sexta-feira, setembro 20, 2013

Escândalo no Trabalho segue modelo de corrupção - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 20/09

O uso de organizações de cunho social se consolida como instrumento de desvio de dinheiro público, e um novo marco para o setor continua apenas na promessa



Mais um caso rumoroso de desvio de dinheiro público por meio do Ministério do Trabalho sob a guarda do PDT não é surpresa. Sequer o método constitui novidade: a transferência fraudulenta de dinheiro a um organismo de cunho social, o Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC), para o qual, estima a Polícia Federal, devem ter sido despachados, de forma ilegal, R$ 400 milhões do contribuinte.

O Trabalho, reservado ao PDT de Carlos Lupi pelo lulopetismo, em troca de votos no Congresso e apoio em geral, já havia entrado na crônica da corrupção sob o comando do próprio ministro Lupi, presidente nacional da legenda. Além de denúncias da existência de guichês de negociatas para a venda de alvarás de sindicato — um tipo de mina de ouro, pelo acesso fácil que os “representantes dos trabalhadores” têm aos recursos do imposto sindical —, também foram identificadas remessas indevidas a ONGs. Sempre para os fins mais beneméritos, geralmente treinamento e qualificação de pessoas de baixa renda.

Lupi foi destituído e assumiu o deputado Brizola Netto, de um grupo rival dentro do PDT, e depois afastado por não ter o comando do partido. Interessa ao Planalto quem controla o voto dos parlamentares. Aí, Lupi voltou, na figura do atual ministro, Manoel Dias. E, é claro, voltaram as falcatruas. Não se pode dizer que caíram dois raios no mesmo lugar. Isto é raro. O que acontece no Ministério do Trabalho, não. O próprio modelo de assalto aos cofres públicos, com o uso de ONGs e similares como gazua, se repete.

Na “faxina ética” empreendida pela presidente Dilma na primeira fase do governo, o manejo desta tecnologia ficou bastante visível.

Pedro Novais, do PMDB, caiu do Ministério do Turismo quando foi denunciado que emendas parlamentares — dinheiro público, lembre-se — eram destinadas a uma ONG fajuta no Amapá.

A defenestração de Orlando Silva (PCdoB) do Ministério dos Esportes se deu enquanto ficava visível a existência de uma constelação de ONGs fundadas para surrupiar dinheiro do contribuinte para o partido, projetos políticos pessoais, etc.

Comunistas do PCdoB elegeram os esportes como terra fértil a cultivar — nas esferas federal, estadual e municipal. No ministério, a colheita terminou em escândalo, envolvendo Orlando Silva e o antecessor, Agnelo Queiroz, eleito governador de Brasília pelo PT.

Quando, na crise nos Esportes, o golpe das ONGs se configurou, foi anunciado que haveria novas normas para regular a assinatura de convênios entre o poder público e estes organismos, importantes instrumentos para dar eficiência ao gasto público.

O tempo passa e não se tem notícia da efetiva constituição de um novo marco a fim de moralizar o relacionamento entre ONGs e governos. E com as eleições à vista, é difícil que algo seja feito antes de janeiro de 2015. A farra, então, deve continuar.

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