sábado, outubro 19, 2013

R$ 1 trilhão? - RENATO FERRAZ

CORREIO BRAZILIENSE - 19/10

Sim, eu e vocês sabemos que ninguém aguenta falar de mensalão e estamos nos lixando se Marina Silva deve mesmo ser vice de Eduardo Campos. Concordam? E podem fica tranquilos: não tocarei nesse assunto aqui. Mas é que esses temas ainda pululam por aí, porque notícia é o que convém: a um grupo político, a uma percepção ideológica e até ao teor de acidez estomacal do editor. Ou não convém. Bem, Silvio Caccia Bava, diretor de determinada edição de origem francesa publicada em português, recentemente levantou uma questão gravíssima e parece que ela não comoveu ninguém: o governo federal simplesmente abriu mão de cobrar R$ 1 trilhão de impostos lançados na dívida ativa da União, devidos principalmente por grandes empresas, públicas e privadas.
A minha dúvida, repleta de indignação, é: pode a burocracia técnica e de carreira tomar tal decisão? Ou foi uma iniciativa presidencial, de quem pusemos lá para administrar a máquina e definir políticas? A presidente Dilma Rousseff sabe da dimensão que isso representa? Ela autorizou? Aliás, precisaria autorizar? Por que isso aconteceu? Fraudes? Falhas? Divergências legais? Como lembra Bava, isso poderia ser decidido longe do debate público?
A sociedade tem, embora ainda timidamente, ido às ruas - os jovens, por "quase tudo"; os professores, por reajustes salariais; os índios, por garantia de terras; e por aí vai. São demandas individuais. Ninguém pensa, debate, questiona o papel do Estado - e das administrações estaduais e municipais. Sinceramente: aqui no DF, queremos que se alarguem sempre as rodovias? Isso vai resolver os engarrafamentos? Ora, claro que não.
Ontem, o colega João Pitella Jr. lembrou que Laércio Benko, intrépido vereador de São Paulo, aprovou lei que proíbe a venda de foie gras no município. Agora, ninguém mais vai poder engordar o fígado do ganso para dar comida a humanos ricos. Benko é filiado ao PHS, o Partido Humanista da Solidariedade, e saiu-se com esta: "Cabe ao poder público regular a vida dos cidadãos". João, eu também sempre suspeitei disso. Mas juro que não entendo como burocratas janotas ainda decidem que devedores devem ou não pagar, ou para que existe sigilo fiscal para caloteiros contumazes ou servidores - incluídos os políticos, claro.

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