sábado, junho 08, 2013

Gatsby - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 08/06
Ainda não vi e desconfio que não vá gostar de "O grande Gatsby", pelo menos não tanto quanto do livro, um dos mais fascinantes que li na juventude.
Segundo importantes críticos, é "uma obra prima", um clássico definidor dos anos 20, os "anos loucos", que o próprio Scott Fitzgerald chamou de "era do jazz" e da qual ele foi a voz e sua mulher, Zelda, o belo e atormentado rosto.

Sobre o período, ele escreveu: "Foi uma era de milagres, foi uma era de arte, foi uma era de excesso" - de excesso, dissipação e extravagâncias comportamentais. E foi também a era da Lei Seca, quando as pessoas se enfurnavam em bares clandestinos, as moças dançando charleston e mostrando as pernas, enquanto os homens se embriagavam de bebida contrabandeada.

Para o romancista, "foi a mais dispendiosa orgia da História", uma farra que acabou no crack da Bolsa de NY e na Grande Depressão.

O livro tem como dedicatória "Uma vez mais para Zelda", com quem o autor teve uma filha e uma relação turbulenta, tumultuada por frequentes brigas - ele era alcoólatra e ela sofria de esquizofrenia, tendo sido internada várias vezes com colapso nervoso. Formavam um casal jovem e lindo, excêntrico, perdulário e impaciente, com grande pressa de viver. A disputa entre si era tamanha que chegou a ponto de, reciprocamente, um/uma acusar o outro/outra de plágio. Uma confissão revela o grau de passionalismo que cercava essa tempestuosa história de amor e ciúme: "Eu não ligaria se ela morresse, mas não suportaria vê-la se casar com outro." No verão de 1924, na Riviera francesa, enquanto ele acabava de escrever "O grande Gatsby", o casamento foi outra vez abalado pelo envolvimento de Zelda com um aviador francês.

Escritora também, ela ficou mais famosa como ícone e precursora do feminismo do que como romancista. Foi, como classificou o marido, "a primeira melindrosa da América". Junto com Hemingway, entre outros, os dois pertenceram à "geração perdida", aquela que, como já se disse, viajou dez mil quilômetros para encontrar Paris e descobriu a América.

Assim como a década, o casal acabou mal. Já separados, Scott morreu em 1940, com 44 anos, sem dinheiro, fama e sem acreditar que um dia seu livro seria consagrado pela crítica e venderia 10 milhões de exemplares. Zelda morreu em 1948, aos 48 anos, quando o hospital em que estava internada pegou fogo, matando-a e a outras oito pacientes. No túmulo dos dois, estão inscritas as palavras que encerram "O grande Gatsby": "E assim prosseguimos, barcos contra a corrente, arrastados incessantemente para o passado." 

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