terça-feira, setembro 24, 2013

A quem (não) interessa Marina - DENISE ROTHENBURG

Correio Braziliense - 24/09

Nenhum dos candidatos deseja ver a Rede Sustentabilidade arrebanhando votos por aí. A maior torcida dos políticos é para que Marina não consiga formalizar o partido



A Rede de Marina Silva balança e, ainda que saia do papel nos próximos 11 dias, não haverá tempo de levar muita gente. A turma dela garante que a ex-senadora cumpriu todos os prazos legais e fez tudo dentro do script, mas há má vontade dos cartórios eleitorais para com o partido. Numa mesa na sala de café da Câmara, na semana passada, o ex-deputado Jorge Uequed contava que, por duas vezes, sua assinatura foi negada por um cartório gaúcho, até que ele foi até lá e, de viva voz, anunciou que apoiava a criação da Rede. Se Marina tiver que contar com essa disposição de todos os apoiadores, “lascou”, como diria meu pai, nordestino.

Mas, se formos levar ao pé da letra, tem muita gente boa torcendo para que Marina não saia candidata. E essa turma é capaz de encher o Mané Garrincha, porque une governo e oposição. Da parte do governo, os 20% que Marina segura hoje são votos válidos fundamentais para a realização do segundo turno. Não é errado dizer que, na falta da candidata defensora do meio ambiente, parte desses eleitores migrariam para Dilma Rousseff, como fizeram na eleição de 2010. Daí, a torcida contra de muitos “dilmistas”.

Para os oposicionistas interessados em conquistar a segunda posição no pódio, Marina é vista como alguém que mais “atrapalha” do que ajuda. Vejamos o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais. Terceiro colocado nas pesquisas, Aécio tende a ficar com um naco dos votos de Marina que são anti-PT. E o tucano é hoje quem tem mais estrutura para chegar à final. Daí, o fato de existir, entre os apoiadores de Aécio, quem torça para que Marina não forme a Rede e volte para o Acre.

Da parte de Eduardo Campos, presidente do PSB, o raciocínio é o inverso. Há, entre eleitores de Marina, muitos que não querem o PT, mas também não têm a menor intenção de votar no PSDB. Na visão dos socialistas, esse grupo poderia compensar os votos com os quais Aécio partirá de Minas e, assim, assegurar a Eduardo Campos uma vaga no segundo turno contra Dilma Rousseff.

Esse roteiro ainda tem José Serra. O ex-governador considera que a ausência de Marina da campanha aumenta as próprias chances de sucesso. Para completar, dá a ele o discurso de que a candidatura é fundamental para garantir o segundo turno, tirando aquele ranço de que a saída dele do PSDB, para concorrer à Presidência da República, seria um capricho pessoal.

Diante de tantos adversários, há, no grupo de Marina, quem defenda a candidatura dela mesmo sem a Rede. O movimento, entretanto, viria sem o brilho e sem a possibilidade de acolher os aliados, uma vez que o PEN já está criado e não daria aos parlamentares a mesma liberdade de mudar sem correr o risco de perder mandatos. Ou seja, Marina pode até sair candidata, mas sem o brilho da sua legenda. Não dá para colocar a culpa na torcida contra dos adversários. Afinal, ela começou tarde a gestação da Rede. E, para completar, hoje o partido dela não estará na pauta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Menos um dia.

Enquanto isso, em Nova York…
A presidente Dilma Rousseff repassou ontem o discurso que fará hoje na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas. Entram os temas óbvios — espionagem e Síria —, mas ela não deixará de lado o que repisou nos anos anteriores, como economia, a necessidade de ampliar o Conselho de Segurança da ONU e a gestão dos organismos internacionais. O problema é que, em tempos passados, a economia brasileira era considerada a vedete dos países em desenvolvimento. Agora, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, precisam gastar mais saliva e power points para tentar atrair investidores. Outros tempos.

E no mundo petista…
As propostas de reforma política em curso no Congresso estão com os dias contados. O PT não vai apoiar a minirreforma discutida no Senado nem o projeto em debate na Câmara. Até desautorizou Cândido Vaccarezza (PT-SP). O partido parece ter chegado ao ponto de que ou é financiamento público, ou nada. Ou é lista de candidatos ordenada pelo partido, ou nada. Sabe como é leitor, em política, quando o sujeito bate muito o pé em torno de um projeto e não aceita negociar nada, é sinal de que não quer nada mesmo.

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