quinta-feira, julho 04, 2013

Flores murchas no Egito - TEREZA CRUVINEL

CORREIO BRAZILIENSE - 04/07

Pelo andar da carruagem, não haverá plebiscito algum este ano. No melhor cenário, a consulta acontecerá em 2014. Os setores mais conservadores do Congresso não abdicam de controlar as normas que regem a política
O governo gerado pela Primavera Egípcia de 2011 foi derrubado por um golpe militar, depois de longamente acossado por manifestações populares. Acusado de autoritarismo e de indiferença para com os problemas do povo, o presidente Morsy foi deposto e substituído temporariamente, dizem os militares, pelo presidente da Corte Constitucional. Narrativas convenientes falarão em vitória da democracia ou do povo nas ruas, mas, o que está ocorrendo no Egito, é retrocesso. Tomara que não seja o retorno a uma longa ditadura. Aqui também, em 1964, o general Castelo Branco substituiu o presidente deposto João Goulart afirmando que entregaria o poder ao presidente civil que seria eleito no ano seguinte. A ditadura acabou durando 21 anos.

A derrubada de Morsy não é democrática, apesar das massas na praça, por várias razões. Primeiro, porque ele foi eleito num pleito que não foi contestado. Agora, foi afastado com a quebra da ordem constitucional, pela força das armas, e não dentro de um processo legal. Ademais, a corrente político-religiosa a qual é filiado, a Irmandade Muçulmana, representa 2/3 da população, que não se conformarão com a derrota e, possivelmente, reagirão, convulsionando ainda mais o Egito.


Convulsionar um país é fácil. Difícil é restabelecer a normalidade. Guardadas as devidas proporções e diferenças, estamos assistindo aqui ao alastramento do fogo. A interdição de rodovias vai além dos protestos de rua e mesmo dos vandalismos, pois afeta diretamente a circulação de mercadorias e a dinâmica da economia. As classes produtoras estão incomodadas. "A garantia do direito à manifestação não autoriza a quebra da ordem e dos direitos alheios. A presidente disse que não vai transigir com o bloqueio das estradas, que tem causado grandes perdas ao país, mas estamos esperando agora mais ação", diz o senador Armando Monteiro, ex-presidente da CNI e porta-voz do empresariado no Senado.

Plebiscito, se houver, só em 2014
Pelo andar da carruagem, não haverá plebiscito algum este ano. No melhor cenário, a consulta sugerida pela presidente Dilma para garantir uma reforma política legitimada pelo povo será realizada em 2014, com a eleição geral de outubro. O Congresso, agora flertando com os manifestantes que o apedrejam, já começou a votar matérias, como o fim do voto parlamentar secreto, buscando esvaziar a proposta. A oposição não quer e a base governista rachou, com o PT aparentemente favorável e o PMDB, contra. Ora, em abril, o PMDB sepultou o último esforço pela reforma política, impedindo a votação do substitutivo do deputado Henrique Fontana (PT-RS) ao texto de Francisco Dornelles (PP-RJ), enviado pelo Senado. Se o PMDB não quer, não passará. Se o PT ainda tivesse a garra de outros tempos, promoveria um ato na porta do Congresso a favor do plebiscito, intimidando seus pares como fazem hoje os sem-partido. A verdade é que os setores mais conservadores do Congresso não querem abdicar do direito de fazer as regras do jogo político. Por isso a antecipação, essa votação apressada do que nunca mereceu urgência.

Para completar, ao fixar o prazo de 70 dias para a realização da consulta, reservando dez para que o Congresso votasse as leis decorrentes do resultado, o TSE mais uma vez avançou sobre o regramento da política, afirmando que a consulta só será legítima se realizada a tempo de vigorar em 2014. O Congresso é soberano para fazer o oposto, embora o objetivo de Dilma tenha sido mesmo garantir mudanças já no ano que vem.

Esquerda, volver
A executiva do PT estará reunida hoje, debruçada sobre seu dilema: defender Dilma apesar dos erros que não consegue perdoar: o desprezo aos movimentos sociais, a surdez na relação com o partido e os equívocos na reação aos protestos. No pronunciamento do dia 19, os petistas não perdoaram a falta de defesa do que já foi feito pelos governos do partido. Cobram reação enérgica ao bloqueio das estradas, que pode alimentar a desaprovação do governo, e medidas para responder à agenda do cotidiano levantada pelas ruas, como melhorias no transportes e na saúde.

O líder José Guimarães confirma que o partido reapresentará a proposta de taxação das grandes fortunas, que integrou a agenda do partido num passado mais esquerdista. "Não queremos taxar os setores produtores, seja na indústria, nos serviços ou na agricultura. A taxação será dos rentistas, dos que vivem da especulação. Para atender os reclamos da sociedade, serão necessários mais recursos, sem comprometer as contas públicas. Proporemos a destinação dos recursos da taxação a projetos de saúde e de mobilidade urbana. Mas, para receber recursos, os governadores terão que apresentar projetos viáveis, previamente aprovados pelo governo federal", explica Guimarães.

Jorge, do Feitiço
No começo, a metonímia. O nome do lugar sobrepôs-se ao nome do dono. Jorge Ferreira, mineiro de Cruzília, da geração do Clube da Esquina, era apenas Jorge do Feitiço Mineiro, a primeira das muitas casas que criou em Brasília, unindo gastronomia, cultura e política. Jorge se foi tão cedo, entristecendo a cidade. Seu legado tem coisas bonitas, como o Mercado Municipal, e valores fortes, como a lealdade, a amizade e a coerência nas convicções. Que a corrente de pesar ajude a confortar sua família.

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