terça-feira, outubro 22, 2013

Para governo, pré-sal foi doce - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 22/10

Governo diz que não discute mudança de modelo e comemora presença de petroleiras privadas


O RESULTADO DO leilão do pré-sal era previsível para a cúpula do governo faz umas duas semanas ou um mês (depende da fonte), quando se formou o consórcio vencedor. O desfecho era quase certo fazia uma semana, quando o consórcio foi formalizado: Petrobras, Shell, Total e as duas chinesas.

Seria improvável que as petroleiras restantes, menores, tivessem capacidade financeira e operacional para formar uma sociedade. Portanto, se por mais não fosse, a ideia de que o leilão seria um "teste" para o modelo não fazia sentido, sempre segundo o governo. O resultado já era "previsto e bom".

Diz a cúpula do governo que não há discussões sobre mudar o novo modelo de exploração do petróleo, o do pré-sal, formulado a partir de 2007, com a descoberta dos novos campos, e aprovado em lei de 2010.

Não haveria discussão porque o modelo ainda nem foi testado, porque uma nova mudança causaria grande conturbação, política inclusive, e, enfim, porque esse é um modelo ao gosto de Dilma Rousseff.

De resto, o governo diz que ficou bem satisfeito com a participação de metade das dez maiores petroleiras do mundo na exploração do primeiro campo do pré-sal.

Segundo críticos, o novo modelo seria um problema em especial porque: 1) A Petrobras tem de ser a operadora ("gerentona") de todos os campos do pré-sal, com participação mínima de 30% em todos eles. Não teria, assim, dinheiro suficiente para entrar em todos eles; 2) A nova estatal do setor, Pré-Sal Petróleo SA (PPSA. "Pepesa"?), que vai coordenar e fiscalizar a exploração, tem poder demais, o que assustaria petroleiras privadas; 3) A indústria nacional não tem condição de oferecer, a bom preço e no prazo, a cota de equipamentos e insumos que as petroleiras do pré-sal têm de, obrigatoriamente, comprar no Brasil; 4) A quantidade de petróleo que as empresas têm de entregar ao governo (mínimo de 41,65% neste leilão) é muito grande.

A associação das petroleiras é a maior defensora de mudanças.

O governo diz que nenhum desses "pontos críticos" afastou gigantes privadas como Shell e Total. Diz que a temida e excessiva participação de estatais chinesas, assim como "acordos por baixo do pano" com essas empresas, acabou sendo "mito".

Para a cúpula do governo, a Petrobras seria capaz de investir nos próximos leilões do pré-sal. Tanto que o governo pensa até em antecipar, o quanto possível, o próximo leilão, por ora planejado para 2015.

O pré-sal seria um investimento tão seguro que a Petrobras teria crédito e, pois, capital suficiente para investir. Enfatizam que ela ficou com 40% do campo de Libra, leiloado ontem, em vez dos 30% mínimos.

Quanto ao mínimo que as empresas têm de "pagar" ao governo em petróleo, a quantidade será definida para cada leilão. Mais nada pode mudar?

"A gente nunca pode dizer nunca. Esse mercado tem choques incríveis de preços, descobertas enormes como a do pré-sal e a do xisto nos EUA. O que a gente está dizendo é que não tem discussão nenhuma sobre mudança. E, se tivesse, seria muito improvável fazer alguma coisa em ano de eleição. O modelo é esse, talvez com um outro ajuste menor", diz gente da cúpula do governo que, até ontem, ao menos, parecia muito tranquila, embora nada efusiva.

2 comentários:

  1. Anônimo9:42 AM

    Pois é, causa estranheza a proverbial presença das petrolíferas europeias no consórcio vencedor, e digo por por quê:
    A Petrobrás é o governo certo! Pois bem, o governo já sabia do eminente fracasso de seu leilão pois as empresas privadas não mostraram interesse em se meter nesta cumbuca! Desse modo nada impedia que o governo via Petrobrás convidasse tais empresas garantindo lucratividade mínima, empréstimos camaradas ou ainda uma bonificação generosa no caso da desistência do negócio (todas estratégias típicas do governo do PT).
    Amanhã ou depois que isso acontecer dirão que os eventos não estão relacionados, mais uma vez o PT ofendendo nossa inteligência.

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  2. O PREVISÍVEL 1º LEILÃO DO PRÉ-SAL
    Tudo aconteceu dentro do previsto desde a descoberta do Pré-sal. O novo regime de partilha foi a causa real do afastamento das grandes petrolíferas, bem como da presença maciça de estais e chinesas no leilão do Pré-sal.
    No congresso políticos gagás que já perderam o contato com a vida moderna fingem indignados com os “atentados à soberania”, mas ninguém lhes dá ouvidos. Acabam – falando sozinhos – por se render ao poder central que governa por decreto e medidas provisórias – uma herança da ditadura – que a constituinte cidadã manteve intacta. Nestes tempos de populismo, políticos de mais de 60 anos correm o sério risco de extinção. Por isso aderem como “cracas” ao casco grande navio.
    Foi a própria base do governo que levantou a hipótese do adiamento.
    Como já era previsto só deram estatais e chinesas – como sócias não operadoras – para garantir fornecimento de petróleo no futuro distante. No curto prazo as grandes petrolíferas estão mais interessadas no gás que é mais promissor, especialmente o “shale gás” nos EUA, cuja exploração está mais avançada. Também há maior interesse no Pré-sal do México – mais próximo – com a Pemex em vias de ser privatizada.
    Se não compareceram no 1º e mais promissor que interesse teriam as grandes petrolíferas na exploração dos demais poços?
    Explorar só com estatais e chinesas não operadoras é o mesmo que adiar. Demora tanto a aparecer resultados que o FED já terá retirado estímulos – repetidamente anunciados – e o petróleo já terá baixado de preço e perdido a importância diante das novas descobertas: uma justificativa a mais para o adiamento.

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