quarta-feira, outubro 30, 2013

Governo mostra despreparo na atração de investidores - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 30/10

A Abid estima que para 2016 os projetos de infraestrutura precisarão de mais de R$ 260 bilhões, dos quais uma parte terá de vir necessariamente do exterior



Em reportagem publicada na edição do último domingo, O GLOBO constatou o despreparo e amadorismo com que órgãos do governo federal executam missões de atrair potenciais investidores estrangeiros para projetos de infraestrutura no Brasil. As informações muitas vezes são genéricas e não raramente estão disponíveis apenas em português.

Diferentemente das empresas privadas ou até mesmo estatais, que realizam os chamados “road shows” ou se comunicam por teleconferência com analistas de investimento, o governo não se organiza de maneira adequada para “vender” no exterior os projetos de infraestrutura para os quais deseja atrair novos capitais.

Qual é a porta de entrada para esse projetos? A Associação Brasileira das Indústrias de Infraestrutura (Abdib) estima que a necessidade de investimentos em infraestrutura aumentará dos atuais R$ 200 bilhões para cerca de R$ 264 bilhões em três anos. Desses valores, o principal financiador desses projetos no país, o BNDES, teria condições de bancar algo como R$ 60 bilhões por ano. Assim, a maior parte dos recursos precisará vir de outros formas de financiamento, e, obviamente, diante da limitada poupança interna, o país terá de buscar capitais no exterior, de forma direta ou indireta.

Não há como fazer isso com amadorismo. O governo deve definir uma estratégia de comunicação com potenciais investidores e interessados, tal qual já fazem diversos outros países que se empenham na atração de capitais. Pouca adianta se a presidente Dilma ou seus ministros comparecem a encontros de representantes de investidores estrangeiros se não houver uma equipe técnica preparada para os desdobramentos. A presença de altas autoridades nesses encontros sem dúvida serve de chamariz e dá aval para as mensagens que o governo deseja passar aos investidores. No entanto, se não houver na retaguarda quem possa tirar dúvidas ou dar respostas com rapidez às indagações dos potenciais investidores, o esforço inicial se perde, até porque existem muitos exemplos de outros países que têm feito esse trabalho de atração de capitais com comprovada eficiência.

Projetos de infraestrutura são de maturação de longo prazo. Além das análises macroeconômicas que avaliam as perspectivas do país, há uma série de questões específicas que precisam ser avaliadas, incluindo as de ordem jurídica.

A economia americana está começando a se recuperar. Embora ainda modestamente, têm surgido números que mostram economias europeias saindo da recessão após um longo período de crise. A competição por investimentos tende a ficar mais acirrada daqui para a frente. Se o Brasil não for eficiente nessa disputa, terá dificuldades para obter os financiamentos externos que precisa.

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