terça-feira, novembro 05, 2013

Cobranças ou mea-culpa presidencial - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 05/11
A reunião convocada pela presidente Dilma Rousseff no sábado passado, em pleno feriado de Finados, para cobrar ministros por atrasos em obras e programas governamentais, foi, no mínimo, providência tardia. Ou seja, mais uma vez o governo está atrasado. Afinal, lá se vão praticamente três anos de um mandato de quatro e as coisas não acontecem faz tempo. Prova disso são as manifestações que tomaram as ruas do país em junho, com multidões bradando aos governantes - não só à mandatária, mas também a governadores e a prefeitos - seu descontentamento com a ausência ou com a ineficácia dos serviços públicos.
Tivesse sido dada àquela época, quatro meses atrás, a resposta do Executivo aos manifestantes estaria caduca. Pois tampouco se anunciou saídas agora para os tantos problemas nacionais. Depois de sete horas reunida com 15 ministros no Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência da República, nada de novo a presidente, ou eventual porta-voz dela, apresentou ao país. Apenas passou-se a impressão de que agora vai. Para onde, é a questão deixada no ar. Ainda mais com uma reforma ministerial prestes a ser imposta pelas circunstâncias políticas, uma vez que, em breve, muitos dos auxiliares diretos de Sua Excelência deixarão os cargos para disputar as eleições que se avizinham.

Lembre-se que Dilma Rousseff chegou ao cargo máximo da República depois de ser sacada da chefia da Casa Civil e apresentada à nação como gestora eficiente. Para que honrasse tal rótulo, esperava-se que promovesse como rotina, desde a posse, a definição correta das prioridades e o acompanhamento diário e sistemático das ações de governo, com ampla publicidade dos atos. Em vez disso, o país viu projetos emperrarem, custos serem multiplicados e benefícios à população evaporarem a cada horizonte imaginário em que são postados vez ou outra, numa espécie de amanhã que jamais chega. Exemplos fartam a ponto de a imagem da administração ser a da paralisia.

Tivesse a presidente azeitado a máquina, concessões de aeroportos e licitações de rodovias estariam em dia, assim como a modernização e a ampliação de portos e ferrovias; as hidrelétricas em construção seriam a personificação do progresso, não do atraso; o projeto de transposição do Rio São Francisco estaria entregue desde 2011, conforme previsto, quando, muito pelo contrário, apenas 5% estavam concluídos, assim mesmo, graças aos trechos a cargo do Exército, exceções no cronograma; enfim, o dinheiro disponível para investimentos estaria sendo transformado em melhorias para o brasileiro.

Nesse contexto, é difícil não respaldar a crítica da oposição, que viu a reunião ministerial de sábado como reles jogada de marketing eleitoral. De fato, ensaiada a poucos meses do início de uma campanha política, a dois do último ano do mandato, e resumida a alguma bronca em ministros que estão de saída, a reação é pouco crível. De todo modo, se não tem o poder de provocar uma guinada de 180 graus na administração da República, representando a arrancada necessária para reverter as projeções de baixo crescimento econômico, o resultado do encontro ao menos pode ser recebido pelo cidadão como mea-culpa de fim de governo.

Um comentário: