sexta-feira, julho 19, 2013

Nós e o dólar vitaminado - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 19/07

Fim da era juro zero pelo mundo e dólar barato vão mudar o jeitão da economia brasileira


O DÓLAR MAIS CARO aumenta o risco de a inflação ficar mais alta por mais tempo. Portanto, os juros continuarão a subir, mais do que seria necessário nesta situação de economia fraquinha.

Trocando em miúdos mais ou menos óbvios e resumidos, é o que o Banco Central informou ontem em sua exposição de motivos da decisão tomada na reunião da semana passada, um documento chamado de ata do Copom.

Este colunista obviamente não sabe para onde vai o preço do dólar (não estaria escrevendo sobre o assunto, se soubesse).

Mas muitos donos do dinheiro grosso lá fora e seus (empregados) analistas econômicos acreditam que a agitação do dólar, decorrente em boa parte do tumulto das taxas de juros nos Estados Unidos, não terminou (em se tratando deste ano).

No que interessa ao Brasil, o dólar, enfim, terminaria o ano pelo menos no mesmo degrau mais alto em que está agora (R$ 2,20). Esse, porém, é o aspecto mais evidente e superficial das novidades que vêm por aí. A consequência mais óbvia para nós é juro em alta nos próximos meses. Mas não só nos próximos meses.

A gigantesca mudança na política monetária (de juros) americana começou mesmo, será muito complicada de gerenciar e vai nos chacoalhar por um bom tempo.

Em resumo grosso, o que se passa é que o Fed, o banco central deles, deve diminuir paulatinamente a quantidade de dinheiro que despeja na economia entre setembro e o começo de 2014 (pois os EUA estariam, enfim, se curando da crise de 2008). Em decorrência, os juros de mercado já subiram e muita gente esperta acha que continuarão subindo daqui por diante.

Afora eventuais acidentes financeiros sérios que isso possa causar, o efeito mais direto dessa imensa mudança americana será um mundo de capital mais escasso e caro, para nós (Brasil) em particular.

O "piso" da nossa taxa de juros deve mudar, para cima, "tudo mais constante", e não apenas a fim de combater essa inflação chata dos últimos três, quatro anos. O preço do dólar mudará de patamar, para um degrau mais alto. Subirá mais degraus se a China, nossa grande cliente, continuar tropeçando. Vai dar uns saltos feios se o governo insistir em fazer o país crescer via consumo.

Nessa fase de mudança, tende a haver mais desemprego. O real mais fraco, em suma, implica salários menores, menos consumo, ou consumo aumentando bem mais devagar: um empobrecimento relativo e temporário dos assalariados.

Se tudo der certo (se a inflação for controlada etc.), investiremos mais e as coisas voltam a melhorar.

Em tese, os preços da indústria, deprimidos pelos anos de dólar barato, subirão, ao menos em termos relativos (em relação ao setor de serviços e/ou de bens que não são negociados no exterior). Ou seja, tende a se inverter a história dos últimos anos, de preços, empregos e salários em alta no setor de serviços, o grande empregador.

Não, não se trata de desastre, mas de mudanças que podem ser administradas por uma política econômica esperta. Mas haverá feridos e mortos na transição, por mais bem administrada que seja a economia.

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