domingo, agosto 18, 2013

Encontro marcado - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 18/08

Com as conversas pré-eleitorais fervendo nos estados, as cúpulas do PMDB e do PT marcaram para esta semana a tal conversa em que pretendem avaliar a quantas anda a montagem dos palanques estaduais para 2014. O esforço é no sentido de evitar que, no ano que vem, sejam surpreendidos com um quadro de adversidades por todo o país. Isso nos deixa algumas pistas mais claras para as eleições. A primeira delas é a disposição dos dois partidos de continuarem juntos no plano nacional. Ainda que o casamento esteja balançando, o PMDB não sairá dele se Dilma estiver firme rumo à reeleição. A segunda pista é a de que os petistas elencaram a Presidência da República como prioridade absoluta. E, nesse cenário, muitos candidatos a governador pelo PT podem terminar morrendo na praia.

A queda de Dilma nas pesquisas, embora tenha havido a posterior recuperação, deixou o PT com as barbas de molho. Os mais otimistas acreditam que a presidente abrirá o ano eleitoral daqui a quatro meses com algo em torno de 40%. Ou seja, nada de vitória acachapante no primeiro turno, como os próprios petistas imaginavam há menos de um ano, quando a presidente pairava absoluta sobre todos os demais adversários.

Diante desse quadro, a constatação dos principais escudeiros da presidente é a de que não dá para o partido simplesmente levar a sua vida nos estados como se fosse “solteiro”. Com a presidência da República em jogo, uma das ações de Lula será no sentido de convencer os petistas a entregar alguns estados ao PMDB. O problema, entretanto, é definir que joias da coroa o PT abriria mão para preservar o reino.

Do Rio de Janeiro, os petistas mandam dizer que não dá para abrir mão. Até porque, depois das desventuras em série que pegaram de jeito o governador Sérgio Cabral e o governo dele, a maré está mais favorável ao senador Lindbergh Farias (PT-RJ) do que ao vice-governador Luiz Fernando Pezão. E, dada a situação estadual, não dá para o PT simplesmente abandonar as suas chances num dos maiores colégios eleitorais do país por causa da eleição nacional.

Se esse raciocínio dos cariocas chamando a atenção para as circunstâncias locais valer em outras praças é bem possível que muitas alianças estaduais entre PT e PMDB não passem de sonho de uma tarde de inverno embalado emoldurado pela mobília antiga da sala de autoridades da Presidência do Senado. Ali, o ex-presidente Lula e o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), conversaram há seis dias para tratar das alianças. E o primeiro ponto prático será o encontro entre os dois partidos para discutir estado por estado e debater o que pode ser feito.

Quanto à presidente Dilma, os peemedebistas hoje consideram que ela “melhorou” no trato político, recebe os líderes, discute os temas. Mas, até o momento, isso não serviu para desarmar as armadilhas montadas para deixar o governo em maus lençóis no Congresso. E, nesse embalo, a desconfiança não se dissipou.

Por falar em armadilhas…

Os vetos entram em pauta nesta terça-feira e Renan tem sido muito claro ao dizer que, como presidente do Congresso, cabe a ele respeitar a regra de levar o tema a voto. Nesse caso, se o governo não quiser votar, basta retirar a base de plenário. Ocorre que, nos dias de hoje, a base está mais interessada na própria reeleição e, por isso, começa a fazer ouvidos de mercador às propostas do Planalto. Voltamos assim ao início deste artigo: ou PT e PMDB — dá para incluir aí também os demais partidos da base — acertam logo os ponteiros eleitorais no sentido de se protegerem uns aos outros e preservarem o reino, ou o governo não conseguirá escapar das armadilhas. E, nesse cenário pessimista, não será possível fechar qualquer acordo com vistas a 2014.

Até aqui, percebe-se que PMDB e PT têm poucos lugares a partilhar, por exemplo, Goiás e Maranhão. Na maioria dos estados, a vida é recheada de dúvidas e incertezas tão grandes quanto as que pairam sobre a nossa economia. Há interrogações até mesmo no Distrito Federal, onde o peemedebista Tadeu Filippelli é vice do governador Agnelo Queiroz. E se as cúpulas partidárias não agirem rápido, daqui a pouco não sobra muita coisa para tentar resolver.

E as MPs, hein?

Merece destaque o levantamento do PSDB sobre as medidas provisórias. Desde que assumiu, Dilma editou 102. Do total, 18 caíram por decurso de prazo, quatro foram incorporadas a outras medidas provisórias e 67 viraram leis. As demais estão em tramitação. O fato de 18 medidas terem caído porque não foram votadas a tempo é preocupante. Das duas, uma: ou a base de Dilma não é aquela grandeza toda que se canta por aí ou o próprio governo abandonou as MPs pelo caminho. Quem acompanha o dia a dia da tramitação desses textos legais jura que as duas premissas estão corretas. O problema é que, se o governo continuar abandonando as MPs, pode estar perto o período em que ninguém vai levar essas medidas a sério.

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