FOLHA DE SP - 03/08
Negociações comerciais capazes de de fazer o país crescer não avançaram na cúpula do Mercosul
Até quando deixaremos a ideologia acima das razões econômicas, do mercado e da competitividade, ancorando o grande navio do comércio brasileiro no porto das pequenas pretensões regionais?
Na cúpula do Mercosul, 15 dias atrás em Montevidéu, mais uma vez temas políticos dominaram debates e resoluções do bloco: Repúdio à espionagem dos Estados Unidos e ao bloqueio do espaço aéreo europeu à aeronave boliviana, e apoio à soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas.
São assuntos importantes, mas as negociações comerciais capazes de alavancar atividades que geram renda e podem, de fato, fazer o país crescer, não avançaram.
As declarações finais apenas reafirmaram o apoio à conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, parada desde 2008. Por falta de discussão, declarou-se o óbvio.
Reiteraram o compromisso de seguir negociando com a União Europeia, mas não se aprofundaram nas dificuldades para consolidar a oferta conjunta do Mercosul.
Destacaram que o objetivo atual do bloco é formar uma "sociedade comum" e que "a integração não pode ser filha do mercado". É difícil concordar com esse argumento, pois quem produz riqueza é o mercado.
A reunião evidenciou que o comércio saiu da agenda prioritária. É usado apenas como justificativa da integração. Foram apresentados números positivos das vendas intrabloco, que se multiplicaram por 12 desde a criação do Mercosul (1991), enquanto o comércio com o mundo é oito vezes maior.
Os números revelam o tamanho do equívoco: o comércio do Brasil com o Mercosul foi de US$ 53,1 bilhões em 2011 e 9% menor em 2012. Com o resto do mundo, foi de US$ 429 bilhões. Todo o comércio do Mercosul com o mundo em 2011 (US$ 824 bilhões) representou apenas 4,6% da movimentação mundial (US$ 17,8 trilhões).
Ninguém citou qual poderia ter sido o aumento do comércio exterior, se concretizada a Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), proposta em 1994 e abandonada em 2005. A integração liderada pelos americanos, que já previam a expansão chinesa, criaria mercado com 850 milhões de pessoas e PIB sete vezes maior que o do Mercosul.
Mesmo sem a Alca, os números do comércio do Mercosul poderiam ser maiores, se a abertura do mercado do Cone Sul fosse completa.
Tanto, que o presidente uruguaio, José Mujica, chegou a afirmar que "temos que falar tanto em livre-comércio, porque não temos livre comércio". E defendeu não só a efetivação dos acordos no âmbito do Mercosul, mas a abertura de negociações com a China, principal parceiro comercial da América Latina.
Os acordos bilaterais e regionais de livre-comércio estão dividindo as Américas do Atlântico e do Pacífico e não somos os únicos a reavaliar estratégias de integração comercial.
Comemorando 20 anos do Acordo Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), os EUA estão estudando a relevância do bloco e uma possível reabertura de negociações para modernizar as regras acordadas. E nós, quando seremos mais pragmáticos? Quando aprenderemos a separar agendas políticas das comerciais?
A China é exemplo notório de pragmatismo econômico e comercial. Pratica um "socialismo com características chinesas", que levou a mais de uma década de crescimento na casa dos dois dígitos e a uma inserção internacional consistente, com mais de 11% do comércio mundial.
Aqui, nosso "capitalismo com características brasileiras" vai nos levando ao isolamento.
Concordo com o presidente Mujica: é preciso negociar com a China, principal destino de nossas exportações. E não podemos perder o acordo com os europeus.
Por enquanto, estamos à frente dos americanos --com o seu gás de xisto-- nessa negociação que é fundamental para o comércio de produtos agropecuários. Mas não há tempo a perder.
No primeiro semestre, o saldo do comércio exterior do Brasil foi o pior de toda a série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, iniciada em 1993.
E em Montevidéu, mais uma vez, a diplomacia brasileira perdeu a oportunidade de discutir o comércio. Não perceberam que é hora de levantar a âncora do nosso navio.
Pois é...
ResponderExcluirEm 2002, iludido por propaganda enganosa, o eleitor brasileiro, em sua maioria, escolheu Lula. Em 2006, confirmou essa escolha e, em 2010, ainda iludido, triplicou a aposta escolhendo Dilma Rousseff.
No entanto, em cada oportunidade, uma avaliação objetiva e rigorosa (minuciosa) teria indicado outro caminho. Como esperar um bom resultado quando se entrega o governo de um país tão complexo como o Brasil a pessoas tão despreparadas e inexperientes?
A partir de agora, o que deverá ser corrigido, somado ao que deverá ser criado, exigirá enorme competência e, sobretudo, liderança e honestidade.
Que tal, em 2014, corrigir nosso rumo?
Que tal, dessa vez, escolher um líder comprovado que já demonstrou sua capacidade para enfrentar e superar enormes desafios: externos, internos, políticos e econômicos?
Que tal garantir-lhe uma vitória consagradora (e esmagadora) que permita dispensar alianças espúrias?
Que tal escolher Fernando Henrique Cardoso e começar, desde já, a trabalhar com afinco para elegê-lo?