sábado, novembro 30, 2013

Nós vamos transformar a educação pública do País - JAIR RIBEIRO

O ESTADO DE S. PAULO - 30/11
Pode até ter virado um repisado cli­chê, mas não custa repetir: o nosso maior desafio co­mo nação é melhorar a qualidade da educação bá­sica. Apesar dos avanços das últimas décadas, ainda estamos longe de vencer essa guerra.
Mais de 25% das crianças cursando o 4.0 ano não sabem ler e escrever de forma adequa­da à sua série. Ainda temos Esta­dos com cerca de 80% de alunos que não conseguem sequer pro­duzir um pequeno parágrafo! (Prova ABC - 2013)
Mais de 50% dos jovens de 14 a 18 anos estão fora do ensino médio. A evasão está aumentan­do e apenas 10% dos que se for­mam no ensino médio domi­nam o conteúdo esperado para as suas séries
E a estatística recente que mais me chocou: cerca de 25% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos não completaram o ensino médio, não estudam e não traba­lham (estudo da Fundação Seade, agosto 2013). Ou seja, esta­mos jogando pelo ralo o tal bô­nus demográfico brasileiro, um verdadeiro absurdo!
Com uma realidade dessas, como estranhar os fracos índi­ces de produtividade do traba­lhador brasileiro? Como recla­mar e olhar com ares de surpre­sa para a existência do chamado apagão de mão de obra? Como não perceber aí a causa funda­mental dos altíssimos índices de criminalidade (mais de 5 mil homicídios por ano, seis a cada hora!) e da enorme e devastado­ra desigualdade de renda pre­sente em nosso país?
Particularmente, entendo que o desafio da melhoria da nossa educação pública não de­ve ser apenas delegado aos go­vernos. Por sua relevância, é al­go que requer o envolvimento de toda a sociedade civil.
Talvez o leitor que me acom­panha até aqui pergunte: o que eu, empresário, executivo ou profissional liberal e leitor des­se jornal, posso fazer? Arrisco a sugerir um caminho.
Primeiro, passe a acompa­nhar mais de perto e a se familia­rizar com o assunto por meio de sites como o do Movimento To­dos pela Educação e outras fon­tes sérias. Na sequência, profis­sionais como você, com voca­ção, preparo e experiência em execução e gestão de projetos e empresas, podem se envolver diretamente. De preferência procurando apoiar programas já existentes e testados.
Há cerca de dez anos cofundei a Parceiros da Educação, uma organização que promove parcerias entre empresas, em­presários ou executivos e as es­colas públicas do Estado de São Paulo (hoje também estamos no Rio de Janeiro). Já são mais de 60 escolas no programa, impactando a vida de dezenas de milhares de crianças. Nosso ob­jetivo se subdivide em dois. O primeiro é elevar o aproveita­mento dos alunos das nossas es­colas. O segundo, em função da nossa experiência de uma déca­da, impactar e influenciar positi­vamente as políticas públicas dos Estados e municípios em que atuamos.
Como resultado dessa inser­ção na política pública, apoia­mos, com outras 15 das mais re­presentativas organizações ligadas à educação, um programa bastante ambicioso da Secreta­ria da Educação do Estado de São Paulo que tem um objetivo tão claro quanto inspirador: transformar significativamen­te o nosso sistema de ensino es­tadual, colocando-o entre os 25 melhores do mundo em 20 anos, além de transformar a car­reira do professor numa das dez mais desejadas e respeitadas do Estado (Educação - Compro­misso de São Paulo, http://www. educacao.sp.gov.br/portal/projetos/compromisso-sp).
Um dos pilares transformacionais desse programa consis­te na ampla difusão das escolas de período integral. Nesse mo­delo os alunos entram às 7 ho­ras da manhã e saem às 4 da tar­de. Os professores, seleciona­dos na rede pública, têm dedica­ção exclusiva a apenas uma es­cola e para tanto recebem um aumento salarial de 75%. No ensino médio há disciplinas eleti­vas propostas por professores e alunos, clubes juvenis, e cada aluno desenvolve o seu Projeto de Vida, em que o jovem escre­ve seu sonho e traça um plano de como concretizá-lo. Todas
as escolas contam com estrutu­ras bem mais completas e ade­quadas, com laboratórios de ciências e salas de informática.
Hoje são 70 unidades nesse modelo. Em 2014 teremos 182 escolas em regime integral em todo o Estado. O plano é que até 2018 tenhamos mil - 25% da re­de - dentro do novo padrão. Tra­ta-se de uma iniciativa revolu­cionária, que efetivamente nos pode levar a alcançar a ambicio­sa meta que o Estado se propôs a perseguir.
Iniciei uma parceria com uma escola em tempo integral da zona oeste de São Paulo, a Alexandre Von Humboldt, em janeiro de 2012. Já no primeiro ano de parceria conseguimos aumentar o índice de aproveita­mento da escola (Idesp) em 76% - ante 7% da média da rede e 34% das demais escolas do pro­grama de ensino integral. Um salto fantástico em apenas um ano, resultado de uma articula­ção entre o Estado, a escola e a parceria com a sociedade civil!
Vale ressaltar que a base era baixa. Não obstante, este ano es­peramos um novo salto, ainda que não tão grande como o do primeiro ano, mas ainda bastante expressivo.
Por fim, e talvez mais impor­tante do que todas essas estatís­ticas, compartilho com os leito­res o fato de que a sensação de satisfação ao ver o desenvolvi­mento da escola e o impacto nos alunos e nos professores é algo maior e muito especial, que proporciona um sentimen­to de realização indescritivel­mente gratificante.
Pois bem, queremos expan­dir a Parceiros da Educação pa­ra apoiar o projeto de cresci­mento das novas escolas de pe­ríodo integral, participando ati­vamente da construção de algo verdadeiramente transforma­dor. Temos mais de 170 unida­des à procura de parceiros em dezenas de municípios do nos­so Estado. Junte-se ao nosso grupo! Garanto que será das coi­sas mais gratificantes que você fará na sua vida. Um processo tão incrível que começa por ree­ducar a nós mesmos.

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