O ESTADÃO - 28/09
No dia 3 de outubro a Petrobrás completa 60 anos. No seu jubileu de diamante, dois fatos chamam a atenção. Durante os 45 anos em que exerceu o monopólio e nos últimos 15 anos, quando passou a conviver com o mercado aberto, a estatal nunca foi tão maltratada pelo governo, seu acionista majoritário. O segundo fato é a notável capacidade que a estatal adquiriu ao longo dos anos de desenvolver tecnologias de exploração em águas profundas, o que a fez se tornar e continuar a ser líder mundial.
Desde o início do governo PT, a Petrobrás tem sido usada e abusada pelo seu acionista majoritário com objetivos políticos, não permitindo decisões baseadas na racionalidade empresarial, o que tem causado imensos prejuízos aos acionistas minoritários, em particular aos trabalhadores que aplicaram seu FGTS na compra de ações da empresa. Exemplos não faltam. O governo obriga a empresa a manter os preços domésticos defasados em relação ao mercado internacional, com o objetivo de controlar a inflação e incentivar a atividade econômica. Desde 2003 a defasagem dos preços da gasolina e do diesel promoveu perdas de mais de R$ 40 bilhões. Em 2013 a estatal tem perdido algo em torno de R$ 1 bilhão mensal só com a importação de gasolina e diesel. Paralelamente, o crescimento da demanda incentivado pelo preço artificialmente baixo levou a empresa a importar grandes volumes de gasolina e diesel. Entre o 1.º trimestre de 2010 e o 2.º trimestre de 2013, a área de abastecimento da Petrobrás já acumula prejuízo de cerca de R$ 36 bilhões, e as importações de gasolina cresceram 395%. Por causa disso, a empresa tem tido dificuldade para cumprir seus cronogramas de investimento. O resultado tem sido o atraso e a revisão de vários projetos e a queda na produção da empresa, que em 2013 deve ser de 2%, voltando aos níveis observados em 2009. Três anos perdidos.
Outro caso emblemático é a construção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, refletindo problemas relativos à gestão de projetos de construção de refinarias pela Petrobrás. Ao longo da construção, o custo previsto do projeto se multiplicou por dez, de US$ 2,3 bilhões para US$ 20,1 bilhões, e a sócia venezuelana PDVSA até agora não deu o ar da sua graça. Isso sem falar na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, por um preço ainda não explicado de forma transparente.
Como resultado de todos esses desmandos, a lucratividade da empresa desabou, levando ao aumento do seu endividamento. Apesar de em 2010 ter realizado a maior capitalização da história, que gerou a injeção de R$ 45 bilhões em seu caixa, a empresa está hoje perigosamente perto dos níveis que fariam com que perdesse seu status de investment grade. O seu endividamento cresceu 210% após a capitalização e suas relações dívida líquida/Ebtida e dívida líquida/capital líquido se encontram em 2,9x e 34%, respectivamente, mesmo com a empresa se utilizando de "contabilidade criativa", que reduziu 70% do impacto da desvalorização cambial sobre a sua dívida. Agora a saída encontrada é o plano de desinvestimento, pelo qual a empresa está vendendo ativos como metade dos campos de petróleo que possuía na África. O próximo passo poderá ser a promoção de uma nova capitalização após as eleições de outubro de 2014, o que provocará uma diluição maior dos minoritários, aprofundando o movimento de estatização da empresa. Tudo isso compromete o futuro da Petrobrás.
Nos próximos aniversários, é preciso que comemoremos a volta da Petrobrás ao caminho da excelência e da lucratividade e, para que isso aconteça, o acionista majoritário deve deixar de ser inimigo e passar a ter um novo relacionamento com a empresa. Esse novo relacionamento tem de estar baseado no respeito pelo acionista minoritário, no retorno do planejamento de longo prazo e no abandono do atual intervencionismo de curtíssimo prazo, que vem causando enormes prejuízos à empresa e a toda a sociedade brasileira. Só assim a Petrobrás poderá manter-se na vanguarda tecnológica, beneficiando as gerações futuras de brasileiros.
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