segunda-feira, outubro 07, 2013

Dilma busca novo canal com setor privado - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 07/10

Sem estratégia definida, perfil ideal para reconstruir a relação seria um novo Palocci, mas não o próprio


A presidente Dilma Rousseff pensa em repactuar a relação do seu governo com o setor privado, tanto junto aos empresários do mercado financeiro quanto a dirigentes do setor produtivo. Não tem, no momento, uma estratégia definida nem um nome para conduzir a tarefa. O perfil ideal para construir essa ponte seria o de alguém como o ex-ministro Antônio Palocci, mas não ele próprio.

O Palácio do Planalto avalia que cometeu dois erros de cálculo. Um foi imaginar que a queda de 525 pontos da taxa de juros entre agosto de 2011 e março deste ano - período em que a Selic saiu de 12,5% para 7,25% ao ano - implicaria em um enorme incentivo ao investimento privado. Outro foi abrir mão de mais de R$ 70 bilhões em receitas para conceder desonerações de tributos, comprometendo a meta fiscal, para colher um aumento do investimento que não veio.

"Foi uma ilusão do governo", comentou uma fonte da presidência da República, explicando que ambas as medidas eram demandas que a presidente colheu junto aos próprios empresários nas reuniões que manteve com eles no ano passado.

Ao contrário do que pensava o governo, segundo essa mesma fonte, o que ocorreu foi uma queda do lucro financeiro das empresas, pela redução dos juros, e a recuperação de margem de lucro com a desoneração. Agora Dilma quer retomar, sob novas bases, a interlocução com o setor privado vislumbrando, também, um eventual segundo mandato.

Na avaliação de fontes do governo, houve uma grande mudança na gestão da presidente de julho para cá, após as manifestações de protesto que tomaram conta das ruas do país.

Ela não mudou nomes do seu ministério, mas buscou aproximação com as lideranças do Congresso - a cada quinze dias Dilma reúne-se com os presidentes da Câmara, Henrique Alves (PMDB - RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB - AL) - e com os movimentos sociais.

Na área econômica, recomendou ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que aparecesse mais e intensificasse as conversas com empresários, relata um assessor da presidente. Retirou do primeiro plano o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin e revisou as condições para as concessões tornando-as mais atrativas. Mas sentiu-se traída pela ausência de empresas candidatas ao leilão da rodovia BR - 262.

Se oferecia alguma resistência ao aumento da taxa de juros para conter a inflação, Dilma reformou suas convicções e deixou claro a Tombini o grau de liberdade do BC para derrubar o IPCA este ano para um patamar inferior aos 5,84% do ano passado e para conter a elevação de preços no ano que vem a um nível menor do que neste ano, mesmo que isso signifique elevar os juros a dois dígitos.

A comunicação da presidente também mudou. A entrada da personagem "Dilma Bolada" na estratégia de diálogo direto com as redes sociais, no Twitter e no Facebook, segundo fontes oficiais, amplia o alcance das divulgações e mensagens do palácio do Planalto e dribla a cobertura, às vezes sucinta, outras vezes negativa, da imprensa tradicional. Um exemplo disso, citaram, foi a viagem que Dilma fez ao Rio Grande do Norte esta semana. Enquanto os jornais ressaltavam as vaias que ela recebeu, as declarações que deu sobre o Pronatec no mesmo evento foram retuitadas por 3 milhões de pessoas.

Desde o fim de 2011 Dilma foi aconselhada pelo ex-ministro Delfim Netto a se aproximar dos empresários. Ela tentou. Um grupo de 30 empresários - dentre eles três banqueiros - começou a ser ouvido com certa frequência. Do primeiro encontro, em março de 2012, saiu uma lista de problemas a serem atacados: sobrevalorização da taxa de câmbio, alta taxa de juros, custo de energia dos mais altos do mundo, pesada taxação da folha de salários, poucos investimentos em infraestrutura, dentre outros.

Dilma deu resposta a quase todas essas demandas. Mas não colheu a expansão dos investimentos nem a confiança dos empresários. Razão pela qual pensa em reformular a estratégia e construir um novo canal de diálogo.

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