FOLHA DE SP - 12/07
SÃO PAULO - Depois de três anos sem vê-la pessoalmente, assisti ontem a uma palestra de uma hora de Marina Silva. E é impressionante como o discurso da virtual presidenciável em 2014 encontrou eco nas jornadas de junho em todo o país.
Na eleição de 2010, o repórter Bernardo Mello Franco batizou de marinês'' o conjunto de expressões com que a ex-petista buscava "ressignificar'' a política. Na época, termos como inflexão civilizatória'' e desadaptação criativa'' pareciam saídos de um texto de realismo fantástico, à la Dias Gomes em "Saramandaia''.
Agora, depois que milhões saíram às ruas, o marinês'' soa mais conectado com a nova realidade --embora, assim como ela, continue difícil de traduzir pelo léxico ortodoxo.
A ex-senadora percebeu o gancho da história e trata de aproveitar o "Zeitgeist", palavra alemã para o "espírito do tempo'', que ela, não por acaso, não se cansa de evocar.
Marina frisou que está há mais de três anos sem partido''. O que antes era uma fragilidade virou trunfo, como mostra o sem partido!'' gritado em coro nas manifestações pelo país.
Criticou as instituições tradicionais da democracia --que, segundo ela, não dão conta da diversidade da sociedade--, ecoando o bordão não me representa'', das redes sociais.
A ideologia difusa, a familiaridade com o novo ativismo digital e a agenda sem preocupação com viabilidade financeira terminam por explicar por que Marina foi a única política que cresceu após a onda de protestos.
Os partidos tradicionais já perceberam que não será mais possível tentar inviabilizar a Rede da ex-senadora com manobra no Congresso.
Marqueteiros também acham que o patamar de 20% que ela alcançou nas pesquisas se manterá até 2014.
Resta a eles usar as contradições da ex-ministra - que saúda a ciência a cada duas frases, mas segue aferrada a dogmas religiosos - e a falta de concretude de muitas de suas ideias para tentar desconstruir o que as ruas trataram de legitimar.
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