GAZETA DO POVO - PR - 30/11
Mudam os personagens, acrescentam-se ingredientes, o espetáculo continua incômodo. A partidarização da Justiça está se mostrando mais perniciosa do que a judicialização da política. Pior ainda: compromete o tremendo empenho da sociedade em dar ao julgamento do mensalão o caráter exemplar e, de certa forma, conclusivo.
O estresse iniciado há 15 meses mantém-se intacto e, contrariando as expectativas, se agravou quando o desfecho da ação penal coincidiu com o anúncio do 2.º round, o “caso Siemens”, que implica três governadores de São Paulo (Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin), todos do PSDB, na formação de um cartel para a compra de equipamentos metroferroviários superfaturados.
O confronto deixou o âmbito da suprema corte e da ciência jurídica e trava-se entre governo e oposição, radicalizado não apenas pelas paixões políticas, mas por visíveis indícios de revanche. Esvai-se, assim, a esperança da página virada em matéria de justiça: não será desta vez que o partidarismo e o corporativismo darão lugar à lealdade aos valores permanentes. O vale-tudo está de volta, enfezado e cego.
O início formal do duelo PT-PSDB está programado para começar no ano das eleições presidenciais, 2014. Em matéria de prazos, assemelha-se ao mensalão, iniciado em maio de 2005, um pouco mais distante do pleito de outubro de 2006.
Diferentes as circunstâncias: o mensalão resultou de um esforço para disciplinar a base de apoio ao presidente Lula. Um vídeo distribuído à imprensa flagrava um dirigente do PTB recebendo propina no seu gabinete nos Correios. Roberto Jefferson revidou na famosa entrevista, colocando farta quantidade de lama no ventilador. A oposição pegou o bonde andando, tirou o maior proveito do racha no esquema governista. Não conseguiu impedir a reeleição do presidente, mas maculou a bandeira ética do PT.
Agora, o acerto de contas. Ou troca de cadeiras: desmoralizar os moralistas. A sensação do déjà vu é perversa: facilita complacências, induz ao desânimo e, num ambiente sem referências, tradições e instituições mais sólidas, desnorteia. Se todos são igualmente malfeitores, por que respeitar as leis? A reprise também facilita explosões de impaciência. Terá o distinto público a fleuma necessária para acompanhar novo show de denúncias? Quando o povo foi para as ruas em junho, a sorte dos mensaleiros já estava lançada. Mesmo assim, os protestos dirigiam-se contra a corrupção e a impunidade.
Durante o julgamento do mensalão, o STF funcionou como árbitro, independentemente do magistrado que o presidia (Ayres Britto ou Barbosa). As divergências entre os meritíssimos e mesmo os eventuais bate-bocas – entendidos ou não – ofereceram ao tribunal um ar de imponderabilidade e respeito até então desconhecidos.
Este ativo cívico não deveria ser desperdiçado. O debate político-partidário não pode resumir-se à competição denuncista para escolher o grupo mais corrupto.
A queda do guindaste na obra do estádio do Corinthians, a morte de dois operários e o inevitável atraso que colocará em risco a abertura da Copa em São Paulo mobilizam mais a opinião pública do que um novo surto de malfeitos – sejam praticados por PT, PSDB ou PSD, recém-chegado e plenamente integrado à orgia.
O caso Siemens – ou qualquer que seja o apelido que venha a ganhar – envolve gigantes multinacionais e um poderoso conglomerado disposto a penitenciar-se pelos erros cometidos, oportunidade que não pode ser perdida. O combate à corrupção deve ser permanente, cotidiano, integrado. A opinião é da presidente Dilma. A punição de culpados deve ser natural, contínua, imperturbável. Desforras são tentadoras, porém geralmente enganosas.
O autor tem sua visão, deve-se respeitá-la, mas:
ResponderExcluirCOMO FICAM OS CORRUPTORES?
COMO SÃO RESSARCIDOS OS COFRES PÚBLICOS?
DIANTE DE TANTA LUCIDEZ, PORQUE NÃO SE FAZ LEIS "EFICIENTES E EFICAZES"?
BRAZIL, PAÍS RICO ... EM SOFISMAS!!