O GLOBO - 21/09
O excesso de intervencionismo no modelo de partilha de produção atrai companhias estatais asiáticas, mas afasta grandes petrolíferas ocidentais
Como se previa desde que o governo Lula resolveu instituir o regime de partilha de produção como modelo adequado para os investimentos em novos blocos de exploração na chamada camada do pré-sal, a primeira licitação nessa modalidade, a do campo de Libra, em águas profundas da Bacia de Santos, será disputada preponderadamente por companhias petrolíferas estatais, em sua maior parte, asiáticas.
Como herança de um passado remoto, ainda diz-se, na linguagem comum, que um bom negócio “é um negócio da China”. Por ironia, é possível que o leilão de Libra seja literalmente um negócio da China, já que petrolíferas chinesas se apresentam como fortes candidatas a vencer a licitação. Tal possibilidade também fora levantada durante a discussão que antecedeu a aprovação do regime de partilha pelo Congresso, porque muitos países da Ásia buscam diminuir suas dependências de importações de petróleo de regiões sob ameaça permanente de conflitos. Assim, companhias estatais são orientadas por seus governos a assegurarem volumes mais expressivos de produção em outras áreas do planeta, sem tanto risco. Questões outras deixam de ser relevantes e o fato de a Petrobras ser necessariamente a operadora do consórcio vencedor não chega a ser um obstáculo. Até elimina a responsabilidade dessas empresas em cumprir as exigências técnicas (conteúdo nacional mínimo nos equipamentos e serviços utilizados nas fases de exploração e desenvolvimento do campo).
Se de fato essa era a intenção do governo ao optar pelo regime de partilha, o leilão de Libra cumprirá sua finalidade. Mas se o pré-sal for visto por outro ângulo, como uma oportunidade para o Brasil se tornar um dos grandes centros de atenção da indústria petrolífera mundial, com todos os aspectos positivos que isso pode significar (avanços tecnológicos em toda a cadeia produtiva, espalhando-se em diversas outras atividades industriais ou de serviços), o primeiro leilão sob o regime de partilha será, desde já, frustrante.
Pelas dimensões do investimento que deverá ser feito e pelas exigências estabelecidas no edital, o leilão de Libra teria que se restringir a companhias de muita capacidade econômica e fôlego financeiro. Mas várias delas nem sequer se habilitaram (Exxon, Chevron, BP e BG). O que as afastou não deve ser alguma dúvida sobre o potencial de Libra. As pesquisas já realizadas indicam grande probabilidade de o bloco abrigar o maior reservatório de óleo e gás descoberto até agora no Brasil. Se essa expectativa se confirmar, mesmo nas condições estabelecidas no edital pode ser compensador para os investidores.
Tudo levar a crer, então, que foi a concepção do modelo que afastou essas companhias. Há um intervencionismo excessivo, com o qual somente companhias estatais estão habituadas a conviver.
BRINCANDO DE ESPIONAGEM NO LEILÃO DO PRÉ-SAL
ResponderExcluirProvidencial a notícia de espionagem: é o motivo que precisavam para o adiamento, por falta de concorrentes. Só empresas chinesas interessam para garantir fornecimento futuro de petróleo e nem se importam em ser operadoras. Até já ofereceram financiamento para cobrir os 30% que cabe à Petrobras.
O espetáculo recomeça: o palco já está montado: será uma reprise da alardeada mega capitalização que só trouxe prejuízos à Petrobras, com o afastamento dos sócios minoritários. Desde então o valor das ações caiu à metade e a empresa só tem acumulado prejuízo material com o processo de congelamento dos combustíveis (US$38 bilhões, segundo Adriano Pires).
SÓ COM ESTATAIS, PETROBRAS NÃO DÁ CONTA.
ResponderExcluirSó com estatais e chinesas a Petrobras não tem recursos para levar adiante a exploração do campo de Libra. Se levar em conta o decréscimo natural dos poços da bacia de campos levará pelo menos 6 anos para ter aumento de produção e até lá a retirada de estímulos – sempre anunciada pelo FED – terá ocorrido.
Ainda é possível à Petrobras importar gasolina e etanol por preço baixo, mas, mais dia menos dia, os estímulos à economia americana cessarão e os investimentos retornam ao lugar de origem e porto seguro. As consequências para a Petrobras serão danosas.
“Desde 2003, as perdas acumuladas da estatal podem chegar a R$ 38 bilhões, resultado da diferença entre o preço que a empresa cobra pelos derivados de petróleo no mercado interno e o preço internacional” (Adriano Pires). Essa questão só tende a se agravar com o aumento do volume de petróleo importado e valorização do dólar.
Com preço congelado dos combustíveis a Petrobras não dá conta de bancar o déficit primário cada vez maior. Recriar a conta petróleo é a maneira de retroceder ao monopólio que manteve, por décadas, a dependência do petróleo importado. Pode ser bom para reparar prejuízo dos acionistas minoritários que ainda restam. Mas, manter congelado o preço da gasolina – como era no passado remoto – não vai trazer de volta as grandes empresas. O regime de partilha afasta grandes petrolíferas.