sexta-feira, novembro 22, 2013

Bancos protegem sociedade do veneno - SANDRA REGINA DE OLIVEIRA

O GLOBO - 22/11

O Brasil tem um sistema financeiro forte, moderno, eficiente, respeitado internacionalmente. E lida com cobras: lavagem de dinheiro, fraudes, hackers



As manifestações recentes e a rápida violência que as acompanharam dividiram opiniões. Para as manifestações, estamos alinhados; para a violência, estamos divididos. Na praia ou num aniversário de 50 anos, eu me surpreendi com alguns amigos dizendo que a vanguarda é esta quebradeira, principalmente se quebrarem os bancos. “Nem precisa quebrar. Só de ver os bancos usando tapumes no local de suas luxuosas fachadas já fico contente”, dizem.

Por que apoiar este quebra-quebra? Trabalho ao lado da Câmara Municipal. Ouvi, fugi, junto com minha equipe, de diversas bombas no Centro do Rio. Nas piores noites, são pessoas que vão para o hospital, donos de bares, músicos e garçons que não recebem seu faturamento ou salário como de costume.

A manifestação das ruas foi fruto do desejo de ser bem atendido, perceber-se bem cuidado através do retorno dos impostos pagos e da confiança depositada nos governantes e nas instituições públicas e privadas, em bons serviços e em justiça. Chamar a atenção é algo que precisamos fazer, que nos une e coloca um limite importante até onde podem tripudiar conosco.

Passar deste grito de alerta para um quebra-quebra é se desviar do caminho. Ainda mais quando confirmamos que se encontram infiltrados nas manifestações bandidos que estão sendo controlados da cadeia por conhecidos e fortes traficantes! Juntam-se a esta cena os escândalos nos diversos governos, às vezes descobertos, como agora em São Paulo.

Quem são nossos inimigos? Quando estamos diante de um tigre, um rinoceronte, um elefante, a fera está ali, visível. É matar ou morrer! Quando lidamos com cobras, é diferente. Por isso, temos repulsa, asco. Elas circulam por entre nós sem que possamos enxergá-las e, o que é pior, sem que saibamos se são venenosas ou não. Detestamos as cobras, mas admiramos o Instituto Butantã, que nos ajuda a nos proteger delas e de seu veneno.

Pois vejo nos bancos brasileiros uma espécie de Butantã para essas cobras. O Brasil tem um sistema financeiro forte, moderno, eficiente, respeitado internacionalmente. E lida com cobras: lavagem de dinheiro, fraudes, hackers, maldade de toda espécie.

As áreas de gestão de riscos dos bancos existem há cerca de 15 anos e foram construídas baseadas em princípios, melhores práticas, marcos regulatórios e em amargas lições de muitas crises financeiras. Se nos negócios e nos mercados disputamos cada cliente e cada centavo, nas áreas de risco e controle compartilhamos experiências, modelos e formação profissional. O que no Brasil chamamos de “camadas de controle”, nos Estados Unidos chamam de “linhas de defesa”, incluindo gestão de riscos, segurança, controles internos e auditorias.

É com esta estrutura que diminuem suas perdas, sejam elas operacionais, de crédito, de mercado ou de liquidez e, ainda, protegemos nossa reputação e nossa imagem. Formada por profissionais de todas as áreas, mas sobretudo de áreas quantitativas e de tecnologia, o que temos em comum é uma obstinada vontade de descobrir o que pode dar errado e estar preparado para essa situação.

Já na idade adulta e muito bem estruturada, creio que é hora de pensarmos fora de “nossa caixa” e, além de mostrar para a sociedade brasileira o quão importante é ter bancos fortes, podemos discutir o quanto estes modelos e processos podem ser “exportados” e adaptados para lidar com a ineficiência e a falta de controle do setor público ou de concessões. A hora é de união pelo que cada setor tiver de melhor. A vanguarda está na construção, e não na quebradeira.

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