quarta-feira, junho 05, 2013

O arraiá de Dilma - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 05/06

Com as medidas que aliviam as dívidas dos agricultores nordestinos em pleno mês de São João, Dilma acende uma fogueira para incinerar o discurso do governador de Pernambuco, Eduardo Campos


Os petistas do Nordeste nunca estiveram tão eufóricos com a pré-candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República. O mesmo ocorre com a bancada nordestina dos partidos aliados. Muitos acreditam que, graças ao movimento no PSB, os nordestinos conseguiram neste mês de São João e de Santo Antônio tudo aquilo que pediam há tempos e o governo não lhes dava ouvidos. O principal foi a prévia do Plano Safra do Semiárido, que a presidente Dilma Rousseff lança na semana que vem. Ontem, no Planalto, ao anunciar o Plano Safra 2013-2014, ela antecipou algumas medidas que fizeram brilhar os olhos de deputados e senadores da região.

Obviamente, o governo diz que as medidas estavam em estudo e viriam mais dia menos dia. Mas, ninguém deixa de, nas entrelinhas, analisar a conjuntura e o momento em que o plano é anunciado. Junho é o mês em que o Nordeste ferve e suas tradições percorrem o Brasil. Enquanto isso, na seara política, o que promete ganhar o interior dos estados nordestinos é a decisão do governo de dar uma aliviada na situação dos agricultores. Vem aí a suspensão da cobrança das dívidas e, de quebra, um desconto de 85% para liquidação de créditos rurais contratados até 2006 e renegociação das operações contratadas a partir de 2007.

A decisão faz com que Dilma retome a posição de grande mãe entre os nordestinos. “O impacto será grande. Vai atingir toda a classe média rural nordestina, que é a maioria”, comemorava o líder do PT na Câmara, deputado José Guimarães. Ele é do Ceará. Há meses, ele e outros políticos da região escutam e leem reclamações de que os agricultores estão endividados, que o governo não ajuda e que, para completar, as grandes obras públicas de infraestrutura caminham devagar quase parando, embora a região seja a que mais cresce no Brasil.

Tudo isso servia de embalo para o discurso do “é possível fazer mais”, proposto pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Dilma, entretanto, inicia uma tentativa de esfarelar essa cantilena no campo político. Obviamente, não dá para dizer que a presidente tomará as medidas específicas para o semiárido por causa da candidatura de Campos. Mas esse discurso serviu para colocar o assunto na pauta de temas urgentes a serem tratados, sob pena de virar escoadouro de votos, seja para oposição, seja para aliados que planejam carreira-solo.

A presidente não tem passado 10 dia sem pisar no Nordeste. Só com Eduardo Campos esteve lá duas vezes. Esta semana mesmo, foi ao Rio Grande do Norte inaugurar a Barragem de Oiticica. Daqui a alguns dias, estará novamente no Nordeste lançando essas medidas que facilitam a vida do agricultor da região, que serão incluídas em uma medida provisória que já tramita no Congresso, a 610, de forma a economizar tempo para aprovação definitiva. Pelo visto, o arraiá de Dilma está montado e fará a alegria dos produtores.

Enquanto isso, no Congresso Nacional…
Os peemedebistas ficaram meio frustrados quando descobriram que a conversa de Dilma com os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves, tratou dos problemas institucionais sem “fulanizar”, bem ao estilo do que pregava o ex-vice-presidente Marco Maciel. Maciel sempre gostava de discutir os problemas em tese e buscar a solução mais racional. Era contumaz repetidor da frase “não vamos fulanizar”. Foi isso que o atual vice-presidente da República, Michel Temer, e o os comandantes do Congresso Nacional fizeram. Nenhum deles reclamou das ministras palacianas ou do excesso de medidas provisórias. Nem se citou o distanciamento da presidente da classe política como um todo.

Da parte de Dilma, ela deu razão a Renan quanto à não aceitação das MPs fora do prazo de sete dias. De concreto, só mesmo o envio do marco regulatório da mineração por projeto de lei com urgência constitucional, o que requer celeridade de tramitação. Ou seja, aplainou-se um terreno, mas não se resolveram os problemas.

… e não muito longe dali…
Enquanto Dilma conversava com os comandantes, a turma do PMDB se reuniu com vários ministros. Gastão Vieira, do Turismo, contou à bancada que não teve a menor influência no PAC do Turismo. Nem mesmo para incluir recursos destinados ao Maranhão, um estado com grande potencial turístico. Os deputados foram informados de que, dos R$ 670 milhões, R$ 300 milhões vão para a cidade de São Paulo, administrada pelo petista Fernando Haddad; R$ 30 milhões para o Rio Grande do Norte, onde o secretário é ligado ao presidente da Câmara; R$ 20 milhões para Alagoas, terra de Renan Calheiros; sem contar os recursos para Santa Catarina de Ideli Salvatti, e Curitiba, capital do estado que elegeu a senadora Gleisi Hoffmann, hoje ministra da Casa Civil.

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