quinta-feira, julho 11, 2013

Pactos & crises - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 11/07


A base aliada não confia em Dilma e vice-versa. Isso contaminou tudo. Sem esses laços refeitos, o clima ruim só terminará depois da eleição de 2014

Com o plebiscito desfocado, os problemas agora reluzem. Pela primeira vez, se vê no Brasil um(a) chefe da nação anunciar liberação de um volume expressivo de recursos e, ainda assim, deixar o recinto sob vaias. A própria presidente Dilma Rousseff parece que não tinha certeza absoluta de que as agruras apareceriam tão rapidamente, como ocorreu na reunião dos prefeitos. Afinal, os primeiros acordes daquele encontro, ontem pela manhã, em um hotel de Brasília, foram de uma harmonia de fazer inveja aos mais talentosos músicos e políticos. Parecia que viria o pacto.

O cenário era perfeito. Dilma chegou sob aplausos. Por alguns minutos, deu-se até mesmo o direito de sorrir, transmitindo uma serenidade e uma leveza que há muito não se via em solenidades oficiais. Aos poucos, enquanto a presidente discursava, os ânimos foram mudando e, dali às vaias, foi um pulo. Pela primeira vez, a presidente e seus ministros saíram de cara fechada da Marcha dos Prefeitos. Veio mais uma faceta da crise.

A sensação de clima ruim, embora esteja arrefecendo, permanece no ar e mostra-se travestida cada vez mais de crise confiança. A base política de Dilma não confia nela. A presidente, por sua vez, deixa transparecer que não crê na ampla maioria dos congressistas que apóia o governo. Falta entre todos o pacto que o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkowsky, mencionou em seu discurso ontem: o da verdade.

Ziulkowsky foi enfático ao dizer que “não dá para maquiar mais nada no Brasil”. Obviamente, não fez alusão direta às denúncias de maquiagem das contas públicas, que apareceram no início do ano para dar robustez ao superávit primário. Falou da necessidade de redução do número de cargos em comissão. Comentou sobre os municípios, mas o recado serve a todas as esferas do poder. Citou textualmente a urgência do encontro de contas entre União, estados e municípios, algo que talvez esteja aí desde os tempos do governo de José Sarney.

Dilma defendeu o pacto da verdade. Mas, as verdades de Dilma são outras e, além disso, ela tem um jeitão mais duro de dizer as coisas. Isso também é... verdade. E os políticos estão acostumados ao jogo de cintura, em que a malemolência conta mais do que o conteúdo. Ela falou da necessidade de uma discussão correta sobre o que significa elevar em 10% os gastos com saúde. E tem razão quando afirma que o dinheiro tem que sair de algum lugar. Foi enfática ao dizer que não existe milagre na gestão pública e que todos ali sabiam disso. Anunciou recursos, mais de R$ 3 bilhões, mas se esqueceu de mencionar que isso representará mais do que os 1% do FPM que o governo tem liberado, a certa altura de cada ano, como paliativo para permitir que os municípios fechem as contas.

Os políticos, por sua vez, estão acostumados a um jogo de cintura. Aos tempos de Lula, com as suas piadas e afagos. Essa temporada, entretanto, é lembrada por muitos como aquele velho festival de rock que passou. Se for para voltar — e até agora ninguém diz que será em 2014 — será colocado apenas no momento certo, de forma a não comprometer ainda mais o desempenho do governo Dilma. Até lá, citam alguns, ou os políticos da base aliada, a presidente, prefeitos e governadores fazem o pacto da verdade, a fim de dar um basta à crise de confiança, ou os problemas vão crescer. Não por acaso, Henrique Eduardo Alves promete recesso para a semana que vem. Reza a lenda, entretanto, que esses contatos com as bases costumam dar novo fôlego a insatisfações. Mas, dado o clima, é preciso baixar a poeira para tentar fazer valer os pactos e contornar as crises. Para isso, todos precisam ter jogo de cintura.

Enquanto isso, no MP...
A Lei Geral da Copa é de 5 de junho de 2012. Só quando começaram as manifestações em todo o país é que o Ministério Público decidiu entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade contra o projeto. Tudo o que surge agora, em várias frentes, parece reflexo das ruas. E é.

E no Alvorada...
Quando começaram as manifestações, Dilma foi a São Paulo para se reunir com Lula. A leitura geral foi a de que o gesto tinha sido um ato de fraqueza. Agora, depois do encontro secreto com Lula em Brasília, muitos avaliam que ela errou de novo. Afinal, ainda vivemos no período em que todos adoram deixar-se fotografar ao lado do ex-presidente. Aliás, a bem da verdade, enquanto houver esse clima de desconfiança entre ela e a base tudo o que fizer não será visto como acerto. Voltamos à estaca dos pactos para debelar as crises.

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