terça-feira, julho 23, 2013

Agricultura: boa perspectiva - ANTÔNIO DELFIM NETO

VALOR ECONÔMICO - 23/07

Diante de tanta confusão e pessimismo produzidos por uma radical desconfiança entre o setor privado (que acha que o governo "ignora a realidade") e o governo (que acha o setor privado "excessivamente egoísta"), mesmo alguns progressos da política econômica e social são ignorados.
É o caso, por exemplo, do avanço representado pelo excelente Plano Agrícola e Pecuário para 2013/2014, que ataca alguns dos pontos críticos do agronegócio. Esse não se restringe apenas ao processo de produção e distribuição do setor agropecuário. Envolve toda a cadeia de serviços (pesquisa, transporte, armazenamento, produção de sementes, de insumos etc.), que hoje adiciona valor da ordem de 20% a 25% do PIB e emprega cerca de 30 milhões de pessoas, num espectro que vai do mais humilde trabalhador ao mais extraordinário cientista.
A safra 2012/2013 de cereais, leguminosas e oleaginosas deverá atingir 186 milhões de toneladas. Para efeito de comparação, a safra 2002/2003 foi de 123 milhões, o que significa aumento de 51% nos últimos dez anos (uma taxa formidável de 4,2% ao ano) que nos mantém na liderança do aumento da produtividade total dos fatores de produção na agricultura mundial no período.
O gráfico vale mais do que mil palavras: enquanto a produção cresceu entre 1975 e 2011 quase quatro vezes, o indicador ponderado dos insumos usados cresceu menos do que 10%. Esse aumento liberou mão de obra no período (18%), manteve estável a área plantada (mais 3%), com um aumento da relação capital/homem da ordem de 57% (1,3% ao ano). O progresso se deu, basicamente, pelo aumento da produtividade física da mão de obra da ordem de 4,7% ao ano, o que se refletiu nos salários.
Isso é explicado pelo Índice de Desenvolvimento Rural (IDR) produzido pela FGV-CNA, uma sofisticada tentativa de medir os impactos econômicos, sociais, demográficos e ambientais que acompanham o desenvolvimento da agricultura no nível dos 5.489 municípios do país..
O ranking foi dividido em quatro grupos, contendo cada um 25% dos municípios (1.372) da seguinte forma: 1) IDR baixo - menor ou igual a 0,339; 2) IDR regular - maior que 0,339 e menor ou igual a 0,538; 3) IDR médio - maior do que 0,538 e menor ou igual a 0,655; e 4) IDR alto - maior do que 0,655.
A tabela abaixo traz resultados interessantes. No primeiro quartil temos os municípios menos urbanizados (12,4 milhões de habitantes com 41,6% de população rural), com taxa média de alfabetização (dez anos ou mais) de 74,2% e 35,3% da população rural em extrema pobreza (rendimento abaixo de R$ 70). No último, temos municípios mais urbanizados (4 milhões, com 13,4% de população rural), com taxa de alfabetização de 93,1% e com 1,8% de pessoas de extrema pobreza rural.
A diferença é gigantesca: no primeiro quartil, para cada 100 pessoas residentes na zona rural, mais de 35 estavam em extrema pobreza; no último, menos de 2! São claros os efeitos da urbanização e da educação. Como em todos trabalhos estatísticos, as "conclusões sobre as causalidades" precisam ser discutidas com maior cuidado.
O Plano Agrícola de 2013/2014, o melhor em muitos anos, está atento à necessidade de acelerar o desenvolvimento do setor com um substancial aumento dos limites do crédito de investimento e custeio: aumento de prazos e redução da taxa de juros real; ataque ao trágico problema da capacidade estática de armazenamento da safra, que não permite ao produtor aproveitar as melhores "janelas" para a venda de sua produção; suporte à inovação e tecnologia; aumento da atenção à irrigação; aumento do seguro da safra, que um dia amenizará os riscos climáticos e das pragas sobre a renda da agricultura; apoio à formação de estoques, que reduzem os efeitos dos "choques de oferta" que tanto comprometem a taxa de inflação; ampliação da assistência técnica e a recuperação da extensão rural e, por fim, o apoio à ação cooperativista na agricultura.
A resposta da agroindústria será um estímulo importante para a disseminação do aumento da sua participação no crescimento do PIB.

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