sexta-feira, julho 12, 2013

Centrais ficam nas margens - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 12/07

Protesto de ontem não foi desimportante, mas pareceu mecânico, sem alma, burocrático e artificial


AS CENTRAIS SINDICAIS davam ontem a impressão de que não passavam de um grupo de interesse específico, localizado, como tantos outros que apareceram durante e principalmente depois do protestos maiores de junho (como os de médicos, contra a PEC 37, contra o pastor Feliciano etc.). Pelo menos pareceu assim em São Paulo.

Além de um grupo perdido nos ecos já distantes das multidões de junho, os sindicatos pareciam ontem encenar uma peça velha, sem alma, burocrática, uniformizada e artificial, fosse no largo Treze ou na avenida Paulista, entre outras ruas, praças e pontes da cidade.

Sim, sindicatos com mais força e voz costumavam ser representantes de parcelas bem específicas dos trabalhadores, como metalúrgicos, portuários, petroleiros, bancários e funcionalismo. A massa maior (e cada vez maior) de trabalhadores precários, do proletariado dos serviços, do pequeno comércio etc. jamais chegou a ter organização forte.

Porém, quem participou ou viu manifestações do fim da ditadura pelo menos até o fim do governo FHC via que os sindicatos conseguiam agregar ou arrastar apoios, formais ou informais, de outros movimentos sociais ou de anônimos animados.

Os protestos do "Dia Nacional de Lutas" foram muito diferentes em cada cidade, decerto. De longe, não é possível dizer que se assemelharam à pantomima mecânica e vazia de São Paulo. Mas não havia multidões. Mesmo os protestos mais vivos resultavam de uma demanda muito específica (como as dos motoboys em São Paulo ou as de portuários do Espírito Santo).

Em suma: não foi um fiasco, não foi desimportante, mas foi o fim de uma história.

Em São Paulo, a Força Sindical era proeminente na rua, dando assim o tom artificial da manifestação: uniformes, palavras de ordem contra Dilma e Mantega, recebidas com mais ou menos indiferença pelos manifestantes, muitos com jeitos de arregimentados para apenas cumprir a função. Enfim, "palavra de ordem" que pede a cabeça de ministro da Fazenda nunca foi muito popular (pois em geral mal tem noção de quem é o indigitado).

Entre a cruz e a caldeirinha, entre participar de um ato em tese antigoverno e ficar isolado de todo e qualquer protesto, CUT e alguns petistas se juntaram ao "Dia de Lutas". Mas o pessoal do PT quase se disfarçava na rua. Havia raras bandeiras.

Centrais, PT, sindicatos, tudo parecia velho e cansado. Tentaram pegar carona na onda das multidões de junho, tentaram mostrar que têm força (têm, mas não na rua), mas acabaram deixando evidente que fazem parte de outro mundo (não necessariamente pior ou melhor que o dos protestos "horizontais", "espontâneos").

Os movimentos sociais, os mais antigos (o moribundo MST) ou os mais novos, mal deram as caras no protesto paulistano. Cansaço ou desconexão total com os sindicalistas?

A massa de trabalhadores, apesar de irritada como quase todo mundo neste inverno morno de protestos, não parece nem de longe furiosa, pois o desemprego é baixíssimo e os salários ainda sobem. Sim, está acabando a fase de salários em alta, de resto em parte comida pela inflação alta dos alimentos. Mas não estamos nos anos 1980-90 nem ao menos nos anos recentes de crise, de 1999 a 2003.

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