19, 2013

O ciclo cachaça-aspirina - FRANCO IACOMINI

GAZETA DO POVO - PR - 19/11

Se o leitor é assalariado, provavelmente irá receber na semana que vem a primeira parcela do décimo-terceiro salário – trêzimo, como dizem alguns. O que vai fazer com ele?

Quando chega esta época, é comum aparecerem pesquisas sobre esse tema. As opções, óbvias, são três: gastar, poupar, pagar dívidas. Com frequência o último item é o mais mencionado, porque muita gente conta com o valor que irá receber no fim do ano e gasta por conta nos meses anteriores. Usa o dinheiro, portanto, para cobrir rombos já feitos no seu orçamento doméstico.

É como alguém que exagera habitualmente na bebida e sabe que a ressaca trará uma enorme dor de cabeça, mas tem certeza de que o analgésico que tomará na manhã seguinte resolverá todos os seus problemas. A promessa de alívio faz com que ele se entregue à satisfação do prazer imediato da bebida. Assim, se estabelece na vida desse hipotético beberrão compulsivo um ciclo cachaça-aspirina que pode até afastar a cefaleia, mas faz muito mal ao indivíduo. Quando perde o controle, ele sofre outras consequências, em seus relacionamentos e em sua saúde física.

O gastador compulsivo age de forma bem semelhante, e recebe igualmente as consequências em seus relacionamentos e em sua vida financeira.

É bom saber que você vai ter um recurso garantido para pagar alguma conta. Mas melhor ainda seria programar as compras para pagar quando o dinheiro estivesse, efetivamente, disponível.

As empresas vão bem

Um levantamento da empresa de informações de mercado Economatica apontou um dado interessante a respeito dos resultados das empresas brasileiras de capital aberto. Analisando 320 companhias, a empresa descobriu que o lucro líquido cresceu 10,2% no período de julho a setembro (o terceiro trimestre), na comparação com o mesmo período do ano passado. O lucro combinado dessas empresas chegou a R$ 39 bilhões, contra R$ 35,3 bilhões no terceiro trimestre de 2012.

Há setores melhores e outros nem tanto. O de óleo e gás teve queda de 47,4% – a Petrobras, de muito longe a maior empresa nessa área, teve lucros 39% abaixo do ano passado. Já a Vale, outro gigante, elevou seus ganhos em 138,9%. Em conjunto, os bancos lucraram R$ 12,5 bilhões, 11,1% de crescimento.

O que isso significa para o brasileiro comum? É um alento para quem está preocupado com os sinais de desaceleração ou mesmo de retração que outros segmentos da economia têm dado. No mínimo, essa percepção não vale para as grandes empresas. Como se vê, elas vão muito bem, obrigado. Na verdade, se o PIB brasileiro crescesse na mesma toada, estaríamos todos muito bem. Observe-se que esses 10,2% são nominais, enquanto que os números do PIB são “tratados” para eliminar o efeito da inflação. Mesmo deflacionando os números da Economatica, sobraria um crescimento perto de 4%.

Cortador na garupa

Há alguns dias, naquele sábado ensolarado da Corrente Cultural, eu estava com a família em uma praça da cidade, assistindo a uma apresentação. Era por volta do meio-dia e não havia muita gente no local. Um senhor de uns 60 anos, magro, cabelo e barba totalmente brancos, passou por nós e pediu que tomássemos conta de sua bicicleta enquanto ele ia a um dos banheiros químicos instalados no local.

Não demorou muito e ele retornou. “Ninguém mexeu na bicicleta”, garantimos. O homem deu um sorriso e disparou: “Sabe por que ninguém mexeu? É que tem um cortador de grama atrás, e ninguém quer trabalhar!”

Todos rimos. Mas quando eu soube que alguns restaurantes passaram sufoco no feriadão por causa de funcionários que não apareceram para trabalhar, dei alguma razão a ele.

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