segunda-feira, julho 15, 2013

Chamem a NSA - RICARDO BALTHAZAR

FOLHA DE SP - 15/07

SÃO PAULO - Com o fim da investigação sobre a onda de boatos que assustou os beneficiários do Bolsa Família em maio, os petistas acabam de jogar para baixo do tapete um dos maiores vexames de sua história.

Multidões correram às agências da Caixa Econômica Federal entre 18 e 20 de maio, preocupadas com rumores que sugeriam o fim iminente do Bolsa Família. O tumulto levou insegurança às camadas mais pobres da população e arranhou a credibilidade do maior programa social do país.

Como os repórteres Aguirre Talento e Daniel Carvalho revelaram na Folha, na véspera do pandemônio a Caixa decidira mudar o calendário habitual de pagamento dos benefícios sem avisar ninguém. É provável que isso tenha confundido as pessoas e alimentado a boataria.

A Caixa só reconheceu seu erro depois da descoberta dos repórteres. A demora permitiu que autoridades graúdas, da presidente Dilma Rousseff ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tentassem tirar uma casquinha do episódio, sugerindo a existência de uma ação orquestrada contra o governo na origem dos boatos.

Na sexta-feira, a Polícia Federal anunciou a conclusão de seu inquérito, informando que não chegou a lugar nenhum. O único fato apontado como explicação para os boatos foi a lambança na Caixa, descrita como "ciência da antecipação do pagamento por motivos diversos", na linguagem torta do comunicado oficial.

Num lance cômico, a polícia identificou uma mulher de Cajazeiras (PB) como a primeira pessoa a comentar o assunto nas redes sociais. E daí? Daí nada, porque a própria nota da PF diz que isso nada teve a ver com a disseminação dos boatos.

Talvez tivesse sido melhor chamar a NSA, a agência de espionagem americana que virou alvo da indignação tupiniquim por bisbilhotar até as mensagens dos brasileiros na internet. Eles parecem ser muito bons, e talvez ajudassem a encontrar as respostas que as autoridades brasileiras foram incapazes de achar.

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