quinta-feira, julho 04, 2013

Navalha na carne - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 04/07

Sem aumentar impostos, governo fará 'cortes escalonados de despesas' para cumprir meta fiscal


GENTE DO GOVERNO diz que "não está na agenda" um aumento de impostos com o objetivo de reduzir o deficit do governo.

A hipótese de aumento de impostos vazara de dentro do próprio governo. Dados os boatos (ou o "medo das ruas"), o governo diz agora que ainda é preciso avaliar "mês a mês" os dados da arrecadação de impostos e as possibilidades de cortes de despesas, que "serão implementadas de acordo com a necessidade, de modo escalonado".

O anúncio do próximo corte de despesas do Orçamento deve ser feito no meio da semana que vem. Em maio, o contingenciamento de gastos foi de uns R$ 28 bilhões. Gente do governo não quis adiantar o novo corte, que deve ser de menos da metade do anunciado em maio.

Isto posto, como ficam as promessas de despesas de dezenas de bilhões em, por exemplo, "mobilidade urbana", prometidos por Dilma Rousseff?

"Há dinheiro para iniciar vários projetos", diz gente do governo, planos que de qualquer modo ainda "precisam ser discutidos com cidades e Estados. Mas o governo não vai parar, nem vai haver prejuízos para programas sociais, embora o governo vá apertar a fiscalização de algumas despesas".

Esforço que, diga-se de passagem, não vai refrescar muito a conta enorme e final de despesas, embora o governo esteja catando cavacos e moedas, além de estar inventando mágicas e milagres para sair do vermelho excessivo. Inventou manobra mesmo para pegar um bilhão e pouco do BNDES.

O governo acredita que haverá aumento de arrecadação, em relação ao início do ano, quando a receita de impostos quase não cresceu, em termos reais? Mesmo com a economia não dando sinais de vida mais animados, que podem ser ainda mais desanimadores, dados tumultos vários, políticos e econômicos, internos e externos? "Estamos trabalhando com o máximo rigor e realismo", diz gente do governo.

O pessoal do governo não quis discutir ou dar números para quantificar o realismo, pelo menos o realismo que usaram para fazer suas contas. Reconheça-se que o terreno é pantanoso.

Até agora, não está claro quando vai terminar o rearranjo do mercado de juros no centro das finanças do mundo. Isto é, quando e se vai baixar a poeira no mercado americano. Pelo jeito, não está havendo apenas uma reação à possibilidade de o banco central dos Estados Unidos, o Fed, reduzir o ritmo de expansão monetária (despejo de dinheiro na praça), mas um rearranjo global de apostas grossas no cassino financeiro global.

No resumo da ópera, esse tumulto todo fez o dinheiro grosso sair do Brasil, entre outros efeitos e ricochetes. Entre outras consequências práticas e imediatas, o dólar subiu e o mercado mundial de dinheiro ficou caro para empresas brasileiras.

Há investidor estrangeiro dizendo que o dólar ainda está barato no Brasil (isto é, muita gente não volta pois acha que pode haver mais desvalorização).

Tudo isso, mais política econômica na biruta, confiança do consumidor em queda ruim, inflação e juros pressionados também pelo dólar, risco de nova implosão europeia (Portugal) e tumulto político devem derrubar o crescimento. O que tende a solapar a receita de impostos.

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