domingo, novembro 24, 2013

Andar em zigue-zague - MIRIAM LEITÃO

 O GLOBO - 24/11

Com Álvaro Gribel e Valéria Maniero (interinos)

Dois meses depois de defender o projeto que muda o cálculo da dívida dos estados e municípios, o governo voltou atrás e colocou a ideia no congelador. Sobre os aeroportos, foram anos criticando as privatizações, e, na sexta-feira, o leilão do Galeão e de Confins foi comemorado. Os juros caíram pela vontade de igualar as taxas do Brasil com as do resto do mundo. Voltaram a subir com o aumento da inflação. Quem acompanha atentamente a condução da política econômica percebe o vai e vem das ideias do governo.

Há vários exemplos. Durante muito tempo o real forte foi o culpado pelos fracos resultados da indústria. Seria só desvalorizar a moeda para que a produção reagisse. Em um passado não muito distante, a expressão da moda era “guerra cambial”. O real desvalorizou, mas a indústria continua patinando e a inflação subiu. O Banco Central, dia sim, outro também, vende dólares no mercado para segurar a cotação da moeda americana. As regras para as concessões das ferrovias já mudaram várias vezes e depois de mais de um ano nenhum leilão foi realizado.

A malha atual está estagnada. Nos portos, a confusão é tão grande que os executivos do setor têm dificuldade de entender e explicar as regras. Nos aeroportos, foi tanto tempo perdido que as concessões não vão promover grandes mudanças para a Copa do Mundo. Apenas cinco aeroportos foram a leilão até agora. 

O Banco Central diz que a meta oficial de inflação é 4,5%. Mas a presidente Dilma Rousseff afirma em seu Twitter que é 6,5%. Passa a considerar como meta a margem de tolerância de dois pontos para cima. Como o IPCA ainda não viu o centro, 4,5%, na atual gestão do BC, fica a impressão de que a autoridade monetária está menos ambiciosa em relação ao controle dos preços. 

Às vezes, contradições acontecem no mesmo dia, como se viu na quarta-feira. Houve recuo na ideia de mudar retroativamente o indexador da dívida dos estados. Mas, logo depois, o Congresso alterou, com o apoio da base governista, a LDO que desobriga a União de compensar o superávit primário de estados e municípios.

Na primeira medida, sinalização de controle das contas públicas. Na segunda, afrouxamento com o mundo ainda em crise e tendo, em 2013, o crescimento mais baixo dos últimos anos, tudo que o país não precisa é criar novos problemas e incertezas internamente. Isso tem aumentado muito o risco de um rebaixamento da nota de crédito do governo, o que tomaria o cenário mais difícil e complexo.

Olhar sobre a Argentina 
Tudo que acontece com a Argentina tem enorme importância para o Brasil. Por isso, a mudança do ministro da economia no país poderia ter sido um bom sinal, mas não é o que parece. Segundo o economista Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb.com, o novo ministro, Axel Kicillof, deve manter a mesma política econômica dos últimos anos, marcada pela intervenção estatal.

Há pouco espaço para melhorias no comércio bilateral. — Ainda há grande incerteza porque se desconhecem as medidas que o novo ministro tomará em matéria de importações do Brasil. Nas condições atuais, de reservas em queda, não se pode esperar um relaxamento das restrições, mas dificilmente vão piorar — afirma. O Brasil chegou a ter superávit de US$ 5,8 bilhões com a Argentina em 2011, quando a corrente de comércio atingiu o recorde de US$ 39,6 bilhões. Este ano, o saldo soma US$ 2,6 bilhões até outubro, com Us$ 30 bi exportados e importados. 

Moreno desagradava a todos 
Segundo o economista Dante Sica, o ex-secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, vinha se desgastando com vários setores. Ele foi responsável pela intervenção no Indec, o IBGE argentino, que perdeu credibilidade, ordenou o congelamento de preços e determinou que as empresas precisavam ter autorização do governo para importar. 

— Ele estava muito desgastado e sua saída era demandada por amplos setores. Acho que a notícia terá impacto positivo no exterior, sendo interpretada como o afastamento de um funcionário controvertido que esteve por trás do freio às importações por métodos heterodoxos, que expôs a Argentina a um cenário de conflito com seus principais sócios. 

JUROS MAIS ALTOS. Na quarta-feira, o BC deve elevar a Selic, que pode ir a 10%. Será a sexta alta seguida.

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