segunda-feira, julho 08, 2013

Ascensão e queda - CARTA AO LEITOR

REVISTA VEJA

A Carta ao Leitor da edição que traz a reportagem de capa que ilustra esta página revelava que os novos milionários brasileiros tinham como ídolo o empresário Eike Batista, em quem viam com enorme admiração o fato de ele "não ter vergonha de ser rico”. VEJA refletiu essa percepção e colocou Eike na capa, em janeiro de 2012, como uma versão brasileira de Deng Xiaoping, o líder cuja pregação "Enriquecer é glorioso" foi o sinal de largada para a transformação da China em potência econômica. O legado do líder chinês, morto em 1997, ficará para sempre. Embora não deva crescer neste ano no mesmo ritmo alucinante com que vinha impulsionando quase sozinha a economia mundial, a China se consolidou como potência. Já nosso Eike Xiaoping, que sonhava acordado em ser o homem mais rico do mundo, não correspondeu às expectativas.

Uma reportagem desta edição de VEJA narra a ascensão e queda do empresário que, até há bem pouco tempo, era símbolo de empreendedorismo e baluarte de um Brasil que enriquecia rapidamente. Eike Batista se transformou no seu oposto. Com o valor de suas empresas na bolsa derretendo como picolé no asfalto, Eike tornou-se o paradigma do espertalhão que ficou rico vendendo gato por lebre. Para piorar as coisas, a derrocada de Eike acompanha a própria degradação da economia brasileira.

Uma análise mais detida mostra as razões desse triste paralelismo. Eike decolou em grande parte pela força das mãos do governo. Obteve créditos bilionários do BNDES. Foi recebido quando quis pelo então presidente Lula e por sua sucessora, Dilma Rousseff. Era um eleito do poder, um dos poucos empresários escolhidos para ser vencedores no jogo do capitalismo estatal brasileiro. A reportagem de VEJA que explica as causas do desmoronamento do império de Eike Batista revela a série de erros cometidos pelo empresário e por seu parceiro nessa aventura, o governo brasileiro.

São enganos típicos dos momentos ingratos em que os governantes ignoram as leis de mercado e imaginam que podem impunemente controlar a economia, arbitrando taxas de juros, subsidiando combustíveis, escolhendo vencedoras entre as empresas. Ambos, Eike e o governo, estão agora pagando pelos erros. O empresário perdeu a confiança do mercado. O governo, a popularidade. Tanto sofrimento poderia ter sido evitado se houvesse prevalecido em Brasília esta antiga e límpida lição: “Os governos são péssimos em escolher vencedores, mas os perdedores são ótimos em escolher governos”.

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