quinta-feira, junho 06, 2013

Objetivos em conflito - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 06/06

Pela primeira vez, os próprios deputados do PMDB vislumbram uma redução da bancada para 2014 e é isso que tanto incomoda, uma vez que a cúpula partidária trata de assegurar seus próprios espaços de poder


Meses de idas e vindas dentro do PMDB já permitiram aos integrantes do partido identificar que o maior problema no partido é a diferença de metas entre a bancada e a cúpula partidária. O vice-presidente da República, Michel Temer, fiel depositário dos votos peemedebistas junto à presidente Dilma Rousseff, trabalha pela reeleição. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), busca a própria reeleição para o próximo biênio no comando da Casa. E o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), joga para manter o poder em Alagoas. E quem joga pelo PMDB como um todo? Os deputados simplesmente não identificam.

A massa de 80 deputados que compõem a bancada peemedebista considera que o valor do partido para o governo Dilma está justamente no tamanho das bancadas na Câmara e no Senado. Graças a essa quantidade de parlamentares, o PMDB fez encher os olhos dos petistas com parceiro prioritário para a aliança. E, nos primeiros dois anos do governo Dilma, a promessa para a bancada era de prosperidade, leia-se reeleição garantida para todos, quando Henrique assumisse a presidência da Câmara e Renan, a do Senado. Ocorre que o tempo está passando e, nesta temporada de organização das listas daqueles que serão candidatos a deputado estadual e federal no ano que vem, os peemedebistas estão com dificuldades de fechar grandes nominatas.

“O que faz um político ganhar eleição é o verbo ou a verba. Não temos nem o verbo nem a verba.” A frase é atribuída ao deputado Eliseu Padilha, do PMDB gaúcho, dita recentemente numa reunião fechada do PMDB. Atualmente, são os petistas que levam as notícias de boas-novas aos municípios. Para completar, os mesmos têm as verbas e inauguram as obras que encantam a população pelo Brasil afora. Com esse cenário, o PMDB faz os cálculos e acredita que dificilmente conseguirá, no ano que vem, repetir a performance de eleger 80 deputados. Daí, o desconforto.

Nenhum integrante da massa peemedebista vê da parte da presidente Dilma, ou do próprio Temer, alguma atenção no sentido de preservar o tamanho da bancada. Ao contrário. Observam atitudes que podem terminar por sufocar o partido em alguns estados. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o partido trabalha para apoiar a candidatura do senador Delcídio do Amaral (PT) ao governo estadual e, assim, garantir o palanque de Dilma e de Temer à reeleição. E, sem candidato a governador, o PMDB local dificilmente terá sucesso na montagem de bancada parlamentar.

A cúpula peemedebista repete diariamente que há várias eleições os analistas políticos vislumbram uma redução da bancada do PMDB, mas isso nunca vem do jeito que é pintado nos artigos. Ocorre que, desta vez, o cálculo não é de analistas. É dos próprios deputados do PMDB, que nunca estiveram tão inquietos com a própria eleição. O partido sente que Dilma e Lula vão dar a vice ao PMDB, mas trabalhando para cortar o poder peemedebista pela raiz ao atrapalhar a formação de grandes nominatas peemedebistas nos estados. E uma boa lista de candidatos a deputado federal é passe livre para a formação da grande bancada que sempre garantiu a influência do PMDB em todos os governos. Ao que parece, diante dos objetivos divergentes de seus comandantes e da bancada, desta vez os peemedebistas vão cair na armadilha do PT. Vale guardar isso aqui para chegar lá em outubro quando abrirem as urnas.

Enquanto isso, no Planalto...
A turma da Bahia voltou feliz da vida ontem do Palácio do Planalto. Tudo por causa da criação de duas universidades, uma no oeste do estado, com cinco câmpus universitários — Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, Barra, Bom Jesus da Lapa e Santa Maria da Vitória. A outra ficará no sul da Bahia, em Itabuna e em Porto Seguro. Já tem gente pensando em erguer uma faixa do tipo “obrigado, Eduardo Campos”. É que, desde que o nome do governador pernambucano e presidente do PSB passou a circular como adversário de Dilma no ano que vem, a região nunca viu tanto benefício por parte do governo federal.

E nos vetos...
Os vetos à lei dos portos anunciados ontem ajudarão a insuflar a casa a tratar logo de votar aqueles projetos polêmicos que mencionamos aqui na segunda-feira, caso, por exemplo, do fator previdenciário. Essa história, a coluna já tratou.

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