terça-feira, setembro 10, 2013

Ciúme de irmão - ROSELY SAYÃO

FOLHA DE SP - 10/09

É comum que o irmão mais velho tenha ciúme do bebê recém-nascido; é preciso ter compaixão neste momento


Sentir ciúme é muito doloroso. Desejar o amor exclusivo de alguém e constatar que isso não é possível provoca uma intensa dor. Muitos adultos experimentam no presente esse sentimento e todos já o experimentaram algum dia, mesmo que não se lembrem mais das emoções que esse sentimento mobiliza. Mas, quando é a criança que manifesta ciúme, poucos adultos se sensibilizam e acolhem o sofrimento dela.

Muitas mães e pais têm de lidar com manifestações de ciúme dos filhos. A rivalidade entre irmãos já é bem conhecida dos pais e muitos deles já nem se dão conta de quanto há de ciúme envolvido nas brigas que têm.

Há, no entanto, duas ocasiões, em especial, que provocam muito ciúme dos filhos: quando nasce um irmão e quando um dos pais encontra um novo par amoroso, depois de ter se separado da mãe ou do pai da criança.

As manifestações iniciais da criança em situações desse tipo são até esperadas pelos adultos responsáveis por ela. O problema é que muitos esperam que a criança logo se acostume com a nova situação que vive e que, portanto, deixe de sentir e demonstrar suas emoções porque, de um modo ou outro, elas atrapalham a vida familiar.

Tenho ouvido muitos pais reclamarem do ciúme que o filho demonstra com o nascimento de um irmão. Muitos deles, inclusive, dizem que já não sabem mais o que fazer. E isso, caro leitor, quando o bebê nem fez um ano ainda!

Os pais em geral se esquecem de que eles mesmos tiveram muito tempo para se acostumar com a chegada de um novo integrante na família. São, no mínimo, nove meses de espera, de planejamento, de tempo para se acostumar com a nova situação que virá. E, mesmo assim, sempre há surpresas, imprevistos, pequenos sustos, e um período, às vezes longo, de adaptação.

E para a criança? Mesmo que ela já tenha idade para perceber a gravidez da mãe, que seus pais tentem integrá-la a esse período de espera, mesmo assim, ela nem imagina o que virá. Por isso, é comum que, assim que veja o novo irmão --que parecia ser ansiosamente esperado por ela --queira que ele vá embora.

Quando percebe que ele não vai, pode praticar pequenos atos contra o recém-nascido ou se comportar de modo diferente. Crises de birra, perda de sono e de apetite, comportamentos regredidos são bem comuns. É ciúme da criança, que experimenta a sensação de ameaça de perder o amor das pessoas que mais ama: seus pais.

Ela precisará de um tempo maior do que os pais tiveram para se adaptar à nova situação. E esse processo, para a criança, costuma ser longo, mais demorado do que foi para os adultos. É preciso, portanto, compaixão pelo filho nesse momento e não impaciência, preocupação, moralismos. Já basta o que a criança sente com a chegada do irmão; ela não precisa de mais problemas além desse, não é verdade?

A criança sente necessidade de falar com seus pais de seus sentimentos, dos desejos que tem, do que sente vontade de fazer. As palavras a distanciam dos atos que tem vontade de cometer contra o irmão e permitem que ela se entenda melhor.

Sou apaixonada por livros bem escritos para crianças. Muitos deles, além de permitir à criança identificações com situações e emoções que ela experimenta, também ajuda os pais a mudar o rumo do relacionamento com o filho.

Esse é o caso de um livro que trata da questão do ciúme de um irmão recém-nascido. "Eu Não Gosto de Você", de Raquel Matsushita, é um livro sensível, amoroso, que certamente irá aliviar o coração de crianças e de pais que enfrentam a mudança familiar com a chegada de um bebê.

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